sexta-feira, 27 de maio de 2016

CORPUS CHRISTI



Corpus Christi – A festa de Corpus Christi é a expressão religiosa pública do núcleo central da fé católica, a Eucaristia, celebrada sessenta dias após a Páscoa. Sempre celebrado numa quinta-feira, este ano, no dia 26 de maio. O acontecimento recorda a instituição da Eucaristia, acontecida na Última Ceia da Quinta-feira Santa (Mc 14,12s).

Eucaristia – A Eucaristia sempre ocupou um lugar proeminente na vida da Igreja. Os cristãos vivem continuamente na certeza de que Cristo, nela, permanece presente e atuante, pela graça do Espírito Santo. A Igreja acredita na realização da promessa do Senhor: "Estarei convosco até a consumação dos séculos" (Mt 28,20) e o tesouro da Eucaristia continua a ocupar nossa melhor atenção, passados anos de sua instituição.

História – A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. Dois acontecimentos ajudaram o papa a tomar a decisão de instituir esta festa: a visão de Santa Juliana de Cornillon, na qual Jesus pedia uma festa para testemunhar de um modo mais forte o significado da Eucaristia para a vida do cristão; e o milagre Eucarístico de Orvieto-Bolsena (Itália), no ano de 1263, em Bolsena, quando um sacerdote celebrando a santa missa, foi atormentando pela dúvida da presença real de Jesus na Eucaristia. No momento da fração da hóstia, viu em suas mãos um pedacinho de carne, de onde caia gotas de sangue no corporal.

Instituição da Festa – Em 1264, com a bula "Transiturus", o Papa Urbano IV prescreveu essa solenidade para toda a Igreja. Era uma época em que a cristandade estava sendo profundamente agitada por uma polêmica que questionava a presença real de Cristo na Eucaristia. Desde então, a data foi marcada por concentrações, procissões e outras práticas religiosas, de acordo com o modo de ser e de viver de cada localidade.


Procissão – A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento, esse povo foi alimentado com o maná, no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo. Os enfeites trazidos com ramos de árvores e flores, os vários altares colocados ao longo do percurso começaram a aparecer em algumas partes da Alemanha. Contudo, foi no período barroco que a procissão ganhou os ares de um cortejo triunfal e pomposo. Nesta época, verdadeiros carros alegóricos com personagens do Antigo e do Novo Testamento, relacionando-os ao mistério da Eucaristia, já se faziam presentes. Depois, estes motivos passaram aos tapetes que cobriam a rua por onde Jesus Eucarístico deveria passar.

sábado, 14 de maio de 2016

O Início da Igreja


Este domingo é uma grande festa missionária. Marca a transformação da Igreja de uma seita judaica para uma comunidade universal, missionária, comprometida com a construção do Reino de Deus "até os confins da Terra". A liturgia deste final de semana nos apresenta a descida do Espírito Santo sobre a comunidade dos discípulos, em duas tradições: a de Lucas (Atos 2,1-11) e a de João (João 20, 19-23).

Diferença – Uma leitura fundamentalista da Bíblia leva a gente a um beco sem saída, pois, em João, a Ressurreição, a Ascensão e a descida do Espírito se deram no mesmo dia (domingo de Páscoa, dia 9 de abril do ano 30), enquanto Lucas descreve a ascensão e a descida do Espírito cinquenta dias depois. Assim, devemos ler os textos dentro dos interesses teológicos dos dois autores: os 50 dias de Lucas, por exemplo, entre a Ressurreição e a Ascensão, correspondem aos 40 dias da preparação de Jesus no deserto, para a sua missão. Da mesma maneira que Jesus ficou "repleto do Espírito Santo" e se lançou na sua missão "com a força do Espírito", a comunidade cristã se preparou durante um período semelhante e, na festa judaica de Pentecostes, também experimentou que "todos ficaram repletos do Espírito Santo".

Atos – “Atos dos Apóstolos” descreve o dia de Pentecostes, quando os discípulos estavam reunidos e veio do céu um barulho, como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios de Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava.

Catequese – Não podemos tomar o texto de Lucas (Atos) como uma reportagem jornalística de acontecimentos históricos. O texto que descreve os acontecimentos do dia do Pentecostes é uma construção, com uma evidente intenção teológica. Para apresentar a sua catequese, Lucas recorre às imagens, aos símbolos, à linguagem poética das metáforas. Precisamos entender estes símbolos, para chegarmos à interpelação essencial que a catequese primitiva quis transmitir.

Símbolos – Nos primeiros versículos, o ambiente é o de uma casa, onde os discípulos se reuniram. Lembra que estavam reunidos três grupos distintos: os Onze, as mulheres (entre as quais Maria, a mãe de Jesus) e os irmãos do Senhor. A expressão externa da descida do Espírito é o "falar em outras línguas" (não o "falar em línguas" – glossolalia – tão valorizado por muitos grupos de cunho neopentecostal).

Ouvir e compreender – No meio do texto o ambiente muda: da casa para um lugar público, provavelmente o pátio do Templo. O sinal visível da presença do Espírito não é mais o falar em outras línguas, mas o fato de que todos os presentes – destacado por três vezes – pudessem "ouvir os discípulos falarem, na sua própria língua". O termo "ouvir" implica também "compreender". Lucas quer enfatizar que o dom do Espírito Santo tem um objetivo missionário e profético. O texto é uma releitura da Torre de Babel, em que a língua única era o instrumento de um projeto de dominação (uma torre até o céu), que foi destruído por Deus, pela diversidade de línguas.

Missão – O Pentecostes de “Atos” é uma página programática da Igreja e anuncia aquilo que será o resultado da ação das “testemunhas” de Jesus: a humanidade nova, a anti-Babel, nascida da ação do Espírito, onde todos serão capazes de comunicar e de se relacionar como irmãos, porque o Espírito reside no coração de todos como lei suprema, como fonte de amor e de liberdade.

Evangelho – O Evangelho de João descreve o anoitecer, o primeiro da semana. É um quadro que reproduz a situação de uma comunidade desamparada no meio de um ambiente hostil e, portanto, desorientada e insegura. É uma comunidade que perdeu as suas referências e a sua identidade e que não sabe, agora, a que se agarrar. Quando estavam reunidos com as portas fechadas, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: "A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio. Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos".

Evangelho de João – Em João é o próprio Jesus que aparece aos Apóstolos e doa o Espírito Santo. O evangelista quer destacar que os discípulos, fazendo a experiência do encontro com Jesus ressuscitado, redescobriram o seu centro, o seu ponto de referência, à volta do qual a comunidade se constrói e toma consciência da sua identidade. A comunidade cristã só existe consistentemente se está centrada em Jesus ressuscitado. Duas vezes o Cristo proclama o seu desejo para os seus discípulos: "A paz esteja com vocês". Na verdade, Jesus usou o termo hebraico “Shalom!” que tem um significado bem mais amplo que a palavra paz. O "Shalom" é a paz que vem da presença de Deus, da justiça do Reino. Envia os seus discípulos na missão árdua em favor do Reino e promete o “shalom”, pois Ele nunca abandonará aquele que procura viver, na fidelidade, o projeto de Deus.


Reino – Que a celebração de Pentecostes nos anime a buscar um mundo onde o Shalom realmente possa reinar; não a paz falsa da opressão e injustiça, mas, do Reino de Deus, fruto de justiça, solidariedade e fraternidade. Jesus nos deu o Espírito Santo – agora depende de nós usarmos essa força que temos, na construção do mundo que Deus quer.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Ascensão de Jesus



O Evangelho das missas deste domingo descreve as últimas instruções de Jesus aos Apóstolos e a sua ascensão.

Aparição – Acontece durante a aparição de Jesus aos apóstolos, no domingo seguinte à Paixão. Ele se dirige aos apóstolos, dizendo que o Messias tinha de sofrer e ressuscitar e que, em nome dele, a mensagem sobre o arrependimento e o perdão dos pecados seria anunciada a todas as nações, começando em Jerusalém. Pede que eles fiquem em Jerusalém, que ele vai mandar o que o Pai prometeu. Em seguida, levou os apóstolos para fora da cidade, até o povoado de Betânia. Ali levantou as mãos e os abençoou. Enquanto os estava abençoando, Jesus se afastou deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram e voltaram para Jerusalém cheios de alegria. E passavam o tempo todo no pátio do Templo, louvando a Deus.

Os textos de Lucas – O Evangelho de Lucas e o Livro de Atos dos Apóstolos formavam, possivelmente, uma única obra. Posteriormente as narrativas de Lucas sobre a vida e o ministério de Jesus foram separadas, formando, com Marcos, Mateus e João, o conjunto dos Evangelhos. A parte sobre as narrativas das primeiras missões formaram o Livro de Atos. Estes dois textos, que apresentam semelhanças e divergências entre si, estão presentes nas leituras deste domingo: o início de Atos, na primeira leitura e a conclusão do Evangelho de Lucas.

Jerusalém – Na conclusão do Evangelho, após a memória da paixão e ressurreição, redigida em forma de querigma paulino, Jesus orienta os discípulos para a missão: o anúncio da conversão à justiça para o perdão dos pecados. Este é o mesmo anúncio de João Batista. Enquanto nos Evangelhos de Marcos, Mateus e João, Jesus e os discípulos retornam para a Galiléia, Lucas, no seu Evangelho, narra como se tivessem permanecido em Jerusalém: "voltaram para Jerusalém e estavam sempre no Templo".

Espírito Santo – Esta interpretação corresponde à teologia de Lucas, que apresenta o movimento de Jesus como a continuidade das doze tribos de Israel, e sua missão partindo de Jerusalém, capital do Judaísmo de seu tempo. Neste mesmo sentido, no Evangelho de João, enquanto Jesus comunica o Espírito Santo, soprando sobre os discípulos no dia da ressurreição, Lucas, em Atos, apresenta a vinda do Espírito, cinquenta dias após a ressurreição, com uma teofania na festa judaica de Pentecostes.

Missão – Os discípulos, que fizeram a experiência do encontro pessoal com Jesus ressuscitado, são agora convocados para a missão: Jesus os envia, como testemunhas, a pregar a conversão e o perdão dos pecados. Para essa enorme tarefa, os discípulos contam com a ajuda e a assistência do Espírito. A partir de Jerusalém, esta proposta deve ser anunciada a todas as nações.


Ascensão – Lucas descreve que a ascensão acontece em Betânia. Fica claro a semelhança com a subida do profeta Elias. Há duas indicações de Lucas, que importa realçar. A primeira é a bênção que Jesus dá aos discípulos antes de ir para junto do Pai: essa bênção sugere um dom que vem de Deus e que afeta positivamente toda a vida e toda a ação dos discípulos, capacitados para a missão pela força de Deus. A segunda é a alegria dos discípulos: a alegria é o grande sinal messiânico e escatológico; indica que o mundo novo já começou, pois o projeto salvador e libertador de Deus está em marcha.

sábado, 30 de abril de 2016

O primeiro Concílio da Igreja


Após a Paixão e morte de Cristo (abril do ano 30), os apóstolos passaram a pregar o Evangelho em toda a Palestina e Império Romano. O principal missionário nesta pregação foi Paulo, que embora não fosse apóstolo, empreendeu várias viagens missionárias, divulgando o cristianismo. Todo esse trabalho de formação das primeiras comunidades cristãs está descrito no livro “Atos dos Apóstolos”.

Dois grupos – Durante a evangelização, Paulo se deparava com dois grupos muito distintos: os pagãos (pessoas ligadas à tradição greco-romana) e os judeus (chamados de judaizantes, cristãos de origem judaica, que conservavam as práticas tradicionais do judaísmo). Na cidade de Antioquia, os dois grupos não se entenderam, criando o primeiro conflito para a Igreja primitiva.

O conflito – Os cristãos provenientes do judaísmo continuavam praticando a circuncisão e observando as prescrições da Lei (Torah, formada pelos cinco primeiros livros do Antigo Testamento – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), enquanto a pregação de Paulo não obrigava os pagãos convertidos a esses costumes judaicos. Na comunidade cristã da Antioquia, alguns fariseus convertidos ao cristianismo começaram a ensinar que, também os pagãos, para se salvarem, deveriam primeiro ser “judaizados” (circuncidados) e depois cristianizados.

A questão – O problema era claro: os costumes judaicos pertencem à essência da mensagem cristã? Deve-se impor, aos crentes de origem pagã, a prática da Lei de Moisés? A salvação vem através da circuncisão e da observância da Torah judaica ou única e exclusivamente por Cristo? Jesus Cristo é o único Senhor e Salvador ou seria preciso outras coisas além d’Ele para chegar a Deus e para receber d’Ele a graça da salvação?

A solução – A comunidade cristã de Antioquia, onde a questão se impunha com mais vigor, não tinha certeza sobre qual caminho seguir. Paulo e Barnabé pregavam que Cristo basta, mas os cristãos de origem judaica, que ainda conservavam as práticas tradicionais do judaísmo, defendiam que os ritos prescritos pela “Torah” também eram necessários para a salvação. Decidiu-se, então, enviar uma delegação a Jerusalém, para consultar os Apóstolos e os anciãos sobre a questão.

Concílio – No ano 49 realiza-se, então, o Concílio de Jerusalém (1º Concílio da Igreja), para discutir os rumos da evangelização de Paulo: seus conceitos teológicos (evangelização dos não-judeus) e a preservação de tradições judaicas.  Participaram deste Concílio Paulo, Barnabé, Tito, Tiago, Simão, os apóstolos e presbíteros.

Conclusão – No final do Concílio, Pedro reconhece a igualdade fundamental de todos (judeus e pagãos) diante da proposta de salvação e que a Lei (Torah) era um jugo que não deveria ser imposto aos pagãos, uma vez que é “pela graça do Senhor Jesus” que se chega à salvação (At 15,7-12).

Universal – A Boa Nova de Jesus é, portanto, uma proposta que é dirigida a todos os homens, de todas as raças e nações; não se trata de uma proposta fechada, exclusivista, destinada a um grupo de eleitos, mas de uma proposta universal, que se destina a todos os homens, sem exceção.

Vida nova – O que é decisivo não é ter nascido neste ou naquele ambiente, mas é a capacidade de se deixar desafiar pela proposta de Jesus, de acolhê-la com simplicidade, alegria e entusiasmo e de partir, todos os dias, para esse caminho onde o nosso Deus nos propõe encontrar a vida nova, a vida verdadeira, a vida total.

Concílio – O Concílio é uma reunião dos bispos (epískopos) cristãos, convocada para discutir e resolver as questões doutrinais ou disciplinares da Igreja Cristã. Quando o Concílio é universal (de toda a Igreja) é chamado de Concílio Ecumênico. Já aconteceram 21 Concílios Ecumênicos na Igreja Católica.


QUER SABER MAIS? – Se você gostou do assunto e quer conhecer os 21 Concílios Ecumênicos da Igreja Católica com as principais decisões de cada um, solicite por E-mail que lhe enviaremos um texto sobre o assunto.

sábado, 23 de abril de 2016

São Jorge, Corinthians e a Igreja Católica

Neste 23 de abril a Igreja Católica comemora São Jorge (viveu entre os anos de 275 e 303). É um dos santos mais queridos da Igreja, sendo até nome de novela da Rede Globo (Salve Jorge). É o nosso assunto de hoje.

São Jorge? – Mas, afinal! Ainda existe o santo de nome São Jorge? Ele não havia sido retirado do catálogo de santos da Igreja Católica? Não teria sido “cassado”? Esta é uma pitoresca história que merece ser contada.

Cassados? – Em 1965 a Igreja Católica publicou uma lista de santos cujas histórias não tinham comprovação. Atribuíam-lhes ditos e feitos maravilhosos, destituídos de fundamento histórico. Tais crendices populares se propagavam rapidamente, pois os antigos careciam de apurado senso crítico. Alguns deles, não existe nem a comprovação de que tenham existido. Entre esses santos, os mais conhecidos são Santa Filomena, Santa Bárbara, Santa Catarina de Alexandria, São Lourenço, São Jorge, etc.

Dom Paulo – Dom Paulo Evaristo Arns foi arcebispo de São Paulo e conhecido como apaixonado torcedor do Corinthians, chegando a posar com a bandeira do clube na capa de uma revista esportiva. Em 2004, Dom Paulo lançou o livro “Corintiano graças a Deus” (Editora Planeta, 138p.) em que faz surpreendentes crônicas sobre seu amor ao clube, seu fascínio pelo futebol e sua convicção de que, apesar das diferenças de credo ou ideologias, um único propósito pode unir todos os homens.

São Jorge – Na década de 1960, o arcebispo, conhecendo o plano de reordenamento do calendário oficial da liturgia da Igreja Católica, se surpreendeu com a pretensão do Vaticano em “cassar” São Jorge, o santo padroeiro e protetor do Corinthians. Deve-se lembrar também que São Jorge é o padroeiro da Inglaterra e da cidade do Rio de Janeiro. Dom Paulo precisava tomar alguma providência para que a “cassação” não ocorresse.

Carta – Resolveu, então, escrever uma carta ao Papa Paulo VI, seu velho amigo e conhecido por gostar de futebol. O texto dizia: “Santo Padre, o nosso povo não está entendendo direito a questão. São Jorge é muito popular no Brasil, sobretudo entre a imensa torcida do Corinthians, o clube de futebol mais popular de São Paulo”.

Resposta – Paulo VI entendeu o problema: "Não podemos prejudicar nem a Inglaterra nem o Corinthians" afirmou o papa, resolvendo a questão. Dom Paulo guarda até hoje o bilhete do pontífice. Desta forma São Jorge foi mantido no catálogo dos santos da Igreja Católica.

Mais Corinthians – Em 1980, durante os preparativos da visita de João Paulo II ao Brasil, Dom Paulo foi procurado por Vicente Matheus, presidente do Corinthians, para que o Papa visitasse o local da construção do futuro estádio do Timão: “Dom Paulo, o papa não pode vir a São Paulo e não conhecer o Corinthians. Ele precisa abençoar nosso campo, nosso projeto. Senão é como se ele não tivesse vindo para o Brasil”.

Menos, menos – Dom Paulo tentou amenizar a euforia do presidente: “Mas seu Matheus. É muito difícil convencer o papa a visitar um clube de futebol, ainda por cima um estádio que não saiu do projeto”. Em seguida, encaminhou-o até um de seus colaboradores da Cúria, um vigário-geral palmeirense até os ossos. Ele era quem tratava do roteiro de João Paulo II. Pouco depois, o presidente voltava a Dom Paulo, sem esconder sua decepção. O vigário-geral alegara que a área era distante do roteiro que o pontífice faria. Ficaria para uma segunda vez – que jamais houve.


Solução – Anos depois, D. Paulo foi procurado por dona Marlene Matheus, esposa do presidente, e veio a solução. “Se o Papa não pode vir ao Corinthians, o Corinthians vai até o Papa. Vou a Roma”. Dona Marlene arrumou uma bela imagem de São Jorge e pediu a Dom Paulo para conseguir uma audiência com o Papa João Paulo II. Dom Paulo conseguiu à primeira-dama alvinegra um lugar na primeira fileira de uma audiência com João Paulo II, numa quarta-feira. Neste dia, o Papa tocou na imagem de São Jorge. O Corinthians foi campeão naquele ano.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Uma Igreja para todos



Na primeira leitura das missas deste domingo (At 13,14.43-52), Paulo e Barnabé chegam à Antioquia e, no sábado, pregam o Evangelho de Cristo na sinagoga. Após uma discussão com os judeus, são expulsos da cidade.

Atos dos Apóstolos – A partir do capítulo 13, os “Atos dos Apóstolos” apresentam o “caminho” da Igreja no mundo greco-romano. O protagonista humano desta nova etapa será Paulo (embora sempre animado e conduzido pelo Espírito do Senhor ressuscitado).

Missionários – Tudo começa quando a comunidade cristã de Antioquia da Síria, ansiosa por fazer a Boa Nova de Jesus chegar a todos os povos, envia Barnabé e Paulo a evangelizar. Entre 13,1 e 15,35, Lucas (o autor dos “Atos”) descreve o “envio” dos missionários, a viagem, a evangelização de Chipre e da Ásia Menor (Perga, Antioquia da Pisídia, Icónio, Listra, Derbe) e os problemas colocados à jovem Igreja pela entrada maciça de gentios.

Antioquia – Este texto, em concreto, situa-nos na cidade de Antioquia da Pisídia, no interior da Ásia Menor. Nos versículos anteriores, o autor dos “Atos” pôs na boca de Paulo um longo discurso, que resume a catequese primitiva sobre Jesus e que enquadra no plano de Deus a proposta de salvação que Jesus veio trazer (At 13,16-41). Qual será a resposta ao anúncio, quer por parte dos judeus, quer por parte dos pagãos que escutaram a mensagem?

Duas atitudes – A questão central gira, portanto, à volta da reação de judeus e pagãos ao anúncio de salvação apresentado por Paulo e Barnabé. O texto põe em confronto duas atitudes diversas diante da proposta cristã:

Os Judeus – a daqueles que pensavam ter o monopólio de Deus e da verdade, mas que estavam instalados nas suas certezas, no seu orgulho, na sua autossuficiência, nas suas leis definidas e comodamente arrumadas e não estavam, realmente, dispostos a “embarcar” na aventura do seguimento de Cristo;

Os pagãos – e a daqueles que, no desafio do Evangelho, descobriram a vida verdadeira, aceitaram questionar-se, quiseram arriscar e responderam com alegria e entusiasmo à proposta libertadora que Deus lhes fez por intermédio dos missionários (pagãos).

Universal – A Boa Nova de Jesus é, portanto, uma proposta que é dirigida a todos os homens, de todas as raças e nações; não se trata de uma proposta fechada, exclusivista, destinada a um grupo de eleitos, mas de uma proposta universal, que se destina a todos os homens, sem exceção.


Vida nova – O que é decisivo não é ter nascido neste ou naquele ambiente, mas é a capacidade de se deixar desafiar pela proposta de Jesus, de acolher com simplicidade, alegria e entusiasmo essa proposta e de partir, todos os dias, para esse caminho onde o nosso Deus nos propõe encontrar a vida nova, a vida verdadeira, a vida total. 

sábado, 9 de abril de 2016

Simão, tu me amas?


No Evangelho das missas deste domingo (Jo 21,1-19) Jesus pergunta três vezes a Simão Pedro: “Simão, tu me amas?”. Nas três vezes Pedro responde: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Por que Jesus perguntou três vezes? Ele não estava contente com a resposta? Pedro respondeu de forma errada? Vamos esclarecer a questão.

Raiz do problema – Todo o problema dessa passagem do Evangelho de João está na tradução das palavras de Jesus. Na língua portuguesa usamos sempre o mesmo verbo “amar”, para qualquer sentimento amoroso a que queremos nos referir. Na língua grega (em que foram compostos os Evangelhos), existem quatro verbos distintos para indicar “amar”, cada um com sentidos diferentes.
 
Amor romântico – Em primeiro lugar, temos o verbo erao (de onde vem a palavra eros e seu adjetivo erótico). Significa amar em seu sentido romântico, carnal, sexual. Emprega-se para a atração entre um homem e uma mulher em seu aspecto espontâneo e instintivo. Na Bíblia aparece o verbo “erao” várias vezes: “O rei amou (erao) a Éster mais que as outras mulheres de sua corte” (Est 2,17). “Vou reunir todos os que te amaram (erao)” (Ez 16,37).  

Amor familiar – Outro verbo grego que significa amar é stergo. Indica o amor familiar, o carinho do pai por seu filho e do filho pelo pai. É o amor doméstico, de família, que brota naturalmente dos laços do parentesco. São Paulo, em sua Carta aos Romanos, escreve: “Tenham uma caridade sem fingimento: amem-se cordialmente (stergo) uns aos outros” (Rom 12,10).

Amor de amigos – O terceiro verbo grego usado para designar “amor” é fileo. Expressa o amor da amizade, o afeto que se sente pelos amigos. Quando Lázaro, o amigo de Jesus, estava doente, as suas irmãs mandaram dizer: “Senhor, aquele a quem tu amas (fileo) está enfermo” (Jo 11,3). Quando Maria Madalena não encontra o corpo de Jesus no sepulcro, sai correndo para encontrar Pedro “e o outro discípulo que Jesus amava (fileo)” (Jo 20,2). Na parábola do filho pródigo, o irmão reclama ao pai: “Faz tantos anos que te sirvo e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com meus amigos (filos)” (Lc 15,29).

Amor caritativo – O quarto verbo grego para “amar” é agapao. É utilizado para o amor de caridade, de benevolência, de boa vontade, o amor capaz de dar sem esperar nada em troca. É o amor totalmente desinteressado, completamente abnegado, o amor com sacrifício. O autor do Evangelho de João usa o verbo “agapao” na descrição da Última Ceia: “Sabendo Jesus que havia chegado a hora de passar deste mundo ao Pai, tendo amado (agapao) aos seus, os amou até o fim” (Jo 13,1).  Ou ainda: “Como o Pai me amou, eu também os amo (agapao)” (Jo 15,9). E quando encontra os apóstolos: “Nada tem maior amor (agápe) do que dar a vida por seus amigos” (Jo 15,13).

Amar os inimigos? – Um exemplo interessante é o episódio em que Jesus ordena que se ame os inimigos. Jesus não utilizou o verbo erao, nem stergo nem fileo. Usou o verbo agapao. Jesus nunca pediu que amássemos os inimigos do mesmo modo que amamos nossos entes queridos. Nem pretendeu que sentíssemos o mesmo afeto que sentimos por nosso cônjuge (erao), nossos familiares (stergo) ou nossos amigos (fileo). Se quisesse isso teria usado os outros verbos. O que Jesus exige é o amor ágape. Não nos obriga a sentir apreço ou estima, nem devolver a amizade por quem nos tenha ofendido. O que Jesus pede é caridade, se algum dia aquele que nos ofendeu necessitar.

Jogo de Palavras – Voltando agora à pergunta que Jesus fez a Pedro. “Simão, filho de João, amas-me mais que estes?”. Jesus usa o verbo agapao: “Simon, agapás me?”. Pedro lhe responde com fileo: “Filo se”. Jesus pergunta a Pedro se ele o ama com amor total, amor-entrega, amor-serviço, amor que compromete a fundo a vida, sem esperar recompensa. E Pedro lhe responde, humildemente, com fileo, menos pretensioso. Na segunda vez, Jesus volta a perguntar: “Simon, agapás me? E Pedro novamente responde com fileo. Na terceira vez, Jesus, sabendo esperar com paciência o processo de maturidade de cada um, usa o verbo fileo: “Simon, fileis me? Então, Pedro, mesmo ficando triste, identifica-se com a pergunta e responde a ela nos mesmos termos (“filo se”). E Jesus aceita a resposta, mas prediz que o amor de Pedro não irá parar ali, crescerá, amadurecerá e chegará ao agapao solicitado, pois um dia haveria de dar sua vida pelo Mestre (Jo 21, 18-19).


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