Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 29/09/2001
Estamos iniciando hoje uma série de artigos sobre a formação da Bíblia católica. Estaremos estudando o catálogo de livros sagrados que formam a Santa Escritura da Igreja Católica.
O que é Cânon? – Cânon é uma palavra de origem grega (Kanón), que significa regra, ou medida. Em sentido figurado significa norma de vida (regra). Os primeiros cristãos falavam do cânon da fé ou da verdade, para designar a doutrina revelada por Deus, que era critério para julgar qualquer doutrina humana e para nortear a vida dos cristãos.
Cânon – Quando os cristãos estabeleceram oficialmente os textos da Igreja, a palavra cânon também foi usada para significar catálogo, tabela, registro. Neste sentido, os cristãos passaram a falar do cânon bíblico ou cânon da Bíblia para significar o catálogo dos livros bíblicos. Todos os livros pertencentes ao cânon bíblico são inspirados por Deus.
Derivações – A palavra canônico significa ‘conforme o cânon’. Portanto um livro canônico significa um texto catalogado no cânon da Igreja. Protocanônico são os livros catalogados em primeiro (próton) lugar; deuterocanônico são os livros catalogados em segunda instância (dêuteron) ou após controvérsia.
Apócrifo – Texto apócrifo significa um livro oculto, não lido nas assembléias públicas de culto das comunidades cristãs. Era reservado à leitura particular. Em conseqüência, um livro apócrifo é um livro não canônico ou não catalogado, embora tenha o estilo de escrita de um livro canônico. Exemplos de textos apócrifos são o Evangelho de Tomé, o Evangelho da Infância, O Evangelho de Pedro, A Carta de Barnabé, etc.
Quantos livros? – O Cânon Católico compreende 72 livros, sendo 45 livros do Antigo Testamento (AT) e 27 do Novo Testamento (NT). Para guardar na memória lembre sempre que o número de livros do NT (27) é o inverso no número total de livros da Bíblia (72). O Cânon dos Livros da Bíblia foi estabelecido por um decreto no Concílio de Trento, entre 1545 a 1563.
Edições atuais – As traduções atuais da Bíblia podem levar o leitor a algumas confusões. O capítulo 6 do ‘Livro de Baruc’ pode ser encadernado como um livro a parte, chamado de ‘Carta de Jeremias’. O mesmo acontece com o ‘Livro de Jeremias’: os seus 5 últimos capítulos podem ser encadernados como ‘Livro das Lamentações’. Assim, em vez de termos 72 livros, é possível encontrarmos Bíblias Católicas com 73 ou 74 livros, conforme a tradução adotada.
Conteúdo – O que deve ficar bastante claro é que, para qualquer tradução, o conteúdo será sempre o mesmo. Apenas os textos estão dispostos de forma diferente. Você já teve a curiosidade de verificar qual a disposição dos textos de sua Bíblia?
Católica e Protestante – É importante salientar que as Bíblias editadas pelos protestantes não contêm 7 livros existentes nas Bíblias católicas. São eles os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruk, Eclesiástico, 1º e 2º de Macabeus. Também não contêm partes dos Livros de Ester e de Daniel. Você já teve a curiosidade de verificar se a sua Bíblia é católica ou protestante?
sábado, 29 de setembro de 2001
sábado, 22 de setembro de 2001
O MISTERIOSO PÁPIAS
Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 22/09/2001
Mistério – Pápias foi uma das personalidades mais misteriosas da antigüidade cristã. Os historiadores da Igreja discutem até hoje as pouquíssimas informações que possuímos sobre ele.
Quem foi – Pápias (a pronúncia certa seria Papías) viveu entre os anos de 70 a 140 d.C. Era bispo de Hierápolis, na Frígia (hoje Pambukcallesi, na Turquia). Segundo Ireneu de Lion (Santo Ireneu), Pápias teria sido discípulo do apóstolo João, tendo discutido com ele a interpretação de vários discursos de Cristo.
As Obras – Por volta do ano 130, Pápias escreveu um livro em cinco volumes intitulado "Explicações das Sentenças do Senhor". Baseado, principalmente, na tradição oral dos discípulos e apóstolos, Pápias escreveu uma coleção de ditos, sentenças e feitos de Jesus. Escreveu também sobre a origem dos Evangelhos de Mateus e de Marcos, citando que conversou pessoalmente com Aristião, João (que chamava de ‘ancião’) e as filhas do apóstolo Filipe.
Material perdido – Os cinco volumes do livro de Pápias foram perdidos. Nós conhecemos apenas 13 pequenos fragmentos, conservados nas obras de Ireneu (teólogo e bispo de Lion, viveu entre 130 e 202) e de Eusébio (bispo de Cesaréia, viveu entre 260 e 340, em 315 escreveu a famosa obra "História da Igreja", que descreve os três primeiros séculos do cristianismo).
Tradição Oral – Como já discutimos nesta coluna, o Evangelho de Cristo era pregado oralmente; após dezenas de anos, o Evangelho passou a ser escrito, gerando os 4 textos que conhecemos hoje. Pápias defendia o Evangelho oral, pois o considerava mais vivo: "As coisas dos livros não me deram proveito quanto o que me disse a voz dos vivos."
O ensino dos apóstolos – Os fragmentos de Pápias que restaram são de inestimável valor porque põe o leitor atual em contato com o ensino oral dos apóstolos. Como escreveu no prefácio de sua obra perdida: "Não hesitarei também em registrar para vosso benefício, juntamente com as minhas ‘Explicações’, tudo que cuidadosamente recordo dos anciãos, garantindo a sua veracidade. De fato, eu não me comprazia, como faz a maioria, com os que falam muito, mas com os que ensinam a verdade. Se acontecia, por acaso, vir algum dos que tinham seguido os presbíteros, eu me informava a respeito da palavra dos presbíteros: o que haviam dito André, Pedro, Filipe, Tomé, Tiago, João, Mateus, ou qualquer outro dos discípulos do Senhor."
Milenarismo – Uma das interpretações de Pápias se refere ao versículo do Apocalipse (Ap 20,4), onde se lê: " ... eles reinaram com Cristo durante mil anos". Como Pápias, toda a Igreja Antiga interpretou literalmente este versículo, acreditando que, após uma primeira ressurreição real (a dos mártires), Cristo voltaria sobre a terra para um reino feliz de mil anos, em companhia de seus fiéis.
Mistério – Pápias foi uma das personalidades mais misteriosas da antigüidade cristã. Os historiadores da Igreja discutem até hoje as pouquíssimas informações que possuímos sobre ele.
Quem foi – Pápias (a pronúncia certa seria Papías) viveu entre os anos de 70 a 140 d.C. Era bispo de Hierápolis, na Frígia (hoje Pambukcallesi, na Turquia). Segundo Ireneu de Lion (Santo Ireneu), Pápias teria sido discípulo do apóstolo João, tendo discutido com ele a interpretação de vários discursos de Cristo.
As Obras – Por volta do ano 130, Pápias escreveu um livro em cinco volumes intitulado "Explicações das Sentenças do Senhor". Baseado, principalmente, na tradição oral dos discípulos e apóstolos, Pápias escreveu uma coleção de ditos, sentenças e feitos de Jesus. Escreveu também sobre a origem dos Evangelhos de Mateus e de Marcos, citando que conversou pessoalmente com Aristião, João (que chamava de ‘ancião’) e as filhas do apóstolo Filipe.
Material perdido – Os cinco volumes do livro de Pápias foram perdidos. Nós conhecemos apenas 13 pequenos fragmentos, conservados nas obras de Ireneu (teólogo e bispo de Lion, viveu entre 130 e 202) e de Eusébio (bispo de Cesaréia, viveu entre 260 e 340, em 315 escreveu a famosa obra "História da Igreja", que descreve os três primeiros séculos do cristianismo).
Tradição Oral – Como já discutimos nesta coluna, o Evangelho de Cristo era pregado oralmente; após dezenas de anos, o Evangelho passou a ser escrito, gerando os 4 textos que conhecemos hoje. Pápias defendia o Evangelho oral, pois o considerava mais vivo: "As coisas dos livros não me deram proveito quanto o que me disse a voz dos vivos."
O ensino dos apóstolos – Os fragmentos de Pápias que restaram são de inestimável valor porque põe o leitor atual em contato com o ensino oral dos apóstolos. Como escreveu no prefácio de sua obra perdida: "Não hesitarei também em registrar para vosso benefício, juntamente com as minhas ‘Explicações’, tudo que cuidadosamente recordo dos anciãos, garantindo a sua veracidade. De fato, eu não me comprazia, como faz a maioria, com os que falam muito, mas com os que ensinam a verdade. Se acontecia, por acaso, vir algum dos que tinham seguido os presbíteros, eu me informava a respeito da palavra dos presbíteros: o que haviam dito André, Pedro, Filipe, Tomé, Tiago, João, Mateus, ou qualquer outro dos discípulos do Senhor."
Milenarismo – Uma das interpretações de Pápias se refere ao versículo do Apocalipse (Ap 20,4), onde se lê: " ... eles reinaram com Cristo durante mil anos". Como Pápias, toda a Igreja Antiga interpretou literalmente este versículo, acreditando que, após uma primeira ressurreição real (a dos mártires), Cristo voltaria sobre a terra para um reino feliz de mil anos, em companhia de seus fiéis.
sábado, 15 de setembro de 2001
Ágrafos
Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 15/09/2001
O que é – A palavra Ágrafos vem do grego (ágraphos) e significa "o que não está escrito". Em termos bíblicos, são chamadas de ágrafos as palavras ou frases proferidas por Jesus Cristo que não se encontram nos Evangelhos Canônicos, mas que foram conservadas em outros livros do Novo Testamento e sobretudo em outras fontes.
Em Atos dos Apóstolos – Em At 20,35 nós lemos: " ... e Jesus disse: ‘Há mais felicidade em dar do que em receber’". Estas palavras de Jesus não se encontram nos evangelhos, pois foram conservadas pela tradição.
Tertuliano – Foi o primeiro escritor cristão importante a escrever em latim, vivendo entre 163 e 230 d.C.. Tertuliano citou a seguinte frase dita por Jesus: "Aquele que não for tentado não terá o Reino dos Céus." Não encontramos esta frase (ou algo parecido com ela) em nenhum livro do Novo Testamento.
Orígenes – Orígenes de Alexandria, viveu entre 185 e 254, foi o principal teólogo da Igreja Grega e criador da teologia sistemática. Orígenes preservou o seguinte dito de Jesus: "Pedi as coisas maiores, que as menores vos serão dadas por acréscimo: e pedi as coisas do Céu, que as da Terra vos serão acrescentadas."
Clemente – Uma carta atribuída a Clemente Romano (não confundir com Clemente de Alexandria) diz que "quando o Senhor foi interrogado sobre quando viria o Seu Reino, respondeu: ‘Quando dois forem um, e a parte de fora a de dentro, e o macho com a fêmea não forem macho nem fêmea.’"
O Evangelho de Tomé – O evangelho apócrifo atribuído a Tomé contém uma coleção de 114 frases de Jesus, das quais 47 também aparecem no Evangelho de Marcos, 17 estão em Mateus, 4 em Lucas e 5 aparecem em no Evangelho de João. 65 frases do Evangelho de Tomé são inéditas (ágrafos).
Mais Tomé – Uma das frases atribuídas a Jesus, contida no Evangelho de Tomé é: "Todo aquele que estiver próximo a mim, está perto do fogo, e todo aquele que estiver afastado de mim, estará longe do Reino." (Ev. Tomé, 82).
Ainda Tomé – Outro exemplo tirado do Evangelho de Tomé, é uma seqüência da parábola do fermento (Mt 13,33 e Lc 13,20). Jesus disse: "O Reino do Pai é como uma mulher que carrega um jarro cheio de trigo. Enquanto caminha por uma estrada distante, a asa do jarro se quebra. A farinha se espalha na estrada, às suas costas. Ela não se dá conta e não se apercebe do acidente. Depois de chegar à casa, coloca o jarro no chão e o encontra vazio." Em outras palavras, podemos perder o Reino dos Céus se formos negligentes.
Evangelho de Pedro – O Evangelho de Pedro é um texto apócrifo (não reconhecido pela Igreja), porém de grande importância na Igreja primitiva. Descreve, em detalhes o julgamento, crucificação, morte e ressurreição de Jesus (falaremos sobre o Evang. de Pedro em breve). Neste evangelho, a frase de Jesus citada em Mc 15,34 e Mt 27,46 aparece de forma diferente: "E o Senhor gritou dizendo: ‘Meu poder, meu poder, tu me abandonaste.’"
O que é – A palavra Ágrafos vem do grego (ágraphos) e significa "o que não está escrito". Em termos bíblicos, são chamadas de ágrafos as palavras ou frases proferidas por Jesus Cristo que não se encontram nos Evangelhos Canônicos, mas que foram conservadas em outros livros do Novo Testamento e sobretudo em outras fontes.
Em Atos dos Apóstolos – Em At 20,35 nós lemos: " ... e Jesus disse: ‘Há mais felicidade em dar do que em receber’". Estas palavras de Jesus não se encontram nos evangelhos, pois foram conservadas pela tradição.
Tertuliano – Foi o primeiro escritor cristão importante a escrever em latim, vivendo entre 163 e 230 d.C.. Tertuliano citou a seguinte frase dita por Jesus: "Aquele que não for tentado não terá o Reino dos Céus." Não encontramos esta frase (ou algo parecido com ela) em nenhum livro do Novo Testamento.
Orígenes – Orígenes de Alexandria, viveu entre 185 e 254, foi o principal teólogo da Igreja Grega e criador da teologia sistemática. Orígenes preservou o seguinte dito de Jesus: "Pedi as coisas maiores, que as menores vos serão dadas por acréscimo: e pedi as coisas do Céu, que as da Terra vos serão acrescentadas."
Clemente – Uma carta atribuída a Clemente Romano (não confundir com Clemente de Alexandria) diz que "quando o Senhor foi interrogado sobre quando viria o Seu Reino, respondeu: ‘Quando dois forem um, e a parte de fora a de dentro, e o macho com a fêmea não forem macho nem fêmea.’"
O Evangelho de Tomé – O evangelho apócrifo atribuído a Tomé contém uma coleção de 114 frases de Jesus, das quais 47 também aparecem no Evangelho de Marcos, 17 estão em Mateus, 4 em Lucas e 5 aparecem em no Evangelho de João. 65 frases do Evangelho de Tomé são inéditas (ágrafos).
Mais Tomé – Uma das frases atribuídas a Jesus, contida no Evangelho de Tomé é: "Todo aquele que estiver próximo a mim, está perto do fogo, e todo aquele que estiver afastado de mim, estará longe do Reino." (Ev. Tomé, 82).
Ainda Tomé – Outro exemplo tirado do Evangelho de Tomé, é uma seqüência da parábola do fermento (Mt 13,33 e Lc 13,20). Jesus disse: "O Reino do Pai é como uma mulher que carrega um jarro cheio de trigo. Enquanto caminha por uma estrada distante, a asa do jarro se quebra. A farinha se espalha na estrada, às suas costas. Ela não se dá conta e não se apercebe do acidente. Depois de chegar à casa, coloca o jarro no chão e o encontra vazio." Em outras palavras, podemos perder o Reino dos Céus se formos negligentes.
Evangelho de Pedro – O Evangelho de Pedro é um texto apócrifo (não reconhecido pela Igreja), porém de grande importância na Igreja primitiva. Descreve, em detalhes o julgamento, crucificação, morte e ressurreição de Jesus (falaremos sobre o Evang. de Pedro em breve). Neste evangelho, a frase de Jesus citada em Mc 15,34 e Mt 27,46 aparece de forma diferente: "E o Senhor gritou dizendo: ‘Meu poder, meu poder, tu me abandonaste.’"
sábado, 8 de setembro de 2001
A Interpretação do Depósito da Fé e o Magistério da Igreja
Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 08/09/2001
Na semana passada falamos sobre a Tradição que vem dos apóstolos e transmite o que eles receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam através do Espírito Santo. Recordemos que a primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito e o próprio Novo Testamento atesta o processo da Tradição viva, já que foi escrito vários anos após a morte de Cristo.
O Patrimônio da fé – O patrimônio da fé ("depositum fidei") contido na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura foi confiado pelos apóstolos à totalidade da Igreja, ou seja, a todo o povo santo, que "unido a seus Pastores, persevera (...) na doutrina dos apóstolos e na comunhão, na fração do pão e nas orações, de sorte que na conservação, no exercício e na profissão da fé transmitida, se crie uma singular unidade de espírito entre os bispos e os fiéis" (CIC, 84).
Interpretação – O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus, escrita ou transmitida, foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, isto é, aos bispos em comunhão com o Papa, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. Ou seja, a interpretação da Bíblia não pode ser livre, porque foi confiada aos apóstolos e aos seus sucessores: "Quem vos ouve, a mim ouve" (Lc 10, 16). "Ide e ensinai a todas as gentes... Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo" (Mt 28, 16-20; Mc 16, 14-16). "Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal" (2Pd, 1,20). Veja também: 2Pd 3, 15-16; Eclo 3, 24; Mt 12, 23.29; At 8, 30-35; 2Cor 10, 4-5; 1Tm 3, 14-15.
Magistério da Igreja, o que é? – Jesus confiou à sua Igreja a função de ensinar as verdades da fé, e para que o fizesse autenticamente, prometeu-lhe a Sua assistência infalível, assim como a do Espírito Santo. Sem a garantia de um Magistério dotado de especial assistência e de infalibilidade em matéria de fé e de Moral, teria sido inútil a Revelação Divina, pois sofreria a deterioração que é costumeira quando se passa de boca em boa alguma verdade. Está claro, pois, que o âmbito do Magistério da Igreja só pode ser o da fé e da Moral, ficando excluídos assuntos de ordem profana. Ele também não está acima da Palavra de Deus mas a serviço dela, ensinando apenas o que foi transmitido pela Palavra e pela assistência do Espírito Santo.
O exercício do Magistério – Empenhando a autoridade que recebeu de Cristo, o Magistério da Igreja vem cumprindo a sua missão mediante seus órgãos credenciados, que são:
1. O Magistério Ordinário, ou seja, o ensinamento dos Bispos do mundo inteiro, concordes entre si sobre artigos de fé e de Moral. Este Magistério ordinário manifesta-se cotidianamente através de palavras orais, impressos, gestos e feitos, como também através da Liturgia.
2. O Magistério Extraordinário, que tem duas expressões autênticas: as definições de Concílios Ecumênicos (plenário, universal) e as definições do Sumo Pontífice quando fala ex cathedra. O Magistério Extraordinário supõe sempre condições especiais (dúvidas, controvérsias, contestação...), que solicitem um pronunciamento solene seja de um Concílio plenário, seja do Pontífice Romano. Não é necessária uma definição solene para que haja um dogma de fé.
"O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, propõe verdades contidas na Revelação divina ou verdades que com estas têm uma conexão necessária" (CIC, 88).
O senso sobrenatural da fé – "Todos os fiéis participam da compreensão e da transmissão da verdade revelada. Receberam a unção do Espírito Santo que os instrui e os conduz à verdade na sua totalidade. (...) ‘Por este senso da fé, excitado e sustentado pelo Espírito da verdade, o Povo de Deus – sob a direção do sagrado Magistério, (...) – adere (...) à fé uma vez para sempre transmitida aos santos; e, com reto juízo, penetra-a mais profundamente e mais plenamente a aplica na vida’" (CIC, 91, 93).
Graças à assistência do Espírito Santo, podemos crescer na compreensão da fé através da "pesquisa teológica que aprofunda o conhecimento da verdade revelada; pela íntima compreensão que os fiéis desfrutam das coisas espirituais; (...) pela pregação daqueles que, com a sucessão episcopal, receberam o carisma seguro da verdade" (CIC, 94).
Podemos concluir, portanto, que a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão entrelaçados e unidos e, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribui para a salvação das almas.
Na semana passada falamos sobre a Tradição que vem dos apóstolos e transmite o que eles receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam através do Espírito Santo. Recordemos que a primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito e o próprio Novo Testamento atesta o processo da Tradição viva, já que foi escrito vários anos após a morte de Cristo.
O Patrimônio da fé – O patrimônio da fé ("depositum fidei") contido na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura foi confiado pelos apóstolos à totalidade da Igreja, ou seja, a todo o povo santo, que "unido a seus Pastores, persevera (...) na doutrina dos apóstolos e na comunhão, na fração do pão e nas orações, de sorte que na conservação, no exercício e na profissão da fé transmitida, se crie uma singular unidade de espírito entre os bispos e os fiéis" (CIC, 84).
Interpretação – O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus, escrita ou transmitida, foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, isto é, aos bispos em comunhão com o Papa, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. Ou seja, a interpretação da Bíblia não pode ser livre, porque foi confiada aos apóstolos e aos seus sucessores: "Quem vos ouve, a mim ouve" (Lc 10, 16). "Ide e ensinai a todas as gentes... Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo" (Mt 28, 16-20; Mc 16, 14-16). "Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal" (2Pd, 1,20). Veja também: 2Pd 3, 15-16; Eclo 3, 24; Mt 12, 23.29; At 8, 30-35; 2Cor 10, 4-5; 1Tm 3, 14-15.
Magistério da Igreja, o que é? – Jesus confiou à sua Igreja a função de ensinar as verdades da fé, e para que o fizesse autenticamente, prometeu-lhe a Sua assistência infalível, assim como a do Espírito Santo. Sem a garantia de um Magistério dotado de especial assistência e de infalibilidade em matéria de fé e de Moral, teria sido inútil a Revelação Divina, pois sofreria a deterioração que é costumeira quando se passa de boca em boa alguma verdade. Está claro, pois, que o âmbito do Magistério da Igreja só pode ser o da fé e da Moral, ficando excluídos assuntos de ordem profana. Ele também não está acima da Palavra de Deus mas a serviço dela, ensinando apenas o que foi transmitido pela Palavra e pela assistência do Espírito Santo.
O exercício do Magistério – Empenhando a autoridade que recebeu de Cristo, o Magistério da Igreja vem cumprindo a sua missão mediante seus órgãos credenciados, que são:
1. O Magistério Ordinário, ou seja, o ensinamento dos Bispos do mundo inteiro, concordes entre si sobre artigos de fé e de Moral. Este Magistério ordinário manifesta-se cotidianamente através de palavras orais, impressos, gestos e feitos, como também através da Liturgia.
2. O Magistério Extraordinário, que tem duas expressões autênticas: as definições de Concílios Ecumênicos (plenário, universal) e as definições do Sumo Pontífice quando fala ex cathedra. O Magistério Extraordinário supõe sempre condições especiais (dúvidas, controvérsias, contestação...), que solicitem um pronunciamento solene seja de um Concílio plenário, seja do Pontífice Romano. Não é necessária uma definição solene para que haja um dogma de fé.
"O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, propõe verdades contidas na Revelação divina ou verdades que com estas têm uma conexão necessária" (CIC, 88).
O senso sobrenatural da fé – "Todos os fiéis participam da compreensão e da transmissão da verdade revelada. Receberam a unção do Espírito Santo que os instrui e os conduz à verdade na sua totalidade. (...) ‘Por este senso da fé, excitado e sustentado pelo Espírito da verdade, o Povo de Deus – sob a direção do sagrado Magistério, (...) – adere (...) à fé uma vez para sempre transmitida aos santos; e, com reto juízo, penetra-a mais profundamente e mais plenamente a aplica na vida’" (CIC, 91, 93).
Graças à assistência do Espírito Santo, podemos crescer na compreensão da fé através da "pesquisa teológica que aprofunda o conhecimento da verdade revelada; pela íntima compreensão que os fiéis desfrutam das coisas espirituais; (...) pela pregação daqueles que, com a sucessão episcopal, receberam o carisma seguro da verdade" (CIC, 94).
Podemos concluir, portanto, que a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão entrelaçados e unidos e, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribui para a salvação das almas.
sábado, 1 de setembro de 2001
A Igreja Católica e a transmissão da revelação divina
Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 01/09/2001
"A igreja, que é ‘a coluna e o sustentáculo da verdade’ (1Tm 3, 15), guarda fielmente ‘a fé uma vez por todas confiadas aos santos’ (Jd 3)". (Catecismo da Igreja Católica -CIC, 171)
É a Igreja quem conserva a memória das Palavras de Cristo, transmitindo de uma geração à outra a confissão de fé dos apóstolos. É ela que, como uma mãe, ensina-nos a linguagem da fé para que possamos nos iniciar na compreensão e na vida da fé, auxiliando-nos assim a compreender, viver e comunicar aquilo que Jesus ensinou.
Após a ordem de Jesus de que os apóstolos anunciassem o Evangelho, a pregação apostólica se deu duas maneiras:
- oralmente: pelos apóstolos, que ensinando através da pregação oral, por exemplos e instituições, transmitiram todas as coisas que receberam através das palavras, das obras e do convívio com Jesus ou que aprenderam das sugestões do Espírito Santo;
- por escrito: através daqueles apóstolos e discípulos que, sob inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação.
A pregação apostólica, expressa de modo especial nos livros inspirados, continuou sendo realizada através da sucessão apostólica: "Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles ‘transmitindo o seu próprio encargo de Magistério’" (CIC, 77).
A essa transmissão viva, realizada no Espírito Santo, chamamos de Tradição; que, embora distinta da Sagrada Escritura, é intimamente ligada a ela.
É através da Tradição que a Igreja "em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê. O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante desta Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja crente e orante" (CIC, 78).
Dessa forma, aquilo que Deus comunicou de si mesmo através de seu Filho Jesus, no Espírito Santo permanece presente e atuante na Igreja. Deus mantém um diálogo permanente com a Igreja, "a esposa de seu dileto Filho", e o Espírito Santo, cuja voz se faz ouvir na Igreja, através dela, no mundo, leva a todos os que crêem à verdade e neles faz habitar com generosidade a palavra de Cristo.
A relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura
A Bíblia é a Palavra de Deus escrita, redigida sob a moção do Espírito Santo, que chegou até nós pela Igreja.
A Tradição é a Palavra de Deus não escrita, mas transmitida de viva voz pelos apóstolos e conservada pela Igreja em seus ensinamentos, na liturgia e na disciplina.
Ou seja, ambas estão intimamente unidas e comunicantes, pois procedem da mesma fonte divina. De certa maneira, Tradição e Sagrada Escritura formam um só todo e tendem para o mesmo fim, pois tanto uma como a outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu permanecer conosco "todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28, 20).
Afirma o Catecismo (82): "Daí resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação, ‘não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência’".
Conclusão
O ensinamento de Jesus não está apenas na Bíblia, mas também na Tradição, pois:
1. Jesus não mandou que os apóstolos escrevessem a Bíblia, só mandou que pregassem e ensinassem a sua Palavra (Mc, 16, 15; Lc 10, 16);
2. todos os apóstolos foram enviados, mas só alguns escreveram e apenas no fim de sua vida;
3. se fosse fundamental o ensino da Bíblia escrita, todos os apóstolos primeiro teriam escrito a Bíblia e depois a teriam pregado, mas ao contrário, eles foram enviados e pregaram a Palavra de Deus de viva voz (Tradição) e a maioria não escreveu nada, só pregou, morrendo mártires por isso;
4. alguns trechos da Bíblia demonstram claramente que a Tradição tem o mesmo valor da Bíblia. Veja 2Tm 1, 13; 2Ts 2, 15; 2Ts 3, 6; 2Tm 2, 1-2;
5. a Bíblia contém os ensinamentos de Jesus, mas não todos: "Há ainda muitas coisas feitas por Jesus, às quais, se se escrevessem uma por uma, creio que este mundo não poderia conter os livros que se deveriam escrever" (Jo 21, 15).
"A igreja, que é ‘a coluna e o sustentáculo da verdade’ (1Tm 3, 15), guarda fielmente ‘a fé uma vez por todas confiadas aos santos’ (Jd 3)". (Catecismo da Igreja Católica -CIC, 171)
É a Igreja quem conserva a memória das Palavras de Cristo, transmitindo de uma geração à outra a confissão de fé dos apóstolos. É ela que, como uma mãe, ensina-nos a linguagem da fé para que possamos nos iniciar na compreensão e na vida da fé, auxiliando-nos assim a compreender, viver e comunicar aquilo que Jesus ensinou.
Após a ordem de Jesus de que os apóstolos anunciassem o Evangelho, a pregação apostólica se deu duas maneiras:
- oralmente: pelos apóstolos, que ensinando através da pregação oral, por exemplos e instituições, transmitiram todas as coisas que receberam através das palavras, das obras e do convívio com Jesus ou que aprenderam das sugestões do Espírito Santo;
- por escrito: através daqueles apóstolos e discípulos que, sob inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação.
A pregação apostólica, expressa de modo especial nos livros inspirados, continuou sendo realizada através da sucessão apostólica: "Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles ‘transmitindo o seu próprio encargo de Magistério’" (CIC, 77).
A essa transmissão viva, realizada no Espírito Santo, chamamos de Tradição; que, embora distinta da Sagrada Escritura, é intimamente ligada a ela.
É através da Tradição que a Igreja "em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê. O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante desta Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja crente e orante" (CIC, 78).
Dessa forma, aquilo que Deus comunicou de si mesmo através de seu Filho Jesus, no Espírito Santo permanece presente e atuante na Igreja. Deus mantém um diálogo permanente com a Igreja, "a esposa de seu dileto Filho", e o Espírito Santo, cuja voz se faz ouvir na Igreja, através dela, no mundo, leva a todos os que crêem à verdade e neles faz habitar com generosidade a palavra de Cristo.
A relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura
A Bíblia é a Palavra de Deus escrita, redigida sob a moção do Espírito Santo, que chegou até nós pela Igreja.
A Tradição é a Palavra de Deus não escrita, mas transmitida de viva voz pelos apóstolos e conservada pela Igreja em seus ensinamentos, na liturgia e na disciplina.
Ou seja, ambas estão intimamente unidas e comunicantes, pois procedem da mesma fonte divina. De certa maneira, Tradição e Sagrada Escritura formam um só todo e tendem para o mesmo fim, pois tanto uma como a outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu permanecer conosco "todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28, 20).
Afirma o Catecismo (82): "Daí resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação, ‘não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência’".
Conclusão
O ensinamento de Jesus não está apenas na Bíblia, mas também na Tradição, pois:
1. Jesus não mandou que os apóstolos escrevessem a Bíblia, só mandou que pregassem e ensinassem a sua Palavra (Mc, 16, 15; Lc 10, 16);
2. todos os apóstolos foram enviados, mas só alguns escreveram e apenas no fim de sua vida;
3. se fosse fundamental o ensino da Bíblia escrita, todos os apóstolos primeiro teriam escrito a Bíblia e depois a teriam pregado, mas ao contrário, eles foram enviados e pregaram a Palavra de Deus de viva voz (Tradição) e a maioria não escreveu nada, só pregou, morrendo mártires por isso;
4. alguns trechos da Bíblia demonstram claramente que a Tradição tem o mesmo valor da Bíblia. Veja 2Tm 1, 13; 2Ts 2, 15; 2Ts 3, 6; 2Tm 2, 1-2;
5. a Bíblia contém os ensinamentos de Jesus, mas não todos: "Há ainda muitas coisas feitas por Jesus, às quais, se se escrevessem uma por uma, creio que este mundo não poderia conter os livros que se deveriam escrever" (Jo 21, 15).
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