Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 01/09/2001
"A igreja, que é ‘a coluna e o sustentáculo da verdade’ (1Tm 3, 15), guarda fielmente ‘a fé uma vez por todas confiadas aos santos’ (Jd 3)". (Catecismo da Igreja Católica -CIC, 171)
É a Igreja quem conserva a memória das Palavras de Cristo, transmitindo de uma geração à outra a confissão de fé dos apóstolos. É ela que, como uma mãe, ensina-nos a linguagem da fé para que possamos nos iniciar na compreensão e na vida da fé, auxiliando-nos assim a compreender, viver e comunicar aquilo que Jesus ensinou.
Após a ordem de Jesus de que os apóstolos anunciassem o Evangelho, a pregação apostólica se deu duas maneiras:
- oralmente: pelos apóstolos, que ensinando através da pregação oral, por exemplos e instituições, transmitiram todas as coisas que receberam através das palavras, das obras e do convívio com Jesus ou que aprenderam das sugestões do Espírito Santo;
- por escrito: através daqueles apóstolos e discípulos que, sob inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação.
A pregação apostólica, expressa de modo especial nos livros inspirados, continuou sendo realizada através da sucessão apostólica: "Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles ‘transmitindo o seu próprio encargo de Magistério’" (CIC, 77).
A essa transmissão viva, realizada no Espírito Santo, chamamos de Tradição; que, embora distinta da Sagrada Escritura, é intimamente ligada a ela.
É através da Tradição que a Igreja "em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê. O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante desta Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja crente e orante" (CIC, 78).
Dessa forma, aquilo que Deus comunicou de si mesmo através de seu Filho Jesus, no Espírito Santo permanece presente e atuante na Igreja. Deus mantém um diálogo permanente com a Igreja, "a esposa de seu dileto Filho", e o Espírito Santo, cuja voz se faz ouvir na Igreja, através dela, no mundo, leva a todos os que crêem à verdade e neles faz habitar com generosidade a palavra de Cristo.
A relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura
A Bíblia é a Palavra de Deus escrita, redigida sob a moção do Espírito Santo, que chegou até nós pela Igreja.
A Tradição é a Palavra de Deus não escrita, mas transmitida de viva voz pelos apóstolos e conservada pela Igreja em seus ensinamentos, na liturgia e na disciplina.
Ou seja, ambas estão intimamente unidas e comunicantes, pois procedem da mesma fonte divina. De certa maneira, Tradição e Sagrada Escritura formam um só todo e tendem para o mesmo fim, pois tanto uma como a outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu permanecer conosco "todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28, 20).
Afirma o Catecismo (82): "Daí resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação, ‘não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência’".
Conclusão
O ensinamento de Jesus não está apenas na Bíblia, mas também na Tradição, pois:
1. Jesus não mandou que os apóstolos escrevessem a Bíblia, só mandou que pregassem e ensinassem a sua Palavra (Mc, 16, 15; Lc 10, 16);
2. todos os apóstolos foram enviados, mas só alguns escreveram e apenas no fim de sua vida;
3. se fosse fundamental o ensino da Bíblia escrita, todos os apóstolos primeiro teriam escrito a Bíblia e depois a teriam pregado, mas ao contrário, eles foram enviados e pregaram a Palavra de Deus de viva voz (Tradição) e a maioria não escreveu nada, só pregou, morrendo mártires por isso;
4. alguns trechos da Bíblia demonstram claramente que a Tradição tem o mesmo valor da Bíblia. Veja 2Tm 1, 13; 2Ts 2, 15; 2Ts 3, 6; 2Tm 2, 1-2;
5. a Bíblia contém os ensinamentos de Jesus, mas não todos: "Há ainda muitas coisas feitas por Jesus, às quais, se se escrevessem uma por uma, creio que este mundo não poderia conter os livros que se deveriam escrever" (Jo 21, 15).
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