Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 22/09/2001
Mistério – Pápias foi uma das personalidades mais misteriosas da antigüidade cristã. Os historiadores da Igreja discutem até hoje as pouquíssimas informações que possuímos sobre ele.
Quem foi – Pápias (a pronúncia certa seria Papías) viveu entre os anos de 70 a 140 d.C. Era bispo de Hierápolis, na Frígia (hoje Pambukcallesi, na Turquia). Segundo Ireneu de Lion (Santo Ireneu), Pápias teria sido discípulo do apóstolo João, tendo discutido com ele a interpretação de vários discursos de Cristo.
As Obras – Por volta do ano 130, Pápias escreveu um livro em cinco volumes intitulado "Explicações das Sentenças do Senhor". Baseado, principalmente, na tradição oral dos discípulos e apóstolos, Pápias escreveu uma coleção de ditos, sentenças e feitos de Jesus. Escreveu também sobre a origem dos Evangelhos de Mateus e de Marcos, citando que conversou pessoalmente com Aristião, João (que chamava de ‘ancião’) e as filhas do apóstolo Filipe.
Material perdido – Os cinco volumes do livro de Pápias foram perdidos. Nós conhecemos apenas 13 pequenos fragmentos, conservados nas obras de Ireneu (teólogo e bispo de Lion, viveu entre 130 e 202) e de Eusébio (bispo de Cesaréia, viveu entre 260 e 340, em 315 escreveu a famosa obra "História da Igreja", que descreve os três primeiros séculos do cristianismo).
Tradição Oral – Como já discutimos nesta coluna, o Evangelho de Cristo era pregado oralmente; após dezenas de anos, o Evangelho passou a ser escrito, gerando os 4 textos que conhecemos hoje. Pápias defendia o Evangelho oral, pois o considerava mais vivo: "As coisas dos livros não me deram proveito quanto o que me disse a voz dos vivos."
O ensino dos apóstolos – Os fragmentos de Pápias que restaram são de inestimável valor porque põe o leitor atual em contato com o ensino oral dos apóstolos. Como escreveu no prefácio de sua obra perdida: "Não hesitarei também em registrar para vosso benefício, juntamente com as minhas ‘Explicações’, tudo que cuidadosamente recordo dos anciãos, garantindo a sua veracidade. De fato, eu não me comprazia, como faz a maioria, com os que falam muito, mas com os que ensinam a verdade. Se acontecia, por acaso, vir algum dos que tinham seguido os presbíteros, eu me informava a respeito da palavra dos presbíteros: o que haviam dito André, Pedro, Filipe, Tomé, Tiago, João, Mateus, ou qualquer outro dos discípulos do Senhor."
Milenarismo – Uma das interpretações de Pápias se refere ao versículo do Apocalipse (Ap 20,4), onde se lê: " ... eles reinaram com Cristo durante mil anos". Como Pápias, toda a Igreja Antiga interpretou literalmente este versículo, acreditando que, após uma primeira ressurreição real (a dos mártires), Cristo voltaria sobre a terra para um reino feliz de mil anos, em companhia de seus fiéis.
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