sábado, 8 de setembro de 2001

A Interpretação do Depósito da Fé e o Magistério da Igreja

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 08/09/2001

Na semana passada falamos sobre a Tradição que vem dos apóstolos e transmite o que eles receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam através do Espírito Santo. Recordemos que a primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito e o próprio Novo Testamento atesta o processo da Tradição viva, já que foi escrito vários anos após a morte de Cristo.

O Patrimônio da fé – O patrimônio da fé ("depositum fidei") contido na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura foi confiado pelos apóstolos à totalidade da Igreja, ou seja, a todo o povo santo, que "unido a seus Pastores, persevera (...) na doutrina dos apóstolos e na comunhão, na fração do pão e nas orações, de sorte que na conservação, no exercício e na profissão da fé transmitida, se crie uma singular unidade de espírito entre os bispos e os fiéis" (CIC, 84).

Interpretação – O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus, escrita ou transmitida, foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, isto é, aos bispos em comunhão com o Papa, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. Ou seja, a interpretação da Bíblia não pode ser livre, porque foi confiada aos apóstolos e aos seus sucessores: "Quem vos ouve, a mim ouve" (Lc 10, 16). "Ide e ensinai a todas as gentes... Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo" (Mt 28, 16-20; Mc 16, 14-16). "Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal" (2Pd, 1,20). Veja também: 2Pd 3, 15-16; Eclo 3, 24; Mt 12, 23.29; At 8, 30-35; 2Cor 10, 4-5; 1Tm 3, 14-15.

Magistério da Igreja, o que é? – Jesus confiou à sua Igreja a função de ensinar as verdades da fé, e para que o fizesse autenticamente, prometeu-lhe a Sua assistência infalível, assim como a do Espírito Santo. Sem a garantia de um Magistério dotado de especial assistência e de infalibilidade em matéria de fé e de Moral, teria sido inútil a Revelação Divina, pois sofreria a deterioração que é costumeira quando se passa de boca em boa alguma verdade. Está claro, pois, que o âmbito do Magistério da Igreja só pode ser o da fé e da Moral, ficando excluídos assuntos de ordem profana. Ele também não está acima da Palavra de Deus mas a serviço dela, ensinando apenas o que foi transmitido pela Palavra e pela assistência do Espírito Santo.

O exercício do Magistério – Empenhando a autoridade que recebeu de Cristo, o Magistério da Igreja vem cumprindo a sua missão mediante seus órgãos credenciados, que são:

1. O Magistério Ordinário, ou seja, o ensinamento dos Bispos do mundo inteiro, concordes entre si sobre artigos de fé e de Moral. Este Magistério ordinário manifesta-se cotidianamente através de palavras orais, impressos, gestos e feitos, como também através da Liturgia.

2. O Magistério Extraordinário, que tem duas expressões autênticas: as definições de Concílios Ecumênicos (plenário, universal) e as definições do Sumo Pontífice quando fala ex cathedra. O Magistério Extraordinário supõe sempre condições especiais (dúvidas, controvérsias, contestação...), que solicitem um pronunciamento solene seja de um Concílio plenário, seja do Pontífice Romano. Não é necessária uma definição solene para que haja um dogma de fé.

"O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, propõe verdades contidas na Revelação divina ou verdades que com estas têm uma conexão necessária" (CIC, 88).

O senso sobrenatural da fé – "Todos os fiéis participam da compreensão e da transmissão da verdade revelada. Receberam a unção do Espírito Santo que os instrui e os conduz à verdade na sua totalidade. (...) ‘Por este senso da fé, excitado e sustentado pelo Espírito da verdade, o Povo de Deus – sob a direção do sagrado Magistério, (...) – adere (...) à fé uma vez para sempre transmitida aos santos; e, com reto juízo, penetra-a mais profundamente e mais plenamente a aplica na vida’" (CIC, 91, 93).

Graças à assistência do Espírito Santo, podemos crescer na compreensão da fé através da "pesquisa teológica que aprofunda o conhecimento da verdade revelada; pela íntima compreensão que os fiéis desfrutam das coisas espirituais; (...) pela pregação daqueles que, com a sucessão episcopal, receberam o carisma seguro da verdade" (CIC, 94).

Podemos concluir, portanto, que a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão entrelaçados e unidos e, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribui para a salvação das almas.

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