Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 13/10/2001
Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Hoje veremos a formação do cânon do Antigo Testamento.
Moisés – As passagens bíblicas começaram a ser escritas desde os tempos anteriores a Moisés, que foi quem primeiro escreveu sobre as tradições orais e escritas de Israel, no século XIII a.C. — Essas tradições (leis, narrativas, peças litúrgicas) foram sendo aumentadas aos poucos por outros escritos no decorrer dos séculos, sem que os judeus se preocupassem em fazer uma lista ou catálogo delas. Assim foi-se formando a biblioteca sagrada de Israel.
A Era Cristã – Todavia, no século I da era cristã, deu-se um fato importante: começaram a aparecer os livros cristãos (cartas de S. Paulo, Evangelhos, Atos ...), que se apresentavam como a continuação dos livros sagrados dos judeus. Estes, porém, não tendo aceito o Cristo, trataram de impedir que se fizesse a união de livros judeus e livros cristãos. Por isto, vários rabinos reuniram-se no sínodo de Jâmnia ao Sul da Palestina, por volta do ano 100 d.C., para determinar as exigências que deveriam distinguir os livros sagrados ou inspirados por Deus.
Critérios – Os judeus estipularam os seguintes critérios para um livro ser considerado sagrado: não poderia ter sido escrito fora da terra de Israel; deveria ser escrito em hebraico e antes de Esdras (458-428 a.C.) e estar em conformidade com a Lei de Moisés. Assim, os judeus da Palestina fecharam o seu cânon sagrado sem reconhecer livros e escritos que não obedecessem a tais critérios.
Judeus do Egito – Acontece, porém, que em Alexandria (Egito) havia uma próspera colônia judaica que, vivendo em terra estrangeira e falando língua estrangeira (o grego), não adotou os critérios nacionalistas estipulados pelos judeus de Jâmnia. Os judeus de Alexandria chegaram a traduzir os livros sagrados hebraicos para o grego entre 250 e 100 a.C., dando assim origem à versão grega dita "Alexandrina" ou "dos Setenta Intérpretes". Essa edição grega bíblica possuía livros que os judeus de Jâmnia não aceitaram, mas que os de Alexandria liam como palavra de Deus; ou seja, os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruque, Eclesiástico (ou Siracides), 1 e 2 Macabeus, além dos fragmentos de Ester 10, 4-16,24 e Daniel 3, 24-90; 13-14.
Dois Cânones – Podemos dizer que havia dois cânones entre os judeus no início da era cristã: o restrito, da Palestina, e o amplo, de Alexandria.
Os cristãos – Ora, acontece que os Apóstolos e Evangelistas, ao escreverem o Novo Testamento em grego, citaram o Antigo Testamento usando a tradução grega de Alexandria. O texto grego tornou-se o mais lido entre os cristãos; em conseqüência, o cânon amplo, incluindo os sete livros e os fragmentos citados, passou para o uso dos cristãos.
Citações – No Novo Testamento há citações implícitas dos sete livros (chamados de deuterocanônicos), assim, por exemplo, Rm 1,19-32 cita Sb 13,1-9; Rm 13,1 cita Sb 6,3; Mt 27,43 cita Sb 2,13.18; Tg 1,19 cita Eclo 5,11; Mt 11,29s cita Eclo 51,23-30; Hb 11,34s cita 2Mc 6,18-7,42; Ap 8,2 cita Tb 12,15.
Lutero – No século XVI, porém, Martinho Lutero (1483-1546), querendo contestar a Igreja, resolveu adotar o cânon dos judeus da Palestina, deixando de lado os sete livros e os fragmentos deuterocanônicos que a Igreja recebera dos judeus de Alexandria.
Mas este é assunto para a próxima semana ...
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