sábado, 6 de outubro de 2001

O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 2 – Inspiração Bíblica

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 06/10/2001

Na semana passada iniciamos nosso estudo sobre o cânon da Igreja Católica. Vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros. Hoje discutiremos a Inspiração Divina dos livros da Bíblia.

O que é Inspiração bíblica – é a iluminação da mente do autor humano para que possa, com os dados de sua cultura religiosa e profana, transmitir uma mensagem fiel ao pensamento de Deus. Além de iluminar a mente, o Espírito Santo fortalece a vontade e as potências executivas do autor para que realmente o autor bíblico (hagiógrafo) escreva o que ele percebeu (confira em 2Pd 1,21).

Humano e Divino – As páginas que desse modo se originam, são todas humanas (Deus em nada dispensa a atividade redacional do homem) e divinas (pois Deus acompanha passo a passo o trabalho do homem escritor). Assim, diz-se que a Bíblia é um livro divino-humano, todo de Deus e todo do homem; transmite o pensamento de Deus em roupagem humana; assemelha-se ao mistério da Encarnação, pelo qual Deus se revestiu da carne humana, pois na Bíblia a palavra de Deus se revestiu da palavra do homem (judeu, grego, arcaico, com todas as particularidades de expressão).

O 1º conceito errado – quando se fala de inspiração bíblica, talvez aflore à mente a noção de ditado mecânico, semelhante ao que o chefe de escritório realiza junto à sua datilógrafa; esta possivelmente escreve coisas que não entende e que são claras apenas ao chefe e à sua equipe. Isto não é a inspiração bíblica. Ela não dispensa certa compreensão por parte do autor bíblico, nem a sua participação na redação do texto sagrado.

O 2º conceito errado – A inspiração bíblica também não é revelação de verdades que o autor humano não conheça. Existe, sim, o carisma (dom) da Revelação, que toca especialmente aos Profetas, mas é diverso da inspiração bíblica; esta se exercia, por exemplo, quando o hagiógrafo descrevia uma batalha ou outros fatos documentados em fontes históricas, sem receber revelação divina.

Finalidade – A finalidade da inspiração bíblica é estritamente religiosa. Os livros sagrados não foram escritos para nos ensinar dados de ciências naturais (pois, estas, o homem as pode e deve cultivar com seus talentos), mas, sim, para nos ensinar aquilo que ultrapassa a razão humana, isto é, o plano de salvação divina, o sentido do mundo, do homem, do trabalho, da vida, da morte diante de Deus. Não há, pois, contradição entre a mensagem bíblica e as das ciências naturais, nem se devem pedir à Bíblia teorias de ordem física ou biológica. Mesmo Gênesis 1-3 não pretende ensinar como nem quando o mundo foi feito.

Totalmente Inspirada – Toda a Bíblia, em qualquer de suas partes, é inspirada; ela é, por inteiro, Palavra de Deus (2Tm 3,15s). Portanto, todas as páginas da Bíblia são inspiradas, qualquer que seja a sua temática.

E as palavras? – Também as palavras da Escritura são inspiradas. Quando o Espírito Santo iluminava a mente dos autores sagrados, para que vissem com clareza alguma mensagem, iluminava também as palavras com as quais se revestia essa mensagem na mente do hagiógrafo. E por isto que os próprios autores sagrados fazem questão de realçar vocábulos da Bíblia; veja Hb 8,13; Gl 3,16; Mc 12,26s. Somente as palavras das línguas originais (hebraico, aramaico, grego) foram assim iluminadas. As traduções bíblicas não gozam do carisma da inspiração.

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