domingo, 27 de janeiro de 2002

Cronologia da Vida de Jesus


Obra original: “La Storia di Gesù” – Rizzoli Editore S.p.A. – Milão – 1983

No Brasil: Coleção “Jesus” – JB Indústrias Gráficas – Rio de Janeiro - 1986

 

Este Texto: Enrico Galbiati


Doutor da Biblioteca Ambrosiana de Milão

 

            A cronologia da vida de Jesus não é encontrada, diretamente, nos Evangelhos. Ou seja, as datas do nascimento, do início de seu ministério público, da morte, enfim, da duração de sua vida terrena, não são apresentadas pelos evangelistas da forma que se esperaria de uma biografia clássica. Essa carência resulta do gênero literário dos Evangelhos e do modo como foram compostos, baseados numa catequese oral, que narrava os episódios da existência de Jesus e seus ensinamentos em contextos isolados e não no âmbito de um perfil biográfico. No entanto, existem nos Evangelhos alguns dados a partir dos quais podemos deduzir a extensão do período de tempo no qual podem-se situar os extremos de sua vida — por exemplo, de quando Herodes, o Grande, ainda vivia (isto é, antes de 4 a.C.) até quando Pilatos ainda era procurador romano na Judéia (vale dizer, não depois de 36 d.C.). E possível uma reconstrução do quadro cronológico, a partir de certos dados evangélicos precisos, e com o auxilio de alguns cálculos astronômicos baseados na data da Páscoa hebraica, na véspera da qual Jesus foi crucificado.

O ano em que Jesus nasceu pode ser calculado em função de dois dados evangélicos: alguns anos antes da morte de Herodes (Mateus 2,1.19); por ocasião de um recenseamento, quando Públio Sulpício Quirino era governador da província romana da Síria (Lucas 2,2).

Deduz-se o ano da morte de Herodes, o Grande, de diversas informações fornecidas pelo historiador judeu Flávio Josefo, referentes tanto à duração de seu reinado (37 anos desde a nomeação, ocorrida em Roma no 714º ano dessa cidade, isto é, 40 a.C. — Antigüidade Judaica XVII, 8, 1; Guerra Judaica 1, 33, 8), como à duração do governo de seus sucessores (Antigüidade Judaica XVII, 13, 2; XVIII, 4, 6). Herodes morreu no ano 750 da fundação de Roma (4 a.C.), algum tempo depois de um eclipse lunar que iluminara com sinistras luzes a morte na fogueira de alguns atrevidos (espalhado o boato de que o rei morrera, estes haviam derrubado a águia de ouro que Herodes fizera colocar sobre a porta do templo), e cerca de dez dias antes da festa da Páscoa (Antigüidade Judaica XVII, 6,3-4; XVII, 8, 4-9). A astronomia confirma que um eclipse lunar foi visível em Jerusalém na noite de 12 de março de 4 a.C. e que a Páscoa daquele ano, ou seja, o plenilúnio de primavera (no hemisfério norte), ocorreu em 11 de abril. Nessa data, Jesus já devia ter nascido há pelo menos dois anos, de acordo com os acontecimentos narrados por Mateus 2, na hipótese de que tenham alguma substância histórica. De fato, os magos, indo a Jerusalém para presentear o Messias recém-nascido, lá encontraram Herodes, quando se sabe que, no princípio do inverno de 5 a.C., adoentado, este se transferiu para Jericó e, por algum tempo, para as termas de Calliroe, no mar Morto. Por outro lado, Herodes, calculando a época desde o nascimento de Jesus e talvez exagerando, por garantia, fez matar todos os meninos de dois anos para baixo. Deve-se computar, também, o período durante o qual José e Maria, com o menino Jesus, permaneceram refugiados no Egito, até a morte de Herodes. Essas considerações nos levam a situar o nascimento de Jesus nos anos 7 ou 6 antes de nossa era e, portanto, se não fosse um paradoxo, poderíamos dizer em 7 ou 6 “antes de Cristo”.

A contradição nasce de um erro no cálculo da era cristã, que começou a ser usada somente no século VI. Antes disso, as datas partiam da fundação de Roma (753 a.C.) ou da era de Diocleciano, dita a “era dos Mártires” (a partir do ano 284 d.C.). O cômputo que fixou o início da era cristã em 25 de dezembro do 753º ano de Roma (e, portanto, o ano 1 a partir de 1º de janeiro do 754º ano) deve-se ao monge Dionísio, o Pequeno, que trabalhou em Roma entre os anos 500 e 545, traduzindo do grego para o latim obras de cultura eclesiástica. Ao elaborar uma tabela, muito útil, dos ciclos pascais (ou seja, que fixava a data da Páscoa numa longa série de anos), ele usou pela primeira vez a expressão “era cristã”, que calculou para designar os anos com números. Credita-se a ele a referência mundialmente difundida de indicar os anos, embora seus cálculos estivessem equivocados e atrasados 6 ou 7 anos em relação à verdadeira data do nascimento de Cristo. Daí a estranha contradição quando se menciona esse acontecimento seguido da costumeira fórmula “antes de Cristo”!

Já o censo promovido por Quirino, infelizmente, não nos ajuda a estabelecer com maior precisão o ano em que Jesus nasceu. A razão disso está no caráter fragmentário das informações históricas sobre Quirino e, especialmente, no fato de que nenhuma fonte histórica menciona um recenseamento realizado no tempo de Herodes. As notícias sobre Quirino que, de alguma forma, concordam com as informações de Lucas (2,2) sobre seu governo na Síria, na época de Herodes, são fornecidas por Tácito (Anais 3, 48) e por Estrabão (Geografia 12, 6,5). Públio Sulpício Quinino era cônsul em 12 a.C. Depois, comandou uma guerra vitoriosa contra rebeldes omonadenses da Cilícia; obtidas as honras do triunfo, foi nomeado conselheiro de Caio César, o jovem sobrinho de Augusto encarregado do governo da Armênia em 2 a.C. Mais tarde foi “legado de Augusto”, ou seja, governador da Síria, de 6 a 12 d.C. Muitos autores afirmam que Quinino não poderia comandar uma guerra na Cilícia, se não fosse ele mesmo o governador da Síria. Daí concluem que teria sido, uma primeira vez, governador da Síria nos anos 11-9, antes de Gaio Sêncio Saturnino (9-6 a.C.), ou desfrutava de autoridade semelhante. Em tais circunstâncias, teria realizado ou apenas iniciado o recenseamento de que fala Lucas. Recordemos também o fato de que Tertuliano (Contra Márcio 4, 19), sem medo de contradizer a informação de Lucas 2,2, atribui a Saturnino o censo durante o qual nasceu Jesus. Alguns autores acreditam que as operações de recenseamento, iniciadas por Quinino por volta de 9 a.C., foram finalizadas por Saturnino entre 8 e, 6 a.C.

Em conclusão, pelos dados expostos até agora, o ano de nascimento de Cristo situa-se entre 9 e 6 a.C. Se muitos autores não remontam além do ano 7 a.C., é porque partem de outras considerações, em particular do dado fornecido por Lucas 3,23, segundo o qual Jesus, ao iniciar seu ministério, tinha “cerca de trinta anos”.

 

As datas: começo do ministério,

primeira Páscoa, crucificação

 

Jesus iniciou seu ministério após ter recebido o batismo. Isso aconteceu algum tempo depois do começo da atividade profética de João. A propósito desse início temos em Lucas (3,1-2) uma série de fatos sincrônicos com a história profana: “No ano décimo quinto do império de Tibério César” (governou de 13 a 37 d.C.), “sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia” (de 26 a 36 d.C.), “Herodes [Antipas] tetrarca da Galiléia” (de 2 a.C. a 39 d.C.), “Filipe, seu irmão, tetrarca da Ituréia e da província de Traconítides” (de 4 a.C. a 34 d.C.) “e Lisânias tetrarca da Abilínia” (data incerta), “sendo pontífices Anás e Caifás” (Caifás foi sumo sacerdote de 18 a 36 d.C.; Anás, sogro de Caifás, que já fora sumo sacerdote de 6 (?) a 15, exercia grande autoridade no ambiente sacerdotal). Mais adiante, Lucas (3,23) indica que “Jesus, quando começou (o seu ministério), tinha cerca de trinta anos”. De todos esses dados, os mais importantes para nosso propósito são o primeiro e o último, ou seja, “no ano décimo quinto de Tibério” e “Jesus tinha cerca de trinta anos”.

Segundo o cômputo romano, o ano décimo quinto de Tibério foi de 19 de agosto de 28 até 18 de agosto de 29 d.C. De fato, César Augusto morreu em 19 de agosto de 14. Entretanto, Lucas, escrevendo no Oriente, talvez tenha seguido o cômputo sírio de acordo com o qual se fazia coincidir o início de um reinado com o do ano em que ocorrera a sucessão. Nesse caso, o primeiro ano de Tibério vai de setembro-outubro (começo do ano sírio e hebraico) de 13 até setembro-outubro de 14 d.C. Conseqüentemente, o décimo quinto ano a que se refere Lucas (3,1) deve ir de setembro-outubro de 27 a setembro-outubro de 28. A maior parte dos autores prefere esse cômputo porque, com base em cálculos astronômicos, ele situa a crucificação na véspera da Páscoa do ano 30. Na verdade, entre o início da vida pública e a última Páscoa interpõe-se pelo menos duas outras Páscoas, a de 29 (João 6,4) e, retrocedendo, a de 28, alguns meses depois do início do ministério público de Jesus (João 2,13).

O sentido da informação “Jesus tinha cerca de trinta anos” quando iniciou seu ministério público deve ser deduzido de outras indicações do mesmo evangelista, que relacionam a idade com uma lei à qual Jesus se submeteu: com oito dias de vida foi circuncidado (Lucas 2,21); no quadragésimo dia, por ocasião da purificação da mãe, foi seguida a lei sobre o primogênito (Lucas 2,22-24); aos doze anos participou da peregninação anual, por ocasião da Páscoa (Lucas 2,42). Da mesma forma, os trinta anos cumpridos indicavam que Jesus não iniciou sua atividade de “mestre” antes de ter chegado à idade que os hebreu exigiam para o exercício das funções dos levitas (Números 4,3.23.30) e, por analogia, de quem ensinava a Lei divina como mestre perfeito.

O erro de Dionísio, o Pequeno, advém de ter entendido esses trinta anos como um número exato. Mas, afinal, quantos anos Jesus tinha no início de seu ministério? Se fizermos começar o décimo quinto ano de Tibério na primavera de 27 e retrocedermos até o ano da morte de Herodes, em 4 a.C., teremos um período de 31 anos. No entanto, quando Herodes morreu, Jesus já nascera há pelo menos dois anos, em 6 ou 7 a.C., como já vimos. Logo, no início de seu ministério, Jesus devia ter 33 ou 34 anos. Retroceder ainda mais, até 9 ou 10 a.C., elevaria essa idade a 36 ou 37 anos. Isso seria compatível com uma interpretação estrita da expressão “cerca de trinta anos”, mas a maioria dos autores inclina-se pelos anos 6 ou 7, permanecendo assim em harmonia também com o dado material dos “cerca de trinta anos”.

O ano em que teve início o ministério de Jesus, isto é, 27, em seus últimos meses, é confirmado por uma frase pronunciada pelos judeus em resposta a Jesus, quando este se encontrava em Jerusalém, por ocasião da primeira Páscoa de sua vida pública, ou seja, na Páscoa do ano 28. João (2,13-20), depois de narrar o gesto autoritário de Jesus, que havia expulsado os mercadores do templo, e a exigência por parte dos judeus de um sinal justificativo, cita as palavras misteriosas de Jesus, que aludiam ao templo de seu corpo: “Destruí este templo e eu o reedificarei em três dias” (2,19). Ao que os judeus, entendendo as palavras de Jesus como referentes ao templo de Jerusalém, replicam: “Este templo foi edificado em quarenta e seis anos, e tu o reedificarás em três dias?” (2,20). Ora, sabemos por Flávio Josefo (Antigüidade Judaica XV, 11) que Herodes fez reconstruir completamente o santuário, ampliar a área e levantar novos e suntuosos pórticos, e, por outro lado, que os trabalhos de complementação, referentes aos edifícios anexos, continuavam ainda no tempo de Jesus e foram concluídos sob o procurador Pórcio Festo, em 62 d.C. (Antigüidade Judaica XX, 8, 11). Conhecemos, também, o ano do início dessa reconstrução do templo, o décimo oitavo do reinado de Herodes (Antigüidade Judaica XV, 11, 1), isto é, 20-19 a.C. Contando 46 anos a partir de 19 a.C., chegamos à Páscoa do ano 28.

Os dados concordes dos quatro Evangelhos informam, com certeza, que Jesus foi crucificado na véspera do sábado, no dia da semana que chamamos sexta-feira e que os evangelistas, seguindo o uso dos hebreus de língua grega, chamam Parasceve (Paraskeué), vale dizer, “preparação” do sábado, dia festivo (Mateus 27,62; Marcos 15,42; Lucas 23,54; João 19,14.31.42). Mas aquela sexta-feira era a véspera ou a festa da Páscoa? A pergunta surge da comparação entre a narrativa que os Evangelhos Sinóticos fazem dos acontecimentos e aquela apresentada pelo quarto Evangelho. Para compreender os termos usados pelos evangelistas, é oportuno recordar os costumes pascais no tempo de Jesus. A festa da Páscoa caía no dia 15 do mês lunar de Nisã (março-abril), ou seja, no plenilúnio de primavera. Mas a celebração começava na noite do dia anterior, 14 de Nisã. Na tarde desse dia imolavam-se, no templo, os cordeiros pascais; ao pôr-do-sol começava o tempo festivo e, em cada casa, tinha lugar a ceia pascal ritual. Como a obrigação, por sete dias, de consumir apenas pão ázimo começava com essa ceia, o dia 14 de Nisã podia ser chamado “o primeiro dia dos ázimos”. Note-se que a ceia pascal só podia ser consumida dentro dos limites da cidade de Jerusalém (daí o enorme afluxo de peregrinos) e que, por outro lado, não era permitido sair da cidade, durante toda a noite. Os Sinóticos chamam a quinta-feira que precede a paixão de “o primeiro dia dos ázimos” (Ma­teus 26,17; Marcos 14,12; Lucas 22,7), “no qual se devia imolar a Páscoa” (Lucas 22,7; cf. Marcos 14,12).

João (capítulo 13), quando descreve a ceia da noite de quinta-feira, não afirma que se tratava de uma ceia pascal. Em lugar disso, diz que, no dia seguinte, os membros do sinédrio não quiseram entrar no pretório de Pilatos para não se contaminarem e poderem, assim, comer a Páscoa (João 18,28); e, mais, chama aquele dia de Parasceve (19,14) e acrescenta que o sábado seguinte era um sábado duplamente festivo, pois coincidia com o dia da Páscoa (19,31).

Por outro lado, também na narração do quarto Evangelho, a ceia de quinta-feira aconteceu em Jerusalém, e Jesus, naquela noite, não saiu da cidade, o que permitiu sua captura. Por que foi cear em Jerusalém, em vez de permanecer com os amigos de Betânia, como nas outras noites, se não por querer celebrar a Páscoa? Como veremos, a verdadeira data da Páscoa daquele ano é a indicada pelo quarto Evangelho: Jesus foi crucificado na véspera da Páscoa. No entanto, celebrou a ceia pascal na noite da quinta-feira. Segundo alguns autores, antecipou-a por sua vontade, como Páscoa incruenta, antecipação profética da Páscoa cruenta do dia seguinte (João 13,1). É mais provável, porém, que Jesus tenha seguido o calendário de algum grupo religioso, que por uma razão qualquer havia adiantado a data um dia. Assim, a quinta-feira teria sido, na verdade, “o primeiro dia dos ázimos” para alguma comunidade hebraica, mas não para o judaísmo oficial.

Dissemos que, naquele ano, a verdadeira data da Páscoa caíra exatamente num sábado. Isso é confirmado por cálculos astronômicos, cujo resultado mostra que, entre os anos 28 e 33, o dia 14 de Nisã coincidiu, por duas vezes, com uma sexta-feira (em 7 de abril de 30 e em 3 de abril de 33), mas nunca, por outro lado, o 15 de Nisã. Em 27, o 14 de Nisã também é uma sexta-feira (11 de abril); somente em 34 a sexta-feira, 26 de março, coincide com 15 de Nisã. Mas as datas de 27 e de 34 estão muito afastadas dos extremos entre os quais se pode situar o ano da crucificação, levando-se em conta os outros dados.

Notemos que, até o Concílio de Nicéia (em 325), algumas comunidades cristãs da Ásia Menor, louvando-se em uma tradição apostólica, insistiam em celebrar a Páscoa no dia da morte de Jesus, em 14 de Nisã (o décimo quarto dia da lua da primavera). Mas como optar entre os anos 30 e 33? A maioria dos estudiosos é a favor de 30, porque — mesmo supondo-se que a duração do ministério de Jesus fosse de três anos em vez de dois, quando se retrocede a partir do ano 33, a primeira Páscoa cai em 30, algo distante do décimo quinto ano de Tibério (27-28 ou 28-29).

 

A duração do ministério público

 

Uma leitura superficial dos Sinóticos não revela a duração da vida pública de Jesus; de fato, os acontecimentos aí são narrados segundo um esquema simplificado: batismo, ministério na Galiléia, viagem à Judéia, ministério em Jerusalém, última Páscoa. Tudo poderia ser condensado no período de um ano. Mas há duas particularidades que revelam indiretamente a existência de outra Páscoa e, portanto, de outro ano de pregação. Em pleno ministério na Galiléia, recorda-se que os apóstolos colhiam espigas de grão maduro, o que podia ocorrer entre a Páscoa e o Pentecostes. Por outro lado, por ocasião da primeira multiplicação dos pães, alude-se ao fato de que a multidão sentava-se sobre a relva “verde” (Marcos 6,39), o que se verifica na primavera, no fim da estação das chuvas. Depois a relva torna-se amarelada e seca. O quarto Evangelho, mencionando o mesmo episódio, explicita que estava próxima a Páscoa (João 6,4).

Somente esse Evangelho permite fixar a duração do ministério de Jesus, com a menção que faz das festas das quais ele participava, apresentando-se em Jerusalém:

João 2,13: deixando a Galiléia, Jesus se dirige a Jerusalém para a Páscoa, a primeira alguns meses após o início do ministério público.

João 5,1: “Depois disto, houve uma festa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém”. Nessa ocasião, Jesus operou a cura do enfermo no tanque de Betsaida. De acordo com a opinião corrente, essa festa não especificada não era uma Páscoa: podia ser a festa das semanas (Pentecostes), em maio-junho do mesmo ano, ou a festa dos Tabernáculos, em setembro-outubro. Segundo outros, tratar-se-ia da Páscoa (alguns manuscritos importantes dão “a festa dos Judeus”), mas o capítulo 5, que a menciona, deveria ser colocado depois do capítulo 6: tratar-se-ia, então, da festa da Páscoa, que, no capítulo 6, é referida como iminente. Em ambas as interpretações, não se supõe uma Páscoa a mais. Pelo contrário, para aqueles que situam a crucificação no ano 33, essa festa seria a segunda das quatro Páscoas que, de acordo com eles, estabelecem a duração da vida pública de Jesus em três anos e alguns meses. Entre os capítulos 5 e 6 há um intervalo de um ano, deixado vago no quarto Evangelho e que deve ser preenchido com o ministério de Jesus na Galiléia, narrado nos Sinóticos.

João 6,4: “Ora, a Páscoa, a festa dos judeus, estava próxima”, no episódio da multiplicação dos pães. E a penúltima Páscoa, um ano antes da crucificação.

João 7,2: Jesus sobe a Jerusalém para a festa dos Tabernáculos: no decorrer desta, sobrevêm acesas discussões com os judeus e a cura do cego de nascença. A festa durava sete dias, exatamente seis meses antes da Páscoa.

João 10,22: Jesus encontra-se em Jerusalém para a festa da Dedicação do templo, em novembro-dezembro, com a duração de oito dias. Depois, dirige-se à Transjordânia. Retorna à Judéia para a ressurreição de Lázaro e após um período de retiro volta a Jerusalém para a última Páscoa.

João 11,55; 12,1; 13,1; 19,14: são as passagens que mencionam a Páscoa nos últimos episódios da vida terrena de Jesus.

Resulta desse retrospecto que o ministério público de Jesus durou dois anos e alguns meses. Pelo menos essa é a interpretação mais comum, a única compatível com a última Páscoa no ano 30. Em conseqüência, a idade de Jesus no fim da sua missão terrena devia ser 36 ou 37 anos. Se, em vez disso, a última Páscoa for situada no ano 33, devem-se supor três anos e alguns meses para chegar-se a 29 como décimo quinto ano de Tibério. A idade de Jesus seria, nesse caso, cerca de 40 anos. A opinião tradicional, segundo a qual Jesus teria sido crucificado aos 33 anos, deve-se à interpretação literal de “cerca de trinta anos” de Lucas (3,23) e também ao fato de considerar-se uma Páscoa a mais a “festa dos Judeus” de João (5,1), o que é incompatível com a data da morte de Herodes em 4 a.C.

 

Quadro Cronológico


 

Datas

Acontecimentos

Entre 7 e 6 a.C.
Nascimento de Jesus
Março do ano 4 a.C.
Morte de Herodes
Out. ou nov. de 27
Batismo - 15º ano de Tibério
Março / abril de 28
1ª Páscoa
Jan. / fev. de 29
Martírio de João Batista
Março / abril de 29
1ª multiplicação dos pães
Março / abril de 29
2ª Páscoa
Set. / out. de 29
Festa dos tabernáculos
2 de abril de 30
Entrada de Jesus em Jerusalém (Ramos)
6 de abril de 30
Última ceia (5ª feira Santa)
7 de abril de 30
crucificação
8 de abril de 30
3ª Páscoa
9 de abril de 30
Domingo da ressurreição

 

sábado, 26 de janeiro de 2002

A lenda do Quarto Rei Mago

Os magos – O Evangelho de Mateus descreve a visita dos magos a Jesus em Belém, guiados por uma estrela. As antigas comunidades cristãs adicionaram à história do Evangelho o título de “reis”, o número de “três” e os seus “nomes”. O texto de Mateus também conta que os magos vieram adorar o Menino e entregar seus presentes: ouro, incenso e mirra.
A Lenda – Uma antiga história conta que existia um quarto rei mago, que se chamava Artabam. Os quatros venderam tudo o que tinham e compraram os presentes.  Artabam escolheu como presentes pedras preciosas: um rubi, uma esmeralda e diamantes. 
Artabam – Quando estava a caminho de Belém, Artabam escutou gemidos que um homem, assaltado à beira do caminho, emitia de maneira intermitente. Comovido, colocou-o no seu camelo, o levou a uma pousada próxima, cuidando dele até que se recuperasse o suficiente. O dono da pousada exigiu o pagamento pelos serviços prestados. Então Artabam, sem pestanejar, pegou o rubi dentro de sua bolsa e entregou ao dono da pousada. 
Perdeu-se – Procurou a trilha dos outros reis magos, mas a estrela já tinha desaparecido do céu. Dormiu morto de cansaço. Ao acordar, partiu de novo sem os amigos, sem a estrela para orientá-lo e continuou seu caminho. No fundo do coração, ele sabia que, algum dia, iria encontrar seu Rei. 
A Caravana – A certa altura da caminhada, avistou uma caravana vindo em sua direção. Quando se aproximaram, viu que se tratava de um comboio de escravos sendo levados para a morte.  Artabam olhou para eles e sentiu compaixão e amor. Pegou as esmeraldas e os diamantes e comprou os escravos, libertando-os em seguida.  Quando todos já haviam partido, Artabam ficou sozinho. 
Desespero – O sol se pôs e a escuridão tomou conta do deserto. Entre lágrimas, Artabam olhou para o céu estrelado.  Não tinha mais presentes para oferecer, não havia mais a estrela guia, tinha perdido o contato com seus três amigos. 
Final da lenda – Existem dois finais para esta lenda.  Vamos a eles. 
Primeiro final – A estrela de Belém apareceu novamente para Artabam, mas ele desistiu de segui-la, pois nada mais tinha a oferecer ao Menino.  De repente, uma voz misteriosa lhe disse:  — Não é tarde, não, Artabam. Você chegou na hora certa. Quero que saiba que seus presentes foram os primeiros que recebi quando nasci. Você foi o primeiro a encontrar-me, o primeiro a me homenagear e o primeiro a me presentear. 
Segundo final – Uma segunda versão conta que Artabam foi assaltado e saqueado por ladrões, perambulando pela região da Palestina por muitos anos.  Nunca desistiu de encontrar o seu Rei.  Um dia, passando próximo a Jerusalém, encontrou três homens crucificados.  Um deles lhe perguntou o que procurava.  Artabam respondeu que há mais de 30 anos buscava o Rei dos Judeus.  O homem lhe disse: “Pois acaba de encontrar!”.

COMEMORAMOS ...
            ... no dia 26 de janeiro comemora-se o dia de São Timóteo, ajudante, assistente e amigo pessoal de São Paulo.  Foi um grande missionário, principal elemento da Igreja de Éfeso.  São Paulo lhe endereçou duas cartas canônicas.  Foi martirizado no ano de 97, apedrejado por opositores da Igreja.

PESQUISA BÍBLICA

            Em Jo 1,29-34 nós encontramos João Batista proclamando para a multidão que Jesus é o Cristo: “Eis o Cordeiro de Deus ... eu vi o Espírito descer sobre ele ... atesto que ele é o Filho de Deus.  Isto aconteceu em outubro/novembro do ano 27.  Poucos meses depois (Mt 11,3 ou Lc 7,19) o mesmo João Batista manda perguntar a Jesus se ele era mesmo ‘Aquele que vem’.  Será que João se esqueceu do que havia dito?  Os textos são incoerentes?  Faça uma pesquisa em sua Bíblia ou em livros bíblicos; pergunte para o padre ou catequista de sua paróquia.  Se você não encontrar uma resposta satisfatória, solicite por  E-mail que lhe enviaremos um texto explicativo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2002

Que língua falava Jesus?

            Os evangelistas transmitiram poucos testemunhos sobre a língua original falada por Jesus, mas apenas uma ou outra palavra que tenha ficado profundamente registrada na memória dos apóstolos.

Três expressões – Marcos, discípulo e intérprete de Pedro, registrou três expressões de Jesus: “Talitha qûm” (menina eu te mando, levanta-te – 5,41), que é a palavra carregada de poder, dita à jovem filha de Jairo, morta há pouco, e a quem Jesus chama de volta à vida; “Ephpheta” (abre-te – 7,34), que é a palavra dita ao surdo-mudo a quem Jesus fez ouvir e falar; “Abba” (Pai –14,36) que é a invocação filial com a qual se dirige a Deus, revelando sua intimidade de filho e a proximidade do pai. 

Aramaico – As palavras acima (veja também a oração de Jesus na cruz: Elol, Eloí lemá sabachtaní?” citada por Mateus 27,46 e Marcos 15,34) estão na língua aramaica; por isso, somos levados a crer que a língua normalmente falada por Jesus era o aramaico. Além do mais, o quadro histórico que se pode fazer da época em que Jesus viveu, nos faz chegar à mesma conclusão, visto que os hebreus do século I, na Palestina, falavam o aramaico em suas variantes dialetais judaicas ou galilaicas. 

Outras duas línguas – De acordo com o contexto histórico em que Jesus viveu, devemos mencionar outras duas línguas com as quais ele devia ter certa familiaridade: a dos textos sagrados, isto é, o hebraico, e a das relações mais genéricas, o grego.  O grego também permitia que os hebreus provenientes das mais diversas partes do mundo helenístico e do império Romano se comunicassem entre si. Era difundido não só no Império Romano do Oriente como no do Ocidente e na própria capital, Roma. Se Roma e seus administradores adotavam o latim como língua oficial, o mesmo não ocorria no Oriente, onde só os funcionários administrativos o empregavam, jamais o povo.  O hebraico, embora já não fosse falado na época de Jesus, continuava a ser a língua dos textos sagrados lidos nas sinagogas aos sábados e era também a língua erudita dos sábios de alguns grupos religiosos. 

Hebraico – Supõe-se que Jesus, depois do bar-mitzva — isto é, depois dos treze anos — quando adolescente, não podendo seguir uma escola rabínica, como Paulo (At 22,3), tenha freqüentado a escola anexa à sinagoga e aprendido a ler a Escritura, a declamá-la, traduzi-la e comentá-la. O episódio da sinagoga de Nazaré como nos relata Lucas 4,16 (“Foi a Nazaré, onde se tinha criado, e entrou na sinagoga, segundo o seu costume, em dia de sábado, e levantou-se para fazer a leitura”); o fato de Jesus com freqüência ensinar nas sinagogas durante sua vida pública; o próprio título de rabi atribuído a ele não só pelos discípulos, mas também pelo povo e até pelos escribas — tudo isso nos leva a crer que conhecesse o hebraico clássico, a língua dos textos sagrados com a qual se proclamava a palavra de Deus nas sinagogas, antes de ser traduzida para os fiéis. 

Grego – Já o grego (Koiné) era um idioma muito difundido, falado tanto pelos hebreus da diáspora, que não conheciam mais o aramaico, quanto pelos povos de cultura helenística, como os habitantes da Fenícia e da Decápole; era a língua de intercâmbio entre as populações regionais presente em quase todas as moedas e inscrições. Era a língua das cortes de Filipe e de Herodes Antipas.  É provável que Jesus conhecesse um pouco de grego, tanto quanto se aprende quando uma língua é relativamente generalizada no local em que se vive. Segundo os evangelistas, no interrogatório ao qual foi submetido Jesus, Pilatos inquiriu-o diretamente: “Tu és o Rei dos Judeus? Jesus disse-lhe: Tu o dizes” (Mateus 27,11). Do extenso diálogo relatado por João (18,33-38), infere-se que Jesus tenha respondido às perguntas do procurador que falava grego, sem auxílio de intérprete. 

Portanto ... – Podemos dizer que Jesus falava o aramaico no seu dia-a-dia, para conversar, pregar e ensinar as pessoas. Usava o hebraico (língua de seus antepassados) na leitura e ensinamento dos textos sagrados nas sinagogas.  Deveria também falar o grego, pela cultura da região onde vivia.

QUER LER MAIS?

            Se você quer saber mais sobre as línguas faladas por Jesus, nós podemos lhe enviar um texto mais detalhado.  Solicite por carta ou E-mail.

sábado, 19 de janeiro de 2002

São João Batista e Herodes

            Uma das histórias mais conhecidas da Bíblia é o confronto entre São João Batista (o precursor de Cristo) e Herodes Antipas, o filho de Herodes Magno (aquele que aparece no nascimento, recebe os magos, assassina as crianças de Belém).  Vamos detalhar os fatos, usando os textos do Evangelho de Marcos (Mc 6, 17s) e as citações do historiador Flávio Josefo, no livro Antiguidades Judaicas (XVIII,5,2).  
Herodes Antipas – Foi o filho caçula de Herodes, o Grande, e da Samaritana Maltace, uma das dez esposas de seu pai; nasceu por volta do ano 20 a.C.  Com a morte de seu pai (4 a.C.) se tornou tetrarca (rei de uma das quatro partes do reino) da Galiléia e Peréia (veja Lc 3,1).  Freqüentou as melhores escolas de seu tempo, alternando o estudo com os divertimentos e a ociosidade de Roma. Casou-se com a filha de Aretas IV, o rei do perigoso povo Nabateus (da vizinha Arábia).  Tinha total confiança e simpatia do Imperador Tibério, a ponto de ser transformado em um espião junto aos magistrados romanos no Oriente. 
O escândalo – Por volta do ano 27 d.C., em uma de suas viagens a Roma como informante do imperador, Herodes Antipas hospedou-se na casa de seu irmão por parte de pai, Herodes Filipe (veja Mc 6,17).  Este levava uma vida discreta em Roma e havia se casado com sua sobrinha Herodíades.  A ocasião foi favorável tanto para a ambiciosa Herodíades (que não se conformava com aquela vida obscura), como para o leviano Antipas, que se apaixonou por ela. 
A infidelidade – Os dois juraram-se fidelidade.  A pedido de Herodíades o tetrarca prometeu repudiar a esposa assim que retornasse à Galiléia; Herodíades prometeu-lhe abandonar o marido, Filipe, e acompanhá-lo para a Galiléia.  A legítima esposa de Antipas, sabendo dos projetos do marido, preferiu não sofrer a humilhação do repúdio, retirando-se para a casa dos pais.  Os nabateus, vendo a filha do rei Aretas IV humilhada, invadiram as terras de Antipas, fazendo com que este perdesse toda a estima do imperador.
A união ilegítima – Com o caminho livre, Herodíades viajou para a Galiléia, levando a sua filha, a bela jovem Salomé, e passou a viver com Herodes Antipas. 
A denúncia de João Batista – Todo o povo comentava o escândalo do tetrarca, que violara as leis nacionais e religiosas ao contrair aquelas segundas núpcias, que a Lei de Moisés condenava severamente (Lev 20,21).  Todos falavam, indignados, dessa união, mas secretamente, temiam represálias.  Só o profeta do deserto, respeitado pelo povo e por Antipas (Mc 6,20), João Batista ousou afrontar o tetrarca, denunciando a união ilegítima com Herodíades (Mc 6,18).  Temendo uma revolta popular, Antipas mandou prender João Batista na solitária e majestosa fortaleza de Maqueronte. Herodíades queria silenciar para sempre, com a morte, o austero denunciante. 
O Martírio – No dia do aniversário de Herodes, foi oferecido um banquete aos grandes da corte.  Salomé (filha de Herodíades) dançou e agradou a todos.  O rei, encantado, disse à moça: “Pede o que quiseres e eu te darei, ainda que seja a metade de meu reino”.  Em dúvida, a moça perguntou a sua mãe: “O que hei de pedir?”.  Ela respondeu: “A cabeça de João Batista”.  Salomé pediu ao rei: ”Quero que me dês num prato a cabeça de João Batista”.  Antipas, mesmo contrariado, mandou degolar João no cárcere e entregou a sua cabeça num prato para Salomé” (veja Mc 6,21-28). 
Lenda – Uma antiga lenda conta que Herodíades ao ter nas mãos a cabeça de João, não pôde conter a satisfação e, com um alfinete de ouro, atravessou a língua que a havia censurado.
 
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            Se você se interessou pelo confronto entre João Batista e Herodes nós podemos lhe oferecer um texto com a história completa (10 páginas). Solicite.
 
COMEMORAMOS ...
            ... no dia 25 de janeiro comemora-se a conversão de Paulo.  São Paulo nasceu no ano 3 d.C., tendo se convertido no ano 36 d.C. e se transformando no principal pregador cristão.  Fez três grandes viagens missionárias, fundando dezenas de comunidades cristãs.  Escreveu inúmeras cartas, das quais 13 estão no Novo Testamento.

PESQUISA BÍBLICA

            Em Jo 1,29-34 nós encontramos João Batista proclamando para a multidão que Jesus é o Cristo: “Eis o Cordeiro de Deus ... eu vi o Espírito descer sobre ele ... atesto que ele é o Filho de Deus.  Isto aconteceu em outubro/novembro do ano 27.  Poucos meses depois (Mt 11,3 ou Lc 7,19) o mesmo João Batista manda perguntar a Jesus se ele era mesmo ‘Aquele que vem’.  Será que João se esqueceu do que havia dito?  Os textos são incoerentes?  Faça uma pesquisa em sua Bíblia ou em livros bíblicos; pergunte para o padre ou catequista de sua paróquia.  Se você não encontrar uma resposta satisfatória, solicite por E-mail que lhe enviaremos um texto explicativo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2002

Os anos anônimos de Jesus

            Os Evangelhos descrevem o nascimento de Jesus e os acontecimentos dos primeiros anos de sua vida (entre os anos –7 e –4), saltando para a descrição do batismo de Jesus (com 33 anos de idade em outubro do ano 27). Como teria sido a infância e a adolescência de Jesus? A tradição judaica permite supor como ela se deu. 
As tradições judaicas – Os judeus valorizavam muito o ensino religioso, sendo este o principal aspecto na formação das crianças.  O pai era o principal encarregado da formação religiosa das crianças.  Jesus, logo que começou a falar, aprendeu com José a recitação diária do Shemá (de manhã e à tarde) e a prece das Dezoito Bênçãos (três vezes ao dia). Quando começou a caminhar, José o levava à sinagoga e, anualmente, ao templo de Jerusalém. Dessa maneira, passo a passo, o garotinho israelita foi conduzido ao pleno cumprimento da Lei. 
Escola – Aos cinco ou seis anos de idade, como todo garoto hebreu nessa idade, Jesus começou a freqüentar a escola.  Era levado pela mãe (que ainda não tinha 20 anos de idade), que o entregava a um austero mestre.  Na sexta hora (meio-dia) Maria ia receber seu filho que deixava a escola.  O aluno Jesus aprendeu, inicialmente o alfabeto hebraico. Como não havia papel, era usada uma tábua recoberta com cera: o professor escrevia as letras com um estilete e pronunciava cada uma delas.  Aprendidas as letras, passava-se às palavras de algum versículo do livro Levítico, com os alunos repetindo em voz alta. 
Ciclo normal – Poucas semanas depois os meninos se integravam aos veteranos para o ciclo normal das lições.  Durante cinco anos a rotina era a mesma: leitura declamada (infinitas vezes) da Bíblia hebraica.  O professor mos­trava um versículo no manuscrito bíblico aos alunos sentados diante dele; lia-o, explicava-o e depois mandava que as crianças o repetissem, em coro, muitas vezes. Dessa maneira, de versículo em versículo, de livro em livro, em cinco anos se aprendia toda a Bíblia, em especial os seus primeiros cinco livros, cujo todo forma o “Livro da Lei”, chamado em hebraico Torah. 
Flavio Josefo – O autor hebreu Flávio Josefo, que viveu em um período um pouco posterior a Cristo, assim se expressou a propósito dessa didática de aprendizado, à qual todo judeu se submetia: “Se um de nós for perguntado sobre a Lei, está pronto a recitá-la [de cor] mais facilmente do que o próprio nome. Na verdade, nós aprendemo-la logo que tivemos acesso ao uso da razão e a levamos como que gravada na alma”. 
Ciclo Superior – Com dez ou onze anos de idade, o garoto Jesus passou a um ciclo superior, com a duração de dois anos (agora com aulas de manhã e à tarde). A matéria abordada no segundo ciclo era mais árida e abstrata com relação à Bíblia, pois se aprendia as tradições orais que completavam ou interpretavam o “Livro da Lei”.  No final deste segundo ciclo, Jesus viajou até a distante Jerusalém, onde deixou os doutores do templo maravilhados “da sua sabedoria e das suas respostas” (Lc 2,47). 
Uma profissão – Aos doze ou treze anos, findo o curso escolar, os garotos israelitas retornavam definitivamente para casa e era o pai quem encaminhava o filho para uma profissão, em geral a sua própria. Em Nazaré, José guiou Jesus para o próprio ofício de carpinteiro e o menino retornou à anônima vida cotidiana, interrompida apenas quando do singular episódio entre os doutores no templo de Jerusalém. Daí em diante, seria conhecido como “filho do carpinteiro” (Mateus 13,55), ou como “o carpinteiro” (Marcos 6,3). Mas essa profissão humilde serviu de pano de fundo, contrastante, para as palavras divinas, quando chegou a ocasião: “E, indo para a sua pátria, ensinava na sua sinagoga, de modo que se admiravam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes milagres? Porventura não é este o filho do carpinteiro?” (Mateus 13,54-55).

QUER REZAR COMO JESUS REZAVA?
            Todos os dias, de manhã e à tarde, Jesus recitava junto com Maria e José a oração do Shemá (que significa ‘escuta’ em hebraico):  Escuta Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só.  Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”. 

QUER LER MAIS?

            Se você quer saber mais sobre os anos anônimos de Jesus, nós podemos lhe enviar um texto mais detalhado.  Solicite por E-mail.

PESQUISA BÍBLICA

            Você sabe explicar como morreu Judas Iscariotes?  O Evangelista Mateus nos diz que ele enforcou-se (Mt 27,5), enquanto que Lucas informa que ele caiu num precipício (At 1,18-19).  O que teria acontecido com o traidor de Cristo? Os textos são incoerentes?  Quem está certo? Faça uma pesquisa em sua Bíblia ou em livros bíblicos; pergunte para o padre ou catequista de sua paróquia.  Se você não encontrar uma resposta satisfatória, solicite por carta ou E-mail que lhe enviaremos um texto explicativo.

sábado, 12 de janeiro de 2002

São João – Batista ou Evangelista?

            É bastante comum nós encontrarmos entre os cristãos, pessoas que confundem João Batista e João Evangelista.  Como estes dois personagens devem aparecer constantemente na liturgia das próximas semanas, vamos comentar sobre a vida de cada um deles. 

João Batista – Era primo de Jesus Cristo. Filho de Zacarias (sacerdote da ordem de Abia, cujo trabalho no templo era queimar incenso) e de Isabel (descendente de Aaron). Quando Zacarias estava auxiliando no Templo, um anjo lhe avisou que Isabel estava grávida.  Como Zacarias duvidou, foi castigado (ficou mudo) até o nascimento de João Batista. 

Visita – Quando estava no sexto mês de gravidez, Isabel foi visitada pela Virgem Maria. A narração do evangelista São Lucas do encontro de Maria e Isabel é um dos mais lindos trechos dos Evangelhos.  Quase todas palavras da primeira parte da oração da “Ave Maria” encontra-se nesta perícope. 

João, o profeta – Começou seu ministério por volta do ano 27. Usando apenas um cinto de couro e uma túnica de pele de camelo, alimentava-se de gafanhotos e mel selvagem, pregando uma mensagem de arrependimento para as pessoas de Jerusalém. Ele converteu muitos, preparando a vinda de Cristo. Ao começar sua vida pública, Jesus quis ser batizado por João Batista. 

A morte de João – Por denunciar a união ilícita de Herodes Antipas e Herodídes, o Batista foi decapitado a mando do monarca e teve sua cabeça apresentada numa bandeja. 

João Evangelista – Um dos doze apóstolos, filho de Zebedeu e irmão de Tiago, o Maior (chamados de filhos do trovão), foi discípulo de São João Batista antes de ser o "discípulo amado" de Nosso Senhor.  Foi chamado para ser discípulo pelo próprio Jesus, permanecendo como o discípulo mais próximo de Cristo. 
Sempre junto a Cristo – João Evangelista é o discípulo que mais está presente em todas as etapas da vida pública de Jesus. Estava presente na Última Ceia e foi o único discípulo presente no calvário, representando a Humanidade quando recebeu como Mãe a Maria Santíssima e foi a Ela entregue como filho.  
Textos de João – João Evangelista é autor do quarto Evangelho, onde apresenta um tratado teológico da vida de Cristo.  Também é autor de três Epístolas (cartas) e, possivelmente, do livro do Apocalipse. 
Morte do Evangelista – João foi desterrado (exilado) na ilha de Patmos,  onde fundou uma grande comunidade cristã.  Morreu quase centenário na cidade de Éfeso.

VOCÊ SABIA ...
            ... que São João Batista é o único santo da Igreja (além da Virgem Maria) comemorado em duas datas? Dia 24 de junho (nascimento) e 29 de agosto (morte). Para todos os outros santos, comemora-se apenas o dia da sua morte. Você sabe dizer porque isto acontece apenas com São João Batista?  Isto é assunto para a próxima semana ...

COMEMORAMOS ...
            ... dia 20 de janeiro, celebramos a festa de São Sebastião. Soldado imperial de Narbona (Gália) ou de Milão, segundo Santo Ambrósio, sofreu o martírio em Roma, em testemunho de sua fé em Cristo, na época do Imperador Diocleciano. Usava sua posição de soldado para confortar os cristãos condenados à morte. A iconografia retrata-o no martírio, crivado de flechas.   Se você é devoto deste santo, a Paróquia de São Sebastião em Bauru estará provendo tríduos, novenas, quemesse, etc. Informe-se.


PESQUISA BÍBLICA

            Em Jo 1,29-34 nós encontramos João Batista proclamando para a multidão que Jesus é o Cristo: “Eis o Cordeiro de Deus ... eu vi o Espírito descer sobre ele ... atesto que ele é o Filho de Deus.  Isto aconteceu em outubro/novembro do ano 27.  Poucos meses depois (Mt 11,3 ou Lc 7,19) o mesmo João Batista manda perguntar a Jesus se ele era mesmo ‘Aquele que vem’.  Será que João se esqueceu do que havia dito?  Os textos são incoerentes?  Faça uma pesquisa em sua Bíblia ou em livros bíblicos; pergunte para o padre ou catequista de sua paróquia.  Se você não encontrar uma resposta satisfatória, solicite por  E-mail que lhe enviaremos um texto explicativo.

sábado, 5 de janeiro de 2002

Maria, Mãe de Deus – Reconhecida por católicos e protestantes

O dia 1º de janeiro é consagrado à Maria, Mãe de Deus. Vamos estudar o porquê deste título, indicando inclusive a fundamentação bíblica.

Jesus Cristo, o nosso Salvador, tinha duas naturezas – Ele era homem e Deus. Como homem, Ele se emocionou, chorou, sentiu dor, fome, sede, etc. Como Deus, Ele fez milagres, curou doentes, perdoou pecados, reviveu pessoas e ressuscitou dos mortos. A unidade das duas naturezas da pessoa de Cristo (divina e humana) é aceita desde os primeiros séculos. O Concílio de Éfeso (em 431) reafirmou as duas naturezas de Cristo, que hoje é aceita por todos os cristãos (católicos, protestantes, evangélicos, etc.). 

Jesus Cristo era Deus – Não há dúvidas que Cristo era Deus.  Confira em Rm 9,5 (Cristo, Deus bendito eternamente), em Jo 20, 28 (Meu Deus, Meu Senhor),  em Jo 5, 18 ou em Jo 10, 30-33 (Eu e o Pai somos um).

Maria era mãe de Jesus, portanto mãe de Deus – Várias passagens bíblicas atestam que Maria é mãe de Jesus.  O nascimento era previsto desde o Antigo Testamento, veja em Is 7,14 (Eis que uma virgem conceberá ...).  Conferir também em Lc 1,31 (Eis que conceberá ...), em Lc 1,35 (O que nascerá de ti será o Filho de Deus) ou em Gal 4,4 (Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher).  É óbvio e lógico que, se aceitamos que Cristo era Deus e que Maria era mãe de Jesus, portanto, Maria era mãe de Deus.   

Protestantes reconhecem Maria – Em um recente documento intitulado “Manifesto de Dresden”, um grupo de teólogos luteranos alerta para que a figura da Maria seja restaurada nas Igrejas Evangélicas, aceitando inclusive os milagres ocorridos em Fátima e Lourdes.  Eis alguns trechos do documento: “Por que um cristão evangélico pode ter o direito de ignorar tais realidades (os milagres) pelo fato de se apresentarem na Igreja Católica e não na sua comunidade religiosa? Tais fatos não deveriam, ao contrário, levar-nos a restaurar a figura da Mãe de Deus na Igreja Evangélica? Cristãos evangélicos da Alemanha, deveremos talvez continuar a opor-lhes recusa e indiferença? Continuaremos a nos comportar de modo que o inimigo de Deus nos mantenha em atitude de intencional cegueira?” 

Ainda o Manifesto de Dresden:Seria o cúmulo da tolice ignorarmos a voz de Deus, que fala ao mundo pela mediação de Maria, e dar-lhes as costas unicamente porque Ele faz ouvir sua voz através da Igreja Católica. Poderia acontecer que, rejeitando ou ignorando a mensagem que Deus nos faz chegar através de Maria, estejamos recusando a última graça que Ele nos oferece para a nossa salvação.” 

Outro trecho do Manifesto:É, por isso, um dever muito grave para todos os chefes da Igreja Luterana, e para outras comunidades cristãs, examinar tais fatos e tomar uma posição objetiva. No seu Magnificat, Maria declara que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada até o fim dos tempos. Todos nós verificamos que esta profecia se cumpre na Igreja Católica e, nestes tempos dolorosos, com intensidade sem precedentes. Na Igreja Evangélica tal profecia caiu em tão grande esquecimento que dificilmente se encontra algum vestígio da mesma. Lutero honrou Maria até o fim de sua vida; santificava suas festas e cantava diariamente o Magnificat. Perdeu-se na Igreja Evangélica, em tempos posteriores à Reforma, todas as festas a Maria e tudo o que nos trazia sua lembrança. Estamos padecendo as conseqüências dessa herança de receio e temor.”


VOCÊ QUER LER O MANIFESTO DE DRESDEN?


            Se você se interessou pelo texto dos teólogos evangélicos, nós lhe oferecemos o texto completo para análise.  Solicite por carta ou E-mail.


VOCÊ SABIA ...

            ... que em outubro de 1979, em Saragoça (Espanha), foi realizado o VIII Congresso Mariológico Internacional?  Neste congresso participaram teólogos católicos, ortodoxos, luteranos, anglicanos e reformados.  Todos reconheceram a Virgem Maria como Mãe de Deus.



COMEMORAMOS ...

            ... a partir do dia 6/1 a epifania do Senhor que é a manifestação de Jesus como filho de Deus no mundo; no dia 8/1 o Batismo do Senhor e dia de Santo Apolinário (séc. II, morreu em 175, bispo de Hierápolis e grande escritor cristão); no dia 9/1, São Gregório (viveu entre 1210 e 1276, sendo Papa em 1271 e beatificado em 1713, sendo seu principal trabalho a convocação do Concílio de Lion).



PESQUISA BÍBLICA


            Em Jo 1,29-34 nós encontramos João Batista proclamando para a multidão que Jesus é o Cristo: “Eis o Cordeiro de Deus ... eu vi o Espírito descer sobre ele ... atesto que ele é o Filho de Deus.  Isto aconteceu em outubro/novembro do ano 27.  Poucos meses depois (Mt 11,3 ou Lc 7,19) o mesmo João Batista (preso) manda perguntar a Jesus se ele era mesmo ‘Aquele que vem’.  Será que João se esqueceu do que havia dito?  Os textos são incoerentes?  Faça uma pesquisa em sua Bíblia ou em livros bíblicos; pergunte para o padre ou catequista de sua paróquia.  Se você não encontrar uma resposta satisfatória, solicite por carta ou E-mail que lhe enviaremos um texto explicativo.