Obra original: “La Storia di Gesù” – Rizzoli
Editore S.p.A. – Milão – 1983
No Brasil: Coleção “Jesus” – JB Indústrias
Gráficas – Rio de Janeiro - 1986
Este Texto: Enrico
Galbiati
Doutor da Biblioteca Ambrosiana de Milão
A cronologia da vida
de Jesus não é encontrada, diretamente, nos Evangelhos. Ou seja, as datas do nascimento, do início de seu
ministério público, da morte, enfim, da duração de sua vida terrena, não são
apresentadas pelos evangelistas da forma que se esperaria de uma biografia
clássica. Essa carência resulta do gênero literário dos Evangelhos e do modo
como foram compostos, baseados numa catequese oral, que narrava os episódios da
existência de Jesus e seus ensinamentos em contextos isolados e não no âmbito de
um perfil biográfico. No entanto, existem nos Evangelhos alguns dados a partir
dos quais podemos deduzir a extensão do período de tempo no qual podem-se
situar os extremos de sua vida — por exemplo, de quando Herodes, o Grande,
ainda vivia (isto é, antes de 4 a.C.) até quando Pilatos ainda era procurador
romano na Judéia (vale dizer, não depois de 36 d.C.). E possível uma
reconstrução do quadro cronológico, a partir de certos dados evangélicos
precisos, e com o auxilio de alguns cálculos astronômicos baseados na data da
Páscoa hebraica, na véspera da qual Jesus foi crucificado.
O ano em que Jesus nasceu pode ser calculado em função de dois dados
evangélicos: alguns anos antes da morte de Herodes (Mateus 2,1.19); por ocasião
de um recenseamento, quando Públio Sulpício Quirino era governador da província
romana da Síria (Lucas 2,2).
Deduz-se o ano da morte de Herodes, o Grande, de diversas informações
fornecidas pelo historiador judeu Flávio Josefo, referentes tanto à duração de
seu reinado (37 anos desde a nomeação, ocorrida em Roma no 714º ano dessa
cidade, isto é, 40 a.C. — Antigüidade
Judaica XVII, 8, 1; Guerra Judaica 1,
33, 8), como à duração do governo de seus sucessores (Antigüidade Judaica XVII, 13, 2; XVIII, 4, 6). Herodes morreu no
ano 750 da fundação de Roma (4 a.C.),
algum tempo depois de um eclipse lunar que iluminara com sinistras luzes a
morte na fogueira de alguns atrevidos (espalhado o boato de que o rei morrera,
estes haviam derrubado a águia de ouro que Herodes fizera colocar sobre a porta
do templo), e cerca de dez dias antes da festa da Páscoa (Antigüidade Judaica XVII, 6,3-4; XVII, 8, 4-9). A astronomia
confirma que um eclipse lunar foi visível em Jerusalém na noite de 12 de março
de 4 a.C. e que a Páscoa daquele ano, ou seja, o plenilúnio de primavera (no
hemisfério norte), ocorreu em 11 de abril. Nessa data, Jesus já devia ter
nascido há pelo menos dois anos, de acordo com os acontecimentos narrados por
Mateus 2, na hipótese de que tenham alguma substância histórica. De fato, os
magos, indo a Jerusalém para presentear o Messias recém-nascido, lá encontraram
Herodes, quando se sabe que, no princípio do inverno de 5 a.C., adoentado, este se transferiu para Jericó e, por algum
tempo, para as termas de Calliroe, no mar Morto. Por outro lado, Herodes,
calculando a época desde o nascimento de Jesus e talvez exagerando, por
garantia, fez matar todos os meninos de dois anos para baixo. Deve-se computar,
também, o período durante o qual José e Maria, com o menino Jesus, permaneceram
refugiados no Egito, até a morte de Herodes. Essas considerações nos levam a
situar o nascimento de Jesus nos anos 7 ou 6 antes de nossa era e, portanto, se
não fosse um paradoxo, poderíamos dizer em 7 ou 6 “antes de Cristo”.
A contradição nasce de um erro no cálculo da era cristã, que começou a ser
usada somente no século VI. Antes disso, as datas partiam da fundação de Roma
(753 a.C.) ou da era de Diocleciano, dita a “era dos Mártires” (a partir do ano
284 d.C.). O cômputo que fixou o início da era cristã em 25 de dezembro do 753º
ano de Roma (e, portanto, o ano 1 a partir de 1º de janeiro do 754º ano)
deve-se ao monge Dionísio, o Pequeno, que trabalhou em Roma entre os anos 500 e
545, traduzindo do grego para o latim obras de cultura eclesiástica. Ao
elaborar uma tabela, muito útil, dos ciclos pascais (ou seja, que fixava a data
da Páscoa numa longa série de anos), ele usou pela primeira vez a expressão
“era cristã”, que calculou para designar os anos com números. Credita-se a ele
a referência mundialmente difundida de indicar os anos, embora seus cálculos
estivessem equivocados e atrasados 6 ou 7 anos em relação à verdadeira data do
nascimento de Cristo. Daí a estranha contradição quando se menciona esse
acontecimento seguido da costumeira fórmula “antes de Cristo”!
Já o censo promovido por Quirino, infelizmente, não nos ajuda a estabelecer
com maior precisão o ano em que Jesus nasceu. A razão disso está no caráter
fragmentário das informações históricas sobre Quirino e, especialmente, no fato
de que nenhuma fonte histórica menciona um recenseamento realizado no tempo de
Herodes. As notícias sobre Quirino que, de alguma forma, concordam com as
informações de Lucas (2,2) sobre seu governo na Síria, na época de Herodes, são
fornecidas por Tácito (Anais 3, 48) e
por Estrabão (Geografia 12, 6,5). Públio Sulpício Quinino era cônsul
em 12 a.C. Depois, comandou uma guerra vitoriosa contra rebeldes omonadenses da
Cilícia; obtidas as honras do triunfo, foi nomeado conselheiro de Caio César, o
jovem sobrinho de Augusto encarregado do governo da Armênia em 2 a.C. Mais
tarde foi “legado de Augusto”, ou seja, governador da Síria, de 6 a 12 d.C.
Muitos autores afirmam que Quinino não poderia comandar uma guerra na Cilícia,
se não fosse ele mesmo o governador da Síria. Daí concluem que teria sido, uma
primeira vez, governador da Síria nos anos 11-9, antes de Gaio Sêncio Saturnino
(9-6 a.C.), ou desfrutava de autoridade semelhante. Em tais circunstâncias,
teria realizado ou apenas iniciado o recenseamento de que fala Lucas.
Recordemos também o fato de que Tertuliano (Contra
Márcio 4, 19), sem medo de contradizer a informação de Lucas 2,2, atribui a
Saturnino o censo durante o qual nasceu Jesus. Alguns autores acreditam que as
operações de recenseamento, iniciadas por Quinino por volta de 9 a.C., foram
finalizadas por Saturnino entre 8 e, 6 a.C.
Em conclusão, pelos dados expostos até agora, o ano de nascimento de Cristo
situa-se entre 9 e 6 a.C. Se muitos autores não remontam além do ano 7 a.C., é
porque partem de outras considerações, em particular do dado fornecido por
Lucas 3,23, segundo o qual Jesus, ao iniciar seu ministério, tinha “cerca de
trinta anos”.
As
datas: começo do ministério,
primeira
Páscoa, crucificação
Jesus iniciou seu ministério após ter recebido o batismo. Isso aconteceu algum
tempo depois do começo da atividade profética de João. A propósito desse início
temos em Lucas (3,1-2) uma série de fatos sincrônicos com a história profana:
“No ano décimo quinto do império de Tibério César” (governou de 13 a 37 d.C.),
“sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia” (de 26 a 36 d.C.), “Herodes
[Antipas] tetrarca da Galiléia” (de 2 a.C. a 39 d.C.), “Filipe, seu irmão,
tetrarca da Ituréia e da província de Traconítides” (de 4 a.C. a 34 d.C.) “e
Lisânias tetrarca da Abilínia” (data incerta), “sendo pontífices Anás e Caifás”
(Caifás foi sumo sacerdote de 18 a 36 d.C.; Anás, sogro de Caifás, que já fora
sumo sacerdote de 6 (?) a 15, exercia
grande autoridade no ambiente sacerdotal). Mais adiante, Lucas (3,23) indica
que “Jesus, quando começou (o seu
ministério), tinha cerca de trinta anos”. De todos esses dados, os mais
importantes para nosso propósito são o primeiro e o último, ou seja, “no ano
décimo quinto de Tibério” e “Jesus tinha cerca de trinta anos”.
Segundo o cômputo romano, o ano décimo quinto de Tibério foi de 19 de
agosto de 28 até 18 de agosto de 29 d.C. De fato, César Augusto morreu em 19 de
agosto de 14. Entretanto, Lucas, escrevendo no Oriente, talvez tenha seguido o
cômputo sírio de acordo com o qual se fazia coincidir o início de um reinado
com o do ano em que ocorrera a sucessão. Nesse caso, o primeiro ano de Tibério
vai de setembro-outubro (começo do ano sírio e hebraico) de 13 até
setembro-outubro de 14 d.C. Conseqüentemente, o décimo quinto ano a que se
refere Lucas (3,1) deve ir de setembro-outubro de 27 a setembro-outubro de 28.
A maior parte dos autores prefere esse cômputo porque, com base em cálculos
astronômicos, ele situa a crucificação na véspera da Páscoa do ano 30. Na
verdade, entre o início da vida pública e a última Páscoa interpõe-se pelo
menos duas outras Páscoas, a de 29 (João 6,4) e, retrocedendo, a de 28, alguns
meses depois do início do ministério público de Jesus (João 2,13).
O sentido da informação “Jesus tinha cerca de trinta anos” quando iniciou
seu ministério público deve ser deduzido de outras indicações do mesmo
evangelista, que relacionam a idade com uma lei à qual Jesus se submeteu: com
oito dias de vida foi circuncidado (Lucas 2,21); no quadragésimo dia, por
ocasião da purificação da mãe, foi seguida a lei sobre o primogênito (Lucas
2,22-24); aos doze anos participou da peregninação anual, por ocasião da Páscoa
(Lucas 2,42). Da mesma forma, os trinta anos cumpridos indicavam que Jesus não
iniciou sua atividade de “mestre” antes de ter chegado à idade que os hebreu
exigiam para o exercício das funções dos levitas (Números 4,3.23.30) e, por
analogia, de quem ensinava a Lei divina como mestre perfeito.
O erro de Dionísio, o Pequeno, advém de ter entendido esses trinta anos
como um número exato. Mas, afinal, quantos anos Jesus tinha no início de seu
ministério? Se fizermos começar o décimo quinto ano de Tibério na primavera de
27 e retrocedermos até o ano da morte de Herodes, em 4 a.C., teremos um período
de 31 anos. No entanto, quando Herodes morreu, Jesus já nascera há pelo menos
dois anos, em 6 ou 7 a.C., como já vimos. Logo, no início de seu ministério,
Jesus devia ter 33 ou 34 anos. Retroceder ainda mais, até 9 ou 10 a.C.,
elevaria essa idade a 36 ou 37 anos. Isso seria compatível com uma
interpretação estrita da expressão “cerca de trinta anos”, mas a maioria dos
autores inclina-se pelos anos 6 ou 7, permanecendo assim em harmonia também com
o dado material dos “cerca de trinta anos”.
O ano em que teve início o ministério de Jesus, isto é, 27, em seus últimos
meses, é confirmado por uma frase pronunciada pelos judeus em resposta a Jesus,
quando este se encontrava em Jerusalém, por ocasião da primeira Páscoa de sua
vida pública, ou seja, na Páscoa do ano 28. João (2,13-20), depois de narrar o
gesto autoritário de Jesus, que havia expulsado os mercadores do templo, e a
exigência por parte dos judeus de um sinal justificativo, cita as palavras
misteriosas de Jesus, que aludiam ao templo de seu corpo: “Destruí este templo
e eu o reedificarei em três dias” (2,19). Ao que os judeus, entendendo as
palavras de Jesus como referentes ao templo de Jerusalém, replicam: “Este
templo foi edificado em quarenta e seis anos, e tu o reedificarás em três
dias?” (2,20). Ora, sabemos por Flávio Josefo (Antigüidade Judaica XV, 11) que Herodes fez reconstruir
completamente o santuário, ampliar a área e levantar novos e suntuosos
pórticos, e, por outro lado, que os trabalhos de complementação, referentes aos
edifícios anexos, continuavam ainda no tempo de Jesus e foram concluídos sob o
procurador Pórcio Festo, em 62 d.C. (Antigüidade
Judaica XX, 8, 11). Conhecemos, também, o ano do início dessa reconstrução
do templo, o décimo oitavo do reinado de Herodes (Antigüidade Judaica XV, 11, 1), isto é, 20-19 a.C. Contando 46
anos a partir de 19 a.C., chegamos à Páscoa do ano 28.
Os dados concordes dos quatro Evangelhos informam, com certeza, que Jesus
foi crucificado na véspera do sábado, no dia da semana que chamamos sexta-feira
e que os evangelistas, seguindo o uso dos hebreus de língua grega, chamam
Parasceve (Paraskeué), vale dizer,
“preparação” do sábado, dia festivo (Mateus 27,62; Marcos 15,42; Lucas 23,54;
João 19,14.31.42). Mas aquela sexta-feira era a véspera ou a festa da Páscoa? A
pergunta surge da comparação entre a narrativa que os Evangelhos Sinóticos
fazem dos acontecimentos e aquela apresentada pelo quarto Evangelho. Para
compreender os termos usados pelos evangelistas, é oportuno recordar os
costumes pascais no tempo de Jesus. A festa da Páscoa caía no dia 15 do mês
lunar de Nisã (março-abril), ou seja, no plenilúnio de primavera. Mas a
celebração começava na noite do dia anterior, 14 de Nisã. Na tarde desse dia
imolavam-se, no templo, os cordeiros pascais; ao pôr-do-sol começava o tempo
festivo e, em cada casa, tinha lugar a ceia pascal ritual. Como a obrigação,
por sete dias, de consumir apenas pão ázimo começava com essa ceia, o dia 14 de
Nisã podia ser chamado “o primeiro dia dos ázimos”. Note-se que a ceia pascal
só podia ser consumida dentro dos limites da cidade de Jerusalém (daí o enorme
afluxo de peregrinos) e que, por outro lado, não era permitido sair da cidade,
durante toda a noite. Os Sinóticos chamam a quinta-feira que precede a paixão
de “o primeiro dia dos ázimos” (Mateus 26,17; Marcos 14,12; Lucas 22,7), “no
qual se devia imolar a Páscoa” (Lucas 22,7; cf. Marcos 14,12).
João (capítulo 13), quando descreve a ceia da noite de quinta-feira, não
afirma que se tratava de uma ceia pascal. Em lugar disso, diz que, no dia
seguinte, os membros do sinédrio não quiseram entrar no pretório de Pilatos
para não se contaminarem e poderem, assim, comer a Páscoa (João 18,28); e,
mais, chama aquele dia de Parasceve (19,14) e acrescenta que o sábado seguinte
era um sábado duplamente festivo, pois coincidia com o dia da Páscoa (19,31).
Por outro lado, também na narração do quarto Evangelho, a ceia de
quinta-feira aconteceu em Jerusalém, e Jesus, naquela noite, não saiu da
cidade, o que permitiu sua captura. Por que foi cear em Jerusalém, em vez de
permanecer com os amigos de Betânia, como nas outras noites, se não por querer
celebrar a Páscoa? Como veremos, a verdadeira data da Páscoa daquele ano é a
indicada pelo quarto Evangelho: Jesus foi crucificado na véspera da Páscoa. No
entanto, celebrou a ceia pascal na noite da quinta-feira. Segundo alguns
autores, antecipou-a por sua vontade, como Páscoa incruenta, antecipação
profética da Páscoa cruenta do dia seguinte (João 13,1). É mais provável,
porém, que Jesus tenha seguido o calendário de algum grupo religioso, que por
uma razão qualquer havia adiantado a data um dia. Assim, a quinta-feira teria
sido, na verdade, “o primeiro dia dos ázimos” para alguma comunidade hebraica,
mas não para o judaísmo oficial.
Dissemos que, naquele ano, a verdadeira data da Páscoa caíra exatamente num
sábado. Isso é confirmado por cálculos astronômicos, cujo resultado mostra que,
entre os anos 28 e 33, o dia 14 de Nisã coincidiu, por duas vezes, com uma
sexta-feira (em 7 de abril de 30 e em 3 de abril de 33), mas nunca, por outro
lado, o 15 de Nisã. Em 27, o 14 de Nisã também é uma sexta-feira (11 de abril);
somente em 34 a sexta-feira, 26 de março, coincide com 15 de Nisã. Mas as datas
de 27 e de 34 estão muito afastadas dos extremos entre os quais se pode situar
o ano da crucificação, levando-se em conta os outros dados.
Notemos que, até o Concílio de Nicéia (em 325), algumas comunidades cristãs da Ásia Menor, louvando-se em uma
tradição apostólica, insistiam em celebrar a Páscoa no dia da morte de Jesus,
em 14 de Nisã (o décimo quarto dia da lua da primavera). Mas como optar entre
os anos 30 e 33? A maioria dos estudiosos é a favor de 30, porque — mesmo
supondo-se que a duração do ministério de Jesus fosse de três anos em vez de
dois, quando se retrocede a partir do ano 33, a primeira Páscoa cai em 30, algo
distante do décimo quinto ano de Tibério (27-28 ou 28-29).
A duração do ministério público
Uma leitura superficial dos Sinóticos não revela a duração da vida pública
de Jesus; de fato, os acontecimentos aí são narrados segundo um esquema
simplificado: batismo, ministério na Galiléia, viagem à Judéia, ministério em
Jerusalém, última Páscoa. Tudo poderia ser condensado no período de um ano. Mas
há duas particularidades que revelam indiretamente a existência de outra Páscoa
e, portanto, de outro ano de pregação. Em pleno ministério na Galiléia,
recorda-se que os apóstolos colhiam espigas de grão maduro, o que podia ocorrer
entre a Páscoa e o Pentecostes. Por outro lado, por ocasião da primeira
multiplicação dos pães, alude-se ao fato de que a multidão sentava-se sobre a
relva “verde” (Marcos 6,39), o que se verifica na primavera, no fim da estação
das chuvas. Depois a relva torna-se amarelada e seca. O quarto Evangelho,
mencionando o mesmo episódio, explicita que estava próxima a Páscoa (João 6,4).
Somente esse Evangelho permite fixar a duração do ministério de Jesus, com
a menção que faz das festas das quais ele participava, apresentando-se em
Jerusalém:
João 2,13: deixando a Galiléia, Jesus se dirige a Jerusalém para a Páscoa,
a primeira alguns meses após o início do ministério público.
João 5,1: “Depois disto, houve uma festa dos judeus e Jesus subiu a
Jerusalém”. Nessa ocasião, Jesus operou a cura do enfermo no tanque de
Betsaida. De acordo com a opinião corrente, essa festa não especificada não era
uma Páscoa: podia ser a festa das semanas (Pentecostes), em maio-junho do mesmo
ano, ou a festa dos Tabernáculos, em setembro-outubro. Segundo outros,
tratar-se-ia da Páscoa (alguns manuscritos importantes dão “a festa dos
Judeus”), mas o capítulo 5, que a
menciona, deveria ser colocado depois do capítulo 6: tratar-se-ia, então, da
festa da Páscoa, que, no capítulo 6, é referida como iminente. Em ambas as
interpretações, não se supõe uma Páscoa a mais. Pelo contrário, para aqueles
que situam a crucificação no ano 33, essa festa seria a segunda das quatro
Páscoas que, de acordo com eles, estabelecem a duração da vida pública de Jesus
em três anos e alguns meses. Entre os capítulos 5 e 6 há um intervalo de um
ano, deixado vago no quarto Evangelho e que deve ser preenchido com o
ministério de Jesus na Galiléia, narrado nos Sinóticos.
João 6,4: “Ora, a Páscoa, a festa dos judeus, estava próxima”, no episódio
da multiplicação dos pães. E a penúltima Páscoa, um ano antes da crucificação.
João 7,2: Jesus sobe a Jerusalém para a festa dos Tabernáculos: no decorrer
desta, sobrevêm acesas discussões com os judeus e a cura do cego de nascença. A
festa durava sete dias, exatamente seis meses antes da Páscoa.
João 10,22: Jesus encontra-se em Jerusalém para a festa da Dedicação do templo,
em novembro-dezembro, com a duração de oito dias. Depois, dirige-se à
Transjordânia. Retorna à Judéia para a ressurreição de Lázaro e após um período
de retiro volta a Jerusalém para a última Páscoa.
João 11,55; 12,1; 13,1; 19,14: são as passagens que mencionam a Páscoa nos
últimos episódios da vida terrena de Jesus.
Resulta desse retrospecto que o ministério público de Jesus durou dois anos
e alguns meses. Pelo menos essa é a interpretação mais comum, a única
compatível com a última Páscoa no ano 30. Em conseqüência, a idade de Jesus no
fim da sua missão terrena devia ser 36 ou 37 anos. Se, em vez disso, a última
Páscoa for situada no ano 33, devem-se supor três anos e alguns meses para
chegar-se a 29 como décimo quinto ano de Tibério. A idade de Jesus seria, nesse
caso, cerca de 40 anos. A opinião tradicional, segundo a qual Jesus teria sido
crucificado aos 33 anos, deve-se à interpretação literal de “cerca de trinta
anos” de Lucas (3,23) e também ao fato de considerar-se uma Páscoa a mais a
“festa dos Judeus” de João (5,1), o
que é incompatível com a data da morte de Herodes em 4 a.C.
Quadro Cronológico
Datas
|
Acontecimentos
|
Entre 7 e 6 a.C.
|
Nascimento de Jesus
|
Março do ano 4 a.C.
|
Morte de Herodes
|
Out. ou nov. de 27
|
Batismo - 15º ano de Tibério
|
Março / abril de 28
|
1ª Páscoa
|
Jan. /
fev. de 29
|
Martírio de João Batista
|
Março / abril de 29
|
1ª multiplicação dos pães
|
Março / abril de 29
|
2ª Páscoa
|
Set. /
out. de 29
|
Festa dos tabernáculos
|
2 de abril de 30
|
Entrada de Jesus em Jerusalém (Ramos)
|
6 de abril de 30
|
Última ceia (5ª feira Santa)
|
7 de abril de 30
|
crucificação
|
8 de abril de 30
|
3ª Páscoa
|
9 de abril de 30
|
Domingo da ressurreição
|