Testemunhas –
Jesus passou algum tempo apresentando o seu programa e levando a Boa Nova aos
pobres, aos marginalizados, aos oprimidos (Lc 4,16-21). À volta d’Ele, formou-se
um grupo de “testemunhas”, que apreciaram a sua atuação e que se juntaram a
esse sonho de criar um mundo novo, de justiça, de liberdade e de paz para
todos. Agora, antes de começar a etapa decisiva da sua caminhada nesta terra (o
“caminho” para Jerusalém, onde Jesus vai concretizar a sua entrega de amor), os
discípulos são convidados a tirar as suas conclusões sobre o que viram, ouviram
e testemunharam. Quem é este Jesus, que se prepara para cumprir a etapa final
de uma vida de entrega, de dom, de amor partilhado? E os discípulos estarão
dispostos a seguir esse mesmo caminho de doação e de entrega da vida ao
“Reino”?
Oração –
A cena de hoje começa com a indicação da oração de Jesus. É um dado típico de
Lucas que põe sempre Jesus rezando antes de um momento fundamental. A oração é
o lugar do reencontro de Jesus com o Pai. Depois de rezar, Jesus tem sempre uma
mensagem importante – uma mensagem que vem do Pai – para comunicar aos
discípulos. A questão importante que, nesse episódio, Jesus quer comunicar, tem
a ver com a questão: “quem é Jesus?”
Messias –
A época de Jesus foi uma época de crise profunda para o Povo de Deus; foi,
portanto, uma época em que o sofrimento gerou uma enorme expectativa
messiânica. Asfixiado pela dor que a opressão trazia, o Povo de Deus sonhava
com a chegada desse libertador anunciado pelos profetas. Esperavam um grande
chefe militar que, com a força das armas, iria restaurar o império de David e
obrigar os romanos opressores a respeitar aquela nação. Na época apareceram várias
figuras que se assumiram como “enviados de Deus”, criaram à sua volta um clima
de ebulição, arrastaram atrás de si grupos de discípulos exaltados e acabaram, invariavelmente,
chacinados pelas tropas romanas. Jesus é também um destes demagogos, em quem o
Povo vê cristalizada a sua ânsia de libertação?
Messias? –
Aparentemente, Jesus não é considerado pelas multidões “o messias”: preferencialmente,
o Povo identifica-o com Elias, o profeta que as lendas judaicas consideravam
estar junto de Deus e que voltaria a anunciar o grande momento da libertação do
Povo de Deus. Talvez a postura de Jesus e a sua mensagem não correspondessem
àquilo que se esperava de um rei forte e vencedor.
Discípulos –
Os discípulos (companheiros de “caminho” de Jesus) deviam ter uma perspectiva
mais elaborada e amadurecida. De fato, é isso que acontece; por isso, Pedro não
tem dúvidas em afirmar: “Tu és o messias de Deus”. Pedro representa aqui a
comunidade dos discípulos – essa comunidade que acompanhou Jesus, testemunhou
os seus gestos e descobriu a sua ligação com Deus. Dizer que Jesus é o
“messias” significa reconhecê-lo como o “enviado” de Deus que havia de traduzir
em realidade essas esperanças de libertação que enchiam o coração de todos.
Libertador –
Jesus não discorda da afirmação de Pedro. Ele sabe, no entanto, que os
discípulos sonhavam com um “messias” político, poderoso e vitorioso e
apressa-se a desfazer possíveis equívocos e a esclarecer as coisas: Ele é o
enviado de Deus para libertar os homens; no entanto, não vai realizar essa
libertação pelo poder das armas, mas pelo amor e pelo dom da vida. No seu
horizonte próximo não está um trono, mas a cruz: é aí, na entrega da vida por
amor, que Ele realizará as antigas promessas de salvação feitas por Deus ao seu
Povo.
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