sábado, 5 de junho de 2010

Jovem, eu te ordeno, levanta-te


O Evangelho das missas deste domingo narra a ressurreição do filho da viúva de Naim. Estamos no início da vida pública de Jesus, em outubro do ano 28 (há um ano, Jesus foi batizado por João Batista), na cidade de Naim, próxima à Nazaré, na Galiléia. Jesus está na porta da cidade, quando vê o enterro de um jovem. Compadecendo-se da mãe do jovem morto, aproximou-se do caixão e ordenou: “levanta-te”. O morto sentou-se e começou a falar e Jesus entregou-o à sua mãe.

 

Dois milagres – Após a narrativa da cura do servo do centurião, Lucas apresenta a narrativa da cura do filho da viúva de Naim, articulando ambas entre si. Jesus atende ao pedido do centurião, que era um gentio, curando seu servo à distância e com grande exaltação de sua fé: "Nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé".

 

Em Naim – Agora, trata-se de uma judia, a viúva de Naim. Não há nenhuma manifestação de fé em relação a Jesus. É o próprio Jesus que, comovido, toma a iniciativa e toca no caixão onde jazia o morto. Com isto ele infringe os códigos de pureza, pelos quais se tornava impuro quem tocasse um morto ou os objetos em sua proximidade. Em ambiente judaico, a recuperação da vida passa pela ruptura com o legalismo tradicional da Torá (Pentateuco). Em seguida Jesus ordena: "Jovem, eu te digo, levanta-te!". Com a volta do jovem à vida, a multidão se admira e exclama: "Um grande profeta surgiu entre nós" e "Deus veio visitar o seu povo".

 

Quem é Jesus – Esta narrativa de Lucas pode ser relacionada com a ressurreição do filho da viúva de Sarepta por Elias (primeira leitura da missa). Vão surgindo várias interpretações sobre quem é Jesus (Lc 9,8.19). Com um longo amadurecimento se irá compreendendo que Jesus é aquele que, como Filho de Deus, comunica a vida eterna pela participação na vida divina, a todos que o acolhem na fé e no amor à vida. Na segunda leitura, Paulo, zeloso de suas tradições paternas, caracteriza sua vocação no mesmo estilo dos profetas do Primeiro Testamento.

 

Santo Agostinho, que viveu entre os anos de 354 e 430, foi bispo de Hiponana África e doutor da Igreja escreveu um belo texto sobre esta passagem do Evangelho:

 

Que ninguém duvide, se é cristão, que mesmo agora os mortos ressuscitam. Por certo que todo o homem tem olhos, pelos quais pode ver mortos a ressuscitar, ao modo como ressuscitou o filho desta viúva que vem citado no evangelho. Mas nem todos podem ver ressuscitar os homens que estão mortos espiritualmente; para isso é preciso já estar ressuscitado interiormente. É melhor ressuscitar alguém que deve viver para sempre do que ressuscitar alguém que deve morrer de novo.

A mãe do jovem, esta viúva, exultou de alegria ao ver o seu filho ressuscitar. A nossa mãe, a Igreja, alegra-se também ao ver todos os dias a ressurreição espiritual dos seus filhos. O filho da viúva estava morto pela morte do corpo; mas aqueles, pela morte da alma. Derramavam-se lágrimas pela morte visível do primeiro, mas não se preocupavam com a morte invisível dos últimos, nem sequer a viam. O único que não ficou indiferente foi Aquele que conhecia estes mortos; só esse conhecia estes mortos a quem podia dar a vida. Efetivamente, se o Senhor não tivesse vindo para ressuscitar os mortos, o apóstolo Paulo não teria dito: «Levanta-te, tu que dormes, ressurge de entre os mortos e Cristo te iluminará!» (Ef 5,14).

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