sábado, 9 de julho de 2011

Ensinar em parábolas

No Evangelho das missas deste domingo (Mt 13,1-23), Jesus conta a parábola do semeador: quando semeava, algumas sementes caíram no caminho (foram comidas pelas aves), outras caíram nas pedras (se queimaram), outras entre os espinhos (foram sufocadas) e outras caíram em terra boa (e deram fruto). O que Jesus quer dizer com esta história? 

Liturgia – Neste e nos próximos dois domingos, os Evangelhos das missas serão sobre as parábolas de Jesus (capítulo 13 de Mateus). Mateus apresenta-nos sete parábolas, através das quais, Jesus revela aos discípulos a realidade do “Reino”: são as “parábolas do Reino”. Dessas, três estão também nos Evangelhos de Lucas e Marcos (sinóticos: o semeador, o grão de mostarda, o fermento); as outras quatro (o trigo e o joio, o tesouro escondido, a pérola preciosa, a rede) são exclusivas de Mateus. 

O que é uma parábola? – A “parábola” é uma imagem ou comparação, por meio da qual se ilustra uma determinada mensagem ou ensinamento. O exegeta C.H. Dodd deu a seguinte definição: "Uma metáfora tirada da vida diária ou da natureza, que chama a atenção do ouvinte pelas suas imagens vivas ou estranhas, e que deixa-o com dúvida suficiente sobre o seu sentido exato, para que seja estimulado a refletir por si mesmo." 

Linguagem – Falar em parábolas não foi invenção de Jesus. É uma linguagem habitual na literatura dos povos do Médio Oriente: o homem oriental gosta mais de falar e de ensinar através de imagens, de comparações e de alegorias, do que através dos discursos lógicos, frios e racionais, típicos da civilização ocidental. 

Vantagens – Falar em parábolas tem várias vantagens em relação a um discurso mais lógico. Em primeiro lugar, porque a comparação da linguagem parabólica é muito mais rica em comunicação do que a exposição teórica: é mais profunda, mais carregada de sentido e, por isso, mexe mais com os ouvintes. Em segundo lugar, porque é uma excelente arma de controvérsia: a linguagem figurada permite levar o ouvinte a admitir certos pontos que, de outro modo, nunca mereceriam a sua concordância. Em terceiro lugar, porque é um verdadeiro método pedagógico, que ensina a refletir, a medir os prós e os contras, a encontrar soluções para os dilemas que a vida põe: estimula a curiosidade, incita à busca, convida a descobrir a verdade. 

Esta parábola – A parábola deste Evangelho usa imagens conhecidas da Palestina rural: a semeadura. Para entender as comparações, é bom lembrar que, na Palestina Antiga, jogava-se a semente antes de arar a terra. Por isso, alguma semente caía no caminho; outra parte seria logo queimada pelo sol terrível do país; outra parte comida pelas aves, outra parte perdida, porque a terra era rala e cheia de ervas daninhas. Mas uma parte iria cair em terra fértil que dava frutos, conforme a sua possibilidade. 

Imagens – Podemos supor que o semeador era Deus, Jesus, ou um emissário deles; a semente seria a Palavra de Deus e os tipos diferentes de solo, as respostas diferentes dos ouvintes. Alguns deixam o fascínio do mal, nas suas diversas formas, roubar a semente; outros acolhem a Palavra, mas de uma maneira superficial e não demora muito para que se torne infrutífera nas suas vidas. Outros aceitam a revelação divina, mas a colocam em segundo plano, enquanto correm atrás das riquezas de um mundo consumista, relegando, assim, Deus e o seu projeto. Estes fazem com que a religião se torne algo de fachada, que em nada ajuda o Reino a crescer.  

Esperança – A finalidade da história é dar esperança. Embora haja muitos fracassos, em última instância o trabalho do semeador dá certo: sempre há pessoas que recebem com entusiasmo a Palavra e suas vidas, baseadas na fé viva, dão muitos frutos. Não é necessário que todos deem frutos iguais, mas que todos deem conforme as suas possibilidades (cem, sessenta e trinta por um). 

Refletir – No final, a parábola faz o ouvinte refletir sobre si mesmo. Transpondo-a para os dias atuais, cabe-nos perguntar: Depois de dois mil anos de semeadura cristã (e quinhentos anos das Igrejas no Brasil), será que o solo (nós cristãos) está dando os frutos de uma sociedade justa? Que tipo de solo estamos sendo? O semeador é Deus, a semente é boa; mas que tipo de solo sou eu, somos nós? "Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!"

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