O texto – Esta narrativa, da partilha dos pães entre Jesus, seus discípulos e a multidão é encontrada nos quatro evangelistas, contudo, Marcos e Mateus apresentam a narrativa de uma segunda partilha, fora da Galiléia. Aliás, o denominado “Milagre da Multiplicação dos Pães” é o único milagre relatado em todos os quatro Evangelhos. Isso aponta a importância dada nas primeiras comunidades a este relato, tanto que a sua memória persistiu não somente nas comunidades da tradição Sinótica (Mc, Mt, e Lc), mas também, na comunidade do quarto Evangelho.
João Batista – O texto começa com a notícia da morte de João Batista (anunciador do Reino de justiça), que foi preso e executado por Herodes, com o apoio dos chefes religiosos das sinagogas e do Templo de Jerusalém. Eles temiam João, por seu anúncio libertador – que conclamava a prática da justiça – e pela sua grande acolhida entre as multidões. Jesus percebe que ele próprio também, é passível de sofrer o mesmo processo repressivo. Assim retira-se para um lugar isolado, com seus discípulos, indo de barco através do lago da Galiléia (chamado Mar da Galiléia).
Compaixão – As multidões, sabendo da partida de Jesus, seguiram a pé, pela margem do lago, acompanhando-o. Quando Jesus desembarca já encontra a multidão e vendo sua carência e suas necessidades, tem compaixão dela, curando os doentes. A presença dos doentes entre as multidões exprime uma situação de exclusão social, que favorece o surgimento e a proliferação das doenças. É muito expressiva a compaixão que invade Jesus diante destas multidões. A menção das curas sugere o empenho de Jesus em promover a vida entre estas pessoas excluídas.
Fome – Ao entardecer, os discípulos percebem que a multidão está com fome. O que fazer? Nos Sinóticos (Mt, Lc, Mc), a solução sugerida pelos discípulos é a de despedir a multidão, para que possam comprar alimento na aldeia próxima. Assim, ignoram a situação dos que não tinham possibilidade de comprar! É a solução de muita gente, hoje, diante do escândalo da pobreza no mundo: “Que se virem! Cada um para si!”. Em João, Marcos e Lucas, a proposta de comprar pão para doá-lo, também se revela uma solução inadequada.
Solução? – E Jesus rejeita claramente essas “soluções”. Ele não aceita nem a solução de “lavar as mãos” diante da fome alheia nem a de cair num assistencialismo. Ele desafia a comunidade dos discípulos a achar uma saída, baseada numa nova proposta de vida: a partilha! “Dai-lhes vós mesmos de comer!”.
Partilha – Os discípulos alegam, então, que têm apenas alguns pães e alguns peixes. Jesus pede que sejam trazidos e, em seguida, são abençoados e partidos por Jesus. Os discípulos os distribuem. O gesto toca os corações dos demais, que traziam reservadamente seu alimento. Eles também partilham e todos são satisfeitos. A partilha é o gesto concreto do amor. O amor é contagioso e transforma a comunidade.
Partilha ou milagre? – A visão messiânica (Antigo Testamento) deu origem à interpretação desta passagem como um espantoso milagre, pelo qual os pães são multiplicados. Em nenhum dos quatro relatos, se usa o verbo “multiplicar”! Os verbos são bem escolhidos: “benzer, partir, dar, distribuir”. Se o objetivo de Jesus fosse o de praticar gestos espantosos, então maior efeito teria se transformasse as pedras em pães, o que ele rejeitou na tentação do deserto.
Justiça – Na partilha, elimina-se uma sociedade escrava do mercado, pela implantação da nova sociedade livre, justa e fraterna (veja na primeira leitura). Significa desvincular os bens da posse, colocando-o ao alcance de todos. A partilha é a expressão do amor de Jesus. Nada nos separa deste amor que se manifesta, hoje, nas pessoas e comunidades que buscam a justiça e constroem a fraternidade.
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