Porque parábolas – Já vimos, no domingo passado, porque é que Jesus pregava por “parábolas”: porque a linguagem parabólica é uma linguagem rica, expressiva, questionante; porque a “parábola” é uma excelente arma de controvérsia, muito útil em contextos polêmicos; porque a “parábola” faz as pessoas pensar e incita-as à procura da verdade. Por tudo isso, as “parábolas” são uma linguagem privilegiada para apresentar o Reino, para incitar as pessoas a descobrirem o Reino e para levá-las a aderir ao Reino.
Joio e trigo – A primeira parábola que nos é proposta é a parábola do trigo e do joio. Trata-se de um quadro da vida cotidiana: há um “senhor” que semeia boa semente no seu campo, um “inimigo” que semeia o joio (nome de uma erva gramínea que nasce entre o trigo e o danifica) e “servos” dedicados, preocupados com o futuro da colheita. Tudo parece normal; o anormal é a reação do “senhor” frente à “crise”: dá ordens para que deixem crescer trigo e joio lado a lado e que só na altura da ceifa seja feita a seleção do bom e do mal, do que é para queimar e do que é para guardar nos celeiros.
Paciência – O “senhor” da parábola é esse Deus paciente, que dá ao homem todas as oportunidades, que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva. Os “servos” com excesso de zelo são os crentes (que trabalham no campo do “senhor”) rígidos e intolerantes, incapazes de olhar o mundo e o coração dos homens com a bondade, a serenidade e a paciência de Deus. O “campo” é o mundo e a história, onde coexistem o trigo (os sinais de esperança, de vida, de amor que tornam este mundo mais belo e mais feliz) e o joio (os sinais de morte, responsáveis pelo sofrimento, pela opressão, pela escravidão). É também o coração de cada homem e de cada mulher, capaz de opções de vida e capazes de opções de morte.
Jesus garante: os métodos de Deus não passam pelo castigo imediato, pela intolerância face às opções dos homens, pela incompreensão dos erros dos seus filhos; os métodos de Deus passam por deixar os homens crescer em liberdade, integrando a comunidade dos filhos de Deus.
Mostarda e fermento – O Evangelho deste domingo propõe-nos ainda duas outras parábolas: a parábola do grão de mostarda e a parábola do fermento. São duas parábolas muito semelhantes, tanto no conteúdo como na forma.
Proporções – Numa e noutra, o quadro é o mesmo: sublinha-se a desproporção entre o início e o resultado final. O grão de mostarda é uma semente muito pequena, que pode dar origem a uma árvore de razoáveis dimensões; o fermento apresenta um aspecto perfeitamente insignificante, mas tem a capacidade de fermentar uma grande quantidade de massa. Estas duas comparações servem para apresentar o dinamismo do “Reino”.
Reino – O “Reino” anunciado por Jesus compara-se ao grão de mostarda e ao fermento: parece algo insignificante, que tem inícios muito modestos e humildes, mas contém potencialidades para encher o mundo, para transformá-lo e renovar. Trata-se de um dinamismo de vida nova, que começa como uma pequena semente lançada à terra numa província obscura e insignificante do império romano, mas que vai lançar as suas raízes, invadir história dos homens e potenciar o aparecimento de um mundo novo.
Esperança – Com estas parábolas, Jesus responde às objeções daqueles que não acreditavam que da mensagem de um carpinteiro de Nazaré pudesse surgir uma proposta de vida, capaz de fermentar o mundo e a história. Ele garante-nos que o “Reino” é uma realidade irreversível, que veio para ficar e para transformar o mundo. Escutar estas parábolas é receber uma injeção de ânimo e de esperança, capaz de levar a um compromisso mais sério e mais exigente com o “Reino”.
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