O Evangelho das missas deste domingo apresenta Jesus falando para Felipe e André:
"Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem se apega à sua vida perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la à para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo".
"Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem se apega à sua vida perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la à para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo".
Sinóticos – O texto de hoje traz muito elementos que têm eco nos textos sinóticos. Até uma leitura rápida vai trazer lembranças dos seus textos sobre o seguimento de Jesus (Lc 9,22-25): "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e me siga", entre outros. João faz uma redação conforme a sua teologia e enfatiza que o seguimento de Jesus se dá no serviço a Ele, ou seja, na luta em favor do seu projeto. E todo o Evangelho de João manifesta que o serviço a Jesus se dá no serviço ao outro.
Projeto – Não é possível servir Jesus sem se colocar a serviço dos outros, especialmente dos mais sofridos, pois o projeto de Jesus, de fidelidade ao Pai, vai custar-lhe a vida – Ele será como o grão do trigo que, se não cai na terra e não morre, fica sozinho. "Mas se morrer produz muito fruto". Não que Jesus quer a morte e o sofrimento, mas são questões inerentes no seguimento do projeto do Pai – e apesar das aparências, não serão derrota, mas, vitória. Jesus não veio para ser triunfalista, mas para dar a vida em favor de muitos.
Messias – Essa visão que Jesus tinha do Messias não era comum – em geral, o povo esperava um messias triunfante, glorioso, guerreiro. A Bíblia nos conta que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, mas, na verdade, nós muitas vezes criamos Deus em nossa imagem e semelhança, para que Ele não nos incomode. A nossa tendência é de seguir um messias triunfante e não o Servo Sofredor. Mas, para Jesus não há meio-termo. O discípulo tem que andar nas pegadas do seu mestre: "Se alguém quer servir a mim, que me siga".
Cruz – O seguimento de Jesus leva à cruz, pois a vivência das atitudes e opções Dele vai nos colocar em conflito com os poderes contrários ao Evangelho. Carregar a cruz, não é aguentar qualquer sofrimento; assim, a religião seria masoquismo! Carregar a cruz é viver as consequências de uma vida coerente com o projeto do Pai, manifestado em Jesus. Segui-lo não é tanto fazer o que Jesus fazia, mas o que Ele faria se estivesse aqui hoje.
Interesses – E, como ele foi morto - não pelo povo, mas por grupos de interesse bem claros "os anciãos, os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei" (a elite dominante) – isso significa que nós, os seus seguidores, fatalmente iremos entrar em conflito com os grupos que hoje representam os mesmos interesses. Por isso, sempre haverá a tentação de criarmos um Jesus "light", sem grandes exigências, limitado a uma religião intimista e individualista, sem consequências políticas, econômicas ou ideológicas. Seria cair na tentação de Pedro, conforme o relato sinótico, quando rejeitava o seguimento de um Messias Sofredor.
Qual Jesus? – Mas, qual Jesus queremos seguir? A resposta se dará não tanto com os lábios, mas com as mãos e os pés. Responderemos quem é Jesus para nós, pela nossa maneira de viver, pelas nossas opções concretas, pela nossa maneira de ler os acontecimentos da vida e da história. Tenhamos cuidado com um Jesus que não seja exigente, que não traz consequências sociais, que não nos faça engajar na luta por uma sociedade mais justa. Pois o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o Jesus do Evangelho não foi assim e deixou bem claro: "Quem tem apego à sua vida vai perdê-la; quem despreza a sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna". É claro que aqui se usa um semitismo – o contraste com o "apegar-se" é expresso pelo verbo "desprezar" – o que significa "amar menos". Essa opção é difícil – embora João não relate a agonia no Horto, ele expressa a mesma realidade, quando Jesus diz "estou perturbado". Mas o Pai lhe deu força, como dará a quem faz a opção real pelo Reino, no seguimento de Jesus, no serviço aos irmãos.
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