Quando nos perguntam onde Jesus nasceu, a resposta é simples:
Jesus nasceu em Belém. Aprendemos desde crianças a celebrar o Natal e todos os
anos nós cantamos canções em torno do presépio, louvando o Messias nascido em
Belém. No entanto, se nós analisarmos cuidadosamente os Evangelhos do Novo
Testamento, vamos descobrir que a resposta não é tão fácil.
O nascimento – É verdade que os dois
evangelistas, Mateus e Lucas, afirmam claramente que Jesus nasceu em Belém.
Mateus diz: "Quando Jesus nasceu em Belém da Judéia, no tempo do rei
Herodes" (Mt 2,1). E Lucas escreve: "Quando eles (José e Maria) estavam
ali (em Belém), ela deu à luz o seu filho primogênito" (Lc 2,6). Porém, os
outros dois evangelistas, Marcos e João, apresentam Jesus como se tivesse
nascido em Nazaré. Na verdade, Ele sempre foi chamado de "Jesus de
Nazaré"; e sabemos que, na Bíblia, quando após o nome de uma pessoa é
mencionada uma cidade, é porque se trata de seu local de nascimento. Assim,
fala de Paulo de Tarso (Atos 9,1), José de Arimateia (Mc 15,43), Lázaro de
Betânia (Jo 11,1), Simão de Cirene (Mt 27,32), Amós de Tecoa (Am 1,1) ou Miquéias
de Morasti (Mq 1, 1). Qual seria então o local de nascimento de Jesus: Belém ou
Nazaré? Vamos olhar mais de perto para as provas.
Falam os
evangelistas – Marcos sugere que
Jesus nasceu em Nazaré: na narrativa do batismo, diz que Ele "veio de
Nazaré da Galileia" (1,9), sem mencionar qualquer cidade. Quando Jesus vai
a Nazaré, afirma que "ele foi para a sua pátria" (6,1) e “patris” (grego),
significa "lugar de nascimento". Isto é confirmado pelo próprio
Jesus, quando, em Nazaré, diante de escandalizados ouvintes de seus
ensinamentos, exclama: "Um profeta só não é valorizado na sua própria pátria"
(6,4). Além disso, todos o chamam de Jesus de Nazaré: o endemoninhado de
Cafarnaum (1,24), o servo do Sumo Sacerdote (14,67), o anjo do túmulo (16,6), e
até mesmo Marcos (10,47). O quarto evangelista, São João, também afirma que
Jesus nasceu em Nazaré. Ele começa apresentando-o como "um profeta de
Nazaré" (Jo 1,45). E todos estão tão convencidos que Jesus é de Nazaré,
que Natanael não quer crer nele, dizendo: “pode sair algo bom de Nazaré?” (Jo
1,46).
Nazaré:
vilarejo – Na verdade, Nazaré
era uma cidade desconhecida, pequena e de má reputação. Tão insignificante que,
no Antigo Testamento, nunca é mencionada. Mesmo quando o livro de Josué
descreve em detalhes a região da Galileia (Josué 19,10-16), não cita Nazaré.
Nem mesmo Flavio Josefo, o grande historiador judeu do primeiro século, ao
descrever as guerras judaicas, cita 54 cidades da Galileia, mas ignora
completamente Nazaré. No Talmud, uma coleção de antigos escritos judaicos, são enumeradas
63 cidades da Galileia - e Nazaré está ausente.
Evidências – Nos Evangelhos, o texto mais
claro sobre o nascimento de Jesus está em Jo 7, 40-42. Em uma discussão, alguns
judeus rejeitavam Jesus como o Messias por ter nascido em Nazaré e não em
Belém. “O Cristo pode vir da Galileia? Não está na Escritura que o Cristo será
da descendência de Davi e virá de Belém, o povoado de Davi?”. No Novo
Testamento, portanto, as duas vezes em que se afirma que Jesus nasceu em Belém são
as narrativas da infância, de Mateus e Lucas. Pelo contrário, em outras 20
passagens, os Evangelhos sugerem o nascimento em Nazaré.
Razões – Quando Marcos escreveu seu
Evangelho, dirigia-se a leitores de origem pagã e não havia problema em manter
a memória de que o nascimento de Jesus se dera em Nazaré. Mas, quando Mateus e
Lucas escreveram para os cristãos do judaísmo, havia a necessidade de
apresentar Jesus como o verdadeiro Messias esperado por Israel, o descendente
de David. Então, ambos os evangelistas, para expressar essa ideia, recorreram à
narrativa teológica (e não histórica) do seu nascimento em Belém. Assim, Mateus
apresentou o nascimento de Jesus em Belém porque sua família estava lá (Mt
2,11) e Lucas apresentou Jesus nascido em Belém em razão de um censo (Lc 2,1). João
apresenta Jesus vindo dos céus, como Filho de Deus, ou seja, a sua terra natal
não tinha nenhum interesse.
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