sábado, 23 de fevereiro de 2013

Por que Judas traiu Jesus?


Existe um personagem da história cujo nome se transformou em sinônimo de traição e desprezo: Judas Iscariotes. O que teria levado Judas a trair Jesus? 

Quem era – O seu nome era Judas e seu apelido era Iscariotes, que significa homem (ish) de Kariot (cariote), um povo do sul da Judéia.  Portanto, Judas era o único dos doze apóstolos que não era Galileu. Judas era um nacionalista fanático e violento, pertencente a um grupo político chamado “sicários”, cujo objetivo era expulsar os romanos da Palestina por qualquer meio. 

O Apóstolo – Durante a convivência de Jesus com os apóstolos, em nenhum momento Judas aparece desempenhando uma missão menos digna que os seus companheiros. Pelo contrário, suas qualidades de afeto e fidelidade a Jesus e de interesse por seus colegas era tal que ele havia sido nomeado tesoureiro do grupo (Jo 12,6).  O que foi, portanto, que levou este discípulo a entregar Jesus nas mãos de seus inimigos?  Existem três possíveis razões para isso. Vamos analisá-las. 

Por avareza – A maioria das pessoas é levada a pensar que a razão da traição de Judas foi o apego ao dinheiro. É o mais óbvio. Existem três passagens dos Evangelhos que confirmam esta hipótese: que ele vendeu Jesus por 30 moedas (Mt 26,15); que ele protesta contra a mulher que lavou os pés de Jesus com perfume caro, dizendo que poderia tê-lo vendido por um bom preço (Jo 12,4); e que o Evangelho lhe acusa de ladrão (Jo 12,6). 

Judas avarento? – Se analisarmos as três passagens, vamos perceber alguns detalhes: apenas Mateus cita a entrega de Jesus por 30 moedas; Marcos dá a entender que Judas traiu sem pedir nada em troca e os sacerdotes prometeram dar-lhe dinheiro (Mc 14, 10-11). Talvez o valor de 30 moedas de prata tenha sido citado por Mateus para cumprir a profecia de Zc 11,12.  Quanto ao caso do perfume, Mateus nos conta que não foi apenas Judas que ficou indignado, mas que todos os apóstolos reprovaram o ato (Mt 26,8). Por que apenas Judas era ambicioso? A indicação do termo “ladrão” no Evangelho de João pode ser atribuída a uma tradição de imputarem‑se muitas culpas a Judas. Dificilmente os apóstolos iriam dar a tesouraria do grupo a um ladrão. 

Por ódio – A segunda razão da traição pode ser que Judas havia visto em Jesus um líder influente e poderoso, com força (em suas palavras e milagres) de encabeçar uma grande rebelião judaica contra os romanos. Depois de comprovar que Jesus tomou outro caminho, o caminho do amor e da não violência, fazendo até favores e milagres aos soldados romanos, sua devoção se converteu em amarga desilusão e profundo ódio, o que lhe levou a buscar a morte de Jesus.  

Pouco convincente – Esta segunda hipótese é pouco convincente. Se Judas tivesse ódio de Jesus e quisesse a sua condenação teria dado testemunho contra Jesus no Sinédrio, quando os Sumos Sacerdotes procuravam quem o acusasse (Mt 26, 59-60). Ao contrário, após a prisão no Getsemani, Judas desaparece. Se tivesse ódio, certamente apareceria durante a Paixão. O seu suicídio é outro fato que mostra o seu desespero, não combinando com a hipótese de ódio. 

Por amor – A terceira hipótese supõe que Judas nunca desejou a morte de Jesus. Judas era um homem nacionalista e violento, com sonhos de poder e grandeza, via no seu Mestre o caminho para realizar o seu sonho. Mas Jesus ensinava que, para instalar o seu Reino, teria que passar pela Paixão, com sofrimentos. A fé de Judas teria passado por crises, tendo resistência a seguir Jesus por este caminho. Não quer que seu Mestre sofra, mas quer impor seus critérios humanos de poder. 

Ainda por amor – Ao ver que Jesus não se decidia a instalar o Reino que tanto falava, quis obriga-lo a atuar. Tinha certeza que, ao ser pressionado, Jesus reagiria. Ao ver-se cercado por soldados romanos, entre a espada e a parede, Jesus faria um grande milagre, acabaria com a ocupação estrangeira e instalaria, por fim, o Reino que ouvira dizer nas pregações. Judas estava equivocado. 

Igreja – A Igreja nunca condenou Judas e não poderá fazê-lo, pois sua missão é declarar quem são os que estão salvos (os santos), mas nunca os condenados. Nem as palavras de Jesus sobre Judas “Melhor fora não ter nascido” (Mc 14,21) indicam uma condenação eterna. Orígenes diz que Judas ao suicidar-se, apressou seu encontro com Jesus para (com a alma aberta) implorar o perdão.

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