sábado, 4 de maio de 2013

Se não vos tornardes como meninos...


Deixai os meninos, e não os impeçais de vir a mim, porque deles é o reino dos céus (Mt 19, 14). 

Ternura – Jesus demonstra afeto e ternura para com as crianças. Quando os Doze tentaram afastá-las dele, indignou-se (Mc 10,13-16, Mt 19,13-15 e Lc 18,15-17). Pode parecer estranho que Jesus, solteiro, sem filhos, tivesse por aqueles pequenos – descalços, esfarrapados, frequentemente doentes – uma ternura que os Doze não sentiam, sendo na maior parte casados e tendo filhos (1Cor 9,5). Mas talvez fosse exatamente essa condição que não lhes permitia espalhar afeto e ternura além das paredes do lar.  

Oposição dos doze – O motivo fundamental da oposição dos Doze àqueles "pequeninos" era, na realidade, outro. Devido à situação sóciojurídica das crianças, Jesus ensinava, na prática, qual era a verdadeira grandeza no seio da Comunidade (Mt 18,1-6, Mc 9, 33-37 e Lc 9,46-48). Para os contemporâneos de Jesus, o nascimento de um menino era uma graça de Deus (Salmos 126,3-5;127,3-4), a garantia do futuro religioso, nacional e político da estirpe, se bem que o menino, o herdeiro, enquanto não atingisse a maioridade, não diferia em nada de um "escravo" (Gl 4,1). Fora do âmbito da casa e da escola, preocupar-se com uma criança era considerado, na melhor das hipóteses, perda de tempo. Para um rabino, portanto, acariciar e abraçar as crianças, como Jesus fazia, era aviltar a própria dignidade. Por esse motivo, os Doze cerravam fileiras em torno daquele que, orgulhosamente, chamavam de Mestre. 

Argumento eficaz – Pois bem, era exatamente essa condição jurídica da criança, para Jesus, um ótimo argumento para desmontar a soberba dos Doze, preocupados em saber qual deles seria o maior e para sugerir um modelo de comportamento. Com certeza, Jesus não falava para induzir à infantilidade e muito menos para tecer inverdades à virtude infantil. Pelo contrário, a única vez que Jesus faz uma avaliação das qualidades naturais da criança, define-a como caprichosa, arrogante e incapaz de levar a cabo uma brincadeira que seja (Mt 11,16-19; Lc 7,31-35).  

No que ser criança – Mas existe um primado, pertencente à criança, ao qual o discípulo de Cristo deve inclinar-se: o de colocar-se em último lugar, como naquela época a lei determinava que devia ser. Colocar-se em último lugar para servir, não para ser servido e dar a própria vida para a redenção dos irmãos (Mc 10,45 e passagens paralelas). 

Modelo de conversão – Alguns exegetas acreditavam que os adjetivos "mikros", "pequeno", "mikroteros", "menor", talvez fossem sinônimos de "paidion", "criança". Pensou-se em encontrar um exemplo dessa aproximação em Mateus 18,1-6. Mas Jesus, na realidade, apresenta um menino como modelo de conversão aos discípulos, caso quisessem entrar no Reino dos céus, ou seja, se quisessem fazer parte da Igreja, a qual, embora não seja o Reino dos céus, é o húmus em que o Reino se desenvolve. 

Recomendações – No versículo 5, passando do símbolo à realidade, Jesus recomenda o acolhimento terno e afetuoso das crianças – quem as acolhe, alimenta, veste, educa, acolhe a Cristo. No versículo 6, que se liga ao precedente pela repetição de termos, é transmitido um ensinamento ministrado por Jesus em outras circunstâncias sobre a gravidade do pecado do escândalo: "Porém, o que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço a mó dum moinho, e que o lançassem ao fundo do mar". 

Quem? são os pequeninos – Os "pequeninos" desse versículo não são as crianças — que certamente não estão excluídas, mas os discípulos, que em outras ocasiões são chamados de "mikroi", "pequeninos" (Mt 18, 10; 10, 42; 11, 11; Lucas 12, 32). Quem consegue tornar-se "pequeno" é efetivamente "grande" no seio da Comunidade: "Aquele que entre vós todos é o menor, esse ó o maior" (Lc 9,48).

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