No Evangelho
deste domingo (Lc 20,27-38), Jesus discute com os saduceus sobre a
ressurreição.
A questão – Jesus é
procurado por um grupo de saduceus, que lhe propõe a seguinte questão: uma
mulher casou, sucessivamente, com sete irmãos, cumprindo a lei do levirato (Dt
25,5-10). Quando ressuscitarem, ela será mulher de qual dos irmãos?
Os saduceus – No tempo de
Jesus, os saduceus formavam um grupo aristocrático, recrutado sobretudo entre
os sacerdotes da classe superior. Exerciam a sua autoridade à volta do Templo e
dominavam o Sinédrio (realmente seriam eles os responsáveis pela condenação de
Jesus). A sua importância política era real, ainda que muito limitada pela
presença do procurador romano. Politicamente, eram conservadores e entendiam-se
bem com o opressor romano… Pretendiam manter a situação, para não ver
comprometidos os benefícios políticos, sociais e econômicos de que desfrutavam.
Mais saduceus – Para os
saduceus, apenas interessava a Lei escrita – a “Torah”. Negavam que a Lei oral
(aceita pelos fariseus) tivesse qualquer valor. Este apego conservador à Lei
escrita explica que negassem algumas crenças e doutrinas admitidas nos
ambientes populares frequentados pelos fariseus. Por isso, não aceitavam a
ressurreição dos mortos: nenhum versículo da “Torah” apoiava essa crença.
Casamento levítico – O Livro de
Deuteronômio (Dt 25,5-6) diz: “Quando dois irmãos moram juntos e um deles morre
sem deixar filhos, a viúva não sairá da casa para casar-se com nenhum estranho;
seu cunhado se casará com ela, cumprindo o dever de cunhado. O primogênito que
nascer receberá o nome do irmão morto, para que o nome deste não se apague em
Israel”. Certamente, uma lei que para nós parece no mínimo estranha! Mas, na
época, antes da fé na ressurreição, era de suma importância para Israel que o
nome de um homem se propagasse nos seus filhos. Por isso, era dever do irmão
sobrevivente suscitar um filho para o falecido, para que este não morresse na
memória do seu povo.
Questão – A questão
central do nosso texto gira em torno da ressurreição, um tema que não
significava nada para os saduceus. Com o objetivo de ridicularizar a crença em
ressurreição, os saduceus apresentaram a Jesus a questão hipotética da mulher que
se casou, sucessivamente, com sete irmãos, cumprindo a lei do levirato. Quando
ressuscitarem, ela será mulher de qual dos irmãos?
Ressurreição – A primeira
parte da resposta de Jesus afirma que a ressurreição não é (como pensavam os
fariseus do tempo) uma simples continuação da vida que vivemos neste mundo
(como uma revivificação, ideia apresentada na primeira leitura da missa), mas
uma vida nova e distinta, uma vida de plenitude que dificilmente podemos
entender, baseados somente em nossas realidades quotidianas. Nessa nova vida
não haverá casamento (são semelhantes aos anjos), pois a única preocupação será
servir e louvar a Deus.
Vida nova – O poder de Deus,
que chama os homens da morte à vida, transforma e assume a totalidade do ser
humano, de forma que nascemos para uma vida totalmente nova e em que as nossas
potencialidades serão elevadas à plenitude. A nossa capacidade de compreensão
deste mistério é limitada, pois estamos contemplando as coisas e classificando-as
à luz das nossas realidades terrenas; no entanto, a ressurreição que nos espera
ultrapassa totalmente a nossa realidade terrena.
Certeza da ressurreição – A segunda
parte da resposta de Jesus é uma afirmação da certeza da ressurreição. Jesus
cita-lhes a “Torah” (Ex 3,6): no episódio da sarça-ardente, Jahwéh revelou-se a
Moisés como “o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob”… Ora, se Deus Se apresenta
dessa forma – muitos anos depois de Abraão, Isaac e Jacob terem desaparecido
deste mundo – isso quer dizer que os patriarcas não estão mortos (um homem
“morto” – ou seja, um homem reduzido ao estado de uma sombra inconsciente e
privada de vida, no “sheol”, segundo a ideia semita corrente – tinha perdido a
proteção de Deus, pois já não existia como homem vivo e consciente). Na
perspectiva de Jesus, portanto, os patriarcas não estão reduzidos ao estado de
sombras, na obscuridade absoluta do “sheol”, mas vivem atualmente em Deus.
Conclusão: se Abraão, Isaac e Jacob estão vivos, podemos falar em ressurreição.
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