sábado, 2 de novembro de 2013

O ESPIRITISMO E A COMUNHÃO DOS SANTOS


Muitas pessoas perguntam a razão dos Católicos pedirem ajuda aos santos (em vez de recorrer a Cristo), como se eles pudessem nos salvar. Recorremos às explicações do Padre João Augusto Anchieta Amazonas Mac Dowell, S.J., Doutor em Filosofia e Teologia pela PUC (RJ) e atual Professor Titular do Departamento de Filosofia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) em Belo Horizonte.
 

Graça – É claro que só Cristo nos salva, como ensina a Bíblia. Mas, também para a Igreja católica, não são os santos que nos concedem as graças que pedimos a eles. Por isso dizemos: Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores. Quando reza aos santos e santas a Igreja usa sempre a fórmula: rogai por nós. Quer dizer: pede que eles roguem por nós a Deus, para que ele nos conceda a graça que precisamos. Ao contrário, quando se dirige a Cristo, a Igreja diz: Senhor, tende piedade de nós, como fez o cego do Evangelho; porque Cristo, o Filho de Deus, recebeu do Pai o poder de dar a vida e a salvação a toda a humanidade. 

Orações – Portanto, quando rezamos a um santo, não o colocamos no lugar de Jesus Cristo, como se ele fosse divino e tivesse o poder de nos salvar. Pedimos só que eles orem por nós a Deus. E isso não é absolutamente contra a Bíblia. As cartas de Paulo contêm muitas preces que ele faz pelos cristãos das Igrejas que tinha fundado. Por exemplo, na carta aos fiéis de Colossos diz: "Não paramos de rezar por vós e de pedir que conheçais plenamente a sua vontade" (1,9). Na mesma carta pede também as orações deles por si e por sua missão, dizendo: "Rezai também por nós, para que Deus se digne abrir caminho para a pregação, de modo que possamos anunciar o mistério de Cristo, pelo qual estou algemado" (4,3). 

Intercessão – Estes exemplos mostram que é próprio dos cristãos rezar uns pelos outros e pedir as orações, sobretudo daqueles que estão mais perto de Deus pela sua vida santa. De fato, o apóstolo Tiago diz na sua carta: "Orai uns pelos outros para serdes curados. É de grande poder a oração assídua do justo" (5,16). E cita o caso de Elias, que era um homem como nós, mas orou fervorosamente e obteve um milagre de Deus. Portanto, quando desejamos alcançar uma graça de Deus, podemos dirigir-nos diretamente a ele; mas também podemos pedir a outros que intercedam por nós com suas orações. 

Santos – Mas, se recorremos à intercessão de nossos irmãos e irmãs aqui na terra, com muito maior razão rezamos aos santos, para que obtenham de Deus as graças que precisamos. Durante a sua vida foram amigos de Cristo; e agora, que vivem na sua companhia, não desejam senão ajudar-nos, rogando por nós. Assim, orando aos santos, não nos esquecemos de Cristo; ao contrário, reconhecemos que é Dele que os santos recebem toda sua santidade e poder. 

Espiritismo e oração pelos mortos – Como os espíritas, os cristãos acreditam na natureza espiritual do ser humano e na sua sobrevivência depois da morte. Acreditam também que existem relações entre nós, aqui na terra, e os que já deixaram esta vida. Mas a maneira de entender a comunicação com os defuntos no espiritismo e no cristianismo é diferente. 

Comunhão – Os católicos creem na "comunhão dos santos", como dizemos no "Credo". A palavra "santos" significa aqui todos os que acreditam em Jesus Cristo e são santificados pelo Espírito Santo que receberam no batismo. A comunhão dos santos é a própria Igreja, família de Deus, formada por todos os fiéis de Cristo. Por meio da oração podemos comunicar-nos também com os que morreram em paz com Deus. Por um lado, podemos ajudar os que ainda não estão completamente purificados de seus pecados a alcançar a alegria eterna. Nossa prece, unida a de Jesus, especialmente o oferecimento da Missa, é escutada por Deus e apressa a sua purificação. Por outro, podemos também pedir a ajuda dos santos que já gozam da presença de Deus e estão prontos a interceder por nós. Eles escutam a nossa oração e obtêm do Pai comum, por meio do único mediador Jesus Cristo, as graças que pedimos. 

Comunicação – Trata-se, portanto, de uma comunicação espiritual, na base da fé, da esperança e do amor. Na medida em que estão unidos com Deus no mesmo Espírito de Jesus, os cristãos podem comunicar-se com os defuntos, desejando e fazendo o bem uns aos outros pela bondade e poder do próprio Deus.  

Espiritismo – O espiritismo, ao contrário, pretende que podemos comunicar-nos sensivelmente com os espíritos dos mortos, recebendo suas mensagens, sobretudo através de médiuns. Quem consulta os espíritos deseja quase sempre satisfazer a sua curiosidade tanto a respeito do outro mundo, como da vida aqui na terra. Quer saber, por exemplo, como está passando uma pessoa falecida ou pergunta-lhe alguma coisa sobre o seu futuro. 

Cristianismo: confiança e entrega – Esta ânsia de conhecer detalhes do próprio destino, que pertencem só a Deus, revela falta de confiança na sua providência carinhosa de Pai. Em vez de ter fé, a pessoa quer certificar-se por meio de um contato direto com o além sobre o seu futuro ou sobre a sorte de entes queridos. Por isso a Igreja condena as tentativas de comunicar-se com os espíritos dos mortos. Não é através de vozes do além nem de predições sobre o futuro, mas da entrega cheia de esperança nas mãos de Deus que encontraremos a verdadeira paz.

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