Muitas pessoas perguntam a razão dos Católicos pedirem ajuda
aos santos (em vez de recorrer a Cristo), como se eles pudessem nos salvar.
Recorremos às explicações do Padre João Augusto Anchieta Amazonas Mac Dowell, S.J.,
Doutor em Filosofia e Teologia pela PUC (RJ) e atual Professor Titular do
Departamento de Filosofia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE)
em Belo Horizonte.
Graça – É claro que só Cristo nos salva,
como ensina a Bíblia. Mas, também para a Igreja católica, não são os santos que
nos concedem as graças que pedimos a eles. Por isso dizemos: Santa Maria, mãe
de Deus, rogai por nós pecadores. Quando reza aos santos e santas a Igreja usa
sempre a fórmula: rogai por nós. Quer dizer: pede que eles roguem por nós a
Deus, para que ele nos conceda a graça que precisamos. Ao contrário, quando se
dirige a Cristo, a Igreja diz: Senhor, tende piedade de nós, como fez o
cego do Evangelho; porque Cristo, o Filho de Deus, recebeu do Pai o poder de
dar a vida e a salvação a toda a humanidade.
Orações – Portanto, quando rezamos a um
santo, não o colocamos no lugar de Jesus Cristo, como se ele fosse divino e
tivesse o poder de nos salvar. Pedimos só que eles orem por nós a Deus. E isso
não é absolutamente contra a Bíblia. As cartas de Paulo contêm muitas preces
que ele faz pelos cristãos das Igrejas que tinha fundado. Por exemplo, na carta
aos fiéis de Colossos diz: "Não paramos de rezar por vós e de pedir que
conheçais plenamente a sua vontade" (1,9). Na mesma carta pede também as
orações deles por si e por sua missão, dizendo: "Rezai também por nós,
para que Deus se digne abrir caminho para a pregação, de modo que possamos
anunciar o mistério de Cristo, pelo qual estou algemado" (4,3).
Intercessão – Estes exemplos mostram que é
próprio dos cristãos rezar uns pelos outros e pedir as orações, sobretudo
daqueles que estão mais perto de Deus pela sua vida santa. De fato, o apóstolo
Tiago diz na sua carta: "Orai uns pelos outros para serdes curados. É de
grande poder a oração assídua do justo" (5,16). E cita o caso de Elias,
que era um homem como nós, mas orou fervorosamente e obteve um milagre de Deus.
Portanto, quando desejamos alcançar uma graça de Deus, podemos dirigir-nos
diretamente a ele; mas também podemos pedir a outros que intercedam por nós com
suas orações.
Santos – Mas, se recorremos à intercessão
de nossos irmãos e irmãs aqui na terra, com muito maior razão rezamos aos
santos, para que obtenham de Deus as graças que precisamos. Durante a sua vida
foram amigos de Cristo; e agora, que vivem na sua companhia, não desejam senão
ajudar-nos, rogando por nós. Assim, orando aos santos, não nos esquecemos de
Cristo; ao contrário, reconhecemos que é Dele que os santos recebem toda sua
santidade e poder.
Espiritismo
e oração pelos mortos – Como os espíritas, os cristãos acreditam na natureza
espiritual do ser humano e na sua sobrevivência depois da morte. Acreditam
também que existem relações entre nós, aqui na terra, e os que já deixaram esta
vida. Mas a maneira de entender a comunicação com os defuntos no espiritismo e
no cristianismo é diferente.
Comunhão
– Os
católicos creem na "comunhão dos santos", como dizemos no
"Credo". A palavra "santos" significa aqui todos os que
acreditam em Jesus Cristo e são santificados pelo Espírito Santo que receberam
no batismo. A comunhão dos santos é a própria Igreja, família de Deus, formada
por todos os fiéis de Cristo. Por meio da oração podemos comunicar-nos também
com os que morreram em paz com Deus. Por um lado, podemos ajudar os que ainda
não estão completamente purificados de seus pecados a alcançar a alegria
eterna. Nossa prece, unida a de Jesus, especialmente o oferecimento da Missa, é
escutada por Deus e apressa a sua purificação. Por outro, podemos também pedir
a ajuda dos santos que já gozam da presença de Deus e estão prontos a
interceder por nós. Eles escutam a nossa oração e obtêm do Pai comum, por meio
do único mediador Jesus Cristo, as graças que pedimos.
Comunicação
– Trata-se,
portanto, de uma comunicação espiritual, na base da fé, da esperança e do amor.
Na medida em que estão unidos com Deus no mesmo Espírito de Jesus, os cristãos
podem comunicar-se com os defuntos, desejando e fazendo o bem uns aos outros
pela bondade e poder do próprio Deus.
Espiritismo
– O
espiritismo, ao contrário, pretende que podemos comunicar-nos sensivelmente com
os espíritos dos mortos, recebendo suas mensagens, sobretudo através de
médiuns. Quem consulta os espíritos deseja quase sempre satisfazer a sua
curiosidade tanto a respeito do outro mundo, como da vida aqui na terra. Quer
saber, por exemplo, como está passando uma pessoa falecida ou pergunta-lhe alguma
coisa sobre o seu futuro.
Cristianismo:
confiança e entrega – Esta
ânsia de conhecer detalhes do próprio destino, que pertencem só a Deus, revela
falta de confiança na sua providência carinhosa de Pai. Em vez de ter fé, a
pessoa quer certificar-se por meio de um contato direto com o além sobre o seu
futuro ou sobre a sorte de entes queridos. Por isso a Igreja condena as
tentativas de comunicar-se com os espíritos dos mortos. Não é através de vozes do além nem de predições sobre o futuro, mas da entrega
cheia de esperança nas mãos de Deus que encontraremos a verdadeira paz.
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