A famosa frase
do título pertence à música “Regra três”, composta por Toquinho e Vinicius de
Morais em 1973. O Evangelho das missas deste domingo (Mt 18,21-35) também nos
fala do perdão. Ao contrário da letra da música, fala-nos de um Deus cheio de
bondade e de misericórdia que derrama sobre os seus filhos – de forma total,
ilimitada e absoluta – o seu perdão. Na foto, João Paulo II concedendo o perdão
a Mehmet Ali Agca que atirou contra o Papa em 1981.
“Onde menos vale mais” – Os cristãos são convidados a descobrir a lógica de Deus e a deixarem que
a mesma lógica de perdão e de misericórdia sem limites e sem medida marque a
sua relação com os irmãos. Apresenta-nos um Deus que ama sem cálculos, sem
limites e sem medida; e convida-nos a assumir uma atitude semelhante para com
os irmãos que, dia a dia, caminham ao nosso lado.
Texto – Mais uma vez é Pedro que articula em palavras o desafio cristão,
"quantas vezes devo perdoar o meu irmão?" e responde ele mesmo,
sugerindo "sete vezes", com certeza achando que agir assim seria um
exagero. Mas para Jesus, não basta o discípulo agir segundo os critérios desse
mundo. Por isso exige "não somente sete vezes, mas setenta vezes
sete", ou seja, para quem realmente quer se modelar em Deus, o perdão tem
que ser sem limites.
Vingança – A ideia básica inverte a posição sangrenta e vingativa de Lamec em Gn,
4,24, "Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta
e sete!" O cristão tem que deixar definitivamente por trás todo sentimento
de vingança e assumir os novos valores do Reino de Deus, entre os quais tem
lugar de destaque, o perdão.
Parábola – Para explicar o perdão sem limites, o evangelista complementa com a
parábola dos devedores. Esta parábola ilustra um dos pedidos do Pai Nosso,
"perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos
devedores". Fazendo esse pedido, estamos querendo o perdão de Deus para
que, experimentando-o, consigamos perdoar os nossos devedores.
Pai Nosso – O texto original do Pai Nosso se referia realmente a dívidas
financeiras, mas hoje, o texto foi modificado, substituindo-se as “dívidas” por
“ofensas”, com uma aplicação mais geral.
O Perdão de Deus depende do nosso? – Não é que o perdão de Deus dependa do nosso - é sempre Deus que toma o
iniciativa e nós que respondemos. Mas somos capazes de render nulo o efeito do
perdão do Pai, se nós nem queremos perdoar os outros. Assim, o Pai continua
querendo nos perdoar, mas nós cortamos o efeito dessa gratuidade divina.
Querer perdoar – Obviamente, o perdão envolve um processo todo, que abrange a parte
espiritual, mas também psicológica, da pessoa. Não se consegue eliminar os
efeitos das ofensas de uma vez. Mas o importante é o "querer"
perdoar. O próprio desejo já é o perdão, pois é somente com a graça divina que
nós conseguiremos perdoar mesmo. Mas quando esse desejo é ausente, nem o perdão
do Pai penetra a barreira que nós erguemos e o seu perdão fica sem frutos.
Sinais do Reino – A proposta do texto de hoje é além das nossas forças humanas, mas não
além da possibilidade da graça divina. Por isso, temos que sempre pedir o dom
do perdão, conforme nos ensina a Oração do Senhor, para que as nossas
comunidades sejam verdadeiramente sinais do Reino e não meramente aglomerações
de pessoas que partilham as mesmas teorias teológicas, mas sem que essas
influenciem na sua vivência, na sua prática. Da nossa parte exige-se esforço, e
Deus dará a força, para que vivamos conforme o desafio do Sermão da Montanha
"sejam perfeitos, como o Pai do Céu de vocês é perfeito".
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