Nas missas deste domingo será lida a Carta de Tiago (Tg 2,14-18), na qual o autor discorre sobre fé e obras. No versículo 17, o autor escreve: “a fé sem obras está completamente morta”. Esta é uma das questões que motivou a Reforma Protestante. A salvação se dá somente pela fé ou pela fé mais as obras? Sou salvo apenas por crer em Jesus ou tenho que crer em Jesus e fazer certas coisas?
A Carta de Tiago – Trata-se de
uma carta enviada aos cristãos de origem judaica, dispersos no mundo
greco-romano, sobretudo nas regiões próximas da Palestina – como a Síria, o
Egipto ou a Ásia Menor. O objetivo fundamental do autor é exortar os crentes
para que não percam os valores cristãos autênticos, herdados do judaísmo
através dos ensinamentos de Cristo.
A Fé – Segundo o
autor do texto, a fé se expressa, não através de ritos formais ou de palavras
ocas, mas através de ações concretas em favor do homem (Tg 2,14-26). No geral,
este capítulo convida os crentes a assumirem uma fé operativa, que se traduza
num compromisso social e comunitário.
Paulo X Tiago (1º round) – A questão da
fé somente ou fé mais as obras se faz delicada, por causa de algumas passagens
bíblicas de difícil interpretação. Comparando-se a Carta de São Paulo aos
Romanos (Rom 3,28 e 5,1) e aos Gálatas (Gal 3,28) com a Carta de Tiago (Tg
2,17), notamos uma diferença conceitual: enquanto Paulo garante que “é pela fé
que o homem é justificado, independentemente das obras”, Tiago afirma que “a fé
sem obras não serve para nada”.
Paulo X Tiago (2º round) e a Reforma de
Lutero – A questão existente entre a fé e as obras foi
objeto de muitas discussões, sobretudo a partir do séc. XVI. A afirmação de
Paulo, na Carta aos Romanos, foi usada por Lutero para fundamentar a sua
teologia da salvação pela fé: a salvação não depende das ações do homem, mas é
um dom gratuito e imerecido que Deus, na sua infinita misericórdia, oferece ao
homem.
Paulo X Tiago (3º round) – Este aparente
problema é resolvido quando se examina o que diz Tiago: nega a crença de que a
pessoa possa ter fé sem produzir quaisquer boas obras (Tg 2,17-18). Tiago está
enfatizando o argumento de que a fé genuína em Cristo produzirá uma vida
transformada e boas obras (Tg 2,20-26). O que o autor quer dizer é que a fé
tem de traduzir-se em ações concretas de compromisso com o mundo e com os
homens. Se isso não acontecer, essa fé é apenas uma declaração de boas
intenções, mas que não passa de uma farsa sem valor e sem conteúdo.
Adesão – A adesão a
Jesus e ao seu projeto significa que o homem está disposto a acolher essa vida
nova e plena que Deus, gratuitamente e sem condições, lhe oferece (salvação). Essa
vida, interiorizada e assumida, tem de transparecer em gestos de amor, de
solidariedade, de fraternidade, de serviço, de partilha, de perdão. A vivência
da fé tem, portanto, de se traduzir na vida do dia a dia, especialmente na
forma como se vive a relação com esses irmãos com quem cruzamos nos caminhos do
mundo. Se isso não acontece, quer dizer que a fé é uma mentira.
Gestos concretos – Os bonitos
discursos que fazemos, os conselhos muito sábios que damos, as teorias bem
elaboradas que apresentamos, as reflexões muito piedosas que impingimos, não
passam de belas palavras que podem não significar nada. Quando um irmão tem
fome ou não tem o que vestir ou está sofrendo, é preciso ir ao seu encontro e
manifestar-lhe, com gestos concretos, o nosso amor, a nossa solidariedade, a
nossa fraternidade. A nossa religião tem de manifestar-se na vida e tem de
transparecer nos nossos gestos.
Quer ler mais – Se você quer
ler mais detalhes sobre a Reforma Protestante de Lutero, podemos lhe oferecer
dois textos: “As 95 teses de Lutero” e “As Linhas doutrinárias de Lutero”.
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