segunda-feira, 13 de setembro de 2021

A FÉ SEM OBRAS É MORTA

Nas missas deste domingo será lida a Carta de Tiago (Tg 2,14-18), na qual o autor discorre sobre fé e obras. No versículo 17, o autor escreve: “a fé sem obras está completamente morta”. Esta é uma das questões que motivou a Reforma Protestante. A salvação se dá somente pela fé ou pela fé mais as obras? Sou salvo apenas por crer em Jesus ou tenho que crer em Jesus e fazer certas coisas?

 

A Carta de Tiago – Trata-se de uma carta enviada aos cristãos de origem judaica, dispersos no mundo greco-romano, sobretudo nas regiões próximas da Palestina – como a Síria, o Egipto ou a Ásia Menor. O objetivo fundamental do autor é exortar os crentes para que não percam os valores cristãos autênticos, herdados do judaísmo através dos ensinamentos de Cristo.

 

A Fé – Segundo o autor do texto, a fé se expressa, não através de ritos formais ou de palavras ocas, mas através de ações concretas em favor do homem (Tg 2,14-26). No geral, este capítulo convida os crentes a assumirem uma fé operativa, que se traduza num compromisso social e comunitário.

 

Paulo X Tiago (1º round) – A questão da fé somente ou fé mais as obras se faz delicada, por causa de algumas passagens bíblicas de difícil interpretação. Comparando-se a Carta de São Paulo aos Romanos (Rom 3,28 e 5,1) e aos Gálatas (Gal 3,28) com a Carta de Tiago (Tg 2,17), notamos uma diferença conceitual: enquanto Paulo garante que “é pela fé que o homem é justificado, independentemente das obras”, Tiago afirma que “a fé sem obras não serve para nada”.

 

Paulo X Tiago (2º round) e a Reforma de Lutero – A questão existente entre a fé e as obras foi objeto de muitas discussões, sobretudo a partir do séc. XVI. A afirmação de Paulo, na Carta aos Romanos, foi usada por Lutero para fundamentar a sua teologia da salvação pela fé: a salvação não depende das ações do homem, mas é um dom gratuito e imerecido que Deus, na sua infinita misericórdia, oferece ao homem.

 

Paulo X Tiago (3º round) – Este aparente problema é resolvido quando se examina o que diz Tiago: nega a crença de que a pessoa possa ter fé sem produzir quaisquer boas obras (Tg 2,17-18). Tiago está enfatizando o argumento de que a fé genuína em Cristo produzirá uma vida transformada e boas obras (Tg 2,20-26). O que o autor quer dizer é que a fé tem de traduzir-se em ações concretas de compromisso com o mundo e com os homens. Se isso não acontecer, essa fé é apenas uma declaração de boas intenções, mas que não passa de uma farsa sem valor e sem conteúdo.

 

Adesão – A adesão a Jesus e ao seu projeto significa que o homem está disposto a acolher essa vida nova e plena que Deus, gratuitamente e sem condições, lhe oferece (salvação). Essa vida, interiorizada e assumida, tem de transparecer em gestos de amor, de solidariedade, de fraternidade, de serviço, de partilha, de perdão. A vivência da fé tem, portanto, de se traduzir na vida do dia a dia, especialmente na forma como se vive a relação com esses irmãos com quem cruzamos nos caminhos do mundo. Se isso não acontece, quer dizer que a fé é uma mentira.

 

Gestos concretos – Os bonitos discursos que fazemos, os conselhos muito sábios que damos, as teorias bem elaboradas que apresentamos, as reflexões muito piedosas que impingimos, não passam de belas palavras que podem não significar nada. Quando um irmão tem fome ou não tem o que vestir ou está sofrendo, é preciso ir ao seu encontro e manifestar-lhe, com gestos concretos, o nosso amor, a nossa solidariedade, a nossa fraternidade. A nossa religião tem de manifestar-se na vida e tem de transparecer nos nossos gestos.

 

Quer ler mais – Se você quer ler mais detalhes sobre a Reforma Protestante de Lutero, podemos lhe oferecer dois textos: “As 95 teses de Lutero” e “As Linhas doutrinárias de Lutero”. Solicite por E-mail.

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