No Evangelho deste domingo (Marcos 9, 30-37), Jesus termina
a sua viagem pela Galiléia e chega a Cafarnaum. Estamos em agosto do ano 29.
Jesus estava chegando de uma longa viagem de vários meses: saiu da região das
cidades de Tiro e Sidom, atravessou a Fenícia, passou próximo da cidade de
Cesaréia de Felipe e, finalmente, chegou a Cafarnaum.
Primeiro e último
– Sabendo o que os
discípulos haviam discutido durante a viagem, Jesus sentou-se, chamou os doze e
lhes disse: "Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e
aquele que serve a todos!" Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no
meio deles e, abraçando-a, disse: "Quem acolher, em meu nome, uma destas
crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher está acolhendo não a
mim, mas àquele que me enviou".
Uma questão – Será que, com estas palavras, Jesus condena o desejo de
sobressair, de fazer grandes coisas na vida, de dar o melhor de si, e
privilegia, ao contrário, a apatia, o espírito de abandono, os negligentes?
Nietzsche – Assim pensava o filósofo Nietzsche (Friedrich
Nietzsche, filósofo alemão que viveu entre 1844 e 1900), que se sentiu no dever
de combater ferozmente o cristianismo por ter (em sua opinião) introduzido, no
mundo, o “câncer” da humildade e da renúncia. Em sua obra “Assim falou Zaratustra”, ele opõe a este valor evangélico o da “vontade de
poder”, encarnado pelo “super-homem”, o homem da “grande saúde”, que quer
levantar-se, não se abaixar.
Ser o primeiro – Pode ser que os cristãos, às vezes, tenham
interpretado mal o pensamento de Jesus e tenham dado ocasião a este
mal-entendido. Mas, certamente, não é isso o que o Evangelho quer nos dizer. “Se
alguém quiser ser o primeiro...” indica que é possível querer ser o primeiro,
não está proibido, não é pecado. Jesus não só não proíbe o desejo de
querer ser o primeiro, mas, o estimula.
Ser o último – Só que revela uma via nova e diferente para
realizá-lo: não à custa dos outros, mas a favor dos outros. De fato, acrescenta:
“... seja o último de todos e o servidor de todos”. Mas, quais são os frutos de
uma ou outra forma de sobressair? A ânsia de poder conduz a uma situação na
qual a pessoa se impõe e os outros servem; e a pessoa é “feliz”, enquanto os
outros são infelizes; só se sente vencedor com todos os outros derrotados e se
domina, com os outros dominados.
Guerras? – Sabemos os resultados alcançados com o “ideal do super-homem”
alardeado por Hitler. Aliás, não se trata só do nazismo: quase todos os males
da humanidade provêm dessa raiz. Na segunda leitura deste domingo, Tiago propõe
a angustiosa e perene pergunta: “De onde procedem as guerras?”. Jesus, no Evangelho,
nos dá a resposta: do desejo de dominar! Domínio de um povo sobre outro, de uma
raça sobre outra, de um partido sobre os outros, de um sexo sobre o outro, de
uma religião sobre a outra...
Serviço – No serviço, ao contrário, todos se beneficiam da
grandeza das pessoas. Quem é grande no serviço, se torna grande e torna os
outros grandes também; mais que elevar-se acima dos outros, eleva os demais
consigo. É o caso de Madre Teresa de Calcutá, Raoul Follereau e todos os que
diariamente servem à causa dos pobres e dos feridos das guerras, frequentemente
arriscando sua própria vida.
QUER LER MAIS – Se você gostou do assunto e que saber mais, podemos
lhe oferecer o livro “Assim falou Zaratustra” (351 pág. em português), escrito
por Nietzsche em 1883. Solicite por E-mail.
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