O acontecimento relatado por Marcos 7, 31-37, que veremos
neste domingo, acontece em junho do ano 29, quando Jesus está na região da
Fenícia, entre as cidades de Tiro e Sidon. As duas cidades existem até hoje e
distam 30 quilômetros entre si. Na época de Jesus, eram cidades muito ricas e
formavam uma região totalmente pagã.
Viagem – Jesus viajou desta região para o mar da Galiléia e
chegou à região da Decápole. Durante a viagem, lhe trouxeram um homem surdo,
que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse as mãos. Jesus
colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele.
Olhando para o céu, suspirou e disse: "Efatá!", que quer dizer "Abre-te!" Imediatamente,
seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem
dificuldade. Jesus recomendou que não
contassem a ninguém, mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. Muito
impressionados, diziam: "Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz
ouvir e aos mudos falar”.
Milagre – Mais uma vez, estamos diante de um milagre de Jesus,
que manifesta o poder de Deus que age nele, que causa espanto e alegria entre
as testemunhas. Em si, o relato segue o roteiro de tantos outros – uma pessoa
sofrendo (neste caso de surdez e incapacidade de falar corretamente), a
compaixão da parte de Jesus, que o leva a atender o pedido de uma cura, a cura
em si, a proibição de espalhar a notícia (o "Segredo Messiânico), e a
incapacidade das testemunhas de guardar o segredo.
Identidade – A violação da proibição, por parte da multidão, traz à
tona a questão da verdadeira identidade de Jesus, dando a impressão de que ele
é muito mais do que um simples curador! As palavras que expressam o entusiasmo
da multidão diante dele (7,37) são tiradas de uma seção apocalíptica de Isaías,
sugerindo que, nas atividades de Jesus, o Reino de Deus se faz presente.
Segredo
Messiânico – O que é isso?
Provavelmente, faz parte da insistência de Marcos, de que Jesus é mais do que
um milagreiro, e que a sua verdadeira identidade só se revelará na sua Cruz e
Ressurreição. Pois é somente lá, e não diante dos milagres, que Jesus é
proclamado "Filho de Deus" por um homem – o oficial que exclamou a pé
da Cruz, vendo como Jesus havia expirado. Para Marcos, uma fé baseada nos
milagres é sempre ambígua, pois pode levar ao seguimento de Jesus por motivos
errôneos e duvidosos. Para corrigir essa tendência na sua comunidade, ele
insiste que só se pode proclamar Jesus com o título messiânico "Filho de
Deus" ao pé da Cruz, onde não há lugar para dúvidas.
Hoje – Podemos ver um sentido mais simbólico para os nossos
dias na cura relatada – o de abrir os ouvidos e soltar as línguas: o sistema
hegemônico de hoje e os meios de comunicação, frequentemente atrelados e
coniventes, procuram tapar os ouvidos do povo diante dos gritos dos sofridos. Fazem
questão de camuflar a realidade sofrida de milhões, escondendo-a ou
banalizando-a, como fica claro na maioria dos noticiários de televisão.
Oprimidos – Também as forças dominantes, cada vez mais, deixam os
excluídos sem voz: na nossa sociedade consumista, só pode ter voz ativa quem
produz e consome. Diante da surdez e mudez físicas, Jesus cura! O evangelho e a
atividade evangelizadora das igrejas devem ajudar as pessoas, para que ouçam o
grito dos oprimidos e para que ajudem a devolver a voz àqueles a quem foi
tirada.
Igreja – Jesus fez bem todas as coisas – fez os surdos ouvirem
e os mudos falarem! Que se possa dizer isso de todas as Igrejas e pastorais –
que possamos ajudar a devolver, aos ensurdecidos pela ideologia dominante, a
capacidade de ouvir os gemidos dos sofredores; e, aos os sem-voz, a recuperar a
voz ativa, nas decisões das igrejas e da sociedade em geral.
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