sexta-feira, 3 de setembro de 2021

"Efatá." Abre-te!

 


O acontecimento relatado por Marcos 7, 31-37, que veremos neste domingo, acontece em junho do ano 29, quando Jesus está na região da Fenícia, entre as cidades de Tiro e Sidon. As duas cidades existem até hoje e distam 30 quilômetros entre si. Na época de Jesus, eram cidades muito ricas e formavam uma região totalmente pagã.

 Viagem – Jesus viajou desta região para o mar da Galiléia e chegou à região da Decápole. Durante a viagem, lhe trouxeram um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse as mãos. Jesus colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: "Efatá!", que quer dizer "Abre-te!" Imediatamente, seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade.  Jesus recomendou que não contassem a ninguém, mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. Muito impressionados, diziam: "Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”.

 Milagre – Mais uma vez, estamos diante de um milagre de Jesus, que manifesta o poder de Deus que age nele, que causa espanto e alegria entre as testemunhas. Em si, o relato segue o roteiro de tantos outros – uma pessoa sofrendo (neste caso de surdez e incapacidade de falar corretamente), a compaixão da parte de Jesus, que o leva a atender o pedido de uma cura, a cura em si, a proibição de espalhar a notícia (o "Segredo Messiânico), e a incapacidade das testemunhas de guardar o segredo.

 Identidade – A violação da proibição, por parte da multidão, traz à tona a questão da verdadeira identidade de Jesus, dando a impressão de que ele é muito mais do que um simples curador! As palavras que expressam o entusiasmo da multidão diante dele (7,37) são tiradas de uma seção apocalíptica de Isaías, sugerindo que, nas atividades de Jesus, o Reino de Deus se faz presente.

 Segredo Messiânico – O que é isso? Provavelmente, faz parte da insistência de Marcos, de que Jesus é mais do que um milagreiro, e que a sua verdadeira identidade só se revelará na sua Cruz e Ressurreição. Pois é somente lá, e não diante dos milagres, que Jesus é proclamado "Filho de Deus" por um homem – o oficial que exclamou a pé da Cruz, vendo como Jesus havia expirado. Para Marcos, uma fé baseada nos milagres é sempre ambígua, pois pode levar ao seguimento de Jesus por motivos errôneos e duvidosos. Para corrigir essa tendência na sua comunidade, ele insiste que só se pode proclamar Jesus com o título messiânico "Filho de Deus" ao pé da Cruz, onde não há lugar para dúvidas.

 Hoje – Podemos ver um sentido mais simbólico para os nossos dias na cura relatada – o de abrir os ouvidos e soltar as línguas: o sistema hegemônico de hoje e os meios de comunicação, frequentemente atrelados e coniventes, procuram tapar os ouvidos do povo diante dos gritos dos sofridos. Fazem questão de camuflar a realidade sofrida de milhões, escondendo-a ou banalizando-a, como fica claro na maioria dos noticiários de televisão.

 Oprimidos – Também as forças dominantes, cada vez mais, deixam os excluídos sem voz: na nossa sociedade consumista, só pode ter voz ativa quem produz e consome. Diante da surdez e mudez físicas, Jesus cura! O evangelho e a atividade evangelizadora das igrejas devem ajudar as pessoas, para que ouçam o grito dos oprimidos e para que ajudem a devolver a voz àqueles a quem foi tirada.

 Igreja – Jesus fez bem todas as coisas – fez os surdos ouvirem e os mudos falarem! Que se possa dizer isso de todas as Igrejas e pastorais – que possamos ajudar a devolver, aos ensurdecidos pela ideologia dominante, a capacidade de ouvir os gemidos dos sofredores; e, aos os sem-voz, a recuperar a voz ativa, nas decisões das igrejas e da sociedade em geral.

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