sábado, 26 de janeiro de 2008

O projeto do Reino

  


O texto que nos é proposto como Evangelho deste domingo encerra a etapa da preparação de Jesus para a missão (Mt 3,1-4,16) e lança a etapa do anúncio do Reino.

 Local – O texto situa-nos na Galiléia, a região setentrional da Palestina, zona de população heterogênea e ponto de encontro de muitos povos. Faz referência também à cidade de Cafarnaum, cidade situada no limite do território de Zabulão e de Neftali, na margem noroeste do lago de Genezaré, na direção do “caminho do mar” (que ligava o Egito e a Mesopotâmia). Cafarnaum era considerada a capital judaica da Galiléia porque Tiberíades, a capital política da região, por causa dos seus costumes pagãos e por estar construída sobre um cemitério, era evitada pelos judeus. A sua situação geográfica abria-lhe, também, as portas dos territórios dos povos pagãos da margem oriental do lago.

 Cafarnaum – Na primeira parte (Mt 4,12-16), Mateus refere como Jesus abandona Nazaré, o seu lugar de residência habitual, e se transfere para Cafarnaum. Mateus descobre nesse fato um significado profundo, à luz de Is 8,23-9,1: a “luz” que havia de eliminar as trevas e as sombras da morte de que fala Isaías é, para Mateus, o próprio Jesus. Na terra humilhada de Zabulão e Neftali, vai começar a brilhar a luz da libertação; e essa libertação vai atingir, também, os pagãos que acolherem o anúncio do Reino. O anúncio libertador de Jesus apresenta, desde logo, uma dimensão universal.

 Reino – Na segunda parte (Mt 4,17-23), Mateus apresenta o lançamento da missão de Jesus: o conteúdo básico da pregação que se inicia vai se definindo, o “Reino” apresenta-se como realidade viva atuante e são apresentados os primeiros discípulos, que acolhem o apelo do “Reino” e que vão acompanhar Jesus na missão.

 Anúncio – Qual é, em primeiro lugar, o conteúdo do anúncio? O versículo 17 é claro: Jesus veio trazer “o Reino”. A expressão “Reino de Deus” refere-se, no Antigo Testamento e na época de Jesus, ao exercício do poder soberano de Deus sobre os homens e sobre o mundo. Decepcionado com a forma com que o os reis humanos exerceram a realeza, o Povo de Deus começa a sonhar com um tempo novo, em que o próprio Deus vai reinar sobre o seu Povo. Para eles, esse reinado será marcado pela justiça, pela misericórdia, pela preocupação de Deus em relação aos pobres e marginalizados, pela abundância e fecundidade, pela paz sem fim.

 Arrependei-vos – Jesus tem consciência de que a chegada do “Reino” está ligada à sua pessoa. Para Mateus o primeiro anúncio resume-se no seguinte slogan: “arrependei-os, porque o Reino dos céus está para chegar”. O convite à conversão é um convite a uma mudança radical na mentalidade, nos valores, na postura vital. Corresponde, fundamentalmente, a um reorientar a vida para Deus, a um reequacionar a vida, de modo que Deus e os seus valores passem a estar no centro da existência do homem. Só quando o homem aceita que Deus ocupe o lugar que lhe compete, está preparado para aceitar a realeza de Deus… Então, o “Reino” pode nascer e tornar-se realidade no mundo e nos corações.

 Apóstolos – Finalmente, Mateus descreve o chamamento dos primeiros discípulos. Não se trata, segundo parece, um relato jornalístico de acontecimentos, mas de uma catequese sobre o chamamento e a adesão ao projeto do “Reino”. Através da resposta pronta de Pedro e André, Tiago e João, propõe-se um exemplo da conversão radical ao “Reino” e de adesão às suas exigências.

 Chamamento – O relato ressalta uma diferença fundamental entre os chamados por Jesus e os discípulos que se juntavam à volta dos mestres do judaísmo: não são os discípulos que escolhem o mestre e pedem para entrar no seu grupo, como acontecia com os discípulos dos “rabbis”; mas a iniciativa é de Jesus, que chama os discípulos que Ele próprio escolheu, que os convida a segui-Lo e lhes propõe uma missão.

 Opção – A resposta dos quatro discípulos ao chamamento é também inusitada: renunciam à família, ao seu trabalho, às seguranças instituídas e seguem Jesus sem condições. Esta ruptura (que significa não só uma ruptura afetiva com pessoas, mas também a ruptura com um quadro de referências sociais e de segurança econômica) indicia uma opção radical pelo “Reino” e pelas suas exigências.

 Missão – Uma palavra para a missão que é proposta aos discípulos que aceitam o desafio do “Reino”: eles serão pescadores de homens. O mar é, na cultura judaica, o lugar dos demônios, das forças da morte que se opõem à vida e à felicidade dos homens; a tarefa dos discípulos que aceitam integrar o “Reino” será, portanto, libertar os homens dessa realidade de morte e de escravidão em que eles estão mergulhados, conduzindo-os à liberdade e à realização plenas.

 Testemunhas – Estes quatro discípulos representam todo o grupo dos discípulos, de todos os tempos e lugares… Como eles, devemos responder positivamente ao chamamento, optar pelo “Reino” e pelas suas exigências e tornarmo-nos testemunhas da vida e da salvação de Deus no meio dos homens e do mundo.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Quem é Jesus?

  


No Evangelho das missas deste domingo, João Batista apresenta Jesus como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. O trecho é tirado da seção introdutória do Evangelho de João (Jo 1,19 - 3, 36).

 Esquema – João dispõe o texto num enquadramento cênico. As diversas personagens que vão entrando em cena procuram apresentar Jesus. Um a um, os atores vão fazendo afirmações carregadas de significado teológico sobre Jesus. O quadro final que resulta destas diversas intervenções apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus, Aquele que possui o Espírito e que veio ao encontro dos homens para fazer aparecer o Homem Novo, nascido da água e do Espírito.

 João – João Batista, o profeta precursor do Messias, desempenha aqui um papel especial na apresentação de Jesus (o seu testemunho aparece no início e no fim da seção – Jo 1,19-37; 3, 22-36). Ele define Aquele que chega e apresenta-O aos homens. O testemunho de João é perene, dirigido aos homens de todos os tempos e com eco permanente na comunidade cristã. João é, portanto, o “apresentador oficial” de Jesus. De que forma e em que termos O apresenta?

 Catequese – A catequese sobre Jesus que aqui é feita se expressa por intermédio de duas afirmações: Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; e é o Filho de Deus que possui a plenitude do Espírito.

 Cordeiro – A primeira afirmação (“o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” – Jo 1,29) evoca, provavelmente, duas imagens tradicionais, extremamente sugestivas: a do “servo sofredor”, o cordeiro levado para o matadouro, que assume os pecados do seu Povo e realiza a expiação; e, a do cordeiro pascal, símbolo da ação libertadora de Deus em favor de Israel. Qualquer uma destas imagens sugere que a pessoa de Jesus está ligada à libertação dos homens.

 Pecado – A idéia é explicitada pela definição da missão de Jesus: Ele veio para tirar (“eliminar”) “o pecado do mundo”. A palavra “pecado”, no singular, não significa os “pecados” dos homens, mas um “pecado” único que oprime a humanidade inteira. O “mundo” indica, neste contexto, a humanidade que resiste à salvação, reduzida à escravidão, e que recusa a luz/vida que Jesus lhe pretende oferecer… Deus se propondo tirar a humanidade da situação de escravidão em que ela se encontra, enviou Jesus ao mundo com a missão de realizar um novo êxodo, que leve os homens da terra da escravidão para a terra da liberdade.

 Filho de Deus – A segunda afirmação (o “Filho de Deus” que possui a plenitude do Espírito Santo e que batiza no Espírito – Jo 1, 32-34) completa a anterior. Há aqui vários elementos bem sugestivos: o “cordeiro” é o Filho de Deus; Ele recebeu a plenitude do Espírito e tem por missão batizar os homens no Espírito. Ele é o Deus que se faz Pessoa, a fim de oferecer a plenitude da vida divina. A sua missão consiste em eliminar “o pecado” que torna o homem escravo e que o impede de abrir o coração a Deus.

 Espírito – Dizer que o Espírito desce sobre Jesus e permanece sobre Ele sugere que Jesus possui definitivamente a plenitude da vida de Deus, toda a sua riqueza, todo o seu amor. A descida do Espírito sobre Jesus é a sua investidura messiânica, a sua unção (“messias” = “ungido”). Jesus é o eleito de Yahweh, sobre quem Deus derramou o seu Espírito (Is 42,1), a quem ungiu e a quem enviou para “anunciar a Boa Nova aos pobres, para curar os corações destroçados, para proclamar a libertação aos cativos, para anunciar aos prisioneiros a liberdade” (Is 61,1-2).

 Batismo – Jesus é, finalmente, aquele que batiza no Espírito Santo (batizar significa ‘submergir’ ou ‘encharcar’). “Batizar no Espírito” significa, portanto, um contacto total entre o Espírito e o homem, uma chuva de Espírito que cai sobre o homem e lhe inunda o coração. A missão de Jesus consiste, portanto, em derramar o Espírito sobre o homem; e o homem que adere a Jesus, “inundado” do Espírito e transformado por essa fonte de vida que é o Espírito, abandona a experiência da escuridão (“o pecado”) e alcança o seu pleno desenvolvimento, a plenitude da vida.

 A declaração de João convida os homens de todas as épocas a voltarem-se para Jesus e a acolherem a proposta libertadora que, em nome de Deus, Ele faz: só no encontro com Jesus será possível chegar à vida plena, à meta final do Homem Novo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Onde está o rei dos judeus?


Hoje celebramos uma das grandes festas do Ciclo de Natal - a Manifestação do Senhor ("Epifania" em grego), onde comemoramos o fato de que Jesus foi manifestado não somente ao seu próprio povo, mas a todos, representados pelos Magos do Oriente.

Salvação Universal – Embora a festa tenha muita popularidade folclórica, ela esconde uma grande verdade da fé – que a salvação em Jesus é para todos os povos, sem distinção de raça, cor ou religião. Retomando a grande intuição do profeta Isaías, celebramos hoje a salvação universal em Jesus.

Simbolismos – O texto de hoje é altamente simbólico – usa uma técnica da literatura judaica chamada "midrash", ou seja, uma releitura de passagens bíblicas, com o intuito de atualizá-las. Assim, Mateus quer ensinar algo sobre Jesus, usando figuras e símbolos tirados de diversos textos do Antigo Testamento. Por exemplo:

Magos – Vêm os magos (nem três, nem reis!), buscando o Rei dos Judeus. Esses magos lembram os magos que enfrentavam e foram derrotados por Moisés (Ex 7,11.22; 8,3.14-15; 9,11), e acabaram reconhecendo o poder de Deus nas maravilhas feitas por ele.

Estrela – A estrela é sinal da vinda do Messias, prevista na profecia de Balaão (Nm 24,17).

Belém – O menino nasce em Belém, segundo a profecia de Miquéias (Mq 5,1).

Presentes – Os presentes lembram as profecias de Isaías sobre os estrangeiros que viriam a Jerusalém, trazendo presentes para Deus (Is 49,23; 60,5; Sl 72,10-11).

Massacre – Herodes é o novo Faraó, também massacra os filhos do povo de Deus (Ex 1,8.16).

Reações – O texto chama atenção pelas reações diferentes diante do acontecido. Os que deveriam reconhecer o Messias – pois são versados nas escrituras – ficam alarmados, pois, para eles, opressores do povo através da religião e da política, Jesus e a sua mensagem constituem uma ameaça. Outros, pagãos do Oriente, buscando sem ter certeza, arriscam muito para descobrir o verdadeiro Deus, e entregam-lhe presentes, sinal da partilha, que será característica do Reino que Jesus veio pregar.

Novo sinal – Hoje em dia verificam-se as mesmas reações diante de Jesus e do seu Evangelho. Muitos querem reduzir os eventos religiosos a algo folclórico com shows e cantos, mas que de forma alguma questionam a nossa sociedade e os seus valores. Para outros, o Menino na estribaria é um sinal do novo Projeto de Deus, o mundo fraterno, no qual todas as pessoas de boa vontade têm que se unir, seja qual for a sua raça, nação, gênero ou religião, para construir a fraternidade que Deus quer.

Mensagem – Jesus não precisa de presentes e sim do nosso esforço na vivência de seu Reino. Não caiamos na celebração oca das histórias do Ciclo Natalino, reduzindo o seu sentido a algo somente sentimental e folclórico. Na prática, temos que optar entre a vivência religiosa vazia, como a de Herodes e dos Sumos Sacerdotes, ou a mensagem libertadora do Menino de Belém, que convoca a todos (representados pelos magos) para a construção de um mundo de paz, de fraternidade e justiça, pois Jesus veio para que "todos tenham vida e a tenham plenamente" (Jo 10,10).

sábado, 28 de dezembro de 2002

O ano de 2002

Quantas vírgulas têm a Bíblia?

Qual os nomes dos avós de Jesus?

Qual o nome do segundo ladrão crucificado com Jesus?

Qual é a história de São Longuinho?

Qual o nome da mãe de Santo Agostinho?

Qual a santa protetora da esquadra de Pedro Álvares Cabral?

Qual Apóstolo que ficou bêbado com vinho?

Qual o homem mais bonito da Bíblia?

O que era o carrossel de fogo do Livro dos Reis?



Estas são algumas perguntas formuladas por leitores da Coluna “Ser Católico” neste ano de 2002. Recebemos mais de 500 correspondências entre cartas e E-mails. O nosso ‘site’ na Internet foi visitado mais de 5.000 vezes.  Todas as dúvidas e questionamentos foram respondidos; todos os materiais solicitados (textos, livros, publicações, dados sobre santos, informações sobre a Igreja) foram enviados gratuitamente.


Ser Católico – A Coluna “Ser Católico” estará completando, em maio de 2003, três anos de existência. No ano de 2002 estivemos presentes no Jornal da Cidade em todos os sábados. Isso significa uma visita semanal a mais de 35 mil residências da região de Bauru.


Correspondências – Respondemos cartas e E-mails de todos os tipos de leitores: católicos, protestantes, pessoas simples, seminaristas, professores de cursos de teologia, catequistas, pastores evangélicos, detentos da penitenciária, professores de cursos bíblicos etc. Recebemos cartas de toda a região de Bauru e até de São Paulo e Campinas.  Os E-mails vêm de mais longe: a maioria da grande Bauru, mas chegamos a remeter material para o Japão, para um bauruense que lá reside.


Mais solicitado – Todos os leitores devem se lembrar que, nos meses de maio a julho, a coluna publicou 13 artigos sobre os “Dogmas da Igreja Católica”.  Os 44 Dogmas da Igreja foram enviados para mais de cem leitores, se tornando o texto mais solicitado em 2002.  Até os seminários solicitaram o texto para estudo!  Isso mostra que os Dogmas (base, fundamento da doutrina católica) não são conhecidos pela grande maioria do povo católico.


Aparições de Nossa Senhora – Também foi bastante solicitado o texto sobre as aparições de Nossa Senhora.  Os detalhes das aparições de Nossa Senhora de Guadalupe foram solicitados mais de 50 vezes.


Corpos Incorruptos e Milagre de Lanciano – Muitos leitores solicitaram os textos sobre os 40 santos cujos corpos continuam intactos.  O Milagre de Lanciano, em que a hóstia se tornou carne e o vinho se tornou sangue e se mantêm intactos até hoje (desde 1713) também chamou a atenção dos leitores.


Apóstolos de Cristo e os Irmãos de Jesus – Os oito artigos sobre a vida dos Apóstolos de Cristo também merecem destaque.  Foram mais de 30 solicitações do texto sobre os detalhes da vida daqueles que acompanharam Cristo na terra. A descoberta do ossário de Tiago levantou a polêmica sobre os irmãos de Jesus; no mês de novembro esse assunto foi tratado em detalhes.


VOCÊ PERDEU ALGUM ARTIGO?
Se você perdeu algum destes textos e gostaria de ler, é fácil: entre em nosso ‘site’ que está tudo lá.  Se você preferir, solicite por E-mail que lhe enviaremos (gratuitamente) o material publicado e textos para um estudo mais aprofundado. Aproveitamos também a oportunidade para agradecer àqueles que colaboraram enviando sugestões. A você que nos acompanhou durante todo o ano de 2002, os nossos mais efusivos votos de Ano Novo cheio da Paz e do Amor de Deus. Que o Menino Jesus renove em todos a fé e a certeza de um mundo melhor, construído pela graça do Espírito Santo, por cada um de nós.

sábado, 21 de dezembro de 2002

A lenda do Bom Velhinho

25 de dezembro – Mesmo antes do nascimento de Cristo, exatamente no dia 25 de dezembro, já existia o costume de trocar presentes. Os povos que celebravam a data (celtas e babilônios) sabiam que o dia marcava o início da volta da fertilidade, pois o inverno iria ficando menos rigoroso até chegar a primavera e depois, o verão. Assim, eles se reuniam para homenagear o Sol, numa celebração que resistiu ao tempo. Posteriormente, a data foi adotada pela Igreja para marcar a comemoração dos aniversários de Jesus. O significado mudou, mas o costume de trocar de presentes permaneceu.

Papai Noel – Até então, o Papai Noel não existia. As pessoas simplesmente presenteavam-se umas às outras. Mais tarde, entretanto, resolveram escolher um santo para ser patrono da data. O eleito foi São Nicolau, que viveu no século 4 e havia sido bispo de uma cidade onde hoje é a Turquia. Como tinha fama de generoso, logo imaginaram que não havia ninguém melhor para ser responsável pelo 25 de dezembro. Afinal, se era dia de ganhar presentes, nada mais justo que o patrono ter sido uma pessoa que gostava de distribuí-los!

Presentes – A lenda começou então a se espalhar. Todo Natal, São Nicolau surgia para presentear a todos, adultos e crianças, sem distinção. Mais tarde, as crianças passaram a ser as únicas beneficiadas. Foi quando a essa lenda misturou-se outra vinda da Escandinávia - a região que engloba os atuais países da Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca. Lá, existia a história de um feiticeiro que vivia no gelo e punia as crianças levadas e presenteava as que se comportavam bem. Como o tempo acaba confundindo as pessoas, misturando significados e apagando lendas, o feiticeiro logo se juntou com o santo e dessa mistura surgiu o Papai Noel. Desde então, ele aparece todo Natal trazendo presentes, vestindo sua roupa vermelha e calorenta, pois a lenda veio de países onde faz muito frio.

São Nicolau – São Nicolau é um santo especialmente querido pelos cristãos ortodoxos e, em particular, pelos russos. Quando jovem, viajava muito, tendo conhecido a Palestina e Egito. Por onde passava ficava na lembrança das pessoas devido a sua bondade e o costume de dar presentes às crianças necessitadas. Conta-se que o primeiro presente que Nicolau deu foram moedas de ouro entregues a três meninas pobres. Quando voltou a sua cidade natal, Patara, na província de Lícia, Ásia Menor, São Nicolau foi declarado bispo da cidade de Mira.

O Santo – Nicolau nasceu no ano 275 na Ásia Menor. Tornou-se sacerdote da diocese de Mira, onde com amor evangelizou os pagãos, mesmo no clima de perseguição que os cristãos viviam. Sagrado bispo de Mira, Nicolau conquistou a todos com sua caridade, zelo, espírito de oração e carisma de milagres. Com o tempo, foi ganhando fama de fazedor de milagres e a devoção a ele estendeu-se a todas as regiões da Europa, tornando-o o padroeiro da Rússia, da Grécia, das associações de caridade, das crianças, marinheiros, garotas solteiras, comerciantes e também de algumas cidades como Friburgo e Moscou.


Perseguição – Historiadores relatam que, ao ser preso por causa da perseguição dos cristãos, Nicolau foi torturado e condenado a morte, mas, felizmente, se salvou em 313, pois foi publicado o edito de Milão, que concedia a liberdade religiosa. São Nicolau participou do Concilio de Nicéia, ocasião em que Jesus foi declarado consubstancial ao Pai. Morreu em 342 e é comemorado aos 6 de dezembro.

sábado, 14 de dezembro de 2002

Os números da Bíblia – 666: o número da besta

Entre os números que aparecem na Bíblia, o número da besta (666), que aparece no livro do Apocalipse 13, 18, é o que causa maior polêmica.  Vamos fazer um pequeno estudo deste assunto.

A Polêmica – O autor do livro “Apocalipse” (Ap 13,18) manda calcular o número da besta: ”É o momento de ter discernimento. Quem tiver inteligência, calcule o número da besta, pois é um número de homem. E o seu número é seiscentos e sessenta e seis”. Aproveitando o simbolismo que os povos antigos davam aos números, o autor designou o perseguidor dos cristãos (figurado como uma besta) dizendo que o nome desse homem tem o valor numérico de 666.

Gematria – Trata-se de um processo chamado ‘gematria’, que consiste em atribuir um número para cada letra do alfabeto.  Somado-se os números do nome de uma pessoa pode-se estabelecer o valor numérico correspondente àquele nome.  Este simbolismo existe até hoje: existem vários casos de artistas que mudam algumas letras de seu nome baseados na numerologia (Sandra Sá para Sandra de Sá; Ana Maria Braga para Ana Marya Braga; Chico Anísio para Chico Anysio).

Os valores – Para os antigos, as letras tinham valor numérico. Eis alguns exemplos: no alfabeto romano I=1; II=2; V=5; C=100; D=500; M=1000.  No alfabeto grego L=30; A=1; T=300; E=5; I=10; N=50; O=70 e S=200.  No latim as letras também tinham seus valores.  Atualmente, os numerologistas têm vários critérios de numeração das letras. Um deles é atribuir ao A o valor 100; B=101; C= 102; e assim por diante. O código ASCII (usado em computadores) atribui os valores: B=66, I=73, L=76, L=76, G=71, A=65, T=84, E=69, S=83, I=1.

Sopa de Letras e Números – Em razão das inúmeras formas de atribuição de valores às letras, surgiram uma grande quantidade de que somavam 666.  Na verdade, os nomes eram manipulados, traduzidos e modificados para forçar que os seus valores numéricos totalizassem o valor de 666.

Os candidatos – Evidentemente que primeiro inimigo do cristianismo era o nome grego TEITAN (300+5+10+300+1+50=666), que significa Satanás.  Outros diziam que a besta significava as pessoas que falavam latim “lateinos” (30+1+300+5+10+50+70+200=666). Os críticos da Igreja diziam que o 666 do Apocalipse se referia à Igreja Italiana, em gregoITALIKA EKKLESIA”, que também totaliza 666.

Mais candidatos – Inúmeras personalidades já tiveram o seu nome ligado à besta do Apocalipse: os 16 reis da França de nome Luis (em latim “LUDOVICUS”) que na contagem grega totaliza 666; ADOLF HITLER também equivale a 666 se fizermos A=100; B=101; C=102 e assim por diante; Bill Gates, dono da Microsoft, cujo nome é William Henry Gates III, no código ASCII soma 666; ELLEN GOULD WHITE, a profetiza adventista,  também soma o número 666; até o Papa, chamado pelo título de “VICARIUS FILII DEI“ (vigário filho de Deus), pelos algarismos romanos totaliza 666.

Interpretação correta – A interpretação de 666 deve ser procurada no contexto histórico e lingüístico da época em que o “Apocalipse” foi escrito: um período de grande tribulação (Mt 24,15; Dn 12,1), em que Jerusalém estava sendo pisada pelos gentios (Lc 21,20; Dn 12,11; Ap 11,2), Nero perseguia os cristãos (a partir do ano 64), mandando matar Pedro e Paulo e levando à destruição de Jerusalém em 70 (guerra judaica). Assim, o autor de “Apocalipse” se referia a Nero, o imperador do Império Romano e maior perseguidor dos cristãos.  Nero em grego se escreve “Kaisar Neron” e em caracteres hebraicos (língua falada pelos cristãos) se escreve “NVRN RSQ” (o hebraico é lido da direita para a esquerda), correspondendo a 50+6+200+50+200+60+100=666.

PESQUISA BÍBLICA – Doze apóstolos?

            Na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 15,5), Paulo afirma que Cristo ressuscitado apareceu a Pedro e depois aos doze apóstolos. Mas, e Judas? Morreu ou não? Ou será que Paulo não sabia contar? Faça uma pesquisa em sua Bíblia ou em livros bíblicos; pergunte para o padre ou catequista de sua paróquia. Se você não encontrar uma resposta satisfatória, solicite por carta ou E-mail que lhe enviaremos um texto explicativo.

sábado, 7 de dezembro de 2002

Ainda os números da Bíblia

Devido ao interesse dos leitores pelo assunto, vamos continuar decifrando os números da Bíblia.


Qualidades, não quantidades – os exegetas (estudiosos da Bíblia) reconhecem haver na Sa­grada Escritura, números com a intenção de destacar ou realçar determinado evento.  Estes números têm, geralmente, grandes valores e são arredondados.  Certamente eles não representam, matematicamente, a realidade. Um exemplo encontra-se na história de Davi (1Sm 21,12): para louvar a bravura deste guerreiro, cantavam os coros populares: Saul matou os seus mil; Davi, porém, os seus dez mil”. O sentido do verso é claro: “por muito aguerrido que tenha sido Saul, Davi ainda o é mais”.


Imprecisão – Muitas indicações numéricas da Bíblia são imprecisas do ponto de vista matemático. Um exemplo marcante ocorre em 1Rs 7,23 e 2Cr 4, 2, quando os autores apresentam as dimensões da grande piscina de Salomão: era circular e tinha um perímetro de trinta côvados por dez de diâmetro. Qualquer estudante de 2º grau sabe que a proporção entre a circunferência e o diâmetro seria igual a 3,1416, ou seja o valor de π (pi) e não o valor de três. Outros exemplos seriam: o total de três mil provérbios que Salomão proferiu em sua vida (1Rs 4,12); os setenta milhares de vítimas da peste desencadeada sobre o reino de Davi (2Sm 24,15). Não deve ser atribuído literal a estes números.


Erros de transcrição – Nós sabemos que existe alguma facilidade em se errar ao transcrever um número.  É bastante comum errarmos ao transcrevermos números de RG ou CIC.  Na Bíblia também os maiores erros ocorrem nos números. Eis alguns textos em que as mãos dos copistas introduziram variantes errôneas: em Gn 2, 2 a tradução latina da Vulgata apresenta: “Deus terminou no sétimo dia a obra que fizera, e repousou no sétimo dia". Ao contrário, as traduções gregas apresentam: “... terminou no sexto dia... e repousou no sétimo...”. Dentre estas duas variantes, não se hesita em julgar que a segunda é a original, embora só esteja conservada em traduções.

Mais erros – Segundo o texto hebraico (1Rs 5,6 e 2Cr 9,25), Salomão possuía quarenta mil manjedouras para os seus cavalos. A tradução grega (2Cr 9,25) fala apenas de quatro mil manjedouras (mais real).  Em 2Cr 36,9 (texto hebraico) lê-se que Jeconias tinha oito anos quando começou a reinar, ao passo que as traduções gregas e Síria lhe atribuem dezoito anos no inicio do seu reinado.


Erros de tradução – Em 1Cr 21,5 lê-se que sob o rei Davi “todo (o povo de) Israel contava 1.100.000 guerreiros, e Judá 470.000 guerreiros”. Ora o autor de 2Sm 24, 9, em texto paralelo, menciona “800.000 guerreiros em Israel, e 500.000 em Judá...”.  Supondo um total de quatro ou cinco milhões de cidadãos em Israel nos tempos de Davi, as quantidades são inacreditáveis. A explicação pode estar num erro de tradução da palavra hebraica ‘Eleph’, que pode significa milheiro ou, em linguagem militar, designa­ria um batalhão. Pode-se concluir que sob o rei Davi havia 1.100 ou 1.300 batalhões em Israel.

Outras discordâncias – Existem ainda outros pontos de discórdia entre os textos bíblicos.  Em Marcos 10, 46-52, o Senhor curou um cego; em Mateus 20, 30 o texto fala de dois cegos. Marcos 5, 2 e Lucas 8, 27 mencionam um homem possesso, que Jesus libertou do demônio, ao passo que Mateus 8, 28 refere dois homens endemoniados.

O Número da Besta é 666 – Entre os números que aparecem na Bíblia, o número da besta (666), que aparece no livro do Apocalipse 13, 18, é o que causa maior polêmica.  Bem ...  mas isso é assunto para a próxima semana.