A reflexão sobre a realidade
Interpretar a Bíblia, sem olhar a realidade da vida, é o mesmo que manter o sal fora da comida, a semente fora da terra, a luz debaixo da mesa; é como galho sem tronco, olhos sem cabeça, rio sem leito.
Pois a Bíblia não é o primeiro livro que Deus escreveu para nós, nem o mais importante. O primeiro livro é a natureza, criada pela palavra de Deus; são os fatos, os acontecimentos, a história, tudo que existe e acontece na vida do povo; é a realidade que nos envolve. Deus quer comunicar-se conosco através da vida que vivemos. Por meio dela, ele nos transmite a sua mensagem de amor e de justiça.
Mas nós homens, por causa dos nossos pecados, organizamos o mundo de tal maneira e criamos uma sociedade tão torta, que já não é mais possível perceber claramente a voz de Deus nesta vida que vivemos. Xor isso, Deus escreveu um segundo livro que é a Bíblia. O segundo livro não veio substituir o primeiro. A Bíblia não veio ocupar o lugar da vida. A Bíblia foi escrita para nos ajudar a entender melhor o sentido da vida e perceber a presença da palavra de Deus dentro da nossa realidade.
Santo Agostinho resumiu tudo isso da seguinte maneira: a Bíblia, o segundo livro de Deus, foi escrita para nos ajudar a decifrar o mundo, para nos devolver o olhar da fé e da contemplação e para transformar toda a realidade numa grande revelação de Deus.
Por isso, quem lê e estuda a Bíblia, mas não olha a realidade do povo oprimido nmm luta pela justiça e pela fraternidade, é infiel à palavra de Deus e não imita Jesus Cristo. Ele é semelhante aos fariseus que conheciam a Bíblia de cor, mas não a praticavam.
O estudo da própria Bíblia
O estudo da Bíblia deve ser feito com muita seriedade e disciplina. Considere a leitura que você faz da Bíblia como uma conversa sua com Deus. Ora, quando a gente conversa com alouém, deve tomar as palavras do outro do jeito que elas são ditas por ele. Eu não posso colocar as minhas idéias dentro das palavras do outro. Isto seria uma falta de honestidade. Não posso tirar do texto nenhum sentido, a não ser aquele que está dentro do texto. Convém ser severo e exigente consigo mesmo neste ponto. Nunca manipular o texto em favor das suas próprias idéias!
Mas um texto pode ser lido com duas mentalidades: com a mentalidade avarenta de um pão-duro ou com a mentalidade generosa de um mão-aberta. A gente deve ser generoso e(nunca avarento na interpretação da Bíblia. Isto quer dizer: ler não só nas linhas, mas também nas entrelinhas. Em todos os textos sempre há duas coisas: as coisas ditas abertamente nas linhas, e as coisas ditas veladamente nas entrelinhas. As duas vêm do autor do texto, e as duas são igualmente importantes.
Como descobrir o que o autor diz nas entrelinhas? Usando a inteligência, o coração e a imaginação, perguntando sempre:
- Quem é que está falando no texto e a quem?
- O que ele está querendo dizer e por quê?
- Em que situação ele está falando ou escrevendo e qual o jeito que ele usa para dar o seu recado?
- Qual o ambiente que ele cria por meio das suas palavras e qual o interesse que ele defende?
Estas e outras perguntas ajudam a gente i puxar a cortina e a perceber o que existe nas entrelinhas do texto bíblico.
Além disso, as introduções de cada livro, as notas ao pé das páginas, as referências para outros textos bíblicos, os mapas geográficos e o vocabulário que você encontra no fim desta Bíblia, foram feitos para ajudá-lo na descoberta do sentido certo e exato do texto. E aqui convém lembrar o seguinte: nadar se aprende nadando. O conhecimento da Bíblia se adquire através de uma prática constante de leitura, se possívml diária. (Editora Vozes. Bíblia Sagrada - Editora Vozes (24) 237-5112 - www.vozes.com.br)
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