Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 30/09/2000
A vivência comunitária da fé na ressurreição
Este terceiro ponto, muitas vezes esquecido, é muito importante. É como a caixa de ressonância de um violão. Sem ela, as cordas das palavras bíblicas não produzem a música de Deus no coração do leitor. Como criar esta caixa de ressonância da interpretação da Bíblia?
1. Jesus soube criar um ambiente de amizade e de abertura, onde foi possível ele ler a Bíblia junto com os dois discípulos de Emaús. Este é o primeiro passo: criar um ambiente de amizade e de abertura entre as pessoas, não para esconder os problemas da vida atrás de um sorriso, mas para poder discuti-los e enfrentá-los, mesmo que for preciso ir a Jerusalém, de noite, na escuridão.
2. A Bíblia surgiu da caminhada de um povo oprimido que, apoiado na promessa de Deus, buscava a sua libertação. A sua interpretação deve ser feita a partir do povo crente e oprimido que hoje busca a sua libertação. A interpretação da Bíblia não pode ser neutra, nem pode ser feita separada da vida e da história do nosso povo. Ela deve ser o fermento de Deus neste processo de "conversão" e de mudança da morte para a vida, do medo para a coragem, do desespero para a esperança, da opressão para a liberdade, que hoje marca a vida das nossas comunidades.
3. A Bíblia nasceu dentro de uma comunidade de fé. É só com o olhar de fé desta mesma comunidade que pode ser captada e entendida plenamente a sua mensagem. Este olhar não se compra com dinheiro nem com estudo. Adquire-se vivendo na comunidade, participando da sua caminhada e das suas lutas. Mesmo quando leio a Bíblia sozinho, devo lembrar sempre que estou lendo o livro da comunidade. Ninguém tem o direito de explicar a Bíblia do jeito que convém a ele, contrário aos interesses da comunidade. Pois a Bíblia não é propriedade privada de ninguém. Ela foi entregue aos cuidados do povo de Deus, para que este realize a sua missão libertadora, e revele aos olhos de todos a presença de Javé, o Deus vivo e verdadeiro. Com outras palavras, a Bíblia deve ser interpretada de acordo com o sentido que lhe dá a comunidade, a Igreja. O modo de pensar das comunidades do Brasil e da América Latina foi resumido em Medellin e em Puebla. O modo de pensar das comunidades do mundo inteiro é definido pelos Concílios Ecumênicos e pela palavra autorizada dos papas.
4. A Bíblia é, antes de tudo, palavra de Deus para nós. Por isso, a sua interpretação e leitura devem ser feitas com a convicção de fé de que Deus nos fala por meio da Bíblia. E ele fala não para que nós nos fechemos no estudo e na leitura da Bíblia, mas para que, pela leitura e pelo estudo da Bíblia, possamos descobrir a palavra viva de Deus dentro da história da nossa comunidade e do nosso povo.
5. A interpretação da Bíblia não depende só da inteligência e do estudo, mas também do coração e da ação do Espírito Santo. O Espírito de Jesus deve ter a oportunidade de nos falar quando lemos a Bíblia. Por isso, além do estudo e da troca de idéias, a leitura da Bíblia deve ter os seus momentos de silêncio e de oração, de canto e de celebração, de troca de experiências e de vivências. (Editora Vozes. Bíblia Sagrada - Editora Vozes (24) 237-5112 - www.vozes.com.br)
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