sábado, 24 de março de 2001

A Formação dos Evangelhos: Parte 10 – O Texto do Evangelho de Marcos

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 24/03/2001


As Fontes – Para redigir seu Evangelho (em grego), Marcos se fundamentou na catequese de Pedro e em histórias correntes na comunidade de Roma. Dos 661 versículos do Evangelho de Marcos, aproximadamente, 596 foram obtidos dos discursos de Pedro e 65 (a Paixão) transcritos de perícopes. Podemos dizer que é o "Evangelho de Pedro, escrito por Marcos".

O texto – O texto mostra claramente um judeu escrevendo para não judeus. O autor tem total conhecimento das tradições israelitas, explicando aos leitores os rituais de mãos, taças, jarros, pratos etc. (veja Mc 7, 3s), a datas judaicas (veja Mc 14, 12) etc.. Cita constantemente palavras judaicas, explicando o seu significado : Boanerges (filhos do trovão, em Mc 3, 17), Talítha Koum (filha, ordeno-te: levanta-te, em Mc 5, 41); Ephphata (abre-te, em Mc 7, 34); Abba (Pai, em Mc 14, 36); Eloí, Eloí, lama sabachthani (Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste, em Mc 5, 34).

O modo de escrever – Marcos era um judeu que ouvia a catequese de Pedro, em aramaico, e transcrevia em grego, uma língua estrangeira que aprendeu, não na escola, mas no convívio diário com mercadores e artesãos. Por isso o texto de Marcos é escrito num grego com vocabulário pobre, as frases são mal ligadas, com grande variação nos tempos dos verbos, ou seja, trata-se de uma narrativa muito próxima da pregação oral. Estas deficiências, porém, contribuem para dar vida à narrativa, aproximando-a bastante do estilo oral. A designação de que trata-se de um Evangelho "colhido ao vivo" é bastante pertinente. Com um estilo simplíssimo de escrever, repete cansativamente algumas palavras, não se utiliza de frases subordinadas, fazendo com que sua narração se constitua de proposições independentes ligadas pela conjunção "e (em grego kai)"; as frases são mal construídas, defeituosas, incompletas e incorretas.

O conteúdo – O Evangelho de Marcos pode ser dividido nas seguintes partes: introdução, onde descreve a pregação de João Batista e Batismo de Jesus (até Mc 1,13) e ministério na Galiléia e ministério na Judéia. Nestas 3 partes o autor usa como fonte de informações a catequese de Pedro; na descrição da Paixão e morte usou perícopes extraídas da tradição oral. O Evangelho termina com uma ampliação (Mc 16,9-20), que é um texto adicionado posteriormente (século II) à redação original, por um outro autor.

(na próxima semana falaremos sobre os problemas do Evangelho de Marcos)


VOCÊ SABIA QUE ...

... no Evangelho de Marcos a palavra "logo" é repetida 42 vezes, sendo 11 no 1º capítulo; "começou a ..., pôs-se a ..." 26 vezes; e que 78% das frases de Marcos começam com "e" ? No trecho Mc 4,3-9 todas as frases começam com "e"; em Mc 3,1-26 a partícula "e" aparece 30 vezes. Se você se interessa pelo assunto e deseja receber (gratuitamente) um estudo completo sobre os problemas textuais do Evangelho de Marcos, solicite por E-mail ou carta.

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