Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 02/06/2001
O texto do 4º Evangelho – Com uma característica totalmente distinta dos 3 primeiros evangelhos, o autor transcreveu para o papiro um verdadeiro tratado teológico. Com certeza o autor conhecia os outros Evangelhos e algumas coleções de textos, mas utilizou-os muito pouco, existindo, talvez, um maior contato com o Evangelho de Marcos (no cap. 6, o autor apresenta 5 milagres na mesma seqüência de Marcos). Mesmo assim o texto é totalmente independente dos 3 primeiros.
As omissões – É bastante interessante notar que o autor não menciona quatro importantes episódios da vida de Cristo: o Batismo, a Transfiguração, a Última Ceia e a agonia no horto. Com exceção do Batismo, nas outras 3 situações, o apóstolo João (suposto autor do texto) estava presente. Podemos pensar também que o autor suprimiu estas perícopes de seu Evangelho, tendo em vista que já se encontravam nos outros três Evangelhos.
Os destinatários – O autor se mostra bastante conhecedor dos costumes e do ambiente da Palestina. O texto é diretamente dirigido a leitores não judeus, pois ele explica os termos hebraicos e aramaicos que emprega (Rabbi, Rabonni (mestre); Messias (Cristo); Cephas (Pedro); Siloé (enviado); Gábbatha (lugar eminente), bem como os dados topográficos (Mar da Galiléia, ele acrescenta "também chamado e Mar de Tiberíades", em Jo 6, 1).
Características – O Evangelho de João se diferencia totalmente dos outros três Evangelhos. Os principais destaques são: o objetivo principal do Evangelho de João é proclamar Deus entre nós, Cristo é Deus na terra, o Divino de tornou Humano, a Palavra se fez Carne; os milagres são apresentados como sinais (seméia), enquanto que nos sinóticos são manifestações de poder; as narrações têm um caráter simbolista, fora da realidade histórica; João parece supor que o leitor de seu Evangelho já tenha lido os outros Evangelhos.
A cronologia da vida de Cristo – A maioria dos biblistas aceita que o Evangelho de João contenha a ordem cronológica mais coerente dos fatos da vida de Cristo. Sabe-se também que a seqüência do texto seria ideal com a inversão dos capítulos 5 e 6. Mesmo na descrição da Paixão de Cristo, onde as datas são confusas, é aceito o Evangelho de João como o mais exato para estabelecer os dias da semana e do mês e o Evangelho de Lucas na indicação do ano. Desta forma, aceita-se um período de 2 anos e 6 meses para a vida pública de Jesus, ou seja 3 Páscoas: 1ª Páscoa (março/abril de 28 d.C.), citada em Jo 4,45 e confirmado por Mc 1,14 e Lc 4,14. 2ª Páscoa ( em março/abril de 29 d.C.), citada em Jo 6,4, que se confirma com a "grama verde" de Mc 6,39 e na multiplicação dos pães de Lc 9,12. 3ª Páscoa (em março/abril de 30 d. C.) com a Paixão.
O epílogo – O texto original do quarto Evangelho termina no capítulo 20. O capítulo 21 é um apêndice acrescentado posteriormente. Mas isso é assunto para a semana que vem ... .
VOCÊ SABIA QUE ...
... o fragmento de textos evangélicos mais antigo já encontrado é do Evangelho de João. Trata-se de um pequeno pedaço de papiro encontrado no Egito, datado do ano de 125, que contém os versículos Jo 18, 31.33.37-38.
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