sábado, 16 de junho de 2001

A Formação dos Evangelhos: Parte 21 (final) – Resumo

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 16/06/2001

A Tradição Oral – Após a morte de Cristo (30 d.C.), os apóstolos passaram a pregar a mensagem e a formar a comunidade de crentes na Judéia e Galiléia. Tudo era feito oralmente, baseando-se na força discursiva de Pedro e nos testemunhos dos apóstolos. Era a chamada Tradição Oral que se estendeu por um período de, pelo menos, 15 anos, sustentada pela memória dos apóstolos e discípulos.

O termo "Evangelho" – ‘Evangelho’ vem do grego eu-angélion, que significa "a feliz notícia" comunicada por um mensageiro. Os cristãos se utilizaram do significado do termo ‘evangelho’, e passaram a proclamar ao mundo a mensagem de Jesus como sendo o "Evangelho por excelência" ou o "Evangelho do Reino de Deus", Evangelho que os homens deviam receber com alegria e entusiasmo superior ao habitual, com ânimo renovado. Ainda não significava o texto escrito, mas sim a pregação oral da Boa Notícia, a proclamação do reino messiânico.

Do oral para o escrito – Entre os anos de 45 e 50 d.C., surgiram textos avulsos que relatavam partes da vida de Cristo. Eram perícopes (pequenas histórias), escritas em folhas separadas, sem qualquer preocupação de formar um todo. Houve também a necessidade de gerar um texto completo (corpus), que condensasse um perfil mais amplo sobre a vida do Mestre. Assim, a partir dos anos 50 d.C. começaram a aparecer os relatos mais amplos sobre a vida pública de Cristo. A mais famosa destas compilações é o "documento Q", um suposto texto que comportaria os discursos do Mestre, sem uma biografia ou histórias, mas apenas uma coleção de frases.

O Evangelho de Marcos – Entre os anos 65 e 70 (portanto, após a morte de Pedro), surgiu nas comunidades cristãs um texto (anônimo) que fazia a primeira compilação completa da vida e morte de Cristo. O texto foi atribuído a Marcos (ou João Marcos). Marcos não pertenceu ao grupo dos 12 apóstolos, mas acompanhou Pedro (como tradutor) e Paulo em suas viagens apostólicas. O texto mostra claramente um judeu escrevendo para não judeus, em um grego com vocabulário pobre, as frases são mal ligadas, com grande variação nos tempos dos verbos, ou seja, trata-se de uma narrativa muito próxima da pregação oral.

O Evangelho de Lucas – Entre os anos 70 e 80 surgiu um segundo texto (também anônimo), que a Igreja primitiva identificou como sendo de autoria de Lucas. Lucas era de origem pagã (gentio, não judeu, veja Col 4,10-14), nascido na Antioquia, conhecia a cultura grega, dominava a língua grega com perfeição e exercia a profissão de médico (Col 4, 14). Aparece pela primeira vez na comunidade cristã, pouco depois do ano 50 d.C., como companheiro de Paulo em sua segunda viagem missionária. Com um grego correto e elegante, vocabulário rico e variado, pode ser considerado como a melhor peça literária do Novo Testamento.

O Evangelho de Mateus – Entre os anos 80 e 90 d.C. surgiu um terceiro texto (também anônimo), que a Igreja primitiva identificou como sendo de autoria de Mateus. O autor deste terceiro relato sobre a vida de Cristo era um judeu letrado e profundo conhecedor das Escrituras Judaicas. Conhecia e respeitava as tradições judaicas, mas interpelava rudemente os chefes religiosos de seu povo. A atribuição do texto ao apóstolo Mateus é duvidosa (senão impossível), pois dificilmente ele estaria vivo na época da composição deste Evangelho. O Evangelho de Mateus salienta a figura de Cristo sobre o fundo do novo testamento, fazendo as vezes de novo Moisés, com a clara intenção de provar aos judeus que Cristo era o Messias tão aguardado pelo povo, que veio promulgar o Antigo Testamento.

O Evangelho de João – Por volta do ano 100 d.C. começou a circular nas comunidades cristãs uma quarta compilação dos atos de Jesus. Usando um grego pobre mas correto, o autor montou um texto que parece ter um objetivo único: proclamar que Jesus é o Messias (Jo 20, 31). O seu autor é desconhecido, mas o texto exige uma pessoa ligada ao ambiente cristão e conhecedora da geografia da Palestina. A Igreja primitiva atribuiu este texto ao apóstolo João (o discípulo que Jesus amava, filho de Zebedeu), porém existem muitos fatos que não sustentam esta afirmação.


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