sábado, 14 de dezembro de 2013

Tu és mesmo o Messias?


No Evangelho das missas deste domingo, João Batista manda os seus discípulos irem até Jesus e perguntar-lhe: “És Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”. João Batista, como todo o povo judeu, aguardava a chegada de um Messias (o Cristo, o Ungido de Deus), como estava prometido no Antigo Testamento. Por essa razão, ele manda seus discípulos perguntarem a Jesus se Ele realmente o Messias esperado, ou devemos esperar por outro.


Messias – Nos primeiros séculos, uma das dificuldades do cristianismo era provar aos judeus que Jesus era o Messias, o Cristo esperado pelos judeus. Conforme o Antigo Testamento, este personagem deveria ter três características prometidas por Deus para o final dos tempos: um profeta, um rei e um sacerdote. Para Jesus ser o Messias, ele deveria ter as três qualidades.
 
Profeta, rei, sacerdote – A vinda de um profeta no final dos tempos foi comunicada por Deus a Moisés no livro do Deuteronômio (18,18): “Suscitarei um profeta como tu entre teus irmãos”. A promessa de um rei está no 2º Livro de Samuel (7,12), onde Deus diz a Davi: “Quando tu morreres eu mandarei um descendente teu e manterei o seu trono para sempre”. Finalmente, a promessa de um futuro sacerdote santo foi para Eli: “Mandarei um sacerdote fiel, que atue segundo a minha vontade” (1Sam 2, 35).

Jesus: Profeta e Rei – Cristo foi reconhecido como “profeta” (Mc 9,8), como “grande profeta” (Lc 7,16) e como “o profeta” (Jo 6,14). Também foi reconhecido como “rei” (Mt 21,9), como “o rei que vem em nome do Senhor” (Lc 19,38), como “o rei de Israel” (Jo 12,13).  O próprio Pedro reconhece Jesus como o profeta prometido (Hb 3,22) e como rei esperado (Hb 2,36).

Por que a pergunta de João? – João Batista e os judeus esperavam um Messias que viesse lançar fogo à terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao “juízo de Deus” (Mt 3,11-12). Ao contrário, Jesus aproximou-Se dos pecadores, dos marginais, dos impuros, estendeu-lhes a mão, mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes a salvação (Mt 8-9). João e os seus discípulos ficaram desconcertados: Jesus será o Messias esperado, ou é preciso esperar um outro que venha atuar de uma forma mais decidida, mais lógica e mais justiceira?

Jesus Sacerdote – Porém jamais, em nenhuma ocasião, Jesus foi reconhecido como sacerdote. Isto por uma clara razão: para ser sacerdote ele deveria pertencer a tribo de Levi, e Jesus pertencia à tribo de Judá. Portanto, para os judeus, Jesus era um leigo. Explicando melhor: Quando os Hebreus chegaram à Terra Prometida, se dividiram em 12 tribos. Só poderiam ser sacerdotes os descendentes da tribo de Levi (chamados levitas). Jesus pertencia à tribo de Judá, portanto nunca poderia ser aceito como sacerdote.

Solução – Por volta do ano 80 d.C. apareceu na cidade de Roma um personagem de grande cultura e grande conhecimento da língua grega. Este autor, que para nós permanece anônimo, escreveu a Carta aos Hebreus, esclarecendo que Jesus poderia ser sacerdote. Nos capítulos 7 a 10 da Carta, ele desenvolve o seguinte raciocínio: interpretando o Salmo 110 (vers. 4), em que Deus diz “tu és sacerdote para sempre, segundo a Ordem de Melquisedec”, ele afirma que Deus criou uma nova ordem de sacerdotes, distinta da ordem dos levitas. Jesus Cristo desceu dos céus para ser o sumo sacerdote desta nova ordem.
 
Quem era? – Melquisedec é proclamado como “rei de Salém” e “sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14). Foi ao encontro de Abrão, abençoou-o, entregando-lhe pão e vinho. Trata-se de um personagem estranho, pois o texto não indica as suas origens nem a sua ordem sacerdotal.


Nova ordem – Portanto Cristo é o primeiro sacerdote, protagonista e iniciador de uma nova ordem de sacerdotes. Pela interpretação do Salmo (110, 4) e da Carta aos Hebreus (cap.7 a 10) a Igreja Católica proclama Jesus como “sacerdote para sempre, segundo a Ordem de Melquisedec”.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Anunciação do Anjo à Virgem Maria


O Evangelho das missas deste domingo descreve a Anunciação da Virgem Maria (Lc 1, 26-38). A Anunciação é a celebração cristã do anúncio pelo Arcanjo Gabriel para a Virgem Maria, de que ela seria a mãe de Jesus Cristo. Apesar da virgindade, Maria milagrosamente conceberia uma criança, que seria chamada de Filho de Deus. Gabriel disse a Maria ainda que deveria chamar a criança de Jesus ("Salvador"). A Igreja Católica celebra este evento na festa da Anunciação, em 25 de março, exatamente nove meses antes do Natal.

Nazaré – A cena situa-nos numa aldeia da Galileia, chamada Nazaré. A Galileia, região a norte da Palestina, à volta do Lago de Tiberíades, era considerada pelos judeus uma terra longínqua e estranha, em permanente contato com as populações pagãs e onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que “da Galileia não pode vir nada de bom”. Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, nunca nomeada na história religiosa judaica e completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação.

Maria – A jovem de Nazaré que está no centro deste episódio era “uma virgem desposada por um homem chamado José”. O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os “esponsais”); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (matrimônio propriamente dito). Durante os “esponsais”, os noivos não viviam em comum, mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um carácter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da “prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (Dt 22,23-27). José e Maria estavam na situação de prometidos (esponsais), não tendo ainda celebrado o matrimônio.

Evangelho da Infância – O texto da Anunciação pertence ao “Evangelho da Infância”, na versão de Lucas. Os capítulos 1 e 2 dos Evangelhos de Mateus e Lucas são chamados de “Evangelhos da Infância”, pois descrevem o nascimento de Jesus. O texto da Anunciação, que será lido neste domingo, pertence ao “Evangelho da Infância” na versão de Lucas.

Midrash – Estes textos foram escritos na forma de midrash: para se desenvolver um conceito teológico ou uma doutrina, cria-se uma história fictícia ou uma narração figurada (uma lenda, um mito). Portanto, a narração da Anunciação de Lucas não pretende ser um relato jornalístico ou uma informação histórica; mas é, sobretudo, uma catequese (texto escrito para o ensino) destinada a proclamar certas realidades salvíficas.

Homologese – É outra característica do texto de Lucas. A homologese faz com que a história fictícia que está sendo contada se utilize de fatos e pessoas já conhecidas (do Antigo Testamento) e aparições apocalípticas (anjos, aparições, sonhos). Desta forma a narração se torna mais real.

Diálogo repetido – Desta forma, a narrativa torna-se uma construção artificial. Isto pode ser constatado pelos elementos do diálogo entre o anjo e Maria, que são copiados do Antigo Testamento. A saudação “alegra-te” (v. 28) foi tirada do profeta Sofonias (3,14). A expressão “O Senhor está contigo” é do livro dos Juízes (6,12), quando o anjo aparece a Gedeão. “Não temas” é a frase do anjo a Daniel (Dn 10,12). O “nada é impossível a Deus” (v. 37) nós o encontramos em Gn 18,14, quando o anjo anuncia o nascimento de um filho a Abraão.

Mais repetições – A mensagem “conceberás em teu seio e darás à luz um filho, e lhe darás o nome de Jesus...” (v. 31) é a frase do anjo a Agar, escrava de Abraão (Gn 16,11). E a continuação — “ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará na casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim” (v. 32-33) – é uma clara alusão à profecia de Natã ao rei Davi, prometendo-lhe, em nome de Deus, um sucessor em sua casa e o reinado eterno de sua linhagem (2Sm 7,12-16).


Anunciação – Lucas recolheu frases importantes do Antigo Testamento, todas elas referentes a intervenções de Deus na história e com elas escreveu um conto sobre a maior das intervenções divinas na humanidade.

sábado, 30 de novembro de 2013

Papa Francisco propõe uma reforma na Igreja


No último dia 26 de novembro, o Papa Francisco publicou a exortação apostólica “Evangelii Gaudium" ("A Alegria do Evangelho"), dirigida aos fiéis cristãos. Em seu primeiro texto, o Papa faz uma severa crítica à Igreja, apresentado a maior reforma do Vaticano em meio século (desde o Concílio Vaticano II) e propondo uma “nova etapa de evangelização” e “conversão” da Igreja. Vamos destacar os principais pontos do documento.

Evangelização – Francisco apela à Igreja para “recuperar o frescor original do Evangelho”, encontrando “novas formas” e “métodos criativos”. “Precisamos de uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como elas estão”. É necessário “reformar as estruturas eclesiais”, para que “todas se tornem mais missionárias”. Precisamos “receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes, impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho, cuja vida irradie fervor de quem recebeu a alegria de Cristo”.

Mais Evangelização – O Papa insiste que prefere “uma igreja ferida e suja por ter saído às estradas, em vez de uma igreja preocupada em ser o centro e que acaba prisioneira, num emaranhado de obsessões e procedimentos”. Um dos pontos centrais é ainda a abertura da Igreja aos fiéis. “Precisamos de igrejas com as portas abertas” para evitar que aqueles que estão em busca de Deus encontrem “a frieza de uma porta fechada”. “Nem mesmo as portas dos Sacramentos se deveriam fechar por qualquer motivo”. A escolha dos fiéis que deveriam comungar, também é focada pelo papa. “A Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas um generoso remédio e um alimento para os fracos”.

Padres – O documento também faz apelos a padres e sacerdotes. Pedindo uma “revolução de ternura”, o papa critica “aqueles (religiosos) que se sentem superiores aos outros” (ao que chama de elitismo narcisista) e afirma que apenas fazer obras de caridade não seria o suficiente. Sobre as homilias, o papa escreve que “são muitas as reclamações em relação a este importante ministério e não podemos fechar os ouvidos”. Não deve ser nem uma conferência e nem uma aula. Um enfoque especial é dirigido também aos religiosos que não se preparam devidamente para as missas. “Um pregador que não se prepara não é espiritual, é desonesto e irresponsável”. Quanto às confissões, o papa é ainda mais incisivo: “não se trata de uma câmara de tortura”.

Reforma – Francisco convida a Igreja Católica a realizar uma "reforma profunda" de suas estruturas. Num gesto inédito para um papa, ele fala em promover uma “saudável descentralização” na Igreja. A descentralização apontaria até mesmo para a abertura de espaços a diferentes formas de praticar o catolicismo. “O cristianismo não dispõe de um único modelo cultural e o rosto da Igreja é multiforme”. “Nesta renovação não se deve ter medo de rever costumes e normas que foram adotadas ao longo dos séculos.” “Há normas e preceitos eclesiásticos que podem ter sido eficazes em outras épocas, mas já não têm mais a mesma força educativa”.

Aborto – Francisco também afirmou que "não se deve esperar que a Igreja mude sua postura" sobre a questão do aborto, pois o assunto não está sujeito a "supostas reformas ou modernizações”. “Não é progressista pretender resolver os problemas eliminando uma vida humana". No entanto, Francisco reconheceu que "fizemos pouco para acompanhar as mulheres que se encontram em situações muito duras, onde o aborto se apresenta como uma rápida solução para suas profundas angústias, particularmente quando a vida que cresce nelas surgiu como produto de um estupro ou em um contexto de extrema pobreza". "Quem pode deixar de compreender essas situações de tanta dor?"

Crianças – “Entre os fracos que a Igreja quer cuidar estão as crianças em gestação, que são as mais indefesas e inocentes de todos, às quais hoje se quer negar a dignidade humana”. A defesa da vida por nascer "está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano". "Ela representa a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa de seu desenvolvimento."

Mulheres – O Pontífice confirmou declarações anteriores de que a Igreja não pode ordenar mulheres. O sacerdócio só para homens, diz ele, “não é uma questão aberta à discussão”, mas as mulheres devem ter mais influência na liderança da Igreja.

Economia – O Papa destina uma parte importante de seu texto à situação mundial e não deixa de atacar o modelo econômico que prevalece: “O atual sistema econômico é injusto pela raiz”. “Esta economia mata porque prevalece a lei do mais forte”. “Os excluídos não são explorados, mas lixo, sobras”. “O dinheiro deve servir, e não dominar”. “Até que não se resolvam radicalmente os problemas dos pobres, não se resolverão os problemas do mundo”.


Política – O papa ainda apela para que a Igreja não tenha medo de se envolver nos debates políticos e que faça parte da luta por influenciar grupos políticos para garantir maior justiça social. Os pastores têm “o direito de emitir opiniões sobre tudo o que se relaciona com a vida das pessoas”. “Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião à secreta intimidade das pessoas”.  O Papa volta a defender os “mais fracos”, os “sem-teto, os dependentes de drogas, os refugiados” e apela aos países que promovam uma “abertura generosa” aos imigrantes. Para ele, existem “muitos cúmplices” nesses crimes.

sábado, 23 de novembro de 2013

Hoje mesmo estarás comigo no paraíso


O Evangelho das missas deste domingo situa-nos no Calvário (lugar do crânio), diante de uma cruz. A cena apresenta-nos Jesus crucificado, dois “malfeitores” crucificados também, os chefes dos judeus que “zombavam de Jesus”, os soldados que faziam piada dos condenados e o povo silencioso, perplexo, em expectativa. Por cima da cruz de Jesus, havia uma inscrição: “Jesus Nazareno, rei dos judeus”.

INRI – À primeira vista, está a famosa inscrição que define Jesus como “rei dos judeus”. É uma indicação que, naquela situação em que Jesus se encontrava, parece irônica: Ele não está sentado num trono, mas pregado numa cruz; não aparece rodeado de seguidores fiéis que O incensam e adulam, mas dos chefes dos judeus que O insultam e dos soldados que zombam Dele; Ele não exerce autoridade de vida ou de morte sobre milhões de homens, mas está pregado numa cruz, indefeso, condenado a uma morte infamante… Não há aqui, qualquer sinal que identifique Jesus com poder, com autoridade, com realeza terrena.

Rei? – Contudo, a inscrição da cruz – irônica aos olhos dos homens – descreve com precisão a situação de Jesus, na perspectiva de Deus: Ele é o “rei” que, da cruz, preside a um “Reino” de serviço, de amor, de entrega, de dom da vida. Neste quadro, explica-se a lógica desse “Reino de Deus” que Jesus veio propor aos homens.

Malfeitores – O quadro é completado por uma cena bem significativa, para entender o sentido da realeza de Jesus… Ao lado de Jesus estão dois “malfeitores”, crucificados como Ele. Enquanto um O insulta (este representa aqueles que recusam a proposta do “Reino”) e outro que pede: “Jesus, lembra-Te de mim quando vieres com a tua realeza”. A resposta de Jesus a este pedido é: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.

Hoje no paraíso – Jesus é o Rei que apresenta aos homens uma proposta de salvação e que, da cruz, oferece a vida. O “estarás hoje no paraíso” não expressa um dado cronológico, mas indica que a salvação definitiva (o “Reino”) torna-se realidade a partir da cruz. Na cruz, manifesta-se plenamente a realeza de Jesus que é perdão, renovação do homem, vida plena; e essa realeza abarca todos os homens – mesmo os condenados – que acolhem a salvação.

No Paraíso – A Tradição afirma que o agraciado com a promessa do paraíso foi São Dimas. O “Bom Ladrão”, com sua atitude de humildade, reconhecendo-se criminoso, e com sua profissão de fé (“Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”), “roubou” o Paraíso, tornando-se o primeiro herdeiro dos que sofrem e choram.

Apócrifo – O Evangelho de Lucas cita apenas que eram dois ladrões, não indicando os seus nomes. Os nomes aparecem somente no livro apócrifo chamado “Evangelho de Nicodemos” (9,5): Dimas e Gestas. Os livros apócrifos são textos (criados a partir do 2º século), escritos por pessoas devotas, ou simplesmente curiosas, sobre tradições, histórias ou qualquer coisa que se relacionasse com Jesus. Por serem textos sem muito critério, não foram incluídos na Bíblia.

Da cruz ao paraíso – Jesus quer realizar o seu reino numa sociedade de irmãos e filhos de Deus. Até o momento de sua morte, vemos o que foi a constante de Sua vida: a preferência pelos pecadores, marginalizados e pobres. Por isso mesmo, até no último momento, oferece o Paraíso ao Bom Ladrão, que se arrependeu e acreditou nele. Da humilhação e fraqueza suprema da cruz, Cristo Jesus aparece como rei vencedor do pecado e da morte.

Ressurreição – A promessa que faz a Dimas revela esta vitória e é a garantia de nossa esperança cristã. A partir da morte e ressurreição de Jesus, que é também a sua glorificação, estão abertas as portas do Paraíso, que Adão nos tinha fechado. Fica inaugurado o reino da Ressurreição dos mortos. Jesus quer reinar a partir da cruz e não a partir do poder, e quer realizar seu reino numa sociedade de irmãos entre si e de filhos de Deus.


Dimas em Bauru – Em nossa cidade existe uma paróquia que tem Dimas como padroeiro. É a Paróquia de São Judas Tadeu e São Dimas, localizada nos altos da cidade.  São Dimas é comemorado no dia 25 de março.

sábado, 16 de novembro de 2013

Não ficará pedra sobre pedra


No Evangelho deste domingo (Lc 21,5–9), Jesus está no pátio do Templo de Jerusalém conversando com algumas pessoas sobre as belas pedras usadas na construção do Templo. Durante a conversa, Jesus faz a previsão de que tudo será destruído: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído.”

O Templo – O Templo de Jerusalém era o principal centro de culto da religião do povo de Israel, onde se realizavam as diversas ofertas e sacrifícios. De acordo com a tradição judaico-cristã, o Primeiro Templo foi iniciada a sua construção no terceiro ano do reinado de Salomão e concluído sete anos depois. Foi saqueado várias vezes e acabou por ser totalmente incendiado e destruído por Nabucodonosor II, em 587 A.C. Segundo o relato bíblico, o templo foi mandado reconstruir por decreto de Ciro II da Pérsia no ano 539 a.C., com a volta dos judeus mantidos em cativeiro na Babilônia.

Remodelação de Herodes – No século I a.C., Herodes, o Grande, ordenou uma remodelação ao templo (considerada por muitos judeus como uma profanação) com o propósito de agradar a César, mandando construir num dos vértices da muralha a Torre Antonia, uma guarnição romana que dava acesso direto ao interior do pátio do Templo.

Guerra Judaica – Grande Revolta Judaica foi a guerra travada pelos judeus contra o Império romano de 66 a 73 d.C. Teve início em 66, como reação a ataques contra locais de culto judaicos. Em 70, as legiões do general Titus cercaram e destruiram Jerusalém (cada legião era formada de 4 a 8 mil soldados, além de escravos e ajudantes). O Templo foi então saqueado e incendiado pelos romanos. Conforme historiadores da época, morreram um milhão e cem mil judeus e noventa e sete mil foram levados presos. A cidade de Jerusalém foi totalmente destruída e incendiada. Deste templo, só restou o que conhecemos como o Muro das Lamentações.

Diáspora Judaica – A explulsão dos judeus da Terra Santa é um evento central na história da Diáspora Judaica. Os judeus se dispersaram pelo mundo, formando um povo sem território. Apenas em 1948 (quase dois mil anos após a Guerra Judaica) foi criado o Estado de Israel, um país para abrigar os judeus.

Após a queda – Depois de anuncia a destruição de Jerusalém, Jesus faz uma reflexão sobre o “tempo da Igreja”, que culminará com a Sua segunda vinda. Como será esse tempo? Como vivê-lo?

Não será o fim – Em primeiro lugar, Lucas sugere que, após a destruição de Jerusalém, surgirão falsos messias e visionários que anunciarão o fim. Lucas avisa: “não será logo o fim”. A destruição de Jerusalém no ano 70 deve ter parecido aos cristãos o prenúncio da segunda vinda de Jesus e alguns pregadores populares deviam alimentar essas ilusões… Mas Lucas (que escreveu o Evangelho nos anos 80) quer eliminar essa febre escatológica que crescia em certos setores cristãos: em lugar de viverem obcecados com o fim, os cristãos deviam preocupar-se em viver uma vida cristã cada vez mais comprometida com a transformação “deste” mundo.

Tempo de espera – Em segundo lugar, Lucas diz aos cristãos que, paulatinamente, irá surgindo um mundo novo. Para dizer isso, Lucas recorre a imagens apocalípticas (um povo se erguerá contra outro povo e reino contra reino; haverá grandes terremotos e, em diversos lugares, fome e epidemias; haverá fenômenos espantosos e grandes sinais no céu), muito usadas pelos pregadores populares da época para falar da queda do mundo velho – o mundo do pecado, do egoísmo, da exploração – e do surgimento de um mundo novo… A questão, portanto, é esta: no tempo entre a queda de Jerusalém e a segunda vinda de Jesus, o “Reino de Deus” estará se manifestando; o mundo velho desaparecerá e nascerá um mundo novo. É claro que a libertação plena e definitiva só acontecerá com a segunda vinda de Jesus.

Dificuldades – Em terceiro lugar, Lucas põe os cristãos de sobreaviso para as dificuldades e perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja, até à segunda vinda de Jesus. Lucas lembra-lhes, contudo, que não estarão sós, pois Deus estará sempre presente; será com a força de Deus que eles enfrentarão os adversários e que resistirão à tortura, à prisão e à morte; será com a ajuda de Deus que eles poderão, até, resistir à dor de ser atraiçoados pelos próprios familiares e amigos…


Missão da Igreja – O discurso escatológico define, portanto, a missão da Igreja na História (até à segunda vinda de Jesus): dar testemunho da Boa Nova e construir o Reino. Os discípulos nada deverão temer: haverá dificuldades, mas eles terão sempre a ajuda e a força de Deus.

sábado, 9 de novembro de 2013

Filhos da ressurreição

No Evangelho deste domingo (Lc 20,27-38), Jesus discute com os saduceus sobre a ressurreição.

A questão – Jesus é procurado por um grupo de saduceus, que lhe propõe a seguinte questão: uma mulher casou, sucessivamente, com sete irmãos, cumprindo a lei do levirato (Dt 25,5-10). Quando ressuscitarem, ela será mulher de qual dos irmãos?

Os saduceus – No tempo de Jesus, os saduceus formavam um grupo aristocrático, recrutado sobretudo entre os sacerdotes da classe superior. Exerciam a sua autoridade à volta do Templo e dominavam o Sinédrio (realmente seriam eles os responsáveis pela condenação de Jesus). A sua importância política era real, ainda que muito limitada pela presença do procurador romano. Politicamente, eram conservadores e entendiam-se bem com o opressor romano… Pretendiam manter a situação, para não ver comprometidos os benefícios políticos, sociais e econômicos de que desfrutavam.

Mais saduceus – Para os saduceus, apenas interessava a Lei escrita – a “Torah”. Negavam que a Lei oral (aceita pelos fariseus) tivesse qualquer valor. Este apego conservador à Lei escrita explica que negassem algumas crenças e doutrinas admitidas nos ambientes populares frequentados pelos fariseus. Por isso, não aceitavam a ressurreição dos mortos: nenhum versículo da “Torah” apoiava essa crença.

Casamento levítico – O Livro de Deuteronômio (Dt 25,5-6) diz: “Quando dois irmãos moram juntos e um deles morre sem deixar filhos, a viúva não sairá da casa para casar-se com nenhum estranho; seu cunhado se casará com ela, cumprindo o dever de cunhado. O primogênito que nascer receberá o nome do irmão morto, para que o nome deste não se apague em Israel”. Certamente, uma lei que para nós parece no mínimo estranha! Mas, na época, antes da fé na ressurreição, era de suma importância para Israel que o nome de um homem se propagasse nos seus filhos. Por isso, era dever do irmão sobrevivente suscitar um filho para o falecido, para que este não morresse na memória do seu povo.

Questão – A questão central do nosso texto gira em torno da ressurreição, um tema que não significava nada para os saduceus. Com o objetivo de ridicularizar a crença em ressurreição, os saduceus apresentaram a Jesus a questão hipotética da mulher que se casou, sucessivamente, com sete irmãos, cumprindo a lei do levirato. Quando ressuscitarem, ela será mulher de qual dos irmãos?

Ressurreição – A primeira parte da resposta de Jesus afirma que a ressurreição não é (como pensavam os fariseus do tempo) uma simples continuação da vida que vivemos neste mundo (como uma revivificação, ideia apresentada na primeira leitura da missa), mas uma vida nova e distinta, uma vida de plenitude que dificilmente podemos entender, baseados somente em nossas realidades quotidianas. Nessa nova vida não haverá casamento (são semelhantes aos anjos), pois a única preocupação será servir e louvar a Deus.

Vida nova – O poder de Deus, que chama os homens da morte à vida, transforma e assume a totalidade do ser humano, de forma que nascemos para uma vida totalmente nova e em que as nossas potencialidades serão elevadas à plenitude. A nossa capacidade de compreensão deste mistério é limitada, pois estamos contemplando as coisas e classificando-as à luz das nossas realidades terrenas; no entanto, a ressurreição que nos espera ultrapassa totalmente a nossa realidade terrena.


Certeza da ressurreição – A segunda parte da resposta de Jesus é uma afirmação da certeza da ressurreição. Jesus cita-lhes a “Torah” (Ex 3,6): no episódio da sarça-ardente, Jahwéh revelou-se a Moisés como “o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob”… Ora, se Deus Se apresenta dessa forma – muitos anos depois de Abraão, Isaac e Jacob terem desaparecido deste mundo – isso quer dizer que os patriarcas não estão mortos (um homem “morto” – ou seja, um homem reduzido ao estado de uma sombra inconsciente e privada de vida, no “sheol”, segundo a ideia semita corrente – tinha perdido a proteção de Deus, pois já não existia como homem vivo e consciente). Na perspectiva de Jesus, portanto, os patriarcas não estão reduzidos ao estado de sombras, na obscuridade absoluta do “sheol”, mas vivem atualmente em Deus. Conclusão: se Abraão, Isaac e Jacob estão vivos, podemos falar em ressurreição. 

sábado, 2 de novembro de 2013

O ESPIRITISMO E A COMUNHÃO DOS SANTOS


Muitas pessoas perguntam a razão dos Católicos pedirem ajuda aos santos (em vez de recorrer a Cristo), como se eles pudessem nos salvar. Recorremos às explicações do Padre João Augusto Anchieta Amazonas Mac Dowell, S.J., Doutor em Filosofia e Teologia pela PUC (RJ) e atual Professor Titular do Departamento de Filosofia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) em Belo Horizonte.
 

Graça – É claro que só Cristo nos salva, como ensina a Bíblia. Mas, também para a Igreja católica, não são os santos que nos concedem as graças que pedimos a eles. Por isso dizemos: Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores. Quando reza aos santos e santas a Igreja usa sempre a fórmula: rogai por nós. Quer dizer: pede que eles roguem por nós a Deus, para que ele nos conceda a graça que precisamos. Ao contrário, quando se dirige a Cristo, a Igreja diz: Senhor, tende piedade de nós, como fez o cego do Evangelho; porque Cristo, o Filho de Deus, recebeu do Pai o poder de dar a vida e a salvação a toda a humanidade. 

Orações – Portanto, quando rezamos a um santo, não o colocamos no lugar de Jesus Cristo, como se ele fosse divino e tivesse o poder de nos salvar. Pedimos só que eles orem por nós a Deus. E isso não é absolutamente contra a Bíblia. As cartas de Paulo contêm muitas preces que ele faz pelos cristãos das Igrejas que tinha fundado. Por exemplo, na carta aos fiéis de Colossos diz: "Não paramos de rezar por vós e de pedir que conheçais plenamente a sua vontade" (1,9). Na mesma carta pede também as orações deles por si e por sua missão, dizendo: "Rezai também por nós, para que Deus se digne abrir caminho para a pregação, de modo que possamos anunciar o mistério de Cristo, pelo qual estou algemado" (4,3). 

Intercessão – Estes exemplos mostram que é próprio dos cristãos rezar uns pelos outros e pedir as orações, sobretudo daqueles que estão mais perto de Deus pela sua vida santa. De fato, o apóstolo Tiago diz na sua carta: "Orai uns pelos outros para serdes curados. É de grande poder a oração assídua do justo" (5,16). E cita o caso de Elias, que era um homem como nós, mas orou fervorosamente e obteve um milagre de Deus. Portanto, quando desejamos alcançar uma graça de Deus, podemos dirigir-nos diretamente a ele; mas também podemos pedir a outros que intercedam por nós com suas orações. 

Santos – Mas, se recorremos à intercessão de nossos irmãos e irmãs aqui na terra, com muito maior razão rezamos aos santos, para que obtenham de Deus as graças que precisamos. Durante a sua vida foram amigos de Cristo; e agora, que vivem na sua companhia, não desejam senão ajudar-nos, rogando por nós. Assim, orando aos santos, não nos esquecemos de Cristo; ao contrário, reconhecemos que é Dele que os santos recebem toda sua santidade e poder. 

Espiritismo e oração pelos mortos – Como os espíritas, os cristãos acreditam na natureza espiritual do ser humano e na sua sobrevivência depois da morte. Acreditam também que existem relações entre nós, aqui na terra, e os que já deixaram esta vida. Mas a maneira de entender a comunicação com os defuntos no espiritismo e no cristianismo é diferente. 

Comunhão – Os católicos creem na "comunhão dos santos", como dizemos no "Credo". A palavra "santos" significa aqui todos os que acreditam em Jesus Cristo e são santificados pelo Espírito Santo que receberam no batismo. A comunhão dos santos é a própria Igreja, família de Deus, formada por todos os fiéis de Cristo. Por meio da oração podemos comunicar-nos também com os que morreram em paz com Deus. Por um lado, podemos ajudar os que ainda não estão completamente purificados de seus pecados a alcançar a alegria eterna. Nossa prece, unida a de Jesus, especialmente o oferecimento da Missa, é escutada por Deus e apressa a sua purificação. Por outro, podemos também pedir a ajuda dos santos que já gozam da presença de Deus e estão prontos a interceder por nós. Eles escutam a nossa oração e obtêm do Pai comum, por meio do único mediador Jesus Cristo, as graças que pedimos. 

Comunicação – Trata-se, portanto, de uma comunicação espiritual, na base da fé, da esperança e do amor. Na medida em que estão unidos com Deus no mesmo Espírito de Jesus, os cristãos podem comunicar-se com os defuntos, desejando e fazendo o bem uns aos outros pela bondade e poder do próprio Deus.  

Espiritismo – O espiritismo, ao contrário, pretende que podemos comunicar-nos sensivelmente com os espíritos dos mortos, recebendo suas mensagens, sobretudo através de médiuns. Quem consulta os espíritos deseja quase sempre satisfazer a sua curiosidade tanto a respeito do outro mundo, como da vida aqui na terra. Quer saber, por exemplo, como está passando uma pessoa falecida ou pergunta-lhe alguma coisa sobre o seu futuro. 

Cristianismo: confiança e entrega – Esta ânsia de conhecer detalhes do próprio destino, que pertencem só a Deus, revela falta de confiança na sua providência carinhosa de Pai. Em vez de ter fé, a pessoa quer certificar-se por meio de um contato direto com o além sobre o seu futuro ou sobre a sorte de entes queridos. Por isso a Igreja condena as tentativas de comunicar-se com os espíritos dos mortos. Não é através de vozes do além nem de predições sobre o futuro, mas da entrega cheia de esperança nas mãos de Deus que encontraremos a verdadeira paz.