sábado, 18 de novembro de 2023

Os talentos

  


No Evangelho das missas deste domingo (Mt 25,14-30), Jesus apresenta a parábola dos talentos.

 Ambiente – Mais uma vez, o Evangelho apresenta-nos o tema da segunda vinda de Jesus. A catequese que Mateus apresenta neste discurso tem em conta as necessidades da sua comunidade cristã. O texto foi escrito no final do séc. I (década de 80). Os cristãos, fartos de esperar a segunda vinda de Jesus, esqueceram o seu entusiasmo inicial… Instalaram-se na mediocridade, na rotina, no comodismo, na facilidade. As perseguições que se adivinham provocam o desânimo e a deserção… Por esta razão, Mateus encoraja a todos, para que se lembrem de que a segunda vinda do Senhor acontecerá no final da história humana; e que, até lá, os crentes devem “colocar os seus talentos para render”. A parábola fala de “talentos” que um senhor distribuiu entre os servos. Um “talento” corresponde a 36 quilos de prata e ao salário de aproximadamente 3.000 dias de trabalho de um operário não qualificado.

 A “parábola dos talentos” – Conta que um “senhor” partiu em viagem e deixou a sua fortuna nas mãos dos seus servos. A um, deixou cinco talentos, a outro dois e a outro um. Quando voltou, chamou os servos e pediu-lhes contas do que haviam feito com o que tinham recebido. Os dois primeiros duplicaram a soma recebida; mas o terceiro tinha escondido cuidadosamente o talento que lhe fora confiado, pois conhecia a exigência do “senhor” e tinha medo. Os dois primeiros servos foram louvados pelo “senhor”, ao passo que o terceiro foi severamente criticado e condenado.

 O Reino – Provavelmente a parábola, tal como saiu da boca de Jesus, era uma “parábola do Reino”. O “senhor” exigente seria Deus, que reclama para Si uma lealdade a toda a prova e que não aceita meios tons e situações de acomodação e de preguiça. Os servos a quem Ele confia os valores do Reino devem acolher os seus dons e fazer com que eles rendam, a fim de que o Reino seja uma realidade. No Reino, ou se está completamente comprometido, ou não se está.

 Dons – No texto de Mateus, o “senhor” é Jesus que, antes de deixar este mundo, entregou bens consideráveis aos seus “servos” (os discípulos). Os “bens” são os dons que Deus, através de Jesus, ofereceu aos homens. Os discípulos de Jesus são os depositários desses “bens”. A questão é, portanto, esta: como devem ser utilizados estes “bens”? Eles devem dar frutos, ou devem ser cuidadosamente conservados enterrados? Os discípulos de Jesus podem – por medo, por comodismo, por desinteresse – deixar que esses “bens” fiquem infrutíferos? Na perspectiva da parábola, os “bens” que Jesus deixou aos seus discípulos têm de dar frutos.

 Comodismo – Através desta parábola, Mateus incentiva a sua comunidade a estar alerta e vigilante, sem se deixar vencer pelo comodismo e pela rotina. Esquecer os compromissos assumidos com Jesus e com o Reino, demitir-se das suas responsabilidades, deixar na gaveta os dons de Deus, aceitar passivamente que o mundo se construa de acordo com valores que não são os de Jesus, instalar-se na passividade e no comodismo é privar os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos a que têm direito.

 Construir – O discípulo de Jesus não pode esperar o Senhor de mãos erguidas e de olhos postos no céu, alheio aos problemas do mundo e preocupado em não se contaminar com as questões do mundo… O discípulo de Jesus espera o Senhor profundamente envolvido e empenhado no mundo, ocupado em distribuir a todos os homens, seus irmãos, os “bens” de Deus e em construir o Reino.

sábado, 4 de novembro de 2023

Quem são os santos

 


Neste domingo a Igreja comemora a Solenidade de Todos os Santos. Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia do Vaticano, sobre a liturgia de hoje.

 Comunicação – Faz tempo que os cientistas enviam sinais ao cosmos em espera de respostas por parte de seres inteligentes em algum planeta perdido. A Igreja desde sempre mantém um diálogo com os habitantes de outro mundo: os santos. É o que proclamamos ao dizer: “Creio na comunhão dos santos”. Ainda que existissem habitantes fora do sistema solar, a comunicação com eles seria impossível, porque entre a pergunta e a resposta passariam milhões de anos. Aqui, ao contrário, a resposta é imediata, porque existe um centro de comunicação e de encontro comum que é Cristo Ressuscitado.

 Embrião – Talvez também pelo momento do ano em que cai, a Solenidade de Todos os Santos tem algo especial que explica sua popularidade e as numerosas tradições ligadas a ela em alguns setores da cristandade. O motivo está no que diz João na segunda leitura. Nesta vida, “somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que seremos”; somos como o embrião no seio da mãe que anseia nascer. Os santos “nasceram” (a liturgia chama “dia do nascimento”, dies natalis, no dia de sua morte); contemplá-los é contemplar nosso destino. Enquanto ao nosso redor a natureza se desnuda e caem as folhas, a festa de todos os santos nos convida a olhar para o alto; e nos recorda que não estamos destinados a ficar na terra para sempre, como as folhas.

 Santos – A passagem do Evangelho é a das bem-aventuranças. Uma bem-aventurança em particular inspirou a escolha da passagem: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. Os santos são aqueles que tiveram fome e sede de justiça, isto é, na linguagem bíblica, de santidade. Não se resignaram à mediocridade, não se contentaram com meias palavras.

 Unidos ou separados? – A primeira leitura da Solenidade nos ajuda a entender quem são os santos. São “os que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro”. A santidade se recebe de Cristo; não é uma produção própria. No Antigo Testamento, ser santos queria dizer “estar separado” de tudo o que é impuro; na acepção cristã, quer dizer o contrário, ou seja, “estar unidos”, mas a Cristo.

 Santos leigos – Os santos, isto é, os salvos, não são apenas os que o calendário ou o santoral enumeram. Existem os “santos desconhecidos”: que arriscaram suas vidas pelos irmãos, os mártires da justiça e da liberdade, ou do dever, os “santos leigos”, como alguém os chamou. Sem saber, também suas vestes foram lavadas no sangue do Cordeiro, se viveram segundo a consciência e lhes importou o bem dos irmãos.

 Louvor – Surge espontaneamente uma pergunta: o que os santos fazem no paraíso? A resposta está, também aqui, na primeira leitura: os salvos adoram, deixam suas coroas ante o trono, exclamando: “Louvor, honra, bênção, ação de graças...”. Realiza-se neles a verdadeira vocação humana, que é a de ser “louvor da glória de Deus” (Ef 1, 14). Seu coro é guiado por Maria, que no céu continua seu canto de louvor: “Minha alma proclama a grandeza do Senhor”. É neste louvor que os santos encontram sua bem-aventurança e seu gozo: “Meu espírito se alegra em Deus”. O homem é aquilo que ama e aquilo que admira. Amando e louvando a Deus, ele se une Deus, participa de sua glória e de sua própria felicidade.

 Paraíso – Um dia, um santo, São Simeão, o Novo Teólogo, teve uma experiência mística de Deus tão forte que exclamou para si: “Se o paraíso não for mais que isso, já me basta!”. Mas a voz de Cristo lhe disse: “És bem mesquinho se te contentas com isso. O gozo que experimentaste em comparação com o do paraíso é como um céu pintado no papel com relação ao verdadeiro céu”.

domingo, 29 de outubro de 2023

São Judas Tadeu

 


 Nas semanas anteriores iniciamos uma série de textos sobre os apóstolos que acompanharam Jesus durante os 30 meses de sua pregação na Terra.  Vimos quem eram os apóstolos, a missão deles e os mais próximos de Jesus.  Hoje continuaremos estudando os demais apóstolos.

 

Judas Tadeu – Existe grande divergência sobre o nome do 11º apóstolo de Cristo. A maioria dos textos antigos traz o nome Tadeu (Mc, 3,18); outros trazem Lebeu ou Lebê (Mt 10, 3); outros Judas, filho de Tiago (Lc 6,16); outros Judas, o Zelote; outros ainda Judas de Tiago. Os estudiosos admitem que dificilmente estes nomes tenham pertencido a uma só pessoa, ou seja, na época em que os Evangelhos foram escritos, não havia uma forte tradição quanto ao nome do 11º Apóstolo.

 

Os dois Tadeus – O Novo Testamento descreve duas pessoas com o nome de Judas Tadeu: o Apóstolo e o irmão (primo) de Jesus.  Existem sérias dificuldades em aceitar que se trata da mesma pessoa.

 

Judas Tadeu, primo de Jesus – Era natural de Caná da Galiléia, na Palestina. Sua família era constituída do pai, Alfeu (ou Cléofas) e a mãe, Maria Cléofas, parentes de Jesus. O pai, Alfeu, era irmão de São José e a mãe, Maria Cléofas, prima-irmã de Maria Santíssima, portanto, Judas Tadeu era primo-irmão de Jesus (confira em Mt 13,55).

 

Judas Tadeu, Apóstolo – Judas Tadeu é citado apenas uma vez no Novo Testamento (além das listas de apóstolos, como Mt 10,4). Aparece em João Jo 14,22, durante a última ceia, quando perguntou a Jesus: "Mestre, por que razão hás de manifestar-te só a nós e não ao mundo?" Jesus lhe respondeu afirmando que teria manifestação dele todo aquele que guardasse sua palavra e permanecesse fiel a seu amor.

 

Quem escreveu a Epístola de Judas? – O próprio autor se apresenta como “irmão de Tiago” (Jd 1), ou seja, pode tratar-se de Judas Tadeu, primo de Jesus, irmão de Tiago, José e Simão (confira em Mt 13,55).  A maioria dos exegetas (estudiosos da Bíblia) tem muitas dúvidas em fazer esta afirmação por diversas razões, entre elas a época em que o texto foi escrito (anos 90 do primeiro século).  Eles preferem atribuir a autoria da Epístola a um outro Judas (que não é o apóstolo, nem o primo de Jesus, nem o Iscariotes).

 

São Judas Tadeu – Na Igreja Católica, o Apóstolo Judas Tadeu, o primo de Jesus e o autor da Epístola de Judas são comemorados como a mesma pessoa.  A história do Santo diz que ele iniciou sua pregação na Galiléia, passando pela Samaria, Iduméria e outras populações judaicas. Pelo ano 50, tomou parte no primeiro Concílio, o de Jerusalém. Em seguida, foi evangelizar a Mesopotâmia, Síria, Armênia e Pérsia. Nesse país recebeu a companhia de outro apóstolo, Simão.

 

Santo e Mártir – A pregação e o testemunho de São Judas Tadeu impressionaram os pagãos que se convertiam. Isso provocou a inveja e fúria contra o apóstolo, que foi trucidado, com pauladas, lanças e machados, pelo ano 70. Dessa maneira, tornou-se mártir, ou seja, mostrou que sua adesão a Jesus era tal, que testemunhou a fé com a doação da própria vida. Os seus restos mortais, após terem sido guardados no Oriente Médio e na França, foram definitivamente transferidos para Roma, na Basílica de São Pedro.  É o santo das causas impossíveis ou dos desesperados, comemorado em 28 de outubro.

 

São Judas Tadeu em Bauru – A Paróquia de São Judas Tadeu e São Dimas em Bauru é localizada no Jardim Estoril, nos altos da cidade. A programação deste sábado (dia 28) conta com missas às 8:00 horas com o padre Reinaldo, às 11:00 horas com o bispo Dom Rubens, às 16:00 horas com o bispo emérito Dom Caetano e às 19:30 horas com o padre Reinaldo. Haverá o Terço da Misericórdia uma hora antes de cada missa. Haverá quermesse com diversas barracas durante o dia todo.

Uma ‘pegadinha’ para Jesus

  


No Evangelho das missas deste domingo, Mateus (22,15-21) descreve mais uma discussão entre Jesus e os fariseus.

 Pegadinha – Os fariseus se reuniram para criar uma maneira de surpreender Jesus. Foram até Ele e perguntaram se era correto pagar o tributo a César (o Imperador de Roma). Percebendo a malícia, Jesus pediu que lhe mostrassem a moeda. Ao apresentarem uma moeda de um denário, perguntou: “De quem é esta imagem e esta inscrição?” Ao lhe responderem que era de César, Jesus disse: “Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

 O texto – Com esse texto, entramos em um bloco de quatro unidades, que apresentam diversas controvérsias entre Jesus e lideranças judaicas diferentes: os fariseus, os herodianos e os saduceus. A discussão do trecho deste domingo talvez seja a mais conhecida, mas muitas vezes tem sido interpretada de maneira errada, projetando sobre Jesus os nossos preconceitos políticos e sociais.

Herodianos – É necessário entender que não se tratava de uma pergunta sincera feita a Jesus, mas, de uma armadilha preparada por membros de dois grupos politicamente opostos e antagônicos: os herodianos (submissos à dominação romana) e os fariseus (muitos dos quais olhavam os herodianos como impuros, pela sua colaboração com o poder estrangeiro).

 Cilada – Se Jesus respondesse que era lícito pagar o imposto, correria o risco de ser apresentado pelos fariseus como um opressor do povo. Se Ele negasse, poderia ser denunciado pelos herodianos como subversivo político. Era uma situação semelhante àquela que aparece em João 8, 1-11 (a mulher adúltera), pois qualquer resposta deixaria Jesus em maus lençóis. Como naquela ocasião, Jesus se mostrou verdadeiro Mestre, escapando da cilada e, ainda por cima, oferecendo um ensinamento importante.

A Moeda – Primeiro Ele deixa claro que entendeu a “jogada”: “Hipócritas, por que me armais uma cilada?” Depois, coloca os seus interlocutores contra a parede, pedindo uma moeda do imposto e perguntando: “De quem são esta efígie e esta inscrição?” A inscrição seria “Tibério César Filho do Divino Augusto, Sumo Pontífice” - demonstrando as pretensões de divinização do Império Romano. Com a resposta: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, Jesus joga para os seus ouvintes uma questão essencial: o que é que pertence a César e o que é que pertence a Deus?

 Império – A divindade pertence a Deus, não ao Império Romano nem a César. Assim, Ele evita confirmar o projeto nacionalista violento de muitos judeus da sua época e condena também qualquer projeto que divinizasse o poder civil.

 Dualismo – O texto de forma alguma justifica um dualismo entre o espiritual (de Deus) e o material (de César). Pelo contrário, mostra que o poder político, econômico e religioso deve estar a serviço do bem comum, pois, se não for assim, está roubando o que é de Deus: o seu povo. Não se pode entregar às garras de um poder opressor, seja ele estrangeiro ou nacional, o que pertence ao Pai. O poder é legítimo quando está a serviço da vida e do bem-estar comum; é ilegítimo quando está a serviço somente de uns poucos privilegiados. “Dar a Deus o que é de Deus” não se resume em rituais religiosos; refere-se à construção de uma sociedade solidária, justa e fraterna, na qual todos possam “ter a vida e a vida em abundância” (Jo 10, 10). À medida que lutamos por esse objetivo, estamos dando “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

sábado, 14 de outubro de 2023

Vinde ao banquete nupcial

  


No Evangelho das missas deste domingo (Mt 22,1-14), o evangelista Mateus apresenta a parábola dos convidados para o banquete nupcial: um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou chamar os convidados, mas eles não quiseram vir. Chamou todas as pessoas que encontrou, maus e bons, e a sala do banquete encheu-se de convidados. Ao entrar na sala, o rei viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial e mandou retira-lo da festa. No final conclui: “Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos”.

 Publicamos o comentário do padre Raniero Cantalamessa OFM, pregador da Casa Pontifícia, ao Evangelho do próximo domingo.

 O que é importante? É instrutivo observar quais são os motivos pelos quais os convidados da parábola rejeitaram participar do banquete. O evangelista Mateus diz que eles “não fizeram caso” do convite e “se foram um para seu campo, outro para seus negócios”. O Evangelho de Lucas, sobre este ponto, é mais detalhado e apresenta assim as motivações da rejeição: “Comprei um campo e tenho de ir vê-lo... Comprei cinco juntas de bois e vou aprová-las... Casei-me, e por isso não posso ir” (Lc 14, 18-20). Que têm em comum estes personagens? Os três têm algo urgente a fazer, algo que não pode esperar, que reclama imediatamente sua presença. E que representa o banquete nupcial? Este indica os bens messiânicos, a participação na salvação trazida por Cristo, portanto a possibilidade de viver eternamente. O banquete representa, pois, o importante na vida, mais ainda, o único essencial. Está claro então em que consiste o erro cometido pelos convidados; está em deixar o importante pelo urgente, o essencial pelo contingente!

 Isto é um risco tão difundido e insidioso, não só no plano religioso, mas também no puramente humano, que vale a pena refletir sobre isso um pouco. Antes de tudo no plano religioso. Deixar o importante pelo urgente significa adiar o cumprimento dos deveres religiosos porque cada vez se apresenta algo urgente que fazer. É domingo e é hora de ir à Missa, mas tem-se que fazer aquela visita, aquele trabalho no jardim, e tem-se que preparar a comida. A liturgia dominical pode esperar, a comida não; então se adia a Missa.

 Disse que o perigo de omitir o importante pelo urgente está presente igualmente no âmbito humano, na vida de todos os dias, e queria aludir também a isto. Para um homem é certamente importante dedicar tempo à família, estar com os filhos, dialogar com eles se são maiores, brincar com eles se são pequenos. Mas no último momento se apresentam sempre coisas urgentes que despachar no escritório, extras para fazer no trabalho, e se prorroga para outra ocasião, acabando por regressar à casa demasiado tarde e demasiado cansado para pensar em outra coisa.

 Para um homem e uma mulher é uma obrigação moral ir cada tanto visitar o ancião progenitor que vive só em casa ou em uma residência. Para alguns é importante visitar um conhecido enfermo para mostrar-lhe o próprio apoio e talvez fazer-lhe algum serviço prático. Mas é urgente, se se prorroga aparentemente o mundo não cai, ou melhor ninguém se dá conta. E assim se adia.

 O mesmo se faz no cuidado da própria saúde, que também está entre as coisas importantes. O médico, ou simplesmente o físico, adverte que deve cuidar-se, tomar um período de descanso, evitar aquele tipo de estresse... Responde-se sim, sim, o farei sem falta, quando eu terminar esse trabalho, quando tiver arrumado a casa, quando tiver liquidado todas as dívidas... Até que se perceba que é tarde demais.

 Eis aqui onde está a insídia: passa-se a vida perseguindo os mil pequenos afazeres que há que despachar e não se encontra tempo para as coisas que incidem de verdade nas relações humanas e que podem dar a verdadeira alegria (e descuidam-se, a verdadeira tristeza) na vida. Assim, vemos como o Evangelho, indiretamente, é também escola de vida; ensina-nos a estabelecer prioridades, a tender ao essencial. Em uma palavra: a não perder o importante pelo urgente, como sucedeu aos convidados de nossa parábola.

sábado, 7 de outubro de 2023

O Reino de Deus será entregue a uma nação que produzirá seus frutos


 No Evangelho das missas deste domingo (Mateus 21,33-43), Jesus reuniu os sacerdotes e anciãos do povo e contou a parábola da vinha:

 Parábola – “Um proprietário plantou uma vinha, arrendou-a a vinhateiros e viajou para o estrangeiro. Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos, que foram espancados e mortos. O proprietário mandou mais empregados, que foram mortos da mesma forma. Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho (herdeiro), que também foi morto.

 Pergunta – Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros? Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: ‘Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo’. Então Jesus lhes disse: ‘Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos’.”

 Julgamento final – A parábola de hoje é a segunda numa série de três, referentes ao julgamento final de Deus sobre o seu povo (na semana passada tivemos a parábola dos dois irmãos e, no próximo domingo, a da festa de casamento).

 O texto – Com certeza, o texto que lemos nas bíblias atuais é resultado de uma longa história de transmissão oral e redação. Da boca de Jesus, a história visava à sorte da Vinha, terminando no versículo 41; a transmissão oral pré-sinótica concentrou a atenção na sorte do Filho, acrescentando os versículos 42, 43 e 44, tirados do Salmo 117; finalmente, Mateus transforma a parábola numa alegoria da História da Salvação: deixa claro que o advento do novo povo (versículo 41) está ligado ao destino Daquele que fala e que deve ser condenado e morto, para depois ressuscitar.

 Alegoria – "Os mensageiros" são os profetas que foram mortos pelo povo de Israel, culminando com Jesus, como o Filho. "O Reino" provavelmente se refere à promessa da benção em plenitude, dos últimos tempos. "O Povo" se refere à Igreja, no caso de Mateus composta principalmente de judeu-cristãos, mas também de gentios convertidos, que juntos formam o Novo Povo de Deus, o verdadeiro Israel. Essa conclusão do versículo 43 é a principal contribuição de Mateus à interpretação da parábola, e é mais suave do que a própria parábola, pois os maus vinhateiros não serão destruídos, mas perderão a promessa.

 Promessa – Como o texto de Mateus foi escrito num contexto de polêmica entre a sua comunidade e o judaísmo formativo do fim do primeiro século, ele queria ensinar para a sua comunidade que a promessa antiga feita ao Povo de Deus foi retirada das autoridades farisaicas e das suas comunidades, e dada à comunidade da Igreja.

 Frutos – Mas isso não nos dá motivo para comodismo. Como o povo original perdeu a promessa porque "não deu fruto" também a Igreja não a possui de modo incondicional. Também as comunidades cristãs têm que "dar fruto"- os frutos de justiça, fraternidade, solidariedade e partilha. A História da Salvação nos mostra que Deus não se deixa manipular, nem permite que qualquer comunidade ou religião se torne "dona" Dele, e que o seu verdadeiro povo é aquele que se dedica à construção dos valores do Reino de Deus. O texto convida a um sério exame e revisão das nossas práticas e estruturas eclesiais e eclesiásticas, para que a nossa Igreja cristã não chegue a merecer o destino dos vinhateiros, que por não terem correspondido à Aliança, viram a promessa retirada deles e dada a outro povo "que produzirá os seus frutos" (v43).

sábado, 30 de setembro de 2023

Compromisso com Deus

  


No Evangelho das missas deste domingo (Mateus 21,28-32), Jesus conta a parábola do homem que tinha dois filhos e pediu para que eles trabalhassem em sua vinha. O primeiro disse “não quero”, mas depois foi; o segundo disse “eu irei”, mas não foi. Qual dos dois realizou a vontade do pai?

 Local – O texto situa-nos em Jerusalém, na etapa final da caminhada terrena de Jesus. Estamos na segunda ou terça-feira da semana da Paixão. Jesus será crucificado na próxima sexta-feira. No sábado anterior, Jesus entrara em Jerusalém e fora recebido em triunfo pela multidão (Mt 21,1-11); no entanto, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo fazem oposição a Jesus, não reconhecendo-o como o Messias. Há uma tensão no ar, que anuncia a proximidade da paixão e da morte de Jesus.

 Judeus – No quadro que antecede o episódio, os líderes judeus encontraram-se com Jesus no Templo, perguntando-Lhe com que autoridade Ele agia (Mt 21,23-27). Como resposta, Jesus convida-os a se pronunciarem sobre a origem do batismo de João. Os líderes judaicos não quiseram responder: se dissessem que João Baptista não vinha de Deus, tinham medo da reação da multidão (que considerava João um profeta); se admitissem que o batismo de João vinha de Deus, temiam que Jesus lhes perguntasse porque não o aceitaram… Diante do silêncio, Jesus apresenta três parábolas. O nosso texto é a primeira dessas três parábolas.

 Mensagem – A parábola dos dois filhos ilustra duas atitudes diversas diante dos desafios e das propostas de Deus. O primeiro filho foi convidado pelo pai a trabalhar “na vinha”. A sua primeira resposta foi negativa: “não quero”. No contexto familiar da Palestina do tempo de Jesus, trata-se de uma resposta totalmente reprovável; uma atitude deste tipo ia contra todas as convenções sociais, enchia um pai de vergonha e punha em dúvida a sua autoridade diante dos familiares, dos amigos, dos vizinhos. No entanto, este primeiro filho acabou por reconsiderar e por ir trabalhar na vinha.

 Segundo – O segundo filho, diante do mesmo convite, respondeu: “vou, sim, senhor”. Deu ao pai uma resposta satisfatória, que não punha em xeque a sua autoridade e a sua “honra”. Ficou bem visto diante de todos e todos o consideraram um filho exemplar. No entanto, acabou por não ir trabalhar na vinha. A questão posta por Jesus, é: “qual dos dois fez a vontade do pai?” A resposta é tão óbvia que os próprios interlocutores de Jesus não têm qualquer timidez em dizer: “o primeiro”.

 Vontade do Pai – A parábola ensina que, na perspectiva de Deus, o importante não é quem se comportou bem e não escandalizou os outros e sim cumprir, realmente, a vontade do Pai. Na lógica de Deus, não bastam palavras bonitas ou declarações de boas intenções: é preciso uma resposta adequada e coerente aos Seus desafios e às Suas propostas.

 Proposta do Reino – É certo que os fariseus, os sacerdotes, os anciãos do Povo, disseram “sim” a Deus ao aceitar a Lei de Moisés… A sua atitude – assim como a do filho que disse “sim” e depois não foi trabalhar para a vinha – foi irrepreensível do ponto de vista das convenções sociais; mas, do ponto de vista do cumprimento da vontade de Deus, a sua atitude foi uma mentira, pois recusaram-se a acolher o convite de João à conversão. Em contrapartida, aqueles que responderam “política e religiosamente incorreto”, dizendo “não”, cumpriram a vontade do Pai: acolheram o convite de João à conversão e acolheram a proposta do Reino que Jesus veio apresentar (por exemplo, os cobradores de impostos e as prostitutas).

 Judeus e pagãos – Mais tarde, a comunidade de Mateus leu a mesma parábola numa perspectiva um pouco diversa. Ela serviu para iluminar a recusa em aceitar o Evangelho por parte dos judeus e o seu acolhimento por parte dos pagãos. Israel seria esse “filho” que aceitou trabalhar na vinha, mas, na realidade, não cumpriu a vontade do Pai; os pagãos seriam esse “filho” que, aparentemente, esteve sempre à margem dos projetos do Pai, mas aceitou o Evangelho de Jesus e aderiu ao Reino.

sábado, 23 de setembro de 2023

GRATUIDADE E JUSTIÇA

  


No Evangelho das missas deste domingo (Mt 10,1-16), o evangelista Mateus apresenta um texto de difícil interpretação, conhecida como a parábola dos operários da vinha.

 Chamado – Naquela época as pessoas que queriam trabalhar se reuniam por volta das seis da manhã nas praças das cidades a espera de alguma oferta de trabalho para o dia. O proprietário da vinha ofereceu um denário romano como pagamento aos trabalhadores. Essa moeda era usada como pagamento da diária de um trabalhador comum. Ao longo do dia, esse proprietário recrutou outros trabalhadores para sua vinha (às 09:00, 12:00, 15:00 e 17:00 horas). Ao anoitecer, os trabalhadores foram chamados diante do senhor, a fim de receberem a paga do trabalho, e todos (até os que trabalhado apenas uma hora) receberam o mesmo valor: um denário. Isto gerou indignação nos trabalhadores da primeira hora.

 A resposta final – O dono da vinha afirma que ninguém tem nada a reclamar se ele decide derramar a sua justiça e a sua misericórdia sobre todos, sem exceção. Ele cumpre as suas obrigações para com aqueles que trabalham com ele desde o início; não poderá ser bondoso e misericordioso para com aqueles que só chegam ao fim? Isso em nada deveria afetar os outros…

 Mensagem – A parábola é dirigida às comunidades de judeus que aderiram ao cristianismo e que não admitiam que, no cristianismo, os pagãos se considerassem eleitos de Deus (assim como eles próprios se consideravam) conforme sua tradição do Primeiro Testamento. Assim, na parábola os trabalhadores de última hora (os gentios), ao receberem seu pagamento, são tratados em pé de igualdade com os primeiros que vieram trabalhar na vinha (o povo de Israel).

 Sustento da vida – O texto nos ensina que a lógica do Reino não é a lógica da sociedade vigente. Na nossa sociedade, uma pessoa vale pelo que produz – logo, quem não produz não tem valor. Assim, se faz pouco caso do idoso, aposentado, doente, portador de deficiência... Na parábola, o patrão (símbolo do Pai) usa como critério de pagamento, não a produção, mas o sustento da vida – também o trabalhador da última hora precisa sustentar a família e por isso recebe o valor suficiente, um denário.

 Trabalho – Pode-se analisar nestas imagens o significado do trabalho. O trabalho não é mercadoria que se vende, avaliado pela quantidade da produção que dele resultou. O trabalho é o meio de subsistência das pessoas e da família, bem como é serviço à comunidade, pela partilha de seus frutos. Todos têm direito ao essencial para a sua sobrevivência. Na parábola, a todos foi dado o necessário para a sobrevivência de um dia, independentemente da quantidade de sua produção. A venda do fruto do trabalho por um salário é uma alienação da dignidade do trabalhador. É vender uma parte do seu ser, de seu próprio corpo, do fruto de seu trabalho, para a acumulação de riqueza e prazer do patrão.

 Valores – O Reino de Deus tem valores diferentes da sociedade neoliberal do nosso tempo - a vida é o critério, não a produção. Por isso, quem procura vivenciar os valores do Reino estará na contramão da sociedade dominante. O texto nos convida a imitar o Pai do Céu, lutando por novas relações na sociedade e no trabalho, baseadas no valor da vida, não na produção e consumo. O critério é a gratuidade de Deus Pai, pois tudo o que temos recebemos  Dele e, sendo todos seus filhos amados, a comunidade cristã não pode discriminar pessoas, por qualquer motivo que seja.

sábado, 9 de setembro de 2023

Você conhece a “Epístola de Paulo aos Laodicenses”?

  


Se você conhece um pouco a Bíblia, deve ter estranhado o título acima, pois deve se lembrar que o Apóstolo Paulo escreveu 13 cartas (ou Epístolas): aos Romanos, 1ª e 2ª aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, 1ª e 2ª aos Tessalonicenses, 1ª e 2ª a Timóteo, a Filemon e a Tito. Mas, de uma Carta aos Laodicenses (cristãos da cidade de Laodicéia) você nunca dever ter ouvido falar...

 Explicando... – No final de sua missão, Paulo permaneceu na cidade de Éfeso (Ásia Menor) por três anos (At 20, 31). Nesta ocasião, enviou o discípulo Epafras às cidades de Colossas, Laodicéia e Hierápolis (estas cidades distam menos de 20 km entre si) para estabelecer comunidades cristãs. Paulo, entretanto, nunca visitou essas cidades (Col 2,1).

 Evidência – Entre os anos de 55 e 57, quando estava preso, Paulo enviou uma carta aos cristãos de Colossos (Carta aos Colossences, conhecida de todos nós, pois faz parte de nossas Bíblias), na qual faz referência a uma epístola enviada aos cristãos de Laodicéia: “Saúdem os irmãos de Laodicéia, como também Ninfas e a Igreja que se reúne na casa dele. Depois de vocês lerem esta carta, façam que seja lida também na Igreja de Laodicéia. E vocês, leiam a de Laodicéia”. (Col 4,15-16).

 Laodicéia – A Cidade de Laodicéia era localizada na província romana da Frígia, no oeste da Ásia Menor, Laodicéia foi fundada por Antíoco II (261-246 a.C.), que lhe deu este nome em honra de sua mulher, Laodice. Cidade famosa na época de Cristo, por produzir lã e roupas, também era conhecida em todo o mundo oriental por produzir o “pó frígio” – um pó medicinal utilizado para os males dos olhos. Tornou-se tão rica que, quando foi destruída em 60 d.C. por um tremor de terra, os seus cidadãos recusaram a ajuda de Roma e a reconstruíram com os seus próprios recursos. Isso deu fama aos seus cidadãos de soberbos e orgulhosos.

 Apocalipse – A cidade é citada no Livro do Apocalipse (Ap 3,14-22), com repreensões à sua riqueza e ao orgulho de seus cidadãos, que acabaram se afastando dos ensinamentos recebidos e passaram a ser considerados apóstatas. “Você diz: ‘Sou rico! E agora que sou rico, não preciso de mais nada'. Pois então escute: Você é infeliz, miserável, pobre, cego e nu. E nem sabe disso. Quer um conselho? Quer mesmo ficar rico? Então compre o meu ouro, ouro puro, derretido no fogo. Quer se vestir bem? Compre minhas roupas brancas, para cobrir a vergonha da sua nudez. Está querendo enxergar? Pois eu tenho o colírio para seus olhos. Quanto a mim, repreendo e educo todos aqueles que amo. Portanto, seja fervoroso e mude de vida!” (Ap 3, 17-19).

 Hipóteses – O conteúdo da Carta de Paulo aos laodicenses, entretanto, perdeu-se. Na investigação do texto de Paulo aos colossenses, é possível levantar algumas suposições do que poderia ter acontecido à carta endereçada aos laodicenses.

 Carta Circular – A primeira hipótese é que Paulo tenha escrito uma “carta circular”, ou seja, uma carta sem destinatário, enviada às Igrejas da região da cidade de Éfeso. Mais tarde, esta carta circular se transformou na “Epístola aos Efésios”, com a inserção das palavras “em Éfeso” no primeiro versículo do texto (Ef 1,1). As cópias mais antigas da “Carta aos Efésios” (Códices Sinaítico e Vaticano) não têm as palavras “em Éfeso”.

 Troca do nome aos destinatários – Outra suposição é que a carta original havia sido endereçada aos laodicenses, mas, por causa do seu afastamento da Igreja (Ap 3,14-22), os copistas omitiram o nome de Laodicéia e colocaram os efésios como receptores da carta.

 Texto com 20 versículos – No século III, apareceu nas comunidades cristãs um texto intitulado “Epístola de Paulo aos Laodicenses” que, por quase mil anos, gozou de grande estima por parte dos cristãos. O texto não consta de nossas Bíblias e compõe-se apenas um capítulo com 20 versículos. A Carta aparece em documentos da Igreja como a Vulgata Latina (São Jerônimo), no Cânon de Muratori (ano 170), de Fulda (ano 546) e nos Códices Sinaítico e Vaticano.

 QUER SABER MAIS? – Se você se interessou pela “Carta de São Paulo aos Laodicenses” e quer ler o texto, solicite por E-mail que lhe enviaremos o texto completo com comentários.

domingo, 3 de setembro de 2023

Renuncie a si mesmo

 


O Evangelho das missas deste domingo (Mt 16,21-27) vem na sequência daquele que lemos e refletimos no domingo passado. Nele, lá no Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe, Jesus fez uma pergunta bastante inocente: "quem dizem os homens que eu sou?” Aparecem inúmeras respostas, pois esta pergunta não compromete ninguém. Mas a segunda pergunta traz a “facada”: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Agora não aparecem muitas respostas, pois quem responde em nome pessoal e não o dos outros, se compromete! Somente Pedro se arrisca e proclama a verdade sobre Jesus: “tu és o Messias”. Pedro acertou, e Jesus confirma a verdade do que proclamou! Afirmou que foi através de uma revelação do Pai que Pedro fez a sua profissão de fé. Mas, a continuação do diálogo é mais complicado do que possa parecer.

 Continuando – No trecho deste domingo, as multidões ficaram para trás e Jesus conversa com o grupo de discípulos. Eles acreditam que Jesus é o “Messias, Filho de Deus” e querem partilhar o seu destino de glória e de triunfo. Jesus vai, no entanto, explicar-lhes que o seu messianismo não passa por triunfos e êxitos humanos, mas pela cruz; e vai avisá-los de que viver como discípulo é seguir esse caminho da entrega e do dom da vida.

 Messias – Pois Jesus logo explica o que quer dizer ser o Messias. Não era ser glorioso, triunfante e poderoso, conforme os critérios deste mundo. Muito pelo contrário, era ser fiel à sua vocação como Servo de Javé, era ser preso, torturado e assassinado, era dar a vida em favor de muitos. Usando o título messiânico “Filho de Deus” – que vem de Daniel 7,13 – Jesus confirmou que era o Messias, mas não o Messias que Pedro quis. Este, conforme as expectativas do povo do seu tempo, quis um Messias forte e dominador, não um que pudesse ir – e levar os seus seguidores – até a Cruz!

 Pedro – Por isso Pedro contesta Jesus, pedindo que nada disso acontecesse. E como recompensa ganha uma das frases mais duras da Bíblia: “Afasta-se de mim, satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens.” (v.33). Pedro, cuja proclamação de fé parecia ser tão acertada, é agora chamado de Satanás – o Tentador por excelência! Pedro tinha os títulos certos, mas a prática errada!

 Cruz – E assim, Jesus usa o equívoco de Pedro para explicar o que significa ser seguidor dele: “Se alguém quer me seguir, renuncie a se mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (v.34). Ter fé em Jesus não é em primeiro lugar um exercício intelectual ou teológico, mas uma prática: o seguimento dele na construção do seu projeto, até as últimas consequências.

 Teoria e prática – Hoje, dois mil anos mais tarde, a segunda pergunta de Jesus ressoa forte. Para nós, quem é Jesus? Não para o catecismo, não para o Papa ou o Bispo, mas para cada de nós pessoalmente? No fundo, a resposta se dá não com palavras, mas pela maneira com que vivemos e nos comprometemos com o projeto de Jesus - Ele que veio para que todos tivessem a vida e a vida plenamente! (Jo,10,10). Cuidemos para não cair na tentação do equívoco de Pedro: a de termos a doutrina e a teoria certas, mas a prática errada!

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Pedro e a cátedra do primeiro Papa

  

No Evangelho das missas deste domingo (Mt 16,13-19), Pedro reconhece Jesus como Messias, é proclamado como base (pedra fundamental) da Igreja e recebe as chaves do Reino dos Céus.

 Época – Mateus escreve na década de 80, quando os discípulos de Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das sinagogas e os cristãos começavam a estruturar-se em uma instituição religiosa própria, na qual a figura de referência era Pedro, já martirizado em Roma. Pedro era lembrado pelo seu testemunho corajoso diante da perseguição do Império Romano.

 O que é cátedra? A “cátedra” quer dizer a sede fixa do bispo, colocada na igreja matriz de uma diocese, que por este motivo é chamada “catedral”. É o símbolo da autoridade do bispo e de seu “magistério” (ensinamento evangélico transmitido à comunidade cristã) como sucessor dos apóstolos. Quando o bispo toma posse da Igreja particular que lhe foi confiada, com a mitra e o báculo, senta-se em sua cátedra. Dessa sede guiará, como mestre e pastor, o caminho dos fiéis, na fé, na esperança e na caridade!

 Qual foi a “cátedra” de São Pedro? Ele foi escolhido por Cristo como “rocha” sobre a qual edificaria a Igreja (Mt 6,18) e começou seu ministério em Jerusalém, depois da Ascensão do Senhor e de Pentecostes. A primeira “sede” da Igreja foi o Cenáculo e é provável que naquela sala (onde estava presente Maria Santíssima), se reservasse um posto especial a Simão Pedro. Depois, a sede de Pedro foi Antioquia (na Síria, hoje Turquia), cidade evangelizada por Barnabé e Paulo. Nela, “pela primeira vez os discípulos receberam o nome de ‘cristãos’” e Pedro foi o primeiro bispo. De Antioquia a Providência levou Pedro a Roma.

 Caminho – Portanto, de Jerusalém (Igreja nascente), Pedro passa pela Antioquia (primeiro centro da Igreja que agrupava pagãos e judeus), chegando a Roma, centro do Império, onde concluiu com o martírio sua carreira ao serviço do Evangelho. Por este motivo, a sede de Roma, que havia recebido a maior honra, recebeu também a tarefa confiada por Cristo a Pedro, de estar ao serviço de todas as Igrejas particulares, para a edificação e a unidade de todo o Povo de Deus.

 Roma – A sede de Roma, depois destas migrações de São Pedro, foi reconhecida como a sede do sucessor de Pedro e a “cátedra” de seu bispo representou a do apóstolo encarregado por Cristo de apascentar todo seu rebanho. Testificam isso os mais antigos Padres da Igreja, como Santo Irineu, Tertuliano e São Jerônimo.

 Santo Irineu – Irenaeus (130 a 202, bispo de Lyon), em seu livro “Contra as heresias” (ano 180), descreve a Igreja de Roma como a “maior e mais antiga, conhecida por todos, fundada e constituída em Roma pelos dois gloriosos apóstolos Pedro e Paulo”, e acrescenta: “Com esta Igreja, por sua exímia superioridade, deve estar em acordo a Igreja universal, ou seja, os fiéis que estão por toda parte”.

 Tertuliano – Tertuliano (160 a 220) foi um dos maiores escritores cristãos. No livro “Prescrições contra todas as heresias”, afirma: “Esta Igreja de Roma é bem-aventurada! Os apóstolos derramaram nela, com seu sangue, toda a doutrina”. A cátedra do bispo de Roma representa, portanto, não só seu serviço à comunidade romana, mas também sua missão de guia de todo o Povo de Deus.

 São Jerônimo – São Jerônimo (347 a 420), doutor da Igreja, fez a tradução da Bíblia para o latim. Em seu livro “As Cartas”, dá um testemunho particularmente interessante, porque menciona explicitamente a “cátedra” de Pedro, apresentando-a como porto seguro de verdade e de paz. Assim escreve: “Decidi consultar a cátedra de Pedro, onde se encontra essa fé que a boca de um apóstolo exaltou; venho agora pedir alimento para minha alma ali, onde recebi a veste de Cristo. Não sigo outro primado senão o de Cristo; por isso, ponho-me em comunhão com tua beatitude, ou seja, com a cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja”.

 Vaticano – No altar principal da basílica de São Pedro encontra-se o monumento à cátedra do apóstolo Pedro (obra do artista Bernini): é um grande trono de bronze, sustentada pelas estátuas de quatro doutores da Igreja – dois do Ocidente (Santo Agostinho e Santo Ambrósio) e dois do oriente (São João Crisóstomo e Santo Atanásio).

sábado, 19 de agosto de 2023

Como aconteceu a Assunção de Maria?

 

 

Neste domingo a Igreja comemora a Assunção de Maria, conforme o dogma publicado pelo Papa Pio XII (1950): “A Virgem Imaculada, que fora preservada de toda a mancha de culpa original, terminando o curso da sua vida terrena, foi elevada à glória celeste em corpo e alma”.

 

Mistério – Os detalhes da morte, enterro e assunção da Virgem Maria são um dos maiores mistérios do Novo Testamento. A Igreja usa o texto da Carta de São Paulo (1Cor 15, 20-23) e do Apocalipse (Ap 11, 19; 12, 1), para fundamentar o dogma. Nenhuma descrição ou fato histórico é citado. Apresentamos aqui as descobertas mais recentes sobre o assunto:

 

Cronograma – Um cronograma aproximado da vida de Maria seria o seguinte: nasceu no ano 20 a.C., aproximadamente, filha de Ana e Joaquim. No final do ano 7 a.C. (com 13 anos) deu à luz Jesus, na cidade de Belém. Maria assistiu a crucificação e morte de Jesus em abril do ano 30 d.C., com 50 anos de idade. Segundo Hipólito de Tebas (autor bizantino do século VII), a Virgem Maria viveu onze anos após a morte de Jesus, morrendo no ano de 41 d.C. (com 61 anos de idade).

 

João Paulo II – Em catequese, no dia 9 de julho de 1997, o Papa João Paulo II disse que o primeiro testemunho de fé na assunção da Virgem Maria aparece nas histórias apócrifas, intituladas "Transitus Mariae", cujo núcleo original remonta aos séculos II e descreve a morte, o sepultamento, o túmulo e a ascensão de Maria aos Céus. Segundo a palavra do Pontífice este texto reflete uma intuição da fé do povo de Deus.

 

O texto – O autor do “Transitus Mariae” usa o pseudônimo de Melitão. Existiu um Melitão, Bispo de Sardes, no ano de 150, mas não deve ser o mesmo. O autor diz que escutou de São João apóstolo a seguinte história: Maria vivia em sua casa, quando recebeu a visita de um anjo anunciando que, em três dias, seria elevada aos céus. Então ela pediu ao anjo que gostaria que todos os apóstolos estivessem reunidos.

 

Morte – Três dias depois, Maria morreu na presença de todos os apóstolos. Pedro recebeu uma mensagem de Cristo: ele deveria tomar o corpo de Maria e levar à direita da cidade, até o oriente, onde encontraria um sepulcro novo. Ali deveria depositar o corpo de Maria e aguardar um novo aparecimento de Cristo.

 

Enterro – Os apóstolos assim fizeram: colocaram o corpo num caixão, saíram de Jerusalém, à direita da cidade, entraram no Vale de Josafat (ou vale do Cedron), no caminho para o Monte das Oliveiras, depositaram o corpo no sepulcro, fecharam com uma pedra e ficaram esperando.

 

Assunção – Cristo ressuscitado apareceu, saudando a todos: “A paz esteja convosco”. Pedro disse: “Senhor, se possível, parece justo que ressuscite do corpo de sua mãe e a conduza contigo ao Céu”.  Jesus disse: “Tu que não aceitasse a corrupção do pecado não sofrerás a corrupção do corpo no sepulcro”. E os anjos a levaram ao paraíso. Enquanto ela subia, Jesus falou aos apóstolos: “Do mesmo modo que estive com vocês até agora, estarei até o fim do mundo”. E desapareceu entre as nuvens junto com os anjos e Maria.

 

Impressionante descoberta – A arqueologia estudou durante anos os detalhes da pequena igreja existente no local descrito pelo texto “Transitus Mariae” sem nada encontrar. Em 1972, uma chuva torrencial alagou a igreja e exigiu a reconstrução do piso. Ao remover o piso, apareceu um grande porão, com uma câmara funerária do primeiro século. Todas as descrições do livro apócrifo estavam confirmadas.

 

QUER LER MAIS – Se você se interessou pelo assunto, nós podemos lhe oferecer a história completa do “Túmulo de Maria” escrita pelo teólogo católico Ariel Alvarez Valdes (17 pág. em castelhano) com fotos e desenhos do túmulo; a audiência de 9/7/97 do Papa João Paulo II “A Assunção de Maria, verdade de fé” (5 pág, em português); o texto completo do livro apócrifo “Transitus Mariae”, escrito no século II (16 pág. em castelhano). Solicite por E-mail.

sábado, 12 de agosto de 2023

Passemos à outra margem

 


O Evangelho deste domingo (Mt 14,22-33) apresenta Jesus andando sobre as águas, os discípulos com medo e Jesus estendendo-lhes a mão e dando-lhes força para vencer a adversidade.

 O mar – O episódio situa-nos na área do lago de Tiberíades ou de Genesaré, um lago de água doce com 21 quilômetros de comprimento e 12 de largura, situado na Galileia, um grande reservatório de água doce da Palestina. Para os judeus, esse lago era considerado, para todos os efeitos, um “mar” – lugar onde habitavam os monstros, os demônios e todas as forças que se opunham à vida e à felicidade do homem. Na perspectiva da teologia judaica, no mar, o homem estava à mercê das forças demoníacas e só o poder de Deus podia salvá-lo…

 Fantasma – Mateus descreve que “Jesus obrigou os discípulos a entrar na barca, e ir na frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despedia as multidões”. Na madrugada, Jesus foi até eles, andando sobre o mar. Os discípulos assustaram-se, pensando que fosse um fantasma e gritaram cheios de medo. Jesus lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo”.

 Reflexão – Para refletir sobre esta passagem, usaremos um texto de Orígenes, também conhecido por Orígenes de Alexandria. Orígenes foi um presbítero e teólogo cristão que viveu entre 185 e 253 d.C., sendo considerado o maior erudito da Igreja antiga. Exerceu grande influência na Igreja, tendo escrito mais de 600 obras. Tem textos importantes sobre a Santíssima Trindade, a virgindade de Maria e o Batismo dos cristãos. Orígenes professou o primado de Pedro e é o autor da afirmação da crucificação de Pedro de cabeça para baixo. A reflexão a seguir foi escrita há mais de 1.800 anos:

 “Passemos à outra margem” – Orígenes de Alexandria

 “Jesus mandou os discípulos subir para a barca a fim de precedê-Lo na outra margem, enquanto despedia as multidões. As multidões não podiam passar para a outra margem, visto que não eram Hebreus no sentido espiritual do termo, o qual se traduz: “os da outra margem”. Esta é a obra dos discípulos de Jesus: partir para a outra margem, ultrapassar o visível e o corporal – estas realidades temporárias – e ser os primeiros a chegar ao invisível e eterno…

Os discípulos, contudo, não puderam chegar antes de Jesus na outra margem… Talvez Ele tivesse querido ensiná-los, por experiência, que, sem Ele, não é possível lá chegar… Que barca é esta para a qual Jesus os manda subir? Não será a luta contra as tentações e as circunstâncias difíceis? … Ele, o Salvador, manda, portanto, os discípulos subir para a barca das provações a fim de chegarem à outra margem, ultrapassando as circunstâncias difíceis através da sua vitória sobre elas…

Depois, sobe à montanha, a um lugar apartado, para orar. Por quem reza? Provavelmente, em primeiro lugar, pelas multidões, para que, despedidas depois de terem comido os pães abençoados, não façam nada contrário à despedida de Jesus. Também pelos discípulos…, para que, no meio do mar, não sofram com as altas ondas nem com o vento contrário. Sou levado a dizer que é, graças à oração que Jesus dirige ao Pai, que os discípulos não sofreram danos no mar.

E nós, se algum dia cairmos sob a força das tentações, lembremo-nos de que não é possível chegarmos à outra margem sem sofrermos a prova das ondas furiosas e do vento contrário. Além disso, quando nos virmos rodeados de muitos e custosos afazeres, já um tanto cansados pela travessia que se alonga, pensemos que a nossa barca se encontra em pleno mar e que as ondas procuram fazer-nos “naufragar na nossa fé” (1 Tm 1, 19) … Acreditemos, então, que o fim da noite está iminente: “A noite vai avançada e o dia aproxima-se” (Rm 13, 12). O Filho de Deus virá até nós para nos acalmar o mar, caminhando sobre as águas.

sábado, 5 de agosto de 2023

ESTE É O MEU FILHO AMADO

 


 O Evangelho deste domingo (Mt 17,1-9) relata a transfiguração de Jesus, uma catequese cheia de a elementos simbólicos do Antigo Testamento, que nos apresenta Jesus, como o Filho amado de Deus, Aquele que vai concretizar o projeto libertador do Pai, em favor dos homens, pelo dom da vida.

 

Desânimo – O relato da transfiguração de Jesus é precedido pelo primeiro anúncio da paixão (Mt 16,21-23) e de uma instrução sobre as atitudes que discípulo deve ter (convidado a renunciar a si mesmo, a tomar a sua cruz e a seguir Jesus no seu caminho de amor e de entrega da vida – Mt 16,24-28). Depois de terem ouvido falar do “caminho da cruz” e de terem constatado aquilo que Jesus pede aos que O querem seguir, os discípulos estão desanimados e frustrados, pois a aventura em que apostaram parece caminhar para um rotundo fracasso; eles veem desaparecer, pouco a pouco – nessa cruz que irá ser plantada numa colina de Jerusalém – os seus sonhos de glória, de honras, de triunfos e se perguntam se vale a pena seguir um mestre que nada mais tem a oferecer do que a morte na cruz.

 

Projeto – É nesse contexto que Mateus coloca o episódio da transfiguração. A cena representa uma palavra de ânimo para os discípulos (e para os crentes, em geral), pois nela manifesta-se a glória de Jesus e atesta-se que Ele é – apesar da cruz que se aproxima – o Filho amado de Deus. Os discípulos recebem, assim, a garantia de que o projeto que Jesus apresenta é um projeto que vem de Deus e, apesar das suas próprias dúvidas, recebem um complemento de esperança que lhes permite “embarcar” e apostar nele.

 

Teofania – A narração da transfiguração é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de Deus. Portanto, o autor do relato coloca no quadro que descreve todos os ingredientes que, no imaginário judaico, acompanham as manifestações de Deus (e que encontramos quase sempre presentes nos relatos teofânicos do Antigo Testamento): o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem e mesmo o medo e a perturbação daqueles que presenciam o encontro com o divino. Isso quer dizer: não estamos diante de um acontecimento real, mas de uma catequese construída de acordo com o imaginário judaico.

 

Catequese – Esta catequese, destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus e que traz aos homens um projeto que vem de Deus, está construída sobre elementos simbólicos tirados do Antigo Testamento. Que elementos são esses?

 

O monte: situa-nos num contexto de revelação; é sempre num monte que Deus Se revela e, em especial, é no cimo de um monte que Ele faz uma Aliança com o seu Povo. A mudança do rosto e das vestes – de brancura resplandecente – recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (Ex 34,29), depois de se encontrar com Deus e de ter as Tábuas da Lei.

 

A nuvem: indica a presença de Deus; era na nuvem que Deus manifestava a sua presença, quando conduzia o seu Povo pelo deserto (Ex 40,35). Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “Dia do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva (Dt 18,15-18).

 

Reação: o temor e a perturbação dos discípulos são a reação lógica de qualquer homem ou mulher diante da manifestação da grandeza, da onipotência e da majestade de Deus (Ex 19,16). As tendas parecem aludir à “Festa das Tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas”, no deserto.

 

Filho amado – A mensagem fundamental pretende dizer quem é Jesus. Recorrendo a simbologias do Antigo Testamento, o autor deixa claro que Jesus é o Filho amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Ele é também, esse Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei (Moisés) e pelos Profetas (Elias). Mais ainda: ele é um novo Moisés – isto é, aquele por meio de quem o próprio Deus dá ao seu Povo a Nova Lei e através de quem Deus propõe aos homens uma nova aliança.