Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 23/06/2001
São João sempre foi o santo mais festejado nas festas juninas. Vamos conhecer hoje um pouco de sua vida.
Filiação e nascimento – João Batista era filho de Zacarias, sacerdote do Templo de Jerusalém, e de Isabel (Elizabete), parente de Maria Santíssima. O casal não tinha filhos, pois Isabel era estéril, e eram de idade bastante avançada. Durante seu trabalho no Templo, apareceu para Zacarias o anjo Gabriel, comunicando que sua mulher daria à luz um filho. Zacarias ficou mudo até o dia da circuncisão do filho.
Visita de Maria – Depois que Maria recebeu a notícia (do anjo) que ficaria grávida, foi visitar Isabel. Esta, ao ver Maria, pronuncia um dos mais belos salmos da Bíblia: o magnificat (veja em Lc 1,39-56).
Geografia – João Batista nasceu na cidade de Ain-Karin, distante poucos quilômetros a sudoeste de Jerusalém (na Judéia). Viveu como ermitão no deserto da Judéia até os 27 anos.
Pregação – São João chamava os homens para a penitência e batismo, anunciando que o Reino de Deus estava próximo. Ele atraía multidões. Quando Cristo veio até ele, foi reconhecido como o Messias. Recusou batizar Jesus, dizendo que ele que deveria ser batizado pelo Cristo, mas por indicação de Jesus, acabou por faze-lo.
Continuou pregando – Quando Jesus iniciou sua vida pública, pregando na Galiléia, João Batista continuou pregando na Judéia, no vale do rio Jordão. Sua pregação era forte e destemida, gerando reações dos governantes.
Denúncias – João Batista denunciava, em suas pregações, o adultério de Herodes Antipas, tetrarca da Galiléia e Peréia, filho de Herodes Magno (que, 30 anos antes, participou dos acontecimentos do nascimento de Jesus, recebeu os Magos, matou as crianças de Belém). Herodes Antipas, durante uma visita a Roma, apaixonou-se pela mulher do seu irmão Filipe, chamada Herodíades, trazendo-a para morar com ele. Herodíades tinha um filha (com Filipe) chamada Salomé, e ambas odiavam João Batista pelas denúncias que fazia ao povo. Por estas denúncias Herodes mandou prender João Batista na fortaleza se Maqueronte.
Morte – Durante uma festa de aniversário de Herodes, Salomé realizou uma dança que agradou Herodes e seus convivas, recebendo do rei a promessa de lhe dar qualquer presente desejado. Salomé, conversando com sua mãe Herodíades, pediu ‘a cabeça de João Bastista, o Batizador’. Herodes mandou que um guarda fosse até a prisão e trouxesse a cabeça de João, que foi oferecida à moça numa bandeja.
Festas – João Batista é festejado pela Igreja em 24 de junho e sua morte (decapitação) em 29 de agosto.
UM POUCO DE HISTÓRIA
Flavio Josefo, historiador do primeiro século descreve com detalhes a morte de João Batista, com alguns pontos discordantes em relação ao Evangelho de Marcos (Mc 6,17-29). Segundo Josefo, Herodíades era esposa de um meio-irmão de Herodes Antipas, também chamado Herodes, que vivia em Roma. Filipe era outro meio-irmão dele, tetrarca da Ituréia e da Traconítide (ver Lc 3,1). Este Filipe casou com Salomé, filha de Herodíades. Herodíades era neta de Herodes Magno e sobrinha de Herodes Antipas.
sábado, 23 de junho de 2001
sábado, 16 de junho de 2001
A Formação dos Evangelhos: Parte 21 (final) – Resumo
Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 16/06/2001
A Tradição Oral – Após a morte de Cristo (30 d.C.), os apóstolos passaram a pregar a mensagem e a formar a comunidade de crentes na Judéia e Galiléia. Tudo era feito oralmente, baseando-se na força discursiva de Pedro e nos testemunhos dos apóstolos. Era a chamada Tradição Oral que se estendeu por um período de, pelo menos, 15 anos, sustentada pela memória dos apóstolos e discípulos.
O termo "Evangelho" – ‘Evangelho’ vem do grego eu-angélion, que significa "a feliz notícia" comunicada por um mensageiro. Os cristãos se utilizaram do significado do termo ‘evangelho’, e passaram a proclamar ao mundo a mensagem de Jesus como sendo o "Evangelho por excelência" ou o "Evangelho do Reino de Deus", Evangelho que os homens deviam receber com alegria e entusiasmo superior ao habitual, com ânimo renovado. Ainda não significava o texto escrito, mas sim a pregação oral da Boa Notícia, a proclamação do reino messiânico.
Do oral para o escrito – Entre os anos de 45 e 50 d.C., surgiram textos avulsos que relatavam partes da vida de Cristo. Eram perícopes (pequenas histórias), escritas em folhas separadas, sem qualquer preocupação de formar um todo. Houve também a necessidade de gerar um texto completo (corpus), que condensasse um perfil mais amplo sobre a vida do Mestre. Assim, a partir dos anos 50 d.C. começaram a aparecer os relatos mais amplos sobre a vida pública de Cristo. A mais famosa destas compilações é o "documento Q", um suposto texto que comportaria os discursos do Mestre, sem uma biografia ou histórias, mas apenas uma coleção de frases.
O Evangelho de Marcos – Entre os anos 65 e 70 (portanto, após a morte de Pedro), surgiu nas comunidades cristãs um texto (anônimo) que fazia a primeira compilação completa da vida e morte de Cristo. O texto foi atribuído a Marcos (ou João Marcos). Marcos não pertenceu ao grupo dos 12 apóstolos, mas acompanhou Pedro (como tradutor) e Paulo em suas viagens apostólicas. O texto mostra claramente um judeu escrevendo para não judeus, em um grego com vocabulário pobre, as frases são mal ligadas, com grande variação nos tempos dos verbos, ou seja, trata-se de uma narrativa muito próxima da pregação oral.
O Evangelho de Lucas – Entre os anos 70 e 80 surgiu um segundo texto (também anônimo), que a Igreja primitiva identificou como sendo de autoria de Lucas. Lucas era de origem pagã (gentio, não judeu, veja Col 4,10-14), nascido na Antioquia, conhecia a cultura grega, dominava a língua grega com perfeição e exercia a profissão de médico (Col 4, 14). Aparece pela primeira vez na comunidade cristã, pouco depois do ano 50 d.C., como companheiro de Paulo em sua segunda viagem missionária. Com um grego correto e elegante, vocabulário rico e variado, pode ser considerado como a melhor peça literária do Novo Testamento.
O Evangelho de Mateus – Entre os anos 80 e 90 d.C. surgiu um terceiro texto (também anônimo), que a Igreja primitiva identificou como sendo de autoria de Mateus. O autor deste terceiro relato sobre a vida de Cristo era um judeu letrado e profundo conhecedor das Escrituras Judaicas. Conhecia e respeitava as tradições judaicas, mas interpelava rudemente os chefes religiosos de seu povo. A atribuição do texto ao apóstolo Mateus é duvidosa (senão impossível), pois dificilmente ele estaria vivo na época da composição deste Evangelho. O Evangelho de Mateus salienta a figura de Cristo sobre o fundo do novo testamento, fazendo as vezes de novo Moisés, com a clara intenção de provar aos judeus que Cristo era o Messias tão aguardado pelo povo, que veio promulgar o Antigo Testamento.
O Evangelho de João – Por volta do ano 100 d.C. começou a circular nas comunidades cristãs uma quarta compilação dos atos de Jesus. Usando um grego pobre mas correto, o autor montou um texto que parece ter um objetivo único: proclamar que Jesus é o Messias (Jo 20, 31). O seu autor é desconhecido, mas o texto exige uma pessoa ligada ao ambiente cristão e conhecedora da geografia da Palestina. A Igreja primitiva atribuiu este texto ao apóstolo João (o discípulo que Jesus amava, filho de Zebedeu), porém existem muitos fatos que não sustentam esta afirmação.
OS ARTIGOS ANTERIORES
Estamos terminando a série de 21 artigos sobre a "Formação dos Evangelhos". Se você se interessa por este estudo e quer receber os 21 artigos, solicite por carta ou E-mail, que lhe enviaremos gratuitamente.
A Tradição Oral – Após a morte de Cristo (30 d.C.), os apóstolos passaram a pregar a mensagem e a formar a comunidade de crentes na Judéia e Galiléia. Tudo era feito oralmente, baseando-se na força discursiva de Pedro e nos testemunhos dos apóstolos. Era a chamada Tradição Oral que se estendeu por um período de, pelo menos, 15 anos, sustentada pela memória dos apóstolos e discípulos.
O termo "Evangelho" – ‘Evangelho’ vem do grego eu-angélion, que significa "a feliz notícia" comunicada por um mensageiro. Os cristãos se utilizaram do significado do termo ‘evangelho’, e passaram a proclamar ao mundo a mensagem de Jesus como sendo o "Evangelho por excelência" ou o "Evangelho do Reino de Deus", Evangelho que os homens deviam receber com alegria e entusiasmo superior ao habitual, com ânimo renovado. Ainda não significava o texto escrito, mas sim a pregação oral da Boa Notícia, a proclamação do reino messiânico.
Do oral para o escrito – Entre os anos de 45 e 50 d.C., surgiram textos avulsos que relatavam partes da vida de Cristo. Eram perícopes (pequenas histórias), escritas em folhas separadas, sem qualquer preocupação de formar um todo. Houve também a necessidade de gerar um texto completo (corpus), que condensasse um perfil mais amplo sobre a vida do Mestre. Assim, a partir dos anos 50 d.C. começaram a aparecer os relatos mais amplos sobre a vida pública de Cristo. A mais famosa destas compilações é o "documento Q", um suposto texto que comportaria os discursos do Mestre, sem uma biografia ou histórias, mas apenas uma coleção de frases.
O Evangelho de Marcos – Entre os anos 65 e 70 (portanto, após a morte de Pedro), surgiu nas comunidades cristãs um texto (anônimo) que fazia a primeira compilação completa da vida e morte de Cristo. O texto foi atribuído a Marcos (ou João Marcos). Marcos não pertenceu ao grupo dos 12 apóstolos, mas acompanhou Pedro (como tradutor) e Paulo em suas viagens apostólicas. O texto mostra claramente um judeu escrevendo para não judeus, em um grego com vocabulário pobre, as frases são mal ligadas, com grande variação nos tempos dos verbos, ou seja, trata-se de uma narrativa muito próxima da pregação oral.
O Evangelho de Lucas – Entre os anos 70 e 80 surgiu um segundo texto (também anônimo), que a Igreja primitiva identificou como sendo de autoria de Lucas. Lucas era de origem pagã (gentio, não judeu, veja Col 4,10-14), nascido na Antioquia, conhecia a cultura grega, dominava a língua grega com perfeição e exercia a profissão de médico (Col 4, 14). Aparece pela primeira vez na comunidade cristã, pouco depois do ano 50 d.C., como companheiro de Paulo em sua segunda viagem missionária. Com um grego correto e elegante, vocabulário rico e variado, pode ser considerado como a melhor peça literária do Novo Testamento.
O Evangelho de Mateus – Entre os anos 80 e 90 d.C. surgiu um terceiro texto (também anônimo), que a Igreja primitiva identificou como sendo de autoria de Mateus. O autor deste terceiro relato sobre a vida de Cristo era um judeu letrado e profundo conhecedor das Escrituras Judaicas. Conhecia e respeitava as tradições judaicas, mas interpelava rudemente os chefes religiosos de seu povo. A atribuição do texto ao apóstolo Mateus é duvidosa (senão impossível), pois dificilmente ele estaria vivo na época da composição deste Evangelho. O Evangelho de Mateus salienta a figura de Cristo sobre o fundo do novo testamento, fazendo as vezes de novo Moisés, com a clara intenção de provar aos judeus que Cristo era o Messias tão aguardado pelo povo, que veio promulgar o Antigo Testamento.
O Evangelho de João – Por volta do ano 100 d.C. começou a circular nas comunidades cristãs uma quarta compilação dos atos de Jesus. Usando um grego pobre mas correto, o autor montou um texto que parece ter um objetivo único: proclamar que Jesus é o Messias (Jo 20, 31). O seu autor é desconhecido, mas o texto exige uma pessoa ligada ao ambiente cristão e conhecedora da geografia da Palestina. A Igreja primitiva atribuiu este texto ao apóstolo João (o discípulo que Jesus amava, filho de Zebedeu), porém existem muitos fatos que não sustentam esta afirmação.
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quarta-feira, 13 de junho de 2001
Quem era o apóstolo que Jesus amava
Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 30/06/2001
Embora a tradição da Igreja sempre tenha atribuído ao apóstolo João esta honra de ser ‘o mais próximo a Jesus’, não existe qualquer citação explícita nos Evangelhos sobre quem seria o apóstolo amado. A maioria dos estudiosos concorda com a Igreja, enquanto outros preferem indicar Lázaro (o amigo discípulo de Jesus, ressuscitado depois de 3 dias) ou Marcos (ou João Marcos, a quem é atribuído a autoria do 2º Evangelho). Alguns autores fazem uma análise comparativa entre diversas citações dos textos evangélicos na tentativa de decifrar quem seria o discípulo amado.
Vamos desvendar este mistério? Pois bem, pegue um exemplar da Bíblia (ou do Novo Testamento) e siga os 6 passos seguintes:
Primeiro Passo – O discípulo amado era um dos doze apóstolos, pois estava presente na Última Ceia. Confira em Mc 14,17 (ou Lc 22,14) onde é garantida a presença dos doze apóstolos na Última Ceia, e em Jo 13,23 onde é confirmada a presença do discípulo amado entre eles.
Segundo Passo – O discípulo amado era um dos 7 que estavam na aparição à beira do lago: Conforme Jo 21,2 estavam na beira do lago Simão Pedro, Nataniel, João e Tiago (filhos de Zebedeu) e dois outros não citados. Confira em Jo 21,7 que o discípulo amado era um deles.
Terceiro Passo – É um dos discípulos próximos de Jesus. Sabemos que Tiago, João e Pedro eram mais próximos de Jesus. Confira em Mc 5,37-38 na ressurreição da filha de Jairo, na Transfiguração (Mc 9,2-3), ou no Getsêmani (Mc 14,33). Notar que no Anúncio da Ruína do Templo (Mc 13,3) aparece também o apóstolo André e que na descoberta do túmulo vazio (Jo 20,2-10) estavam apenas Pedro e o discípulo amado.
Quarto Passo – O discípulo amado não é Pedro, pois Pedro é diferenciado do apóstolo amado na Última Ceia (confira em Jo 13,23-24), à beira do lago (Jo 21,7 e Jo 21,20) e no túmulo (Jo 20,2).
Quinto Passo – Não é Tiago, pois o texto de Jo 20,20-23 poderia indicar que o discípulo amado teria longevidade. Tiago, irmão de João, morreu apedrejado no ano 44 d.C. (confira At 12, 2), sendo o primeiro apóstolo mártir.
Sexto Passo – Portanto, o discípulo amado só pode ser João, filho de Zebedeu.
Embora a tradição da Igreja sempre tenha atribuído ao apóstolo João esta honra de ser ‘o mais próximo a Jesus’, não existe qualquer citação explícita nos Evangelhos sobre quem seria o apóstolo amado. A maioria dos estudiosos concorda com a Igreja, enquanto outros preferem indicar Lázaro (o amigo discípulo de Jesus, ressuscitado depois de 3 dias) ou Marcos (ou João Marcos, a quem é atribuído a autoria do 2º Evangelho). Alguns autores fazem uma análise comparativa entre diversas citações dos textos evangélicos na tentativa de decifrar quem seria o discípulo amado.
Vamos desvendar este mistério? Pois bem, pegue um exemplar da Bíblia (ou do Novo Testamento) e siga os 6 passos seguintes:
Primeiro Passo – O discípulo amado era um dos doze apóstolos, pois estava presente na Última Ceia. Confira em Mc 14,17 (ou Lc 22,14) onde é garantida a presença dos doze apóstolos na Última Ceia, e em Jo 13,23 onde é confirmada a presença do discípulo amado entre eles.
Segundo Passo – O discípulo amado era um dos 7 que estavam na aparição à beira do lago: Conforme Jo 21,2 estavam na beira do lago Simão Pedro, Nataniel, João e Tiago (filhos de Zebedeu) e dois outros não citados. Confira em Jo 21,7 que o discípulo amado era um deles.
Terceiro Passo – É um dos discípulos próximos de Jesus. Sabemos que Tiago, João e Pedro eram mais próximos de Jesus. Confira em Mc 5,37-38 na ressurreição da filha de Jairo, na Transfiguração (Mc 9,2-3), ou no Getsêmani (Mc 14,33). Notar que no Anúncio da Ruína do Templo (Mc 13,3) aparece também o apóstolo André e que na descoberta do túmulo vazio (Jo 20,2-10) estavam apenas Pedro e o discípulo amado.
Quarto Passo – O discípulo amado não é Pedro, pois Pedro é diferenciado do apóstolo amado na Última Ceia (confira em Jo 13,23-24), à beira do lago (Jo 21,7 e Jo 21,20) e no túmulo (Jo 20,2).
Quinto Passo – Não é Tiago, pois o texto de Jo 20,20-23 poderia indicar que o discípulo amado teria longevidade. Tiago, irmão de João, morreu apedrejado no ano 44 d.C. (confira At 12, 2), sendo o primeiro apóstolo mártir.
Sexto Passo – Portanto, o discípulo amado só pode ser João, filho de Zebedeu.
sábado, 9 de junho de 2001
A Formação dos Evangelhos: Parte 20 – Os problemas do texto de João
Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 09/06/2001
A origem do texto – Como já vimos nas semanas anteriores, a maioria dos estudiosos atribui a composição do texto do Evangelho de João a uma personalidade coletiva, ou seja, um Evangelho composto por muitos autores que relatavam a tradição da comunidade de Éfeso. Esta composição de textos gerou um Evangelho com inúmeras adições, remendos e diversos estilos de redação.
Capítulos truncados – Os capítulos 4 e 5 acabam de forma abrupta, aparentando que a história foi cortada, sem continuidade com os capítulos seguintes. Alguns exegetas (estudiosos dos textos bíblicos) sugerem a colocação do Cap. 5 entre os Cap. 6 e 7, o que melhoraria a cronologia do texto. Outra solução seria o Cap. 5 entre os versículos 7,14 e 7,15, o que faria dos versículos seguintes (7,15 até 7,24) uma conclusão para o capítulo 5. Faça o teste ...
As adições – Existem vários trechos que foram claramente adicionados ao texto original: o episódio da mulher adúltera (de Jo 7,53 até 8,11) é um deles. Veja que em Jo 8,9 toda a multidão se retira e em Jo 8,12 a multidão volta a estar presente. Em Jo 11,2 o autor descreve o episódio em que Jesus ressuscita Lázaro, citando a unção dos cabelos de Jesus por Maria, fato este que o Evangelho só registra no capítulo seguinte (veja em Jo 12,3).
Mais adições – Alguns exegetas chegam a afirmar que os capítulos 15, 16 e 17 são uma adição posterior ao texto original, embora com redação semelhante ao restante do texto. Devemos notar a perfeita continuidade existente entre o final do capítulo 14 e o início do capítulo 18.
A adição final – É muito claro que o texto original do Evangelho termina no capítulo 20. Os versículos Jo 20, 30-31 são um encerramento da história. O epílogo (capítulo 21) não apresenta características do mesmo autor do Evangelho, mudando até o tempo do verbo. Talvez seja um complemento redigido por discípulos do autor principal (ver os dois últimos versículos).
A origem do texto – Como já vimos nas semanas anteriores, a maioria dos estudiosos atribui a composição do texto do Evangelho de João a uma personalidade coletiva, ou seja, um Evangelho composto por muitos autores que relatavam a tradição da comunidade de Éfeso. Esta composição de textos gerou um Evangelho com inúmeras adições, remendos e diversos estilos de redação.
Capítulos truncados – Os capítulos 4 e 5 acabam de forma abrupta, aparentando que a história foi cortada, sem continuidade com os capítulos seguintes. Alguns exegetas (estudiosos dos textos bíblicos) sugerem a colocação do Cap. 5 entre os Cap. 6 e 7, o que melhoraria a cronologia do texto. Outra solução seria o Cap. 5 entre os versículos 7,14 e 7,15, o que faria dos versículos seguintes (7,15 até 7,24) uma conclusão para o capítulo 5. Faça o teste ...
As adições – Existem vários trechos que foram claramente adicionados ao texto original: o episódio da mulher adúltera (de Jo 7,53 até 8,11) é um deles. Veja que em Jo 8,9 toda a multidão se retira e em Jo 8,12 a multidão volta a estar presente. Em Jo 11,2 o autor descreve o episódio em que Jesus ressuscita Lázaro, citando a unção dos cabelos de Jesus por Maria, fato este que o Evangelho só registra no capítulo seguinte (veja em Jo 12,3).
Mais adições – Alguns exegetas chegam a afirmar que os capítulos 15, 16 e 17 são uma adição posterior ao texto original, embora com redação semelhante ao restante do texto. Devemos notar a perfeita continuidade existente entre o final do capítulo 14 e o início do capítulo 18.
A adição final – É muito claro que o texto original do Evangelho termina no capítulo 20. Os versículos Jo 20, 30-31 são um encerramento da história. O epílogo (capítulo 21) não apresenta características do mesmo autor do Evangelho, mudando até o tempo do verbo. Talvez seja um complemento redigido por discípulos do autor principal (ver os dois últimos versículos).
sábado, 2 de junho de 2001
A Formação dos Evangelhos: Parte 19 – João: A Palavra se fez Carne ...
Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 02/06/2001
O texto do 4º Evangelho – Com uma característica totalmente distinta dos 3 primeiros evangelhos, o autor transcreveu para o papiro um verdadeiro tratado teológico. Com certeza o autor conhecia os outros Evangelhos e algumas coleções de textos, mas utilizou-os muito pouco, existindo, talvez, um maior contato com o Evangelho de Marcos (no cap. 6, o autor apresenta 5 milagres na mesma seqüência de Marcos). Mesmo assim o texto é totalmente independente dos 3 primeiros.
As omissões – É bastante interessante notar que o autor não menciona quatro importantes episódios da vida de Cristo: o Batismo, a Transfiguração, a Última Ceia e a agonia no horto. Com exceção do Batismo, nas outras 3 situações, o apóstolo João (suposto autor do texto) estava presente. Podemos pensar também que o autor suprimiu estas perícopes de seu Evangelho, tendo em vista que já se encontravam nos outros três Evangelhos.
Os destinatários – O autor se mostra bastante conhecedor dos costumes e do ambiente da Palestina. O texto é diretamente dirigido a leitores não judeus, pois ele explica os termos hebraicos e aramaicos que emprega (Rabbi, Rabonni (mestre); Messias (Cristo); Cephas (Pedro); Siloé (enviado); Gábbatha (lugar eminente), bem como os dados topográficos (Mar da Galiléia, ele acrescenta "também chamado e Mar de Tiberíades", em Jo 6, 1).
Características – O Evangelho de João se diferencia totalmente dos outros três Evangelhos. Os principais destaques são: o objetivo principal do Evangelho de João é proclamar Deus entre nós, Cristo é Deus na terra, o Divino de tornou Humano, a Palavra se fez Carne; os milagres são apresentados como sinais (seméia), enquanto que nos sinóticos são manifestações de poder; as narrações têm um caráter simbolista, fora da realidade histórica; João parece supor que o leitor de seu Evangelho já tenha lido os outros Evangelhos.
A cronologia da vida de Cristo – A maioria dos biblistas aceita que o Evangelho de João contenha a ordem cronológica mais coerente dos fatos da vida de Cristo. Sabe-se também que a seqüência do texto seria ideal com a inversão dos capítulos 5 e 6. Mesmo na descrição da Paixão de Cristo, onde as datas são confusas, é aceito o Evangelho de João como o mais exato para estabelecer os dias da semana e do mês e o Evangelho de Lucas na indicação do ano. Desta forma, aceita-se um período de 2 anos e 6 meses para a vida pública de Jesus, ou seja 3 Páscoas: 1ª Páscoa (março/abril de 28 d.C.), citada em Jo 4,45 e confirmado por Mc 1,14 e Lc 4,14. 2ª Páscoa ( em março/abril de 29 d.C.), citada em Jo 6,4, que se confirma com a "grama verde" de Mc 6,39 e na multiplicação dos pães de Lc 9,12. 3ª Páscoa (em março/abril de 30 d. C.) com a Paixão.
O epílogo – O texto original do quarto Evangelho termina no capítulo 20. O capítulo 21 é um apêndice acrescentado posteriormente. Mas isso é assunto para a semana que vem ... .
VOCÊ SABIA QUE ...
... o fragmento de textos evangélicos mais antigo já encontrado é do Evangelho de João. Trata-se de um pequeno pedaço de papiro encontrado no Egito, datado do ano de 125, que contém os versículos Jo 18, 31.33.37-38.
O texto do 4º Evangelho – Com uma característica totalmente distinta dos 3 primeiros evangelhos, o autor transcreveu para o papiro um verdadeiro tratado teológico. Com certeza o autor conhecia os outros Evangelhos e algumas coleções de textos, mas utilizou-os muito pouco, existindo, talvez, um maior contato com o Evangelho de Marcos (no cap. 6, o autor apresenta 5 milagres na mesma seqüência de Marcos). Mesmo assim o texto é totalmente independente dos 3 primeiros.
As omissões – É bastante interessante notar que o autor não menciona quatro importantes episódios da vida de Cristo: o Batismo, a Transfiguração, a Última Ceia e a agonia no horto. Com exceção do Batismo, nas outras 3 situações, o apóstolo João (suposto autor do texto) estava presente. Podemos pensar também que o autor suprimiu estas perícopes de seu Evangelho, tendo em vista que já se encontravam nos outros três Evangelhos.
Os destinatários – O autor se mostra bastante conhecedor dos costumes e do ambiente da Palestina. O texto é diretamente dirigido a leitores não judeus, pois ele explica os termos hebraicos e aramaicos que emprega (Rabbi, Rabonni (mestre); Messias (Cristo); Cephas (Pedro); Siloé (enviado); Gábbatha (lugar eminente), bem como os dados topográficos (Mar da Galiléia, ele acrescenta "também chamado e Mar de Tiberíades", em Jo 6, 1).
Características – O Evangelho de João se diferencia totalmente dos outros três Evangelhos. Os principais destaques são: o objetivo principal do Evangelho de João é proclamar Deus entre nós, Cristo é Deus na terra, o Divino de tornou Humano, a Palavra se fez Carne; os milagres são apresentados como sinais (seméia), enquanto que nos sinóticos são manifestações de poder; as narrações têm um caráter simbolista, fora da realidade histórica; João parece supor que o leitor de seu Evangelho já tenha lido os outros Evangelhos.
A cronologia da vida de Cristo – A maioria dos biblistas aceita que o Evangelho de João contenha a ordem cronológica mais coerente dos fatos da vida de Cristo. Sabe-se também que a seqüência do texto seria ideal com a inversão dos capítulos 5 e 6. Mesmo na descrição da Paixão de Cristo, onde as datas são confusas, é aceito o Evangelho de João como o mais exato para estabelecer os dias da semana e do mês e o Evangelho de Lucas na indicação do ano. Desta forma, aceita-se um período de 2 anos e 6 meses para a vida pública de Jesus, ou seja 3 Páscoas: 1ª Páscoa (março/abril de 28 d.C.), citada em Jo 4,45 e confirmado por Mc 1,14 e Lc 4,14. 2ª Páscoa ( em março/abril de 29 d.C.), citada em Jo 6,4, que se confirma com a "grama verde" de Mc 6,39 e na multiplicação dos pães de Lc 9,12. 3ª Páscoa (em março/abril de 30 d. C.) com a Paixão.
O epílogo – O texto original do quarto Evangelho termina no capítulo 20. O capítulo 21 é um apêndice acrescentado posteriormente. Mas isso é assunto para a semana que vem ... .
VOCÊ SABIA QUE ...
... o fragmento de textos evangélicos mais antigo já encontrado é do Evangelho de João. Trata-se de um pequeno pedaço de papiro encontrado no Egito, datado do ano de 125, que contém os versículos Jo 18, 31.33.37-38.
domingo, 27 de maio de 2001
A Formação dos Evangelhos: Parte 18 – O quarto Evangelho
Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 27/05/2001
O texto – Por volta do ano 100 d.C. começou a circular nas comunidades cristãs uma quarta compilação dos atos de Jesus. Usando um grego pobre mas correto, o autor montou um texto que parece ter um objetivo único: proclamar que Jesus é o Messias (Jo 20, 31). Com uma característica totalmente distinta dos 3 primeiros evangelhos, usou fontes próprias, fazendo longas análises teológicas sobre os atos do Senhor, chegando até a perder o contato com a realidade histórica.
Ainda o texto – Com certeza o autor conhecia os outros evangelhos e a coleção Q, mas utilizou-os muito pouco, existindo, talvez, um maior contato com o Evangelho de Lucas. Mesmo assim o texto é totalmente independente dos 3 primeiros. A melhor explicação para a composição do texto (com inúmeras adições, remendos, diversos estilos de redação) seria uma personalidade coletiva, ou seja, um Evangelho composto por muitos autores que relatavam a tradição da comunidade de Éfeso.
O autor – O seu autor é desconhecido, mas o texto exige uma pessoa ligada ao ambiente cristão e conhecedora da geografia da Palestina. A Igreja primitiva atribuiu este texto ao apóstolo João (o discípulo que Jesus amava, filho de Zebedeu), porém existem muitos fatos que não sustentam esta afirmação.
Três problemas – Existem três fatos que não sustentam a autoria do quarto Evangelho ao apóstolo João: uma tradição da Igreja, com vários testemunhos, afirma que o apóstolo João teria morrido mártir juntamente com seu irmão Tiago no ano de 44 d.C.; o texto não apresenta grande valor histórico, além de não se reconhecer no autor uma testemunha ocular dos acontecimentos; o texto se apresenta como um tratado teológico, como uma síntese dos ensinamentos de Pedro e Paulo.
Quem seria o autor? – Atualmente, a maioria dos estudiosos não aceita o apóstolo João como autor do 4º Evangelho; alguns citam João, o antigo (o presbítero João, de Éfeso, que, segundo Papias, era distinto do apóstolo João e pessoa influente na comunidade), outros o atribuem a algum cristão ligado ao apóstolo João, enquanto outros preferem uma autoria coletiva da comunidade de Éfeso.
João morreu em 44 d.C.? – As informações são bastante contraditórias: alguns documentos citam que o apóstolo João morreu martirizado, junto com seu irmão Tiago, no ano 44 (Papias no ano 100 e Orígenes no ano 220); outros apresentam João vivo após esta data (Paulo em Gal 2,9, escrita em 52-53 d.C., relata uma reunião ocorrida no ano 49 d.C. com a presença de João; Irineu, bispo de Lion; Jerônimo, no ano 400).
A idade de João – Se considerarmos João como o mais jovem dentre os apóstolos, a menor idade que poderíamos lhe atribuir seria de, aproximadamente, 14 anos, pois a tradição judaica considerava o homem adulto após os 12 anos, quando ele terminava o curso escolar e passava a aprender uma profissão (normalmente a mesma do pai). Em Mt 4, 21, João já trabalhava como pescador com seu irmão (mais velho) Tiago e seu pai Zebedeu quando foi chamado por Jesus. Se este episódio aconteceu em março do ano 28 d.C., concluímos que João nasceu por volta do ano 14 (ou antes). Esta data coloca dificuldades tremendas em aceitar que o apóstolo João ainda estivesse vivo nos últimos anos do 1º século, pois exigiria 86 anos de idade. A afirmação de Irineu de que João permaneceu em Éfeso até o tempo do imperador Trajano (98 – 116 d.C.) deve ser aceita com restrições. A expectativa média de vida no século I era de 30 anos: um terço das crianças morriam antes dos 6 anos; 60% antes dos 16 anos; 75% da população morria antes de completar 26 anos; e 90% antes dos 46 anos; menos de 3% atingia a idade de 60 anos.
O texto – Por volta do ano 100 d.C. começou a circular nas comunidades cristãs uma quarta compilação dos atos de Jesus. Usando um grego pobre mas correto, o autor montou um texto que parece ter um objetivo único: proclamar que Jesus é o Messias (Jo 20, 31). Com uma característica totalmente distinta dos 3 primeiros evangelhos, usou fontes próprias, fazendo longas análises teológicas sobre os atos do Senhor, chegando até a perder o contato com a realidade histórica.
Ainda o texto – Com certeza o autor conhecia os outros evangelhos e a coleção Q, mas utilizou-os muito pouco, existindo, talvez, um maior contato com o Evangelho de Lucas. Mesmo assim o texto é totalmente independente dos 3 primeiros. A melhor explicação para a composição do texto (com inúmeras adições, remendos, diversos estilos de redação) seria uma personalidade coletiva, ou seja, um Evangelho composto por muitos autores que relatavam a tradição da comunidade de Éfeso.
O autor – O seu autor é desconhecido, mas o texto exige uma pessoa ligada ao ambiente cristão e conhecedora da geografia da Palestina. A Igreja primitiva atribuiu este texto ao apóstolo João (o discípulo que Jesus amava, filho de Zebedeu), porém existem muitos fatos que não sustentam esta afirmação.
Três problemas – Existem três fatos que não sustentam a autoria do quarto Evangelho ao apóstolo João: uma tradição da Igreja, com vários testemunhos, afirma que o apóstolo João teria morrido mártir juntamente com seu irmão Tiago no ano de 44 d.C.; o texto não apresenta grande valor histórico, além de não se reconhecer no autor uma testemunha ocular dos acontecimentos; o texto se apresenta como um tratado teológico, como uma síntese dos ensinamentos de Pedro e Paulo.
Quem seria o autor? – Atualmente, a maioria dos estudiosos não aceita o apóstolo João como autor do 4º Evangelho; alguns citam João, o antigo (o presbítero João, de Éfeso, que, segundo Papias, era distinto do apóstolo João e pessoa influente na comunidade), outros o atribuem a algum cristão ligado ao apóstolo João, enquanto outros preferem uma autoria coletiva da comunidade de Éfeso.
João morreu em 44 d.C.? – As informações são bastante contraditórias: alguns documentos citam que o apóstolo João morreu martirizado, junto com seu irmão Tiago, no ano 44 (Papias no ano 100 e Orígenes no ano 220); outros apresentam João vivo após esta data (Paulo em Gal 2,9, escrita em 52-53 d.C., relata uma reunião ocorrida no ano 49 d.C. com a presença de João; Irineu, bispo de Lion; Jerônimo, no ano 400).
A idade de João – Se considerarmos João como o mais jovem dentre os apóstolos, a menor idade que poderíamos lhe atribuir seria de, aproximadamente, 14 anos, pois a tradição judaica considerava o homem adulto após os 12 anos, quando ele terminava o curso escolar e passava a aprender uma profissão (normalmente a mesma do pai). Em Mt 4, 21, João já trabalhava como pescador com seu irmão (mais velho) Tiago e seu pai Zebedeu quando foi chamado por Jesus. Se este episódio aconteceu em março do ano 28 d.C., concluímos que João nasceu por volta do ano 14 (ou antes). Esta data coloca dificuldades tremendas em aceitar que o apóstolo João ainda estivesse vivo nos últimos anos do 1º século, pois exigiria 86 anos de idade. A afirmação de Irineu de que João permaneceu em Éfeso até o tempo do imperador Trajano (98 – 116 d.C.) deve ser aceita com restrições. A expectativa média de vida no século I era de 30 anos: um terço das crianças morriam antes dos 6 anos; 60% antes dos 16 anos; 75% da população morria antes de completar 26 anos; e 90% antes dos 46 anos; menos de 3% atingia a idade de 60 anos.
sábado, 19 de maio de 2001
A Formação dos Evangelhos: Parte 17 – Os problemas do texto de Mateus
Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 19/05/2001
A difícil missão de Mateus – Como vimos, o objetivo do autor de Mateus era catequizar os judeus, apresentando Jesus como o Messias, o Cristo descrito e profetizado no Antigo Testamento, o novo Moisés. Para isso, o autor se ampara, por inúmeras vezes, em profecias (130 citações) do Antigo Testamento para justificar palavras e atos de Jesus.
Os 22 livros – Os judeus do século I (entre eles Jesus) não possuíam um catálogo (cânon) das escrituras, mas uma variedade de textos dotados de valor religioso. Flavio Josefo, escritor e historiador do primeiro século, afirmou que, antes de 70 d.C., os judeus se utilizavam de apenas 22 livros. Três séculos mais tarde, São Jerônimo, ao traduzir os textos para o latim, também deixou escrito que eram 22 os livros lidos nas sinagogas no tempo de Jesus.
Justificativas – Ao catequizar os judeus era necessária uma explicação "conforme as escrituras", ou "para que se cumprisse o que diziam as escrituras". Mas os 22 livros judeus já não eram mais suficientes, havendo a necessidade de buscar-se fundamento em outros escritos. Abriu-se assim o leque de citações, citando qualquer texto judaico em que uma explicação cristã pudesse lhe ser atribuída. Os 45 livros que compõem o Antigo Testamento em nossas Bíblias atuais nada mais são que uma ampliação (necessária à catequese) dos 22 livros dos judeus lidos nas sinagogas no tempo de Cristo.
Mateus – Sem qualquer dúvida, o objetivo principal do evangelista foi apresentar os principais eventos da vida de Jesus como realização das profecias dos livros judaicos, indicando-o como o Messias esperado pelos judeus. Talvez na ânsia de relacionar os fatos da vida de Cristo às passagens do A.T., o autor distorceu algumas citações, tomou trechos com outro significado, fez montagens de vários versículos de livros diferentes e, principalmente, citou livros não usados pelos judeus. O próprio São Jerônimo (viveu entre 347 e 420, foi dos grandes doutores da Igreja, principalmente por seus trabalhos bíblicos; foi o autor da Vulgata Latina) critica o evangelista afirmando que ele "põe na boca do Salvador passagens do Antigo Testamento que não seguem a tradução correta dos LXX".
Citações que não existem – Em Mateus 13,57 podemos ler: "Jesus lhes disse: ‘Um profeta só é desprezado em sua pátria e sua casa’.", em que Jesus parece citar um trecho desconhecido das Escrituras judaicas. Em Mt 2, 23, o autor de Mateus cita que Jesus veio morar em Nazaré, para que se cumprisse a profecia: "Ele será chamado nazoreu". Não se sabe a qual profeta ou a que livro judaico o autor de Mateus quis se referir. O termo nazoreu não tem equivalência nem com Nazareno (morador em Nazaré), nem com um membro da seita dos nazorenianos. Muito menos deve se referia a Nazir (o Santo Deus por excelência), citado por Jz 13,5.
Fora do contexto – Em Mt 2,18, ao comentar o massacre dos meninos em Belém, ele cita Jr 31,15: "Uma voz fez ouvir em Ramá, prantos e longo lamento: é Raquel que chora seus filhos e não quer ser consolada, porque eles já não existem", um texto que não se insere no assunto (acomodação), pois trata da morte dos que não voltaram da guerra com o inimigo. A tradução usada pelo autor é totalmente distorcida (faça a comparação de Mt 2,18 com Jr 31,15).
Distorções – Em Mt 4,15-17, o fato de Jesus abandonar Nazaré e ir morar em Cafarnaum, foi interpretado pelo autor de Mateus como o cumprimento da profecia de Isaías, estabelecida em Is 8,23-9,1. O autor, porém, distorceu o texto, adaptando-o aos seus objetivos. O texto original de Isaías diz: "Num primeiro momento, o Senhor cobriu de opróbio a terra de Zabulon e a terra de Neftali, mas em seguida cobriu de glória a rota do mar, o Além-Jordão e o distrito das nações. O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz. Sobre aqueles que habitavam a terra da sombra, uma luz resplandeceu." O texto de Isaías citado em Mt 4,15-17 é: "Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, Além-Jordão, Galiléia das Nações! O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; para os que jaziam na região sombria da morte levantou-se uma luz."
Mais distorções – Na entrada messiânica em Jerusalém (Mt 21,1-19), para justificar o evento da jumenta, o autor de Mateus se utiliza de uma profecia de Zacarias (Zc 9,9). Como a profecia não é suficiente para fundamentar o fato, o autor distorce a citação, com frases (talvez) de Isaías 62,11. Eis os textos: (Isaías 62,11) "Dizei a filha de Sião: eis que a tua salvação vem a ti ..."; (Zacarias 9, 9) "Estremece de alegria, filha de Sião! Prorrompe em aclamações, filha de Jerusalém. Eis que o teu rei vem ao teu encontro; ele é justo e vitorioso, humilde, montado num jumento – sobre um jumento novo." Vejam agora o autor de Mateus (21, 5) citando o ‘profeta’: "Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, humilde e montado numa jumenta e num jumentinho, filho de um animal de carga."
Morte de Judas – Na tentativa de uma explicação profética para a morte de Judas Iscariotes (Mt 27, 9), o autor de Mateus é obrigado a juntar versículos de Zacarias (Zc 11, 12) e de Jeremias (Jr 18, 2). Confira.
A difícil missão de Mateus – Como vimos, o objetivo do autor de Mateus era catequizar os judeus, apresentando Jesus como o Messias, o Cristo descrito e profetizado no Antigo Testamento, o novo Moisés. Para isso, o autor se ampara, por inúmeras vezes, em profecias (130 citações) do Antigo Testamento para justificar palavras e atos de Jesus.
Os 22 livros – Os judeus do século I (entre eles Jesus) não possuíam um catálogo (cânon) das escrituras, mas uma variedade de textos dotados de valor religioso. Flavio Josefo, escritor e historiador do primeiro século, afirmou que, antes de 70 d.C., os judeus se utilizavam de apenas 22 livros. Três séculos mais tarde, São Jerônimo, ao traduzir os textos para o latim, também deixou escrito que eram 22 os livros lidos nas sinagogas no tempo de Jesus.
Justificativas – Ao catequizar os judeus era necessária uma explicação "conforme as escrituras", ou "para que se cumprisse o que diziam as escrituras". Mas os 22 livros judeus já não eram mais suficientes, havendo a necessidade de buscar-se fundamento em outros escritos. Abriu-se assim o leque de citações, citando qualquer texto judaico em que uma explicação cristã pudesse lhe ser atribuída. Os 45 livros que compõem o Antigo Testamento em nossas Bíblias atuais nada mais são que uma ampliação (necessária à catequese) dos 22 livros dos judeus lidos nas sinagogas no tempo de Cristo.
Mateus – Sem qualquer dúvida, o objetivo principal do evangelista foi apresentar os principais eventos da vida de Jesus como realização das profecias dos livros judaicos, indicando-o como o Messias esperado pelos judeus. Talvez na ânsia de relacionar os fatos da vida de Cristo às passagens do A.T., o autor distorceu algumas citações, tomou trechos com outro significado, fez montagens de vários versículos de livros diferentes e, principalmente, citou livros não usados pelos judeus. O próprio São Jerônimo (viveu entre 347 e 420, foi dos grandes doutores da Igreja, principalmente por seus trabalhos bíblicos; foi o autor da Vulgata Latina) critica o evangelista afirmando que ele "põe na boca do Salvador passagens do Antigo Testamento que não seguem a tradução correta dos LXX".
Citações que não existem – Em Mateus 13,57 podemos ler: "Jesus lhes disse: ‘Um profeta só é desprezado em sua pátria e sua casa’.", em que Jesus parece citar um trecho desconhecido das Escrituras judaicas. Em Mt 2, 23, o autor de Mateus cita que Jesus veio morar em Nazaré, para que se cumprisse a profecia: "Ele será chamado nazoreu". Não se sabe a qual profeta ou a que livro judaico o autor de Mateus quis se referir. O termo nazoreu não tem equivalência nem com Nazareno (morador em Nazaré), nem com um membro da seita dos nazorenianos. Muito menos deve se referia a Nazir (o Santo Deus por excelência), citado por Jz 13,5.
Fora do contexto – Em Mt 2,18, ao comentar o massacre dos meninos em Belém, ele cita Jr 31,15: "Uma voz fez ouvir em Ramá, prantos e longo lamento: é Raquel que chora seus filhos e não quer ser consolada, porque eles já não existem", um texto que não se insere no assunto (acomodação), pois trata da morte dos que não voltaram da guerra com o inimigo. A tradução usada pelo autor é totalmente distorcida (faça a comparação de Mt 2,18 com Jr 31,15).
Distorções – Em Mt 4,15-17, o fato de Jesus abandonar Nazaré e ir morar em Cafarnaum, foi interpretado pelo autor de Mateus como o cumprimento da profecia de Isaías, estabelecida em Is 8,23-9,1. O autor, porém, distorceu o texto, adaptando-o aos seus objetivos. O texto original de Isaías diz: "Num primeiro momento, o Senhor cobriu de opróbio a terra de Zabulon e a terra de Neftali, mas em seguida cobriu de glória a rota do mar, o Além-Jordão e o distrito das nações. O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz. Sobre aqueles que habitavam a terra da sombra, uma luz resplandeceu." O texto de Isaías citado em Mt 4,15-17 é: "Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, Além-Jordão, Galiléia das Nações! O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; para os que jaziam na região sombria da morte levantou-se uma luz."
Mais distorções – Na entrada messiânica em Jerusalém (Mt 21,1-19), para justificar o evento da jumenta, o autor de Mateus se utiliza de uma profecia de Zacarias (Zc 9,9). Como a profecia não é suficiente para fundamentar o fato, o autor distorce a citação, com frases (talvez) de Isaías 62,11. Eis os textos: (Isaías 62,11) "Dizei a filha de Sião: eis que a tua salvação vem a ti ..."; (Zacarias 9, 9) "Estremece de alegria, filha de Sião! Prorrompe em aclamações, filha de Jerusalém. Eis que o teu rei vem ao teu encontro; ele é justo e vitorioso, humilde, montado num jumento – sobre um jumento novo." Vejam agora o autor de Mateus (21, 5) citando o ‘profeta’: "Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, humilde e montado numa jumenta e num jumentinho, filho de um animal de carga."
Morte de Judas – Na tentativa de uma explicação profética para a morte de Judas Iscariotes (Mt 27, 9), o autor de Mateus é obrigado a juntar versículos de Zacarias (Zc 11, 12) e de Jeremias (Jr 18, 2). Confira.
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