sábado, 18 de dezembro de 2021

Jesus nasceu em Belém ou Nazaré?

  


Quando nos perguntam onde Jesus nasceu, a resposta é simples: Jesus nasceu em Belém. Aprendemos desde crianças a celebrar o Natal e todos os anos nós cantamos canções em torno do presépio, louvando o Messias nascido em Belém. No entanto, se nós analisarmos cuidadosamente os Evangelhos do Novo Testamento, vamos descobrir que a resposta não é tão fácil.

 O nascimento – É verdade que os dois evangelistas, Mateus e Lucas, afirmam claramente que Jesus nasceu em Belém. Mateus diz: "Quando Jesus nasceu em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes" (Mt 2,1). E Lucas escreve: "Quando eles (José e Maria) estavam ali (em Belém), ela deu à luz o seu filho primogênito" (Lc 2,6). Porém, os outros dois evangelistas, Marcos e João, apresentam Jesus como se tivesse nascido em Nazaré. Na verdade, Ele sempre foi chamado de "Jesus de Nazaré"; e sabemos que, na Bíblia, quando após o nome de uma pessoa é mencionada uma cidade, é porque se trata de seu local de nascimento. Assim, fala de Paulo de Tarso (Atos 9,1), José de Arimateia (Mc 15,43), Lázaro de Betânia (Jo 11,1), Simão de Cirene (Mt 27,32), Amós de Tecoa (Am 1,1) ou Miquéias de Morasti (Mq 1, 1). Qual seria então o local de nascimento de Jesus: Belém ou Nazaré? Vamos olhar mais de perto para as provas.

 Falam os evangelistas – Marcos sugere que Jesus nasceu em Nazaré: na narrativa do batismo, diz que Ele "veio de Nazaré da Galileia" (1,9), sem mencionar qualquer cidade. Quando Jesus vai a Nazaré, afirma que "ele foi para a sua pátria" (6,1) e “patris” (grego), significa "lugar de nascimento". Isto é confirmado pelo próprio Jesus, quando, em Nazaré, diante de escandalizados ouvintes de seus ensinamentos, exclama: "Um profeta só não é valorizado na sua própria pátria" (6,4). Além disso, todos o chamam de Jesus de Nazaré: o endemoninhado de Cafarnaum (1,24), o servo do Sumo Sacerdote (14,67), o anjo do túmulo (16,6), e até mesmo Marcos (10,47). O quarto evangelista, São João, também afirma que Jesus nasceu em Nazaré. Ele começa apresentando-o como "um profeta de Nazaré" (Jo 1,45). E todos estão tão convencidos que Jesus é de Nazaré, que Natanael não quer crer nele, dizendo: “pode sair algo bom de Nazaré?” (Jo 1,46).

 Evidências – Nos Evangelhos, o texto mais claro sobre o nascimento de Jesus está em Jo 7, 40-42. Em uma discussão, alguns judeus rejeitavam Jesus como o Messias por ter nascido em Nazaré e não em Belém. “O Cristo pode vir da Galileia? Não está na Escritura que o Cristo será da descendência de Davi e virá de Belém, o povoado de Davi?”. No Novo Testamento, portanto, as duas vezes em que se afirma que Jesus nasceu em Belém são as narrativas da infância, de Mateus e Lucas. Pelo contrário, em outras 20 passagens, os Evangelhos sugerem o nascimento em Nazaré.

 Razões – Quando Mateus e Lucas escreveram para os cristãos do judaísmo, havia a necessidade de apresentar Jesus como o verdadeiro Messias esperado por Israel, o descendente de David. Então, ambos os evangelistas, para expressar essa ideia, recorreram à narrativa teológica (e não histórica) do seu nascimento em Belém (Miq 5,1). Assim, Mateus apresentou o nascimento de Jesus em Belém porque sua família estava lá (Mt 2,11) e Lucas apresentou Jesus nascido em Belém em razão de um censo (Lc 2,1). João apresenta Jesus vindo dos céus, como Filho de Deus, ou seja, a sua terra natal não tinha nenhum interesse.

 Afinal, onde nasceu? – Muito provavelmente, Jesus nasceu em Nazaré, no ano 7 (ou 6) a.C., não no dia 25 e muito menos no mês de dezembro. Saber disso significa que deveríamos abandonar as tradições de Natal ou colocar de lado as canções que falam de Belém? Não mais montar os presépios e desistir das peregrinações à cidade de Belém, para visitar a gruta do nascimento? Claro que não. Dizer que Jesus nasceu em Belém continua a ser para nós, como foi para os primeiros cristãos, uma afirmação fundamental. Equivale a dizer que Deus, apesar de ser onipotente e poderoso, escolheu uma pequena cidade, preferiu optar pelo mais fraco, pelos humildes, pelos oprimidos e pela mansidão.

 Quer ler mais? – Se você gostou do assunto e quer receber um texto completo escrito pelo teólogo Ariel Valdes, solicite pelo E-mail abaixo (texto de 10 páginas em espanhol).

sábado, 11 de dezembro de 2021

Situação política na época do nascimento de Jesus

  


Palestina – Jesus nasceu e viveu na região da Palestina (hoje Israel).  Na época em que ele nasceu, a Palestina era dominada pelo Império Romano (desde o ano 31 a.C.), cujo imperador era Otávio Augusto.  Desde 37 a.C., a região formava um “reino cliente”, com alguma independência de Roma, sendo administrado pelo rei Herodes Magno (“O Grande”).

 Império Romano – Portanto, na época do nascimento de Jesus, mais da metade do mundo conhecido era dominada pelo Império Romano (toda a região do Mar Mediterrâneo, a Palestina, norte da África e Egito), sendo a Palestina um reino parcialmente independente, cedido pelo imperador romano a Herodes.  Nesta região viviam os judeus, um povo com língua (hebraico ou aramaico), religião e costumes próprios.

 Rei – Herodes (Magno) era um Idumeu (povo que havia invadido a Palestina e assumido a religião judaica, porém excluído pelos judeus), casado com Mariana (judia), com a qual teve dois filhos (Alexandre e Aristóbulo), além de outros filhos de casamentos anteriores. Administrativamente, Herodes era um político hábil: trouxe paz para a região, reconstruiu Jerusalém (com obras pagãs, como teatros e anfiteatros, inaceitáveis para os judeus), instituiu os jogos atléticos em homenagem ao imperador (os jovens competiam nus) e reconstruiu o templo dos judeus com o dobro do tamanho.

 Herodes – Era, porém, obcecado pelo poder. Para mantê-lo, tornou-se um tirano e criminoso: mandou matar dois cunhados, 45 aristocratas, os dois filhos que teve com Mariana (depois de deixá-los presos por um ano), mandou afogar seu cunhado no rio Jordão, mandou matar a sogra, mandou queimar vivos dois sábios; cinco dias antes de morrer (aos 70 anos) mandou matar seu filho Antipater.  Também é atribuída a Herodes a morte de sua mulher Mariana. Em 36 anos de reinado, não se passou um só dia sem execução de inocentes.  Enciumado com o nascimento de Jesus (Mt 2,1-12), mandou matar todos os meninos com menos de 2 anos, nascidos em Belém.

 Filhos – Herodes morreu entre março ou abril do ano -4 (aproximadamente dois anos após o nascimento de Jesus); seu reino foi dividido entre seus filhos: Herodes Antipas, que ficou com a Galileia e Pereia (norte); Herodes Filipe, que ficou com as cinco províncias ao leste do rio Jordão; Herodes Arquelau, ficou com a Judéia e Samaria (ao sul). Arquelau se mostrou mais tirano que o pai.  Nos primeiros dias de sua posse matou muitos judeus.  Num só dia foram mortas 3.000 pessoas.

 Arquelau – O Evangelho de Mateus deixa bem claro a situação de opressão do povo (Mt 2,16-23) por ocasião do nascimento do Messias: José, Maria e Jesus se refugiaram no Egito, com medo de Herodes e somente depois da morte dele é que retornaram para a Galileia, com medo de Arquelau (que reinava na Judéia e Samaria, apenas). Em razão de inúmeros protestos dos judeus, em 6 d.C., Arquelau foi destituído do cargo, pelo Imperador Otávio, passando a Judéia a ter administração direta de Roma, através de procuradores.  Trinta anos depois, Pôncio Pilatos se tornaria o mais famoso dos procuradores.

 Antipas – Herodes Antipas, muito ambicioso, casou-se com a filha do rei da Arábia, ao mesmo tempo em que conquistava a estima e confiança do imperador romano.  Numa viagem a Roma, hospedou-se na casa do irmão, Herodes Filipe, apaixonando-se por Herodíades, mulher do irmão.  Algum tempo depois, Herodíades foi morar na Palestina com Herodes Antipas e levou junto a sua filha Salomé.  A situação de adultério foi denunciada por João Batista, que foi decapitado por vingança de Herodíades.

 Como se vê, a plenitude dos tempos, ocasião escolhida por Deus para o nascimento de seu Filho, foi uma época sombria da história de judeus e pagãos. O que nos leva a refletir sobre uma frase de São Tomás de Aquino: “Deus não ama o homem porque o homem seja bom, mas o homem é bom porque Deus o ama”.

 

sábado, 27 de novembro de 2021

A história do Nascimento de Jesus

  


Ao iniciarmos a preparação para o Natal (advento), inúmeras vezes ouviremos falar de Maria Santíssima, nossa Mãe e Mãe da Igreja. Como os Evangelhos Canônicos trazem poucas informações sobre Maria e José, fomos buscar mais detalhes (histórias, nomes, datas, etc.) em outras fontes, como a tradição judaica, fontes históricas e textos apócrifos (Proto-evangelho de Tiago, a História de José o Carpinteiro). A Igreja Católica aceita alguns destes fatos na sua liturgia (os nomes dos pais de Maria, a cerimônia de apresentação de Maria no Templo, Imaculada Conceição, José idoso, o bastão de José) mesmo não constando nos Evangelhos.

 O pai de Maria Joaquim era um homem muito rico que vivia atormentado por não ter filhos. Para o povo hebreu era muito importante gerar descendentes. Estava tão angustiado que se retirou para o deserto e jejuou quarenta dias e quarenta noites para que suas preces fossem atendidas.

 A mãe de Maria – Ana era uma mulher que lamentava a sua esterilidade. Apresentou-se a ela um anjo de Deus dizendo que o Senhor ouviu seus pedidos e que ela daria à luz uma criança. A concepção imaculada de Maria é aceita pela Igreja Católica como dogma de fé (instituído pelo Papa Pio IX em 1854) e comemorada como a festa da Imaculada Conceição de Maria.

 Apresentação no Templo – Ana prometeu que entregaria seu filho (ou filha) como oferenda ao Senhor, para que ele servisse seu Deus todos os dias de sua vida. Nove meses depois, Ana deu à luz uma menina, dando-lhe o nome de Maria. Era, aproximadamente, o ano 20 a.C. Quando completou três anos, Maria foi conduzida ao templo e entregue ao sacerdote. Permaneceu lá até os doze anos, se ocupando com os afazeres diários do templo.

 Aos doze anos – Quando Maria completou doze anos (aprox. 9 a.C.), os sacerdotes se reuniram e deliberaram que o Sumo Sacerdote deveria decidir o destino de Maria. Este, orando no aposento chamado ‘santo dos santos’, indicou que fossem reunidos 12 viúvos (um de cada tribo de Israel). Cada viúvo deveria vir ao templo com um bastão e aquele que recebesse um sinal singular do Senhor seria o esposo de Maria.

 Os viúvos – José, atendendo o chamado do Sumo Sacerdote, se dirigiu de Belém ao templo, entregando o seu bastão. O Sumo Sacerdote, após orar, devolveu os bastões aos viúvos. Ao entregar o bastão a José, uma pomba passou a voar sobre sua cabeça, indicando que José deveria ser o esposo de Maria.

 Contestação – José replicou que já era velho e tinha filhos (Judas, Josetos, Tiago, Simão Lígia e Lídia), enquanto que Maria era uma menina; argumentando ainda que seria objeto de zombarias por parte do povo. O sacerdote convenceu-o, dizendo que deveria aceitar o casamento como desejo divino.

 A tradição da época – Na palestina não havia diferença entre noivado e casamento. Por isso que em Mt 1,18 nós encontramos que Maria estava desposada de José. Desposada quer dizer noiva. O noivado já tinha o valor de casamento; por isto, em Mt 1,19, José é chamado de esposo. A tradição mandava que após a festa de noivado, a noiva (ou esposa) continuava na casa de seus pais, e o noivo (esposo) ia construir a casa. Pronta a casa, o noivo ia buscar a noiva, geralmente em procissão luminosa, da qual participavam também outras moças do lugar (veja a parábola das dez virgens em Mt 25, 1-13).

 José e Maria Como Maria vivia no templo (e não na casa dos seus pais), José levou-a para sua casa e saiu em viagem de trabalho com os dois filhos maiores. José era carpinteiro e trabalhava na construção de casas. Maria cuidou do pequeno Tiago (filho de José) com carinho e dedicação. Maria viveu como noiva de José perto de dois anos.

 Um certo anjo ... – Um certo dia, no início do ano 7 a.C., Maria pegou um cântaro e foi enchê-lo de água. Mas eis que ouviu uma voz que lhe dizia: "Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo ..." Bem, mas este é assunto para a próxima semana.

 GOSTOU DO ASSUNTO? – Se você quer ler mais sobre o assunto, podemos lhe oferecer os Evangelhos apócrifos citados (Protoevangelho de Tiago, a História de José) e a Cronologia da vida de Jesus. Solicite por E-mail.

 

sábado, 20 de novembro de 2021

“Tu és Rei?”

  


O Evangelho da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 18,33-37), Rei do Universo, apresenta-nos uma cena do processo de Jesus diante de Poncio Pilatos, o governador romano da Judéia. Estamos na manhã do dia 7 de abril do ano 30. Naquela sexta-feira, Jesus já havia sido preso, levado à casa de Anás, julgado pelo Sinédrio e agora estava diante de Pilatos. Cabe lembrar que o Sumo Sacerdote era Caifás; Anás, sogro de Caifás, apesar de ter deixado o cargo de Sumo Sacerdote, continuava a ser um personagem muito influente e foi ele, provavelmente, quem liderou o processo contra Jesus.

 Pilatos – Poncio Pilatos, o interlocutor romano de Jesus, governou a Judéia e a Samaria entre os anos 26 e 36. As informações do historiador Flávio Josefo e de Fílon o descrevem como um governante duro e violento, obstinado e áspero, culpado de ordenar execuções de opositores sem um processo legal. As queixas de crueldade apresentadas contra ele pelos samaritanos, no ano 35, levaram Vitélio, o representante romano na Síria, a tomar a decisão de enviá-lo a Roma, para se explicar diante do imperador. Pilatos foi deposto do seu cargo de governador da Judéia no ano 36.

 Rei? – O interrogatório de Jesus começa com uma pergunta direta de Pilatos: “Tu és o Rei dos judeus?”. Essa interrogação já revela qual era a acusação apresentada pelas autoridades judaicas contra Jesus: a de que Ele tinha pretensões de ser o Salvador prometido, que pretendia restaurar o reino de David e libertar Israel dos opressores. Esse tipo de acusação fazia de Jesus um agitador político, empenhado em mudar o mundo pela força, pelo poder das armas. Esta acusação tem fundamento? Jesus aceita-a?

 Messias – A resposta de Jesus coloca as coisas nos devidos lugares. Ele assume-se como o Messias que Israel esperava e confirma, claramente, a sua qualidade de rei; no entanto, descarta qualquer semelhança com os reis que Pilatos conhece. Os reis deste mundo apóiam-se na força das armas e impõem aos outros homens o seu domínio e a sua autoridade; a sua realeza baseia-se na prepotência e na ambição e gera opressão, injustiça e sofrimento… Jesus, ao contrário, é um prisioneiro indefeso, traído pelos amigos, ridicularizado pelos líderes judaicos, abandonado pelo povo; não se impõe pela força, mas veio ao encontro dos homens para servi-los; não cultiva os próprios interesses, mas obedece em tudo à vontade de Deus, seu Pai; não está interessado em afirmar o seu poder, mas em amar os homens até ao dom da própria vida… A sua realeza é de outra ordem, da ordem de Deus.

 Testemunho – A realeza de que Jesus Se considera investido por Deus consiste em “dar testemunho da verdade”. Para o autor do Quarto Evangelho, a “verdade” é a realidade de Deus. Essa “verdade” manifesta-se nos gestos de Jesus, nas suas palavras, nas suas atitudes e, de forma especial, no seu amor vivido até ao extremo, com a doação da vida.

 Verdade – A “verdade” (isto é, a realidade de Deus) é o amor incondicional e sem medida que Deus derrama sobre o homem, a fim de fazê-lo chegar à vida verdadeira e definitiva. Essa “verdade” opõe-se à “mentira”, que é o egoísmo, o pecado, a opressão, a injustiça, tudo aquilo que desfigura a vida do homem e o impede de alcançar a vida plena. A “realeza” de Jesus concretiza-se, por um lado, na luta contra o egoísmo e o pecado que escravizam o homem e que o impedem de ser livre e feliz; por outro lado, a realeza de Jesus se realiza na proposta de uma vida feita amor e entrega a Deus e aos irmãos. Esta meta não se alcança pela lógica do poder e da força, mas pelo amor, pela partilha, pelo serviço simples e humilde em favor dos irmãos. É esse “reino” que Jesus veio propor; é a esse “reino” que Ele preside.

 Renúncia – A proposta de Jesus provoca uma resposta livre do homem. Quem escuta a voz de Jesus adere ao seu projeto e se compromete a segui-lO, renuncia ao egoísmo e ao pecado e faz da sua vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. Passa, então, a integrar a comunidade do “Reino de Deus”.

 

sábado, 13 de novembro de 2021

“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”

  


Estamos no penúltimo domingo do Ano Litúrgico. A Liturgia nos fala do fim do mundo e da sua história. É um convite à ESPERANÇA: O Deus Libertador vai mudar a noite do mundo numa aurora de vida sem fim. As Leituras bíblicas, numa linguagem apocalíptica, nos estimulam a descobrir, os sinais desse mundo novo, que está nascendo das cinzas do reino do mal.

 Apocalipse de Daniel – Na 1ª leitura, encontramos o Apocalipse de Daniel (Dn 12,1-3). O Povo judeu se encontrava oprimido sob a dominação dos gregos. Muitos judeus, apavorados pela perseguição, abandonavam até a fé… Deus enviou o seu anjo Miguel como defensor dos que se mantiveram fiéis no caminho de Deus. O objetivo deste livro era animar o povo a resistir diante dos opressores e lembrar que a vitória final será dos justos que perseverarem fiéis... É a primeira profissão de fé na RESSURREIÇÃO, que se encontra na Bíblia. Esse texto está em conexão com o evangelho, que nos fala da segunda vinda de Cristo e prefigura a vinda de Cristo libertador.

 Apocalipse de Marcos – No trecho do Evangelho, (Mc 13, 24-32), na época em que foi escrito por Marcos, as comunidades cristãs estavam agitadas e assustadas por causa de guerras e calamidades, como a destruição do templo, no ano 70 d.C. Para tranquilizar os cristãos, o autor também usa a linguagem apocalíptica, descrevendo a catástrofe do Sol e das estrelas e o aparecimento do Filho do Homem sobre as nuvens para julgar os bons e os maus. Esse "Discurso escatológico" de Cristo é o último antes da Paixão. Jesus anuncia a destruição de Jerusalém e o começo de uma nova era, com a sua vinda gloriosa após a ressurreição.

 Fim do mundo? – Não é uma reportagem, mas uma CATEQUESE sobre o fim dos tempos. A intenção não era assustar, mas conduzir a comunidade a discernir os fatos catastróficos e o futuro da comunidade cristã dentro da História. Não deviam dar ouvidos a pessoas que anunciavam o fim do mundo, pelo contrário, precisavam entender como o início de um mundo novo, vendo nos sofrimentos sinais de vida: como dores de parto, que prenunciavam o nascimento de uma nova vida…

 Quando vai acontecer isso? – A resposta para a ocasião em que os fatos ocorrerão é dada através da imagem da figueira: quando começa a brotar, o agricultor sabe que está chegando o verão e se alegra porque se aproxima a época da colheita. Quanto ao dia e hora, só o Pai sabe, mais ninguém... Para nós, o mais importante não é saber quando isso irá acontecer, mas sim estar vigilantes e preparados para ele.

 E as sombras que vemos no Mundo de hoje? – O desabamento de tantas certezas, que julgávamos indestrutíveis, o desaparecimento de pessoas que julgávamos insubstituíveis, o abandono de certas práticas religiosas que pareciam indispensáveis, o esquecimento de tantos valores éticos e morais que tanto apreciamos... O abandono da fé de tantas pessoas, que julgávamos fervorosas... A violência, a corrupção, a opressão andam soltas...   Como devemos ver tudo isso? Será o fim do mundo?

 Mundo novo – A Palavra de Deus reafirma que Deus não abandona a humanidade e está determinado a transformar o mundo velho do egoísmo e do pecado num mundo novo, de vida e de felicidade para todos os homens. A humanidade não caminha para a destruição, para o nada: caminha ao encontro da vida plena, ao encontro de um mundo novo. Nós cristãos devemos ver a vida presente em estado de gestação, como germe de uma vida, cuja plenitude final só alcançaremos em Deus. Esse mundo sonhado por Deus é uma realidade escatológica.

 Novo dia – Desde já um novo dia está surgindo, por isso, devemos ser para os nossos contemporâneos sinais de esperança dessa realidade: gente de fé, com uma visão otimista da vida e da história, que caminha, alegre e confiante, ao encontro desse mundo novo que Deus nos prometeu. O Senhor não nos abandona em nossa caminhada: Ele vem sempre ao nosso encontro para nos indicar o caminho. Da nossa parte, devemos estar atentos aos sinais de Deus, confiantes nas palavras de Cristo, que nos garante: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão".

sábado, 6 de novembro de 2021

Quem são os santos

 


Neste domingo a Igreja comemora a Solenidade de Todos os Santos. Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia do Vaticano, sobre a liturgia de hoje.

 Comunicação – Faz tempo que os cientistas enviam sinais ao cosmos em espera de respostas por parte de seres inteligentes em algum planeta perdido. A Igreja desde sempre mantém um diálogo com os habitantes de outro mundo: os santos. É o que proclamamos ao dizer: “Creio na comunhão dos santos”. Ainda que existissem habitantes fora do sistema solar, a comunicação com eles seria impossível, porque entre a pergunta e a resposta passariam milhões de anos. Aqui, ao contrário, a resposta é imediata, porque existe um centro de comunicação e de encontro comum que é Cristo Ressuscitado.

 Embrião – Talvez também pelo momento do ano em que cai, a Solenidade de Todos os Santos tem algo especial que explica sua popularidade e as numerosas tradições ligadas a ela em alguns setores da cristandade. O motivo está no que diz João na segunda leitura. Nesta vida, “somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que seremos”; somos como o embrião no seio da mãe que anseia nascer. Os santos “nasceram” (a liturgia chama “dia do nascimento”, dies natalis, no dia de sua morte); contemplá-los é contemplar nosso destino. Enquanto ao nosso redor a natureza se desnuda e caem as folhas, a festa de todos os santos nos convida a olhar para o alto; e nos recorda que não estamos destinados a ficar na terra para sempre, como as folhas.

 Santos – A passagem do Evangelho é a das bem-aventuranças. Uma bem-aventurança em particular inspirou a escolha da passagem: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. Os santos são aqueles que tiveram fome e sede de justiça, isto é, na linguagem bíblica, de santidade. Não se resignaram à mediocridade, não se contentaram com meias palavras.

 Unidos ou separados? – A primeira leitura da Solenidade nos ajuda a entender quem são os santos. São “os que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro”. A santidade se recebe de Cristo; não é uma produção própria. No Antigo Testamento, ser santos queria dizer “estar separado” de tudo o que é impuro; na acepção cristã, quer dizer o contrário, ou seja, “estar unidos”, mas a Cristo.

 Santos leigos – Os santos, isto é, os salvos, não são apenas os que o calendário ou o santoral enumeram. Existem os “santos desconhecidos”: que arriscaram suas vidas pelos irmãos, os mártires da justiça e da liberdade, ou do dever, os “santos leigos”, como alguém os chamou. Sem saber, também suas vestes foram lavadas no sangue do Cordeiro, se viveram segundo a consciência e lhes importou o bem dos irmãos.

 Louvor – Surge espontaneamente uma pergunta: o que os santos fazem no paraíso? A resposta está, também aqui, na primeira leitura: os salvos adoram, deixam suas coroas ante o trono, exclamando: “Louvor, honra, bênção, ação de graças...”. Realiza-se neles a verdadeira vocação humana, que é a de ser “louvor da glória de Deus” (Ef 1, 14). Seu coro é guiado por Maria, que no céu continua seu canto de louvor: “Minha alma proclama a grandeza do Senhor”. É neste louvor que os santos encontram sua bem-aventurança e seu gozo: “Meu espírito se alegra em Deus”. O homem é aquilo que ama e aquilo que admira. Amando e louvando a Deus, ele se une Deus, participa de sua glória e de sua própria felicidade.

 Paraíso – Um dia, um santo, São Simeão, o Novo Teólogo, teve uma experiência mística de Deus tão forte que exclamou para si: “Se o paraíso não for mais que isso, já me basta!”. Mas a voz de Cristo lhe disse: “És bem mesquinho se te contentas com isso. O gozo que experimentaste em comparação com o do paraíso é como um céu pintado no papel com relação ao verdadeiro céu”.

sábado, 30 de outubro de 2021

A COMUNHÃO DOS SANTOS

  


Muitas pessoas perguntam a razão dos Católicos pedirem ajuda aos santos (em vez de recorrer a Cristo), como se eles pudessem nos salvar. As razões são concretas, muito mais do que os críticos possam pensar.

 Graça – É claro que só Cristo nos salva, como ensina a Bíblia. Mas, também para a Igreja católica, não são os santos que nos concedem as graças que pedimos a eles. Por isso dizemos: Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores. Quando reza aos santos e santas, a Igreja usa sempre a fórmula: rogai por nós. Quer dizer: pede que eles roguem por nós a Deus, para que Ele nos conceda a graça que precisamos. Ao contrário, quando se dirige a Cristo, a Igreja diz: Senhor, tende piedade de nós, como fez o cego do Evangelho; porque Cristo, o Filho de Deus, recebeu do Pai o poder de dar a vida e a salvação a toda a humanidade.

 Orações – Portanto, quando rezamos a um santo, não o colocamos no lugar de Jesus Cristo, como se ele fosse divino e tivesse o poder de nos salvar. Pedimos só que eles orem por nós a Deus. E isso não é absolutamente contra a Bíblia. As cartas de Paulo contêm muitas preces que faz pelos cristãos das Igrejas que tinha fundado (Col 1, 9; 4,3). Também Tiago (5, 16), pede que os cristãos orem uns pelos outros e cita o caso de Elias, que orou fervorosamente e obteve um milagre de Deus. Estes exemplos mostram que é próprio dos cristãos rezar uns pelos outros e pedi-las àqueles que estão mais perto de Deus, pela sua vida santa. Portanto, quando desejamos alcançar uma graça, podemos dirigir-nos diretamente ao Pai; mas também, podemos pedir a outros que intercedam por nós com suas orações.

 Santos – Mas, se recorremos à intercessão de nossos irmãos e irmãs aqui na Terra, com muito maior razão rezamos aos santos, para que obtenham de Deus as graças que precisamos. Durante a sua vida, eles foram amigos de Cristo e, agora, que vivem na sua companhia, não desejam senão ajudar-nos, rogando por nós. Assim, orando aos santos, não nos esquecemos de Cristo; ao contrário, reconhecemos que é Dele que os santos recebem toda sua santidade e poder.

 Comunhão – Nós, católicos, cremos na "comunhão dos santos", como dizemos no "Credo". A palavra "santos" significa aqui todos os que acreditam em Jesus Cristo e são santificados pelo Espírito Santo que receberam no Batismo. A comunhão dos santos é a própria Igreja, família de Deus, formada por todos os fiéis de Cristo. Por meio da oração podemos comunicar-nos também com os que morreram em paz com Deus. Por um lado, podemos ajudar os que ainda não estão completamente purificados de seus pecados, a alcançar a alegria eterna. Nossa prece, unida à prece de Jesus, especialmente o oferecimento da Missa, é escutada por Deus e apressa a sua purificação. Por outro, podemos também pedir a ajuda dos santos que já gozam da presença de Deus e estão prontos a interceder por nós. Eles escutam a nossa oração e obtêm do Pai comum, por meio do único mediador Jesus Cristo, as graças que pedimos.

 Confiança e entrega – Trata-se, portanto, de uma unidade espiritual, na base da fé, da esperança e do amor e não de uma tentativa vã de conhecer o futuro ou saber a sorte de entes queridos. A Igreja condena as tentativas de “comunicar-se” com os espíritos dos mortos. Não é através de vozes do além nem de predições sobre o futuro, mas da entrega cheia de esperança nas mãos de Deus que encontraremos a verdadeira paz. Na medida em que estamos unidos com Deus no mesmo Espírito de Jesus, os cristãos podem unir-se à Igreja Triunfante, desejando e fazendo o bem uns aos outros pela bondade e poder do próprio Deus.

sábado, 23 de outubro de 2021

JESUS CRISTO ERA SACERDOTE?

 

Na segunda leitura da missa deste domingo continuaremos a ler a Carta aos Hebreus. Nesta Carta, o tema mais enfatizado é a proclamação de Jesus como sacerdote, pois este reconhecimento era essencial para proclamar Jesus como o Messias, o Cristo ungido de Deus.


Messias – Nos primeiros séculos, uma das dificuldades do cristianismo era provar aos judeus que Jesus era o Messias, o Cristo esperado pelos judeus. Conforme o Antigo Testamento, este personagem deveria ter três características prometidas por Deus para o final dos tempos: um profeta, um rei e um sacerdote. Para Jesus ser o Messias, ele deveria ter as três qualidades.

 

Profeta, rei, sacerdote – A vinda de um profeta no final dos tempos foi comunicada por Deus a Moisés no livro do Deuteronômio (18,18): “Suscitarei um profeta como tu entre teus irmãos”. A promessa de um rei está no 2º Livro de Samuel (7,12), onde Deus diz a Davi: “Quando tu morreres eu mandarei um descendente teu e manterei o seu trono para sempre”. Finalmente, a promessa de um futuro sacerdote santo foi para Eli: “Mandarei um sacerdote fiel, que atue segundo a minha vontade” (1Sam 2, 35).

 

Jesus: Profeta e Rei – Cristo foi reconhecido como “profeta” (Mc 9,8), como “grande profeta” (Lc 7,16) e como “o profeta” (Jo 6,14). Também foi reconhecido como “rei” (Mt 21,9), como “o rei que vem em nome do Senhor” (Lc 19,38), como “o rei de Israel” (Jo 12,13).  O próprio Pedro reconhece Jesus como o profeta prometido (Hb 3,22) e como rei esperado (Hb 2,36).

 

Jesus Sacerdote – Porém jamais, em nenhuma ocasião, Jesus foi reconhecido como sacerdote. Isto por uma clara razão: para ser sacerdote ele deveria pertencer a tribo de Levi, e Jesus pertencia à tribo de Judá. Portanto, para os judeus, Jesus era um leigo. Explicando melhor: Quando os Hebreus chegaram à Terra Prometida, se dividiram em 12 tribos. Só poderiam ser sacerdotes os descendentes da tribo de Levi (chamados levitas). Jesus pertencia à tribo de Judá, portanto nunca poderia ser aceito como sacerdote.

 

Solução – Por volta do ano 80 d.C. apareceu na cidade de Roma um personagem de grande cultura e grande conhecimento da língua grega. Este autor, que para nós permanece anônimo, escreveu a Carta aos Hebreus, esclarecendo que Jesus poderia ser sacerdote. Na Carta ele desenvolve o seguinte raciocínio: interpretando o Salmo 110 (vers. 4), em que Deus diz “tu és sacerdote para sempre, segundo a Ordem de Melquisedec”, ele afirma que Deus criou uma nova ordem de sacerdotes, distinta da ordem dos levitas. Jesus Cristo desceu dos céus para ser o sumo sacerdote desta nova ordem.

 

Quem era? – Melquisedec é proclamado como “rei de Salém” e “sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14). Foi ao encontro de Abrão, abençoou-o, entregando-lhe pão e vinho. Trata-se de um personagem estranho, pois o texto não indica as suas origens nem a sua ordem sacerdotal.

 

Nova ordem – Portanto Cristo é o primeiro sacerdote, protagonista e iniciador de uma nova ordem de sacerdotes. Pela interpretação do Salmo (110, 4) e da Carta aos Hebreus a Igreja Católica proclama Jesus como “sacerdote para sempre, segundo a Ordem de Melquisedec”.

 

VOCÊ GOSTOU DO ASSUNTO E QUER SABER MAIS? Se você se interessou pelo assunto, podemos lhe oferecer um texto de 12 páginas (em espanhol), escrito pelo teólogo Ariel Valdés, com detalhes sobre o assunto. Solicite por E-mail.

sábado, 16 de outubro de 2021

A ambição pelo poder

  


Evangelho – No Evangelho deste domingo (Mc 10,35-45), Jesus é procurado pelos apóstolos Tiago e João (filhos de Zebedeu) que lhe pedem uma posição de destaque no Reino de Deus: “Deixai-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!" (v. 37). Jesus responde que não depende dele conceder o lugar à direita ou à esquerda; estes lugares pertencem àqueles a quem foi reservado. Os outros dez apóstolos, ao ouvirem o pedido, se revoltam contra Tiago e João.

 Situação – No esquema do evangelho de Marcos, o texto situa-se quase no fim da caminhada de Jesus com os seus discípulos para Jerusalém, o lugar do desfecho de toda a sua missão. Pela terceira vez, ele tem dado aos seus mais íntimos colaboradores o anúncio sobre a sua paixão de morte: “Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue aos chefes dos sacerdotes e aos doutores da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. Vão caçoar dele, cuspir nele, vão torturá-lo e matá-lo (v.33).

 Cegos – De novo, a afirmação deixa mais do que claro o que significa ser o Messias de Deus. Mas, não surte efeito: os discípulos, cegos pela ideologia dominante, são incapazes de entender o sentido da vida de Jesus e, por conseguinte, o sentido de ser discípulo dele. Como Pedro, depois do primeiro anúncio e todos os Doze, depois do segundo, João e Tiago conseguem resistir o ensinamento de Jesus numa tentativa de impor seus próprios interesses.

 O poder – Apesar de ouvirem que Jesus veio para dar a sua vida em serviço de todos, os irmãos pedem os primeiros lugares quando Jesus entrasse na sua glória. O desejo de dominar estava muito enraizado neles. É tão gritante o descompasso entre o ensinamento de Jesus e os desejos dos dois irmãos, que Mateus, relatando a mesma historia, suaviza o texto de Marcos, fazendo com que a mãe deles fizesse o pedido! (Mt 20,20). A queixa de Deus no Antigo Testamento, de que o seu povo era um povo “cabeça dura”, se atualiza nos Doze!!

Os outros – Mas não podemos pensar que só os dois filhos de Zebedeu sentiram o gosto pela dominação. É interessante notar a reação dos outros dez diante do pedido feito: “Quando os outros dez discípulos ouviram isso, começaram a ficar com raiva de Tiago e João” (v. 41). Porque ficaram com raiva? Não porque achavam sem sentido o pedido dos dois, mas porque, no fundo, cada um deles queria ter o lugar de honra e poder!! O vírus de dominação é mais do que contagioso!

 Servir – Mais uma vez, Jesus demonstra paciência histórica com os seus seguidores. Contrasta o sistema de organização da sociedade com aquele que queria para a comunidade dos seus discípulos: “Não deve ser assim entre vós: Quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos” (v. 43-44). Deixa bem claro o motivo – não por causa de uma humildade qualquer, mas porque ele nos deu o exemplo: “porque o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (v.45). Ser discípulo de Jesus é ter o mesmo ideal, a mesma prática do que ele!

Hoje – O texto torna-se muito atual para os dias de hoje. Infelizmente o contraste feito por Jesus entre os seus seguidores e o sistema da sociedade secular nem sempre se verifica. Ninguém pode se achar imune diante desta tentação, pois está bem enraizada dentro de todos nós. Somente uma mística bem cultivada do seguimento de Jesus, fundamentada na Palavra da Escritura, poderá nos ajudar para que realmente construamos uma Igreja onde se demonstra que “entre vocês não deve ser assim”.

sábado, 2 de outubro de 2021

Judeus usam a ‘pegadinha’ do divórcio

 

O texto do Evangelho das missas deste domingo (Mc 10,2-16) acontece durante a última viagem de Jesus a Jerusalém. Estamos em fevereiro do ano 30. Em pouco mais de um mês, Jesus será preso, condenado e crucificado. Alguns fariseus, tentando obter uma prova para condenar Jesus, perguntam: “Um homem pode mandar a sua esposa embora?”

 Fariseus – Neste trecho do Evangelho de Marcos, os fariseus se encontram com Jesus e tentam colocá-lo à prova com a pergunta: “Pode um homem repudiar a sua mulher?” (Mc 10, 2). Cabe lembrar que Jesus e seus discípulos estavam em território da Peréia (transjordânico), governado por Herodes Antipas. Foi nessa mesma região que João Batista foi preso e degolado, por denunciar o divórcio ilegal e o casamento ilícito de Herodes Antipas com sua cunhada Herodiades. Os fariseus instigavam Jesus a ter a mesma atitude de João, pensando que com isso Ele teria o mesmo destino. O que os fariseus queriam era que Jesus se tornasse intolerável política e religiosamente.

 Judaísmo – No judaísmo, duas correntes de opiniões se contrapunham: para uma delas (escola de Hillel, mais liberal), era lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo (até se “o feijão queimasse”), e a decisão do marido era soberana, conforme o seu julgamento ou vontade; para a outra (escola de Shammai, mais conservadora), ao contrário, era preciso um motivo grave, previsto pela Lei.

 Resposta – Os fariseus submeteram esta questão a Jesus, esperando que adotasse uma postura a favor de uma ou outra tese. Mas, receberam uma resposta que não esperavam: “Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento.  Mas, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e os dois serão uma só carne. Portanto, eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar”.

 Moisés – A lei de Moisés sobre o repúdio é vista por Cristo como algo não desejado, mas tolerado por Deus por causa da dureza de coração e da imaturidade humana. Jesus não critica Moisés pela concessão feita; reconhece que, nesta matéria, o legislador humano não pode deixar de levar em conta a realidade. Mas, volta a propor a todos o ideal originário da união indissolúvel entre o homem e a mulher (uma só carne) que, ao menos para seus discípulos, deverá ser a única forma possível de matrimônio.

sábado, 25 de setembro de 2021

MATEUS: O COBRADOR DE IMPOSTOS

  


No dia 21 de setembro, a Igreja comemora São Mateus, Evangelista, também chamado de Levi e apóstolo de Jesus.

 Impostos – No Império Romano, os impostos eram cobrados em todas as províncias, pois era necessário pagar as contas do imperador e manter o Império. Basicamente, dois tipos de impostos eram cobrados: sobre as propriedades (terras e prédios), arrecadado do povo em recenseamentos e o imposto sobre a circulação de mercadorias, arrecadado em pedágios.

 Cobradores – Para coletar os impostos das províncias, o Império Romano dispunha pessoas nativas de cada lugar encarregadas de recolher as taxas de impostos que o povo devia pagar ao Imperador. Elas eram chamadas de coletores de impostos ou publicanos. Na época de Jesus, esse era um dos trabalhos mais indignos de serem feitos. Afinal, um judeu que cobrasse impostos de seu próprio povo para ajudar o Império Romano era visto como o mais sujo entre a população.

 Terceirização – Os cobradores de impostos auferiam lucros cobrando um imposto mais alto do que a lei permitia. Os coletores licenciados pelo Império contratavam oficiais de menor categoria, chamados de publicanos, para efetuar o verdadeiro trabalho de coletar. Os publicanos recebiam seus próprios salários cobrando uma fração a mais do que seu empregador exigia. Os Evangelhos citam Zaqueu como chefe dos coletores (Lc 19,2) e o apóstolo Mateus como publicano (Mc 2,13-14).

 Pedágio – O discípulo Mateus era um desses publicanos; ele coletava pedágio na estrada entre Damasco e Aco; sua tenda estava localizada fora da cidade de Cafarnaum, o que lhe dava a oportunidade de, também, cobrar impostos dos pescadores. Normalmente um publicano cobrava 5% do preço da compra de artigos normais de comércio, e até 12,5% sobre artigos de luxo. Mateus cobrava impostos também dos pescadores que trabalhavam no mar da Galiléia e dos barqueiros que traziam suas mercadorias das cidades situadas no outro lado do lago.

 Impuro – Os judeus consideravam impuro o dinheiro dos cobradores de impostos, por isso nunca pediam troco. Para agravar a situação, os judeus eram proibidos por lei divina de tocarem as moedas do Império Romano, pois traziam a esfinge do imperador. Por consequência, os cobradores de impostos, que as manuseavam com frequência, eram considerados pecadores públicos, impuros e mal vistos. Não era permitido aos publicanos prestar depoimento no tribunal, e não podiam pagar o dízimo de seu dinheiro ao Templo. Os fariseus, muito ciosos da sua santidade, mudavam de passeio público, quando viam um publicano, na rua, vir ao seu encontro. Eles evitavam até que a sombra do publicano passasse sobre eles. Eram, portanto, gente desclassificada (apesar de rica), impura, considerada amaldiçoada por Deus e, portanto, completamente à margem da salvação.

 Um Publicano Apóstolo? – Vejam a situação extraordinária criada por Jesus: Ele não só chama um publicano para o seu grupo de discípulos, como também aceita sentar-se à mesa com ele (estabelecendo, assim, laços de familiaridade, de fraternidade, de comunhão). O comportamento de Jesus não é só ofensivo à moral e aos bons costumes, mas uma verdadeira provocação. Jesus reúne num mesmo grupo várias classes sociais: pescadores (Pedro, Tiago, João, André), nacionalistas (Simão), publicanos, etc.

 Mateus – O relato da vocação de Mateus é semelhante ao chamamento de outros apóstolos (Mt 4,18-22): são homens que estão trabalhando, a quem Jesus chama e que, deixando tudo, seguem Jesus. No entanto, um dado novo em relação a outros relatos de vocação: Jesus demonstra que, no “Reino”, há lugar para todos, mesmo para aqueles que o mundo considera desclassificados e marginais. Deus tem uma proposta de salvação para apresentar a todos os homens, sem exceção; e essa proposta não distingue entre bons e maus: é uma proposta que se destina a todos aqueles que estiverem interessados em acolhê-la.

sábado, 18 de setembro de 2021

JESUS X NIETZSCHE

  


No Evangelho deste domingo (Marcos 9, 30-37), Jesus termina a sua viagem pela Galiléia e chega a Cafarnaum. Estamos em agosto do ano 29. Jesus estava chegando de uma longa viagem de vários meses: saiu da região das cidades de Tiro e Sidom, atravessou a Fenícia, passou próximo da cidade de Cesaréia de Felipe e, finalmente, chegou a Cafarnaum.

 Primeiro e último – Sabendo o que os discípulos haviam discutido durante a viagem, Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: "Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!" Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles e, abraçando-a, disse: "Quem acolher, em meu nome, uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher está acolhendo não a mim, mas àquele que me enviou".

 Uma questão – Será que, com estas palavras, Jesus condena o desejo de sobressair, de fazer grandes coisas na vida, de dar o melhor de si, e privilegia, ao contrário, a apatia, o espírito de abandono, os negligentes?

 Nietzsche – Assim pensava o filósofo Nietzsche (Friedrich Nietzsche, filósofo alemão que viveu entre 1844 e 1900), que se sentiu no dever de combater ferozmente o cristianismo por ter (em sua opinião) introduzido, no mundo, o “câncer” da humildade e da renúncia. Em sua obra “Assim falou Zaratustra”, ele opõe a este valor evangélico o da “vontade de poder”, encarnado pelo “super-homem”, o homem da “grande saúde”, que quer levantar-se, não se abaixar.

 Ser o primeiro – Pode ser que os cristãos, às vezes, tenham interpretado mal o pensamento de Jesus e tenham dado ocasião a este mal-entendido. Mas, certamente, não é isso o que o Evangelho quer nos dizer. “Se alguém quiser ser o primeiro...” indica que é possível querer ser o primeiro, não está proibido, não é pecado. Jesus não só não proíbe o desejo de querer ser o primeiro, mas, o estimula.

 Ser o último – Só que revela uma via nova e diferente para realizá-lo: não à custa dos outros, mas a favor dos outros. De fato, acrescenta: “... seja o último de todos e o servidor de todos”. Mas, quais são os frutos de uma ou outra forma de sobressair? A ânsia de poder conduz a uma situação na qual a pessoa se impõe e os outros servem; e a pessoa é “feliz”, enquanto os outros são infelizes; só se sente vencedor com todos os outros derrotados e se domina, com os outros dominados.

 Guerras? – Sabemos os resultados alcançados com o “ideal do super-homem” alardeado por Hitler. Aliás, não se trata só do nazismo: quase todos os males da humanidade provêm dessa raiz. Na segunda leitura deste domingo, Tiago propõe a angustiosa e perene pergunta: “De onde procedem as guerras?”. Jesus, no Evangelho, nos dá a resposta: do desejo de dominar! Domínio de um povo sobre outro, de uma raça sobre outra, de um partido sobre os outros, de um sexo sobre o outro, de uma religião sobre a outra...

 Serviço – No serviço, ao contrário, todos se beneficiam da grandeza das pessoas. Quem é grande no serviço, se torna grande e torna os outros grandes também; mais que elevar-se acima dos outros, eleva os demais consigo. É o caso de Madre Teresa de Calcutá, Raoul Follereau e todos os que diariamente servem à causa dos pobres e dos feridos das guerras, frequentemente arriscando sua própria vida.

 QUER LER MAIS – Se você gostou do assunto e que saber mais, podemos lhe oferecer o livro “Assim falou Zaratustra” (351 pág. em português), escrito por Nietzsche em 1883. Solicite por E-mail.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

A FÉ SEM OBRAS É MORTA

Nas missas deste domingo será lida a Carta de Tiago (Tg 2,14-18), na qual o autor discorre sobre fé e obras. No versículo 17, o autor escreve: “a fé sem obras está completamente morta”. Esta é uma das questões que motivou a Reforma Protestante. A salvação se dá somente pela fé ou pela fé mais as obras? Sou salvo apenas por crer em Jesus ou tenho que crer em Jesus e fazer certas coisas?

 

A Carta de Tiago – Trata-se de uma carta enviada aos cristãos de origem judaica, dispersos no mundo greco-romano, sobretudo nas regiões próximas da Palestina – como a Síria, o Egipto ou a Ásia Menor. O objetivo fundamental do autor é exortar os crentes para que não percam os valores cristãos autênticos, herdados do judaísmo através dos ensinamentos de Cristo.

 

A Fé – Segundo o autor do texto, a fé se expressa, não através de ritos formais ou de palavras ocas, mas através de ações concretas em favor do homem (Tg 2,14-26). No geral, este capítulo convida os crentes a assumirem uma fé operativa, que se traduza num compromisso social e comunitário.

 

Paulo X Tiago (1º round) – A questão da fé somente ou fé mais as obras se faz delicada, por causa de algumas passagens bíblicas de difícil interpretação. Comparando-se a Carta de São Paulo aos Romanos (Rom 3,28 e 5,1) e aos Gálatas (Gal 3,28) com a Carta de Tiago (Tg 2,17), notamos uma diferença conceitual: enquanto Paulo garante que “é pela fé que o homem é justificado, independentemente das obras”, Tiago afirma que “a fé sem obras não serve para nada”.

 

Paulo X Tiago (2º round) e a Reforma de Lutero – A questão existente entre a fé e as obras foi objeto de muitas discussões, sobretudo a partir do séc. XVI. A afirmação de Paulo, na Carta aos Romanos, foi usada por Lutero para fundamentar a sua teologia da salvação pela fé: a salvação não depende das ações do homem, mas é um dom gratuito e imerecido que Deus, na sua infinita misericórdia, oferece ao homem.

 

Paulo X Tiago (3º round) – Este aparente problema é resolvido quando se examina o que diz Tiago: nega a crença de que a pessoa possa ter fé sem produzir quaisquer boas obras (Tg 2,17-18). Tiago está enfatizando o argumento de que a fé genuína em Cristo produzirá uma vida transformada e boas obras (Tg 2,20-26). O que o autor quer dizer é que a fé tem de traduzir-se em ações concretas de compromisso com o mundo e com os homens. Se isso não acontecer, essa fé é apenas uma declaração de boas intenções, mas que não passa de uma farsa sem valor e sem conteúdo.

 

Adesão – A adesão a Jesus e ao seu projeto significa que o homem está disposto a acolher essa vida nova e plena que Deus, gratuitamente e sem condições, lhe oferece (salvação). Essa vida, interiorizada e assumida, tem de transparecer em gestos de amor, de solidariedade, de fraternidade, de serviço, de partilha, de perdão. A vivência da fé tem, portanto, de se traduzir na vida do dia a dia, especialmente na forma como se vive a relação com esses irmãos com quem cruzamos nos caminhos do mundo. Se isso não acontece, quer dizer que a fé é uma mentira.

 

Gestos concretos – Os bonitos discursos que fazemos, os conselhos muito sábios que damos, as teorias bem elaboradas que apresentamos, as reflexões muito piedosas que impingimos, não passam de belas palavras que podem não significar nada. Quando um irmão tem fome ou não tem o que vestir ou está sofrendo, é preciso ir ao seu encontro e manifestar-lhe, com gestos concretos, o nosso amor, a nossa solidariedade, a nossa fraternidade. A nossa religião tem de manifestar-se na vida e tem de transparecer nos nossos gestos.

 

Quer ler mais – Se você quer ler mais detalhes sobre a Reforma Protestante de Lutero, podemos lhe oferecer dois textos: “As 95 teses de Lutero” e “As Linhas doutrinárias de Lutero”. Solicite por E-mail.

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

"Efatá." Abre-te!

 


O acontecimento relatado por Marcos 7, 31-37, que veremos neste domingo, acontece em junho do ano 29, quando Jesus está na região da Fenícia, entre as cidades de Tiro e Sidon. As duas cidades existem até hoje e distam 30 quilômetros entre si. Na época de Jesus, eram cidades muito ricas e formavam uma região totalmente pagã.

 Viagem – Jesus viajou desta região para o mar da Galiléia e chegou à região da Decápole. Durante a viagem, lhe trouxeram um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse as mãos. Jesus colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: "Efatá!", que quer dizer "Abre-te!" Imediatamente, seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade.  Jesus recomendou que não contassem a ninguém, mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. Muito impressionados, diziam: "Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”.

 Milagre – Mais uma vez, estamos diante de um milagre de Jesus, que manifesta o poder de Deus que age nele, que causa espanto e alegria entre as testemunhas. Em si, o relato segue o roteiro de tantos outros – uma pessoa sofrendo (neste caso de surdez e incapacidade de falar corretamente), a compaixão da parte de Jesus, que o leva a atender o pedido de uma cura, a cura em si, a proibição de espalhar a notícia (o "Segredo Messiânico), e a incapacidade das testemunhas de guardar o segredo.

 Identidade – A violação da proibição, por parte da multidão, traz à tona a questão da verdadeira identidade de Jesus, dando a impressão de que ele é muito mais do que um simples curador! As palavras que expressam o entusiasmo da multidão diante dele (7,37) são tiradas de uma seção apocalíptica de Isaías, sugerindo que, nas atividades de Jesus, o Reino de Deus se faz presente.

 Segredo Messiânico – O que é isso? Provavelmente, faz parte da insistência de Marcos, de que Jesus é mais do que um milagreiro, e que a sua verdadeira identidade só se revelará na sua Cruz e Ressurreição. Pois é somente lá, e não diante dos milagres, que Jesus é proclamado "Filho de Deus" por um homem – o oficial que exclamou a pé da Cruz, vendo como Jesus havia expirado. Para Marcos, uma fé baseada nos milagres é sempre ambígua, pois pode levar ao seguimento de Jesus por motivos errôneos e duvidosos. Para corrigir essa tendência na sua comunidade, ele insiste que só se pode proclamar Jesus com o título messiânico "Filho de Deus" ao pé da Cruz, onde não há lugar para dúvidas.

 Hoje – Podemos ver um sentido mais simbólico para os nossos dias na cura relatada – o de abrir os ouvidos e soltar as línguas: o sistema hegemônico de hoje e os meios de comunicação, frequentemente atrelados e coniventes, procuram tapar os ouvidos do povo diante dos gritos dos sofridos. Fazem questão de camuflar a realidade sofrida de milhões, escondendo-a ou banalizando-a, como fica claro na maioria dos noticiários de televisão.

 Oprimidos – Também as forças dominantes, cada vez mais, deixam os excluídos sem voz: na nossa sociedade consumista, só pode ter voz ativa quem produz e consome. Diante da surdez e mudez físicas, Jesus cura! O evangelho e a atividade evangelizadora das igrejas devem ajudar as pessoas, para que ouçam o grito dos oprimidos e para que ajudem a devolver a voz àqueles a quem foi tirada.

 Igreja – Jesus fez bem todas as coisas – fez os surdos ouvirem e os mudos falarem! Que se possa dizer isso de todas as Igrejas e pastorais – que possamos ajudar a devolver, aos ensurdecidos pela ideologia dominante, a capacidade de ouvir os gemidos dos sofredores; e, aos os sem-voz, a recuperar a voz ativa, nas decisões das igrejas e da sociedade em geral.