sábado, 29 de dezembro de 2001

A Fuga para o Egito


Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 29/12/2001

A fuga da Sagrada Família para o Egito, perseguida pelo rei Herodes, não deve ser encarada como um fato isolado, fruto da administração repressiva do rei, mas como uma antiga relação entre o povo hebreu e o Egito. O evangelista (Mateus) resgata esta antiga história, apresentando-a num cenário religioso.

O começo –
Essa história começou quando o clã dos hebreus, constituído por Jacó (chamado Israel) e sua família imigrou para o Egito, onde foi recebido por José, seu filho, que se tornara um dos lideres daquela nação (veja em Gn 45). Os descendentes de Jacó permaneceram no Egito durante muito tempo, dando origem a um povo numeroso (Ex 1,7).

Escravos –
Os egípcios, temendo que os hebreus se tornassem poderosos, começaram a discriminá-los. Impuseram-lhes trabalhos forçados, como a construção das cidades-fortalezas de Pitom e Ramsés, na parte oriental do delta do rio Nilo. Também escravizavam os filhos de Israel com brutalidade e uma dura servidão, com a fabricação de tijolos e argamassa e trabalhos no campo (Ex 1,11). Como última perseguição, o Faraó ordenou a morte dos israelitas recém-nascidos (Ex 1,15).

Moisés –
430 anos após a chegada de José (por volta do século XIII a.C.), os israelitas, auxiliados por Deus e guiados por Moisés, empreenderam o êxodo do Egito para a terra de seus antepassados e para a liberdade, tornando-se o povo de Deus. O povo permaneceu 40 anos no deserto, alimentando-se do maná. Por volta do ano 1200 a.C. Josué entrou na Palestina, a terra prometida.

O Egito –
Depois destes fatos, os hebreus passaram a considerar o Egito como terra estranha, a pátria da escravidão, a sociedade fundada pela idolatria e sobre a exploração do homem.

Jesus, José e Maria –
Quando José e Maria ficam sabendo que o rei Herodes estava tentando matar o menino, decide ir para o Egito. O evangelista Mateus fornece uma interpretação religiosa desse acontecimento, relembrando a experiência do êxodo. Diz que, em Jesus, se cumpriram as palavras do profeta Oséias: "Do Egito chamei o meu Filho" (Os 11,1).

Jacó e Jesus –
Deus ordenara a Jacó que descesse para o Egito e depois fizera com que seus descendentes, isto é, todo o povo de Israel, se retirassem de lá. Para Mateus, Jesus revive em si próprio a mesma experiência. Jesus é o novo Jacó, viga mestra e representante do povo de Deus. Com Jesus, que entra e sai do Egito, nasce a nova Israel.

Moisés e Jesus –
Para que Israel saísse do Egito, Deus se servira de Moisés. Na fuga de Jesus para o Egito, Mateus faz evocações bíblicas ligadas a Moisés. Tal como Moisés, Jesus é o libertador perseguido por um rei e também se salva através da fuga. Tal como Moisés ainda, Jesus pôde voltar do exílio depois de uma ordem explícita do alto. Fora dito a Moisés: "Os que ameaçavam a tua vida morreram" e a José o anjo diz: "Morreram aqueles que ameaçavam a vida do menino".

Jesus, o novo Moisés –
A semelhança desses dois testemunhos é impressionante: quando escreve sobre Jesus, Mateus tem em mente a história de Moisés. Jesus veio para partilhar a escravidão de seu povo e para conduzi-lo para a redenção. É o novo Moisés, que inaugura um êxodo definitivo.
VOCÊ SABIA ...
... que a fuga e permanência de Jesus no Egito são narradas com detalhes nos evangelhos apócrifos? A narração é bastante fantasiosa (lendas, fatos sem base histórica), pois Jesus é adorado por dragões e leões; leopardos mostram o caminho para José e Maria; as palmeiras se inclinam para oferecer seus frutos a Maria, etc. No Egito, Jesus (ainda bebê) cura possessos, surdos-mudos e leprosos; faz as estátuas dos ídolos caírem e ressuscita sacerdotes pagãos.

sábado, 22 de dezembro de 2001

Oração para a noite de Natal


Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade, Bauru – 22/12/2001

Neste sábado, estamos propondo aos leitores desta coluna que, ao reunir seus familiares, antes da troca de presentes e da ceia natalina, faça primeiro a sua oração a Deus. Devemos lembrar que o Natal é a festa que celebra o nascimento do Nosso Salvador, Jesus Cristo e que, por Ele é que nos reunimos e com Ele deve ser nossa comemoração.

Para aqueles que tem dificuldade de fazer uma prece espontânea, propomos uma pequena celebração, para ser feita em grupo. Tire várias cópias desta coluna e distribua entre seus parentes. Antes da troca dos presentes, façam a seguinte oração:

Animador:
O Natal tem para nós, cristãos, um gosto e um sabor todo especial: lembra-nos algo maravilhoso, quando o próprio Deus se fez fisicamente presente no meio de suas criaturas. Hoje, estamos reunidos para revivermos este alegre momento. Iniciemos a nossa celebração em nome do Pai, que nos enviou seu Filho, em nome de Cristo que veio até nós e do Espírito Santo que santifica o nosso lar. Glorifiquemos a Deus.

Todos:
Glória a Deus nas alturas, glória a Jesus nosso Salvador.

Animador:
Jesus está entre nós! Peçamos as bênçãos de Deus sobre nossos lares, pois a maior benção que a raça humana já recebeu de Deus, veio de um lugar pobre e humilde: o presépio!

Leitor 1:
O lugar em que Jesus nasceu não era o mais digno ou o mais adequado para o nascimento de um Rei, o Filho de Deus. Mas, esse local pode perfeitamente significar o Coração humano, tão cheio de impurezas, tão levado por atos irracionais, pela falta de perdão, pela ausência do Amor, pela infidelidade, pela malícia, pelo orgulho, pelo egoísmo e por tantas vaidades... Quantos corações não são indignos de Deus se instalar neles ?

Leitor 2:
Por isso que, Jesus no presépio, com sua mensagem de amor a todos os homens, é um sinal de esperança! E o maravilhoso é que, em vez do local contaminá-Lo, Ele é que o santificou, fazendo deste presépio um símbolo de pureza, de simplicidade e de humildade!

Leitor 3:
Esta é a razão da nossa esperança: mesmo que os nossos corações não sejam totalmente dignos de acolher Jesus, Ele não se importa, como não se importou em nascer num simples presépio. Basta que a gente O acolha, que Ele virá, se instalará e nos purificará com sua misericórdia, resgatando nossa dignidade de filhos de Deus.

Todos:
Senhor, que neste Natal, cada coração manchado pelo pecado seja transformado num presépio santificado por Jesus!

Animador:
No Natal, Jesus retorna criança para nos dizer que Deus não está longe. O anjos ainda cantam: Paz aos homens que Ele ama.

Todos
: Lhe pedimos, Senhor, que seja arrancado o ódio de todos os corações e que seja injetado neles, o amor. Que nenhuma nação se lembre mais do que é a guerra.

Leitor 1:
É Natal! O Verbo fez-se homem e acendeu o amor na Terra. Gostaríamos que esse dia jamais findasse!

Todos:
Senhor, ensina-nos a perpetuar a Sua presença entre os homens. Que o Seu Amor aceso na Terra arda em nossos corações e nos amemos, como é da Sua Vontade.

Leitor 2:
Ajuda-nos, Pai, pois se nos amarmos, então estarás entre nós e todo dia poderá ser Natal.

Todos
: Senhor, neste Natal nós Lhe confiamos, sobretudo, os que não possuem uma crença e Lhe pedimos que um raio da Sua Luz penetre em seus corações, para que eles possam experimentar ao menos por algum momento, quão grande é a alegria de quem O conhece e O ama.

Animador
: Que por nós renasçam as esperanças, se fortaleçam as relações humanas fraternas e se renovem as pessoas e a sociedade, amém!

Todos
: Pai Nosso...

sábado, 15 de dezembro de 2001

Advento: Alguém está chegando ...

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 15/12/2001

Vamos continuar apresentando, hoje, mais detalhes sobre o nascimento de Jesus. Como fizemos na semana passada, a nossa história será enriquecida com informações tiradas de outras fontes (além dos Evangelhos Canônicos) como a tradição judaica, fontes históricas e textos apócrifos (Proto-evangelho de Tiago, a História de José o Carpinteiro). Lembramos que a Igreja Católica aceita alguns destes fatos na sua liturgia (os nomes dos pais de Maria, a cerimônia de apresentação de Maria no Templo, Imaculada Conceição, José idoso, o bastão de José) mesmo não constando nos Evangelhos.

Maria – A mãe de Jesus era filha de Joaquim e Ana e foi concebida, por intervenção divina, imaculada, sem pecado original. Recebeu educação no Templo dos três aos doze anos de idade, foi oferecida em noivado a José, indo morar em sua casa.

José – O pai de Jesus era um viúvo, carpinteiro, que vivia na cidade de Belém com seus seis filhos (quatro homens e duas mulheres). Tiago era o menor deles, ainda com pouca idade. José era um homem justo e costumava permanecer longos períodos em viagens (junto com dois de seus filhos) exercendo sua profissão (construindo casas).

Um certo anjo ... – Um certo dia, Maria pegou um cântaro e foi enchê-lo de água. Era o ano 7 a.C. e Maria tinha 14 anos. Mas eis que ouviu uma voz que lhe dizia: "Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo, bendita és entre as mulheres." Maria se assustou, pois não sabia de onde vinha aquela voz. Um anjo se apresentou diante dela dizendo: "Não temas, Maria, pois obtiveste graça junto a Deus. Eis que engravidarás e darás à luz um filho, e lhe darás o nome de Jesus."

Visita a Isabel – Após a visita do anjo, Maria partiu em visita a sua parenta Isabel, grávida de seis meses. Permaneceu três meses com Isabel, portanto, até o nascimento de João Batista. Cabe lembrar a distância entre as cidades de Nazaré e Belém é de, aproximadamente, 140 km. Assim, Maria percorreu 280 km em sua visita a Isabel.

Magnificat – Ao chegar na casa de Isabel, Maria ouviu um dos mais belos hinos de louvor cristão, todo baseado no cumprimento das promessas do Antigo Testamento (Lc 1,46-56). O Magnificat seria uma oração usada na liturgia palestinense.

Ave Maria – Você sabia que a primeira parte da oração da "Ave Maria" é totalmente tirada das palavras do anjo e de Isabel ? Está tudo na Bíblia. Vejamos: "Ave, cheia de graça" (anjo em Lc 1,28-30), "o Senhor está convosco" (anjo em Lc 1,28), "bendita és entre as mulheres" (Isabel em Lc 1,42), "bendito é o fruto do vosso ventre" (Isabel Lc 1,42). Portanto, ao rezarmos a oração da Ave Maria, estamos recitando versículos do Evangelho de Lucas.

Gravidez de Maria – Quando Maria estava no sexto mês de gravidez, José voltou do seu trabalho. Ao constatar a gravidez de Maria, revoltou-se, não sabendo que atitude tomar: podia denunciá-la às autoridades (o que a levaria à morte) ou assumir a gravidez, aceitando-a em sua casa como esposa. Um anjo apareceu a José (em sonho) indicando a concepção divina de Maria e que o seu filho deveria chamar-se Jesus.

Viagem – Era o ano 7 (ou 6) a.C.. Era primavera no hemisfério norte, pois os pastores estavam com seus rebanhos no campo (portanto, setembro ou outubro). O imperador Augusto publicou um decreto ordenado que todos deveriam se recensear em sua própria cidade. Para a viagem a Belém, José selou uma asna e acomodou Maria sobre ela, enquanto um dos filhos de José ia à frente puxando o animal. José ia atrás em outro animal.

Nascimento – Quando estavam a três milhas de Belém, Maria começou a sentir as dores de parto. Havia ali perto uma gruta de pedra, com alguns animais. Bem .... o resto da história todo mundo já sabe ....

sábado, 8 de dezembro de 2001

Advento: A história de Maria Santíssima e José

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 08/12/2001

Ao iniciarmos a preparação para o Natal (advento), inúmeras vezes ouviremos falar de Maria Santíssima, nossa Mãe e Mãe da Igreja. Como os Evangelhos Canônicos trazem poucas informações sobre Maria e José, fomos buscar mais detalhes (histórias, nomes, datas, etc.) em outras fontes, como a tradição judaica, fontes históricas e textos apócrifos (Proto-evangelho de Tiago, a História de José o Carpinteiro). A Igreja Católica aceita alguns destes fatos na sua liturgia (os nomes dos pais de Maria, a cerimônia de apresentação de Maria no Templo, Imaculada Conceição, José idoso, o bastão de José) mesmo não constando nos Evangelhos.

O pai de Maria – Joaquim era um homem muito rico que vivia atormentado por não ter filhos. Para o povo hebreu era muito importante gerar descendentes. Estava tão angustiado que retirou-se para o deserto e jejuou quarenta dias e quarenta noites para que suas preces fossem atendidas.

A mãe de Maria – Ana era uma mulher que lamentava a sua esterilidade. Apresentou-se a ela um anjo de Deus dizendo que o Senhor ouviu seus pedidos e que ela daria à luz uma criança. A concepção imaculada de Maria é aceita pela Igreja Católica como dogma de fé (instituído pelo Papa Pio IX em 1854) e comemorada como a festa da Imaculada Conceição de Maria.

Apresentação no Templo – Ana prometeu que entregaria seu filho (ou filha) como oferenda ao Senhor, para que ele servisse seu Deus todos os dias de sua vida. Nove meses depois, Ana deu à luz uma menina, dando-lhe o nome de Maria. Era, aproximadamente, o ano 20 a.C. Quando completou três anos, Maria foi conduzida ao templo e entregue ao sacerdote. Permaneceu lá até os doze anos, se ocupando com os afazeres diários do templo.

Aos doze anos – Quando Maria completou doze anos (aprox. 9 a.C.), os sacerdotes se reuniram e deliberaram que o Sumo Sacerdote deveria decidir o destino de Maria. Este, orando no aposento chamado ‘santo dos santos’, indicou que fossem reunidos 12 viúvos (um de cada tribo de Israel). Cada viúvo deveria vir ao templo com um bastão e aquele que recebesse um sinal singular do Senhor seria o esposo de Maria.

Os viúvos – José, atendendo o chamado do Sumo Sacerdote, se dirigiu de Belém ao templo, entregando o seu bastão. O Sumo Sacerdote, após orar, devolveu os bastões aos viúvos. Ao entregar o bastão a José, uma pomba passou a voar sobre sua cabeça, indicando que José deveria ser o esposo de Maria.

Contestação – José replicou que já era velho e tinha filhos (Judas, Josetos, Tiago, Simão Lígia e Lídia), enquanto que Maria era uma menina; argumentando ainda que seria objeto de zombarias por parte do povo. O sacerdote convenceu-o, dizendo que deveria aceitar o casamento como desejo divino.

A tradição da época – Na palestina não havia diferença entre noivado e casamento. Por isso que em Mt 1,18 nós encontramos que Maria estava desposada de José. Desposada quer dizer noiva. O noivado já tinha o valor de casamento; por isto, em Mt 1,19, José é chamado de esposo. A tradição mandava que após a festa de noivado, a noiva (ou esposa) continuava na casa de seus pais, e o noivo (esposo) ia construir a casa. Pronta a casa, o noivo ia buscar a noiva, geralmente em procissão luminosa, da qual participavam também outras moças do lugar (veja a parábola das dez virgens em Mt 25, 1-13).

José e Maria – Como Maria vivia no templo (e não na casa dos seus pais), José levou-a para sua casa e saiu em viagem de trabalho com os dois filhos maiores. José era carpinteiro e trabalhava na construção de casas. Maria cuidou do pequeno Tiago (filho de José) com carinho e dedicação. Maria viveu como noiva de José perto de dois anos.

Um certo anjo ... – Um certo dia, no início do ano 7 a.C., Maria pegou um cântaro e foi enchê-lo de água. Mas eis que ouviu uma voz que lhe dizia: "Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo ..." Bem, mas este é assunto para a próxima semana.

sábado, 1 de dezembro de 2001

As Aparições de Cristo Ressuscitado

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 01/12/2001

Realizamos, recentemente, um concurso entre nossos leitores que consistia em descobrir o número de aparições de Cristo ressuscitado, indicando as passagens bíblicas de cada aparição. Recebemos mais de uma centena de cartas e E-mails de leitores que tentavam acertar a resposta. Hoje estamos publicando a resposta correta. Pegue sua bíblia e confira.

O que é aparição ? – A resposta do concurso foi orientada pela afirmação de Lucas em At 1,3: "É a eles que Jesus se apresentava vivo após a sua Paixão; tiveram mais de uma prova disto, enquanto, durante quarenta dias, Ele lhes aparecera e mantivera conversação com eles sobre o Reino de Deus". Portanto foram consideradas as aparições em que Jesus conversou, respondeu perguntas, comeu, instruiu, foi tocado; estas aparições aconteceram nos 40 dias seguintes a sua Paixão, ou seja entre os dias 7 de abril e 17 de maio do ano 30. Após a ascensão aos céus ocorreram apenas visões, expressadas de diversas formas (clarão de luz, em sonho, etc.).

As 11 aparições foram:

Descritas nos Evangelhos:



  • 1 – a Madalena e às mulheres - Mt 28,9-11; Jo 20,13-18; Mc 16,9-11; 2 – aos 11 na montanha da Galiléia - Mt 28,16-20; Mc 16,15 (talvez 1Cor 15,5);
    3 – aos discípulos de Emaús - Lc 24,13-35; Mc 16,12;

  • 4 – aos 11 apóstolos durante uma refeição – Lc 24,36-43; Mc 16,14; At 1,4-5; At 10,41 (talvez 1Cor 15,5);

  • 5 – aos discípulos sem Tomé - Jo 20,19-23 (talvez 1Cor 15,5);
    6 – aos discípulos com Tomé - Jo 20,24-29; (talvez 1Cor 15,5);
    7 – à beira do lago - Jo 21,1-23 (talvez At 10,41);
    8 – à Simão - Lc 24,34; 1 Cor 15,5;
    9 – na ascensão aos céus, em Betania - Lc 24,50-53; Mc 16,19; At 1,8



  • Descritas nas cartas de Paulo:



  • 10 – à mais de quinhentas pessoas - 1Cor 15,6; 11 – à Tiago - 1Cor 15,7;



  • Algumas Visões (não consideradas como aparições):





  • 1 – Visão de Paulo no caminho para Damasco no ano 37 – At 9,3; At 22,6; At 26, 12; 1Cor 15,8; 1Cor 9,1; Gal 1,12;





  • 2 – A visão de Ananias no ano 37 – At 9, 10-16;

    3 – A visão de Paulo no Templo em Jerusalém em abril do ano 58 – At 22,18;

    4 – Outra visão de Paulo em Jerusalém em abril do ano 58 – At 23, 11;

    5 – A visão de João citada em Ap 1,9s, escrito entre os anos 95 e 100.

    Algumas observações – As citações em Mt 28,5; Mc 16,5; Lc 24,4 são apenas aparições de anjos.

    sábado, 24 de novembro de 2001

    O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Final – Os livros apócrifos

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 24/11/2001

    Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Estudamos que a Igreja confirmou em muitos Concílios o cânon completo da Bíblia, enquanto que os protestantes optaram pelo cânon restrito (65 ou 66 livros). A padronização dos textos foi realizada por São Jerônimo sendo chamada de Vulgata Latina. Vimos também que os livros não incluídos no cânon são chamados de ‘apócrifos’, que significa ‘não lido em público’ ou ‘para leitura particular’. Hoje, para encerrar esta série de artigos sobre o cânon bíblico, faremos pequenas descrições sobre os principais apócrifos.

    O Evangelho de Tomé – Encontrado em 1945 é o mais famoso livro apócrifo. Contém apenas uma lista de 114 frases atribuídas a Jesus. Não apresenta qualquer informação sobre a vida de Jesus como milagres, ensinamentos, etc., nem descreve o nascimento, viagens, Última Ceia, crucificação e morte de Cristo. Alguns estudiosos indicam o Evangelho de Tomé como anterior aos Evangelhos canônicos, ou seja, o consideram como um pré-evangelho. Das 114 frases atribuídas a Jesus, inúmeras são passagens contidas nos evangelhos canônicos: 47 frases do "Evangelho de Tomé" têm paralelo no Evangelho de Marcos, 17 aparecem em Mateus, 4 em Lucas e 5 em João. 65 frases de Jesus são inéditas.

    O Evangelho de Pedro – Descoberto em 1886, no Egito, descreve em detalhes a paixão, condenação, crucificação, enterro e ressurreição de Jesus, acrescentando muitos fatos não narrados nos evangelhos canônicos. Descreve a recusa de Herodes e dos outros judeus a lavar as mãos no julgamento de Cristo; detalha o local do sepultamento de Jesus, num sepulcro no jardim de José de Arimatéia; as últimas palavras de Cristo, citadas nos evangelhos canônicos ("Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes"), são substituídas por "Força minha, força minha, tu me abandonaste".

    Proto-Evangelho de Tiago – Fala do nascimento de Maria, de pais estéreis – Ana e Joaquim - de sua educação no Templo até a puberdade, da escolha de José (já velho, viúvo e com seis filhos) para seu esposo, como concebeu virgem e se conservou virgem após o parto. Narra detalhes do nascimento de Jesus (inclusive com uma parteira), descreve a estrela e os magos (citando os seus nomes).

    Evangelho Pseudo-Tomé – É um relato da vida de Jesus dos cinco aos doze anos, época em que os Evangelhos canônicos são omissos. Conta inúmeros milagres operados pelo menino Jesus, numa narrativa intimista, afetuosa e simples. Narra também várias conversas de Maria com o menino e a preocupação de José com a educação de Jesus.

    Evangelho de Nicodemus – Narra em detalhes os últimos momentos de Jesus: o julgamento, a discussão diante de Pilatos, a crucificação, os ladrões (com seus nomes), o resgate do corpo, o enterro, a ressurreição e a repercussão da morte de Jesus junto ao governo Romano.

    sábado, 17 de novembro de 2001

    O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 8 – Os textos não incluídos no cânon

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 17/11/2001

    Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Estudamos que a Igreja confirmou em muitos Concílios o cânon completo da Bíblia, enquanto que os protestantes optaram pelo cânon restrito (65 ou 66 livros). A padronização dos textos foi realizada por São Jerônimo sendo chamada de Vulgata Latina.

    O Cânon – Como já estudamos, o catálogo dos textos considerados canônicos se formou espontaneamente nas comunidades cristãs, com os livros lidos em público nas reuniões dominicais. A Igreja oficializou os livros que deveriam formar a Bíblia, tomando por base os textos aceitos pela maioria das comunidades.

    Os não incluídos – Os livros não aceitos como canônicos foram chamados de "apócrifos", que significa ‘não lido em público’ ou ‘escondidos’ ou ‘para leitura particular’. No início, os Concílios da Igreja proibiram a leitura destes livros em reuniões das comunidades, o que fez com que eles fossem tomados como falsos ou hereges. Atualmente, é bastante reconhecido o valor histórico destes textos, com suas informações sendo usadas até na liturgia da Igreja.

    Dados importantes – Muitos fatos narrados nos apócrifos são usados atualmente pela Igreja: os nomes dos pais de Maria (Joaquim e Ana), gerando as celebrações de Santa Ana e São Joaquim, a apresentação de Maria no templo, a natividade de Maria, o nome de São Dimas (bom ladrão) e Gestas (mau ladrão), o presépio (gruta, jumento e boi), o canto de Verônica, os nomes dos magos, detalhes sobre o noivado de José e Maria, detalhes da infância de Jesus, etc.

    Muitos textos – São conhecidos perto de 30 livros apócrifos do Antigo Testamento e mais de 90 do Novo Testamento. Além destes, nas Grutas de Qumran foram descobertos 63 fragmentos de textos escritos no primeiro século. Nos apócrifos podemos encontrar 9 Apocalipses, 14 Atos de Apóstolos, 10 Epístolas (Cartas), 21 Evangelhos, além de inúmeros ensinamentos, descrições, ágrafos, etc.

    Apócrifos do A.T. – Dentre os apócrifos da Antigo Testamento, os mais conhecidos são os dois livros do profeta Enoque (citados na Carta de Judas Jd 1,14), o 3º e 4º livros dos Macabeus e o livro de Adão e Eva. Talvez o texto mais interessante seja o "Salmo 151" (como sabemos, na Bíblia existem apenas 150 salmos). O salmo numerado como 151 foi encontrado em vários fragmentos de papiro datados do século II a.C.

    Apócrifos do N.T. – No Novo Testamento a quantidade de textos é enorme. Os mais conhecidos são: o Evangelho de Pedro, o Evangelho de Tomé, o Proto-Evangelho de Tiago, o Evangelho de Bartolomeu, o Evangelho de Nicodemos, o Apocalipse de Pedro, o Atos de João, a Epístola de Barnabé, a Didaqué, o Pastor de Hermas, etc.

    quinta-feira, 15 de novembro de 2001

    Carta do rei Abgaro a Jesus

     

    Carta do rei de Edessa pedindo a Jesus a cura de sua lepra e Resposta de Jesus ao rei de Edessa prometendo o envio de um discípulo para curá-lo (séc. IV dC)

     

    Abgaro Ukkama V foi rei da cidade de Edessa (Síria) entre 4 aC e 7 dC, quando foi destronado por seu irmão Mahanu IV. Diz a lenda, que, por volta do ano 32 dC, sofrendo de terrível lepra, Abgaro teria escrito uma carta a Jesus pedindo para que Ele fosse até Edessa para curá-lo. Segundo alguns relatos, Jesus mandaria, mais tarde, o apóstolo Tadeu para efetivar a cura do rei.

    O texto, entretando, foi composto por volta do ano IV dC e logo traduzido para outros idiomas: siríaco, grego, armênio, copta, latim, árabe e eslavo.

     

    Abgaro Ukkama a Jesus, o Bom Médico que apareceu na terra de Jerusalem, saudações:

    Escutei falar de Ti e de Tuas curas: que Tu não fazes uso de remédios nem raízes; que, por Tua palavra, abriste os olhos de um cego, fizeste o aleijado andar, limpaste o leproso, fizeste o surdo ouvir; que por Tua palavra tu também expulsaste espíritos daqueles que eram atormentados por demônios imundos; que, outra vez, Tu ressussitaste o morto trazendo-o para a vida.

    E, conhecendo as maravilhas que Tu fazes, concluí que das duas uma: ou Tu desceste do céu, ou mais: Tu és o Filho de Deus e por isso fizeste todas essas coisas. Por esse motivo escrevo para Ti, e rezo para que venhas até mim, que Te adoro, e cure toda a doença que carrego, de acordo com a fé que tenho em Ti.

    Também soube que os judeus murmuram contra Ti e Te perseguem; que buscam crucificar-Te e destruir-Te. Eu não possuo mais que uma pequena cidade, mas é bela e grande o suficiente para que nós dois vivamos em paz.

     

    RESPOSTA DE JESUS AO REI ABGARO


     

    Segundo a lenda, a carta escrita por Abgaro teria sido levada a Jesus por seu emissário, Hannan. Os relatos discordam se a resposta de Jesus teria sido passada verbalmente a Hannan ou se Ele próprio teria escrito.

    Seja como for, a carta resposta pertence à mesma época da redação da Carta de Abgaro, isto é, séc. IV dC. Tal como esta, a pretensa resposta de Jesus foi fartamente difundida, chegando a ser usada como escapulário por "cristãos" supersticiosos.

     

    Feliz és tu que acreditaste em Mim não tendo Me visto, porque está escrito sobre Mim que 'aqueles que me verão não acreditarão em Mim, e aqueles que não me verão acreditarão em Mim'. Quanto ao que escreveste, que eu deveria ir até ti, devo cumprir todas as coisas para as quais fui enviado aqui; quando eu ascender outra vez para o Meu Pai que me enviou, e quando eu tiver ido ter com Ele, Eu te enviarei um dos meus discípulos, que curará todos os teus sofrimentos, e eu te darei saúde outra vez, e converterei todos os que estão contigo para a vida eterna. E tua cidade será abençoada para sempre, e os teus inimigos nunca a dominarão.

    sábado, 10 de novembro de 2001

    O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 7 – A Vulgata Latina

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 10/11/2001

    Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Estudamos que a Igreja confirmou em muitos Concílios o cânon completo da Bíblia, enquanto que os protestantes optaram pelo cânon restrito (65 ou 66 livros).

    Concílio de Hipona – A 8 de outubro de 393 o plenário do Concílio de Hipona definiu, pela primeira vez, o cânon bíblico como ele é hoje professado pela Igreja Católica. Este cânon foi confirmado pelo Concílio de Florença (1438 a 1445) e pelo Concílio de Trento (1546).

    Cópias de cópias de cópias de ... – Com a fixação do cânon oficial da Igreja um problema aconteceu: a grande quantidade de cópias realizadas nos documentos ocasionou uma infinidade de pequenos erros de transcrição. Como já estudamos, as cópias eram realizadas (pelos escribas) nas comunidades e enviadas a outros grupos cristãos. Os originais dos Evangelhos como as primeiras cópias dos manuscritos da época de perseguição dos cristãos haviam se perdido. As sucessivas cópias faziam com que os erros fossem se acumulando, distorcendo o texto.

    Mais cópias de cópias de ... – Atualmente, existem 2.300 cópias dos Evangelhos em grego, dos quais apenas 40 foram copiadas antes do século IX e após o século IV. Somente para o Novo Testamento (que contém 150.000 palavras) existem cerca de 200.000 variações causadas pelas sucessivas cópias, que alteram o texto desde pequenas omissões de artigos até a inclusão (ou corte) de capítulos inteiros de livros.

    A Vulgata – No ano de 384, o Papa Dâmaso, reconhecendo a diversidade dos textos oficiais da Igreja, confiou a São Jerônimo (secretário do Papa) a uniformização dos livros e a tradução para o latim. O objetivo era buscar as cópias mais antigas, comparar as diferenças, e chegar a um texto mais próximo do original para todos os livros da Bíblia (Novo e Antigo Testamentos). Este texto se chamou Vulgata (popular) Latina (escrita em latim).

    São Jerônimo – Um dos grandes doutores da Igreja, nasceu em Estridon, na Dalmácia no ano 347 e faleceu em 419 ou 420. É considerado o maior tradutor da Igreja, principalmente pelo total domínio das línguas bíblicas (hebraico, aramaico, grego). Trabalhou durante 21 anos na pesquisa e tradução dos livros da Bíblia, tendo escrito também 63 volumes de comentários (em latim) sobre os textos bíblicos e mais de cem homilias.

    Vulgata Latina – Com o fim do trabalho de S. Jerônimo em 404, o texto da Vulgata Latina foi proclamado como o texto oficial da Bíblia da Igreja. Todos os Concílios que confirmaram o cânon da Igreja, também confirmaram o texto em latim como a Bíblia oficial. Foi o primeiro livro impresso por Gutenberg.

    Texto Oficial da Igreja – A Vulgata Latina foi o texto oficial da Igreja entre os anos de 1546 (Concílio de Trento) e 1590. Entre 1590 e 1592 o texto oficial foi a Vulgata Sixtina, promulgada pelo Para Sixtus V (idêntica a Vulgata Latina, com a adição de uma bula que excomungava que a alterasse). Entre 1592 e 1979 o texto oficial foi a Vulgata Clementina, que introduziu 4.900 correções na Vulgata Sixtina. A partir 1979 (até hoje) o texto oficial da Igreja Católica é a Neo-vulgata. Todas as leituras realizadas em cultos oficiais da Igreja Católica são tiradas da Neo-vulgata.

    Curioso ? – Vamos verificar a tradução da Bíblia que você tem em sua casa? Verifique primeiro se ela é uma Bíblia Católica, achando o imprimatur (recomendação de impressão de um Bispo Católico). Depois verifique (nas primeiras páginas) os textos originais usados na tradução: se forem textos em latim (São Jerônimo) você tem uma Bíblia baseada na Vulgata; caso os originais sejam em grego ou aramaico, os tradutores se basearam em fontes mais antigas.

    sábado, 3 de novembro de 2001

    O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 6 – Os Concílios que definiram o Cânon

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 03/11/2001

    Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Estudamos que os católicos adotaram o cânon completo do Antigo Testamento (45 ou 46 livros), enquanto que os protestantes optaram pelo cânon restrito (38 ou 39 livros). Vimos que o cânon do Novo Testamento se formou espontaneamente dentro das comunidades cristãs, tendo por base as leituras dominicais.

    Marcião – O primeiro cristão que tentou padronizar os textos lidos nas comunidades cristãs foi Marcião, por volta do ano 140. Marcião criou, em Roma, um grupo radical chamado de marcionitas, que desenvolveu uma teologia própria, baseada na existência de dois deuses: um deus vingador do Antigo Testamento e um deus bom do Novo Testamento. O seu grupo tinha um Cânon próprio, com apenas um Evangelho (parte de Lucas) e dez cartas de Paulo. Por suas idéias contrárias à Igreja, foi excomungado no ano 144.

    Ireneu – Próximo ao final do século II, os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João já eram proclamados canônicos pelo bispo Ireneu. O Novo Testamento, construído em torno dos "Evangelhos quadriformes", começava a tomar forma.

    Diatesseron – Um homem culto, natural da Assíria, e de educação grega, chamado Taciano, por volta do ano 173, realizou a tentativa de harmonizar os 4 Evangelhos em um. Este texto (composto em Roma) chamou-se "Diatesseron", sendo usado por vários séculos como Evangelho oficial de muitas comunidades cristãs do Oriente. Veja o texto completo do "Diatesseron" (em inglês) no nosso ‘site’.

    Muratori – Em 1740 foi encontrado na Biblioteca de Milão pelo bibliotecário Ludovico Muratori uma lista de textos aceitos pela Igreja no final do século II. Esta lista possui 24 livros, sendo chamada de Cânon de Muratori. São eles: os 4 Evangelhos, os Atos dos Apóstolos, 13 cartas de Paulo, a Carta de Judas, 1ª e 2ª Cartas de João e o Apocalipse. Além destes também inclui o "Apocalipse de Pedro" e a "Sabedoria de Salomão" que não foram considerados canônicos.

    Outras listas – Várias outras tentativas de padronização dos textos cristãos foram empreendidas por `utoridades da Igreja. Tertuliano (ano 200) não aceitava como canônicos a Carta de Tiago, 2ª Carta de Pedro, 2ª e 3ª Cartas João, aceitando o texto de "O Pastor" de Hermas. Orígenes (ano 220) tinha a mesma opinião de Tertuliano, incluindo nos livros não canônicos a Carta de Judas, e aceitando a canonicidade do "Didaqué" e da "Epístola de Barnabé". Eusébio de Cesaréa concordava com Orígenes, mas não aceitava o Apocalipse.

    Atanásio – Apenas no ano de 367 apareceu uma lista de livros idêntica ao Novo Tdsp`Lento que conhecemos hoje. Esta lista foi escrita por Atanásio, bispo de Alexandria, numa carta dirigida às comunidades na época da Páscoa.

    Concílio de Hipona – A 8 de outubro de 393 o plenário do Concílio de Hipona definiu, pela primeira vez, o cânon bíblico como ele é hoje professado pela Igreja Católica. A deliberação do Concílio foi: "Além das Escrituras canônicas, nada seja lido na Igreja a título de Divinas Escrituras. Estas são as Escrituras canônicas: ..." segue a lista dos 45 livros do A.T. e os 27 dos N.T.

    Confirmações – No ano 405, o Papa Inocêncio I (Papa entre 401 e 417) confirmava a lista dos 72 (73) livros. O Papa Gelasiano (Papa entre 492 e 496) também confirmava o Cânon. O Concílio de Florença (realizado entre 1438 e 1445) publicou um Decreto listando os 72 (73) livros inspirados pelo Espírito Santo. Por fim, o Concílio de Trento, em 8 de abril de 1546 reconheceu o Cânon como catálogo oficial dos livros da Bíblia da Igreja Católica.

    Lutero – Os Católicos devem ter em mente, de mandir` clara, que o Cânon da Igreja foi definido, de maneira imutável, desde o ano 393 (Concílio de Hipona). Quando Lutero fixou os livros do cânon protestante (em 1517), ele retirou 7 livros (deuterocanônicos) que, há mais de mil anos eram reconhecidos e lidos na Igreja.

    sábado, 27 de outubro de 2001

    O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 5 – O Cânon do Novo Testamento

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 27/10/2001

    Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Estudamos que os judeus tinham dois cânones – um restrito (da Palestina) e outro mais amplo; os cristãos adotaram o catálogo completo enquanto que Lutero optou pelo cânon restrito.

    Comunidades – Na Segunda metade do século I, haviam comunidades cristãs espalhadas por todo Império Romano. Os cristãos eram todos batizados e tinham os apóstolos e discípulos como autoridades divinas. Estas comunidades recebiam o ensinamento da Boa Nova (Evangelho) de duas formas: através dos "apóstolos, profetas e mestres" que visitavam as comunidades (a chamada pregação itinerante; mais detalhes, ler a Didaqué) e pelos textos trocados entre as comunidades.

    Liturgia – Nas reuniões dominicais eram lidos os livros do Antigo Testamento e os textos com ensinamentos enviados pelos apóstolos, discípulos e por outras comunidades. O Novo Testamento ainda não havia se formado. Na verdade, o Novo Testamento estava começando a se formar em cada comunidade.

    Um exemplo – Vamos tomar como exemplo uma comunidade cristã. Chega a esta comunidade uma carta do apóstolo Tiago. A carta é lida em público na reunião dominical e tomada como norma de fé e de conduta, pois sabem que Tiago foi encarregado por Jesus de ensinar a doutrina com autoridade apostólica. Por sua importância, a carta é copiada e enviada para outras comunidades e o original é guardado na biblioteca da comunidade. Desta forma, outros grupos de cristãos podem se beneficiar com aqueles ensinamentos.

    Outro exemplo – Em outra ocasião, chega uma cópia da catequese (Evangelho) de Lucas. Todos sabem que Lucas é discípulo e companheiro de Paulo e, portanto, o documento tem a fidelidade garantida pelo Apóstolo dos gentios. Em conseqüência, o texto é lido com grande interesse pela comunidade, arquivado na biblioteca e cópias são enviadas a outras comunidades.

    Mais um exemplo – Em outra ocasião, chega uma carta de Clemente, bispo de Roma. O documento não é considerado como norma de fé e conduta, como os anteriores. Não é lido em público, nem enviado às comunidades, mas é deixado à disposição dos membros da comunidade para leitura particular.

    Biblioteca – Desta forma, cada comunidade cristã tinha a sua coleção de textos lidos em público e os textos separados, para leitura particular. Assim, espontaneamente, a Igreja formou seu catálogo de textos considerados canônicos.

    Unanimidade – Haviam os textos lidos (aceitos) em todas as comunidades. Na segunda metade do século II, eram unanimidade: os 4 Evangelhos (Marcos, Mateus, Lucas e João), o Atos dos Apóstolos, as 13 cartas de Paulo, a 1ª carta de Pedro e a 1ª carta de João.

    Não unânimes – Alguns textos eram considerados importantes por algumas comunidades, e excluídos por outras: a carta aos Hebreus (por não ter autor), o Apocalipse (dúvidas sobre a autoria), a carta de Tiago (parecia contradizer Paulo), carta de Judas (por citar livros apócrifos), a 2ª carta de Pedro (considerada cópia de Jd) e a 2ª e 3ª cartas de João (por serem bilhetes de pouco conteúdo teológico).

    Cânon – Apenas no ano de 393, o Concílio de Hipona definiu o cânon completo da Bíblia Católica, com os 45 (46) livros do Antigo Testamento e os 27 livros do Novo Testamento. Mas isso é assunto para a próxima semana.

    sábado, 20 de outubro de 2001

    O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 4 – Cânon Católico e Protestante

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 20/10/2001

    Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Estudamos que os judeus tinham dois cânones – um restrito (da Palestina) e outro mais amplo (de Alexandria) – e que os cristãos adotaram o catálogo completo.

    Lutero – No século XVI, Martinho Lutero (1483-1546), querendo contestar a Igreja, resolveu adotar o cânon dos judeus da Palestina, deixando de lado sete livros inteiros e parte de outros dois livros. É esta a razão pela qual a Bíblia dos protestantes não tem os livros deuterocanônicos (sete livros, mais os fragmentos de outros dois) que estão incluídos na Bíblia Católica. Na verdade, Lutero traduziu para a língua alemã (edição de 1534) o catálogo completo (católico), mas não adotou os 7 livros; até o final do século XIX, as bíblias impressas pelas Sociedades Bíblicas protestantes incluíam os livros deuterocanônicos.

    Diferenças – A principal diferença entre as Bíblias Católicas e de outras religiões está no conteúdo. O Novo Testamento de ambas as Bíblias é o mesmo. O Antigo Testamento da Bíblia Católica inclui os 7 livros deuterocanônicos: Judite, Tobias, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1º Macabeus e 2º Macabeus. Também possui os Livros de Daniel e Ester completos, sem a exclusão de vários capítulos ou versículos, como ocorre nas demais Bíblias. Além disso, a numeração dos Salmos é diferente. Portanto, a Bíblia Católica é completa, pois contém todos os livros inspirados por Deus.

    Como reconhecer uma Bíblia Católica ? – São três as formas de reconhecer uma Bíblia Católica: Ela contém os 72 livros (45 do A.T. e 27 do N.T.) inspirados por Deus; ela traz sempre notas explicativas no rodapé de cada página, instruindo o leitor sobre a interpretação correta do texto (no protestantismo não há instruções, pois a interpretação é livre); ela apresenta, nas páginas iniciais, a autorização para impressão (imprimatur) de um Bispo da Igreja Católica.

    Edições atuais – Os textos com traduções mais atuais de Bíblias Católicas são a "A Bíblia de Jerusalém" (1985, com imprimatur de Dom Paulo Evaristo Arns) e a "Bíblia – Edição Pastoral" (1991, com imprimatur de Dom Luciano de Almeida). Os cristãos que buscam um estudo mais aprofundado da Palavra de Deus não podem deixar de ter a "Bíblia – Tradução Ecumênica" (1994), um texto composto por biblistas das diversas confissões cristãs (católicos, protestantes, ortodoxos) e da religião judaica.

    sábado, 13 de outubro de 2001

    O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 3 – Antigo Testamento

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 13/10/2001

    Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Hoje veremos a formação do cânon do Antigo Testamento.

    Moisés – As passagens bíblicas começaram a ser escritas desde os tempos anteriores a Moisés, que foi quem primeiro escreveu sobre as tradições orais e escritas de Israel, no século XIII a.C. — Essas tradições (leis, narrativas, peças litúrgicas) foram sendo aumentadas aos poucos por outros escritos no decorrer dos séculos, sem que os judeus se preocupassem em fazer uma lista ou catálogo delas. Assim foi-se formando a biblioteca sagrada de Israel.

    A Era Cristã – Todavia, no século I da era cristã, deu-se um fato importante: começaram a aparecer os livros cristãos (cartas de S. Paulo, Evangelhos, Atos ...), que se apresentavam como a continuação dos livros sagrados dos judeus. Estes, porém, não tendo aceito o Cristo, trataram de impedir que se fizesse a união de livros judeus e livros cristãos. Por isto, vários rabinos reuniram-se no sínodo de Jâmnia ao Sul da Palestina, por volta do ano 100 d.C., para determinar as exigências que deveriam distinguir os livros sagrados ou inspirados por Deus.

    Critérios – Os judeus estipularam os seguintes critérios para um livro ser considerado sagrado: não poderia ter sido escrito fora da terra de Israel; deveria ser escrito em hebraico e antes de Esdras (458-428 a.C.) e estar em conformidade com a Lei de Moisés. Assim, os judeus da Palestina fecharam o seu cânon sagrado sem reconhecer livros e escritos que não obedecessem a tais critérios.

    Judeus do Egito – Acontece, porém, que em Alexandria (Egito) havia uma próspera colônia judaica que, vivendo em terra estrangeira e falando língua estrangeira (o grego), não adotou os critérios nacionalistas estipulados pelos judeus de Jâmnia. Os judeus de Alexandria chegaram a traduzir os livros sagrados hebraicos para o grego entre 250 e 100 a.C., dando assim origem à versão grega dita "Alexandrina" ou "dos Setenta Intérpretes". Essa edição grega bíblica possuía livros que os judeus de Jâmnia não aceitaram, mas que os de Alexandria liam como palavra de Deus; ou seja, os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruque, Eclesiástico (ou Siracides), 1 e 2 Macabeus, além dos fragmentos de Ester 10, 4-16,24 e Daniel 3, 24-90; 13-14.

    Dois Cânones – Podemos dizer que havia dois cânones entre os judeus no início da era cristã: o restrito, da Palestina, e o amplo, de Alexandria.

    Os cristãos – Ora, acontece que os Apóstolos e Evangelistas, ao escreverem o Novo Testamento em grego, citaram o Antigo Testamento usando a tradução grega de Alexandria. O texto grego tornou-se o mais lido entre os cristãos; em conseqüência, o cânon amplo, incluindo os sete livros e os fragmentos citados, passou para o uso dos cristãos.

    Citações – No Novo Testamento há citações implícitas dos sete livros (chamados de deuterocanônicos), assim, por exemplo, Rm 1,19-32 cita Sb 13,1-9; Rm 13,1 cita Sb 6,3; Mt 27,43 cita Sb 2,13.18; Tg 1,19 cita Eclo 5,11; Mt 11,29s cita Eclo 51,23-30; Hb 11,34s cita 2Mc 6,18-7,42; Ap 8,2 cita Tb 12,15.

    Lutero – No século XVI, porém, Martinho Lutero (1483-1546), querendo contestar a Igreja, resolveu adotar o cânon dos judeus da Palestina, deixando de lado os sete livros e os fragmentos deuterocanônicos que a Igreja recebera dos judeus de Alexandria.

    Mas este é assunto para a próxima semana ...

    sábado, 6 de outubro de 2001

    O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 2 – Inspiração Bíblica

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 06/10/2001

    Na semana passada iniciamos nosso estudo sobre o cânon da Igreja Católica. Vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros. Hoje discutiremos a Inspiração Divina dos livros da Bíblia.

    O que é Inspiração bíblica – é a iluminação da mente do autor humano para que possa, com os dados de sua cultura religiosa e profana, transmitir uma mensagem fiel ao pensamento de Deus. Além de iluminar a mente, o Espírito Santo fortalece a vontade e as potências executivas do autor para que realmente o autor bíblico (hagiógrafo) escreva o que ele percebeu (confira em 2Pd 1,21).

    Humano e Divino – As páginas que desse modo se originam, são todas humanas (Deus em nada dispensa a atividade redacional do homem) e divinas (pois Deus acompanha passo a passo o trabalho do homem escritor). Assim, diz-se que a Bíblia é um livro divino-humano, todo de Deus e todo do homem; transmite o pensamento de Deus em roupagem humana; assemelha-se ao mistério da Encarnação, pelo qual Deus se revestiu da carne humana, pois na Bíblia a palavra de Deus se revestiu da palavra do homem (judeu, grego, arcaico, com todas as particularidades de expressão).

    O 1º conceito errado – quando se fala de inspiração bíblica, talvez aflore à mente a noção de ditado mecânico, semelhante ao que o chefe de escritório realiza junto à sua datilógrafa; esta possivelmente escreve coisas que não entende e que são claras apenas ao chefe e à sua equipe. Isto não é a inspiração bíblica. Ela não dispensa certa compreensão por parte do autor bíblico, nem a sua participação na redação do texto sagrado.

    O 2º conceito errado – A inspiração bíblica também não é revelação de verdades que o autor humano não conheça. Existe, sim, o carisma (dom) da Revelação, que toca especialmente aos Profetas, mas é diverso da inspiração bíblica; esta se exercia, por exemplo, quando o hagiógrafo descrevia uma batalha ou outros fatos documentados em fontes históricas, sem receber revelação divina.

    Finalidade – A finalidade da inspiração bíblica é estritamente religiosa. Os livros sagrados não foram escritos para nos ensinar dados de ciências naturais (pois, estas, o homem as pode e deve cultivar com seus talentos), mas, sim, para nos ensinar aquilo que ultrapassa a razão humana, isto é, o plano de salvação divina, o sentido do mundo, do homem, do trabalho, da vida, da morte diante de Deus. Não há, pois, contradição entre a mensagem bíblica e as das ciências naturais, nem se devem pedir à Bíblia teorias de ordem física ou biológica. Mesmo Gênesis 1-3 não pretende ensinar como nem quando o mundo foi feito.

    Totalmente Inspirada – Toda a Bíblia, em qualquer de suas partes, é inspirada; ela é, por inteiro, Palavra de Deus (2Tm 3,15s). Portanto, todas as páginas da Bíblia são inspiradas, qualquer que seja a sua temática.

    E as palavras? – Também as palavras da Escritura são inspiradas. Quando o Espírito Santo iluminava a mente dos autores sagrados, para que vissem com clareza alguma mensagem, iluminava também as palavras com as quais se revestia essa mensagem na mente do hagiógrafo. E por isto que os próprios autores sagrados fazem questão de realçar vocábulos da Bíblia; veja Hb 8,13; Gl 3,16; Mc 12,26s. Somente as palavras das línguas originais (hebraico, aramaico, grego) foram assim iluminadas. As traduções bíblicas não gozam do carisma da inspiração.

    sábado, 29 de setembro de 2001

    O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 1 – Introdução

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 29/09/2001

    Estamos iniciando hoje uma série de artigos sobre a formação da Bíblia católica. Estaremos estudando o catálogo de livros sagrados que formam a Santa Escritura da Igreja Católica.

    O que é Cânon?Cânon é uma palavra de origem grega (Kanón), que significa regra, ou medida. Em sentido figurado significa norma de vida (regra). Os primeiros cristãos falavam do cânon da fé ou da verdade, para designar a doutrina revelada por Deus, que era critério para julgar qualquer doutrina humana e para nortear a vida dos cristãos.

    Cânon – Quando os cristãos estabeleceram oficialmente os textos da Igreja, a palavra cânon também foi usada para significar catálogo, tabela, registro. Neste sentido, os cristãos passaram a falar do cânon bíblico ou cânon da Bíblia para significar o catálogo dos livros bíblicos. Todos os livros pertencentes ao cânon bíblico são inspirados por Deus.

    Derivações – A palavra canônico significa ‘conforme o cânon’. Portanto um livro canônico significa um texto catalogado no cânon da Igreja. Protocanônico são os livros catalogados em primeiro (próton) lugar; deuterocanônico são os livros catalogados em segunda instância (dêuteron) ou após controvérsia.

    Apócrifo – Texto apócrifo significa um livro oculto, não lido nas assembléias públicas de culto das comunidades cristãs. Era reservado à leitura particular. Em conseqüência, um livro apócrifo é um livro não canônico ou não catalogado, embora tenha o estilo de escrita de um livro canônico. Exemplos de textos apócrifos são o Evangelho de Tomé, o Evangelho da Infância, O Evangelho de Pedro, A Carta de Barnabé, etc.

    Quantos livros? – O Cânon Católico compreende 72 livros, sendo 45 livros do Antigo Testamento (AT) e 27 do Novo Testamento (NT). Para guardar na memória lembre sempre que o número de livros do NT (27) é o inverso no número total de livros da Bíblia (72). O Cânon dos Livros da Bíblia foi estabelecido por um decreto no Concílio de Trento, entre 1545 a 1563.

    Edições atuais – As traduções atuais da Bíblia podem levar o leitor a algumas confusões. O capítulo 6 do ‘Livro de Baruc’ pode ser encadernado como um livro a parte, chamado de ‘Carta de Jeremias’. O mesmo acontece com o ‘Livro de Jeremias’: os seus 5 últimos capítulos podem ser encadernados como ‘Livro das Lamentações’. Assim, em vez de termos 72 livros, é possível encontrarmos Bíblias Católicas com 73 ou 74 livros, conforme a tradução adotada.

    Conteúdo – O que deve ficar bastante claro é que, para qualquer tradução, o conteúdo será sempre o mesmo. Apenas os textos estão dispostos de forma diferente. Você já teve a curiosidade de verificar qual a disposição dos textos de sua Bíblia?

    Católica e Protestante – É importante salientar que as Bíblias editadas pelos protestantes não contêm 7 livros existentes nas Bíblias católicas. São eles os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruk, Eclesiástico, 1º e 2º de Macabeus. Também não contêm partes dos Livros de Ester e de Daniel. Você já teve a curiosidade de verificar se a sua Bíblia é católica ou protestante?

    sábado, 22 de setembro de 2001

    O MISTERIOSO PÁPIAS

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 22/09/2001

    Mistério – Pápias foi uma das personalidades mais misteriosas da antigüidade cristã. Os historiadores da Igreja discutem até hoje as pouquíssimas informações que possuímos sobre ele.

    Quem foi – Pápias (a pronúncia certa seria Papías) viveu entre os anos de 70 a 140 d.C. Era bispo de Hierápolis, na Frígia (hoje Pambukcallesi, na Turquia). Segundo Ireneu de Lion (Santo Ireneu), Pápias teria sido discípulo do apóstolo João, tendo discutido com ele a interpretação de vários discursos de Cristo.

    As Obras – Por volta do ano 130, Pápias escreveu um livro em cinco volumes intitulado "Explicações das Sentenças do Senhor". Baseado, principalmente, na tradição oral dos discípulos e apóstolos, Pápias escreveu uma coleção de ditos, sentenças e feitos de Jesus. Escreveu também sobre a origem dos Evangelhos de Mateus e de Marcos, citando que conversou pessoalmente com Aristião, João (que chamava de ‘ancião’) e as filhas do apóstolo Filipe.

    Material perdido – Os cinco volumes do livro de Pápias foram perdidos. Nós conhecemos apenas 13 pequenos fragmentos, conservados nas obras de Ireneu (teólogo e bispo de Lion, viveu entre 130 e 202) e de Eusébio (bispo de Cesaréia, viveu entre 260 e 340, em 315 escreveu a famosa obra "História da Igreja", que descreve os três primeiros séculos do cristianismo).

    Tradição Oral – Como já discutimos nesta coluna, o Evangelho de Cristo era pregado oralmente; após dezenas de anos, o Evangelho passou a ser escrito, gerando os 4 textos que conhecemos hoje. Pápias defendia o Evangelho oral, pois o considerava mais vivo: "As coisas dos livros não me deram proveito quanto o que me disse a voz dos vivos."

    O ensino dos apóstolos – Os fragmentos de Pápias que restaram são de inestimável valor porque põe o leitor atual em contato com o ensino oral dos apóstolos. Como escreveu no prefácio de sua obra perdida: "Não hesitarei também em registrar para vosso benefício, juntamente com as minhas ‘Explicações’, tudo que cuidadosamente recordo dos anciãos, garantindo a sua veracidade. De fato, eu não me comprazia, como faz a maioria, com os que falam muito, mas com os que ensinam a verdade. Se acontecia, por acaso, vir algum dos que tinham seguido os presbíteros, eu me informava a respeito da palavra dos presbíteros: o que haviam dito André, Pedro, Filipe, Tomé, Tiago, João, Mateus, ou qualquer outro dos discípulos do Senhor."


    Milenarismo – Uma das interpretações de Pápias se refere ao versículo do Apocalipse (Ap 20,4), onde se lê: " ... eles reinaram com Cristo durante mil anos". Como Pápias, toda a Igreja Antiga interpretou literalmente este versículo, acreditando que, após uma primeira ressurreição real (a dos mártires), Cristo voltaria sobre a terra para um reino feliz de mil anos, em companhia de seus fiéis.

    sábado, 15 de setembro de 2001

    Ágrafos

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 15/09/2001

    O que é – A palavra Ágrafos vem do grego (ágraphos) e significa "o que não está escrito". Em termos bíblicos, são chamadas de ágrafos as palavras ou frases proferidas por Jesus Cristo que não se encontram nos Evangelhos Canônicos, mas que foram conservadas em outros livros do Novo Testamento e sobretudo em outras fontes.

    Em Atos dos Apóstolos – Em At 20,35 nós lemos: " ... e Jesus disse: ‘Há mais felicidade em dar do que em receber’". Estas palavras de Jesus não se encontram nos evangelhos, pois foram conservadas pela tradição.

    Tertuliano – Foi o primeiro escritor cristão importante a escrever em latim, vivendo entre 163 e 230 d.C.. Tertuliano citou a seguinte frase dita por Jesus: "Aquele que não for tentado não terá o Reino dos Céus." Não encontramos esta frase (ou algo parecido com ela) em nenhum livro do Novo Testamento.

    Orígenes – Orígenes de Alexandria, viveu entre 185 e 254, foi o principal teólogo da Igreja Grega e criador da teologia sistemática. Orígenes preservou o seguinte dito de Jesus: "Pedi as coisas maiores, que as menores vos serão dadas por acréscimo: e pedi as coisas do Céu, que as da Terra vos serão acrescentadas."

    Clemente – Uma carta atribuída a Clemente Romano (não confundir com Clemente de Alexandria) diz que "quando o Senhor foi interrogado sobre quando viria o Seu Reino, respondeu: ‘Quando dois forem um, e a parte de fora a de dentro, e o macho com a fêmea não forem macho nem fêmea.’"

    O Evangelho de Tomé – O evangelho apócrifo atribuído a Tomé contém uma coleção de 114 frases de Jesus, das quais 47 também aparecem no Evangelho de Marcos, 17 estão em Mateus, 4 em Lucas e 5 aparecem em no Evangelho de João. 65 frases do Evangelho de Tomé são inéditas (ágrafos).

    Mais Tomé – Uma das frases atribuídas a Jesus, contida no Evangelho de Tomé é: "Todo aquele que estiver próximo a mim, está perto do fogo, e todo aquele que estiver afastado de mim, estará longe do Reino." (Ev. Tomé, 82).

    Ainda Tomé – Outro exemplo tirado do Evangelho de Tomé, é uma seqüência da parábola do fermento (Mt 13,33 e Lc 13,20). Jesus disse: "O Reino do Pai é como uma mulher que carrega um jarro cheio de trigo. Enquanto caminha por uma estrada distante, a asa do jarro se quebra. A farinha se espalha na estrada, às suas costas. Ela não se dá conta e não se apercebe do acidente. Depois de chegar à casa, coloca o jarro no chão e o encontra vazio." Em outras palavras, podemos perder o Reino dos Céus se formos negligentes.

    Evangelho de Pedro – O Evangelho de Pedro é um texto apócrifo (não reconhecido pela Igreja), porém de grande importância na Igreja primitiva. Descreve, em detalhes o julgamento, crucificação, morte e ressurreição de Jesus (falaremos sobre o Evang. de Pedro em breve). Neste evangelho, a frase de Jesus citada em Mc 15,34 e Mt 27,46 aparece de forma diferente: "E o Senhor gritou dizendo: ‘Meu poder, meu poder, tu me abandonaste.’"

    sábado, 8 de setembro de 2001

    A Interpretação do Depósito da Fé e o Magistério da Igreja

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 08/09/2001

    Na semana passada falamos sobre a Tradição que vem dos apóstolos e transmite o que eles receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam através do Espírito Santo. Recordemos que a primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito e o próprio Novo Testamento atesta o processo da Tradição viva, já que foi escrito vários anos após a morte de Cristo.

    O Patrimônio da fé – O patrimônio da fé ("depositum fidei") contido na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura foi confiado pelos apóstolos à totalidade da Igreja, ou seja, a todo o povo santo, que "unido a seus Pastores, persevera (...) na doutrina dos apóstolos e na comunhão, na fração do pão e nas orações, de sorte que na conservação, no exercício e na profissão da fé transmitida, se crie uma singular unidade de espírito entre os bispos e os fiéis" (CIC, 84).

    Interpretação – O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus, escrita ou transmitida, foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, isto é, aos bispos em comunhão com o Papa, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. Ou seja, a interpretação da Bíblia não pode ser livre, porque foi confiada aos apóstolos e aos seus sucessores: "Quem vos ouve, a mim ouve" (Lc 10, 16). "Ide e ensinai a todas as gentes... Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo" (Mt 28, 16-20; Mc 16, 14-16). "Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal" (2Pd, 1,20). Veja também: 2Pd 3, 15-16; Eclo 3, 24; Mt 12, 23.29; At 8, 30-35; 2Cor 10, 4-5; 1Tm 3, 14-15.

    Magistério da Igreja, o que é? – Jesus confiou à sua Igreja a função de ensinar as verdades da fé, e para que o fizesse autenticamente, prometeu-lhe a Sua assistência infalível, assim como a do Espírito Santo. Sem a garantia de um Magistério dotado de especial assistência e de infalibilidade em matéria de fé e de Moral, teria sido inútil a Revelação Divina, pois sofreria a deterioração que é costumeira quando se passa de boca em boa alguma verdade. Está claro, pois, que o âmbito do Magistério da Igreja só pode ser o da fé e da Moral, ficando excluídos assuntos de ordem profana. Ele também não está acima da Palavra de Deus mas a serviço dela, ensinando apenas o que foi transmitido pela Palavra e pela assistência do Espírito Santo.

    O exercício do Magistério – Empenhando a autoridade que recebeu de Cristo, o Magistério da Igreja vem cumprindo a sua missão mediante seus órgãos credenciados, que são:

    1. O Magistério Ordinário, ou seja, o ensinamento dos Bispos do mundo inteiro, concordes entre si sobre artigos de fé e de Moral. Este Magistério ordinário manifesta-se cotidianamente através de palavras orais, impressos, gestos e feitos, como também através da Liturgia.

    2. O Magistério Extraordinário, que tem duas expressões autênticas: as definições de Concílios Ecumênicos (plenário, universal) e as definições do Sumo Pontífice quando fala ex cathedra. O Magistério Extraordinário supõe sempre condições especiais (dúvidas, controvérsias, contestação...), que solicitem um pronunciamento solene seja de um Concílio plenário, seja do Pontífice Romano. Não é necessária uma definição solene para que haja um dogma de fé.

    "O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, propõe verdades contidas na Revelação divina ou verdades que com estas têm uma conexão necessária" (CIC, 88).

    O senso sobrenatural da fé – "Todos os fiéis participam da compreensão e da transmissão da verdade revelada. Receberam a unção do Espírito Santo que os instrui e os conduz à verdade na sua totalidade. (...) ‘Por este senso da fé, excitado e sustentado pelo Espírito da verdade, o Povo de Deus – sob a direção do sagrado Magistério, (...) – adere (...) à fé uma vez para sempre transmitida aos santos; e, com reto juízo, penetra-a mais profundamente e mais plenamente a aplica na vida’" (CIC, 91, 93).

    Graças à assistência do Espírito Santo, podemos crescer na compreensão da fé através da "pesquisa teológica que aprofunda o conhecimento da verdade revelada; pela íntima compreensão que os fiéis desfrutam das coisas espirituais; (...) pela pregação daqueles que, com a sucessão episcopal, receberam o carisma seguro da verdade" (CIC, 94).

    Podemos concluir, portanto, que a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão entrelaçados e unidos e, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribui para a salvação das almas.

    sábado, 1 de setembro de 2001

    A Igreja Católica e a transmissão da revelação divina

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 01/09/2001

    "A igreja, que é ‘a coluna e o sustentáculo da verdade’ (1Tm 3, 15), guarda fielmente ‘a fé uma vez por todas confiadas aos santos’ (Jd 3)". (Catecismo da Igreja Católica -CIC, 171)

    É a Igreja quem conserva a memória das Palavras de Cristo, transmitindo de uma geração à outra a confissão de fé dos apóstolos. É ela que, como uma mãe, ensina-nos a linguagem da fé para que possamos nos iniciar na compreensão e na vida da fé, auxiliando-nos assim a compreender, viver e comunicar aquilo que Jesus ensinou.

    Após a ordem de Jesus de que os apóstolos anunciassem o Evangelho, a pregação apostólica se deu duas maneiras:

    - oralmente: pelos apóstolos, que ensinando através da pregação oral, por exemplos e instituições, transmitiram todas as coisas que receberam através das palavras, das obras e do convívio com Jesus ou que aprenderam das sugestões do Espírito Santo;

    - por escrito: através daqueles apóstolos e discípulos que, sob inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação.

    A pregação apostólica, expressa de modo especial nos livros inspirados, continuou sendo realizada através da sucessão apostólica: "Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles ‘transmitindo o seu próprio encargo de Magistério’" (CIC, 77).

    A essa transmissão viva, realizada no Espírito Santo, chamamos de Tradição; que, embora distinta da Sagrada Escritura, é intimamente ligada a ela.

    É através da Tradição que a Igreja "em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê. O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante desta Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja crente e orante" (CIC, 78).

    Dessa forma, aquilo que Deus comunicou de si mesmo através de seu Filho Jesus, no Espírito Santo permanece presente e atuante na Igreja. Deus mantém um diálogo permanente com a Igreja, "a esposa de seu dileto Filho", e o Espírito Santo, cuja voz se faz ouvir na Igreja, através dela, no mundo, leva a todos os que crêem à verdade e neles faz habitar com generosidade a palavra de Cristo.

    A relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura

    A Bíblia é a Palavra de Deus escrita, redigida sob a moção do Espírito Santo, que chegou até nós pela Igreja.

    A Tradição é a Palavra de Deus não escrita, mas transmitida de viva voz pelos apóstolos e conservada pela Igreja em seus ensinamentos, na liturgia e na disciplina.

    Ou seja, ambas estão intimamente unidas e comunicantes, pois procedem da mesma fonte divina. De certa maneira, Tradição e Sagrada Escritura formam um só todo e tendem para o mesmo fim, pois tanto uma como a outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu permanecer conosco "todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28, 20).

    Afirma o Catecismo (82): "Daí resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação, ‘não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência’".

    Conclusão

    O ensinamento de Jesus não está apenas na Bíblia, mas também na Tradição, pois:

    1. Jesus não mandou que os apóstolos escrevessem a Bíblia, só mandou que pregassem e ensinassem a sua Palavra (Mc, 16, 15; Lc 10, 16);

    2. todos os apóstolos foram enviados, mas só alguns escreveram e apenas no fim de sua vida;

    3. se fosse fundamental o ensino da Bíblia escrita, todos os apóstolos primeiro teriam escrito a Bíblia e depois a teriam pregado, mas ao contrário, eles foram enviados e pregaram a Palavra de Deus de viva voz (Tradição) e a maioria não escreveu nada, só pregou, morrendo mártires por isso;

    4. alguns trechos da Bíblia demonstram claramente que a Tradição tem o mesmo valor da Bíblia. Veja 2Tm 1, 13; 2Ts 2, 15; 2Ts 3, 6; 2Tm 2, 1-2;

    5. a Bíblia contém os ensinamentos de Jesus, mas não todos: "Há ainda muitas coisas feitas por Jesus, às quais, se se escrevessem uma por uma, creio que este mundo não poderia conter os livros que se deveriam escrever" (Jo 21, 15).

    sábado, 25 de agosto de 2001

    A Igreja de Jesus é una, santa, católica, apostólica e romana

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 25/08/2001

    Una – Assim como há um só Deus, um só Redentor, um só Batismo, uma só deve ser a Igreja; como Jesus pregou uma só doutrina e fundou uma só Igreja, esta deve ser una até o fim do mundo.

    Jesus ensinou aos apóstolos uma só doutrina (Mt 12, 30; Ef 4, 3-6) e rezou ao Pai para que os apóstolos e futuros membros da sua Igreja fossem sempre unidos. Veja a belíssima oração de Jesus em todo o capítulo 17 do Evangelho de João.

    Os apóstolos nunca admitiram doutrinas diferentes, que dividissem e usavam de uma severidade impressionante quando tal ocorria. "Se alguém vos anunciar um evangelho diferente, seja execrado" (Gl 1, 7-9). Veja também Rm 16, 17.

    Os apóstolos zelavam com esmero pela unidade de culto: "Porque há um só pão, um só corpo somos nós, embora muitos, visto participarmos todos do único pão" (1Cor 10, 17). Veja também At 4, 32; Ef 4,3. Também não se descuidavam da unidade de governo - "Irmãos, conjuro-vos que sejais sempre perfeitamente unidos num só sentimento e num mesmo pensar" (1Cor, 1, 10). Sobre isso, ensinou Jesus: "Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Estas tenho de reunir, e elas ouvirão a minha voz. E então haverá um só rebanho e um só pastor" (Jo 10, 16; Mt 16, 15-16).

    Santa – A Igreja é santa no seu Fundador (Jesus Cristo), é santa no seu fim (é a continuação de Cristo na história e a sua finalidade é a glória de Deus e a santificação do homem), nos seus meios (todos os sacramentos são meios que nos comunicam a graça), na sua doutrina (a doutrina de Jesus é santa e divina e a sua doutrina é a da Igreja) e nos seus membros, pois todos somos chamados à santidade.

    Católica – A palavra católica vem do grego e significa universal. O primeiro a usar esta palavra para indicar a Igreja de Jesus foi S. Inácio de Antioquia, quando escreveu: "Onde está Cristo, aí está a Igreja Católica". A Igreja de Jesus é Católica porque foi fundada para salvar todos os homens (universalidade da salvação), sem distinção de raça, cor ou condição, e porque está difundida por toda a terra. "Ide, ensinai todos os povos" (Mt 28,19).

    Apostólica – A Igreja de Jesus é apostólica porque é governada pelos legítimos sucessores dos apóstolos: os bispos e o Papa. A Igreja que não tem origem nos apóstolos não é a Igreja de Cristo. (veja as palavras de Paulo em Ef 2, 19-20). A Igreja Universal é apostólica porque os bispos, sucessores dos apóstolos, continuam governando a Igreja de Cristo com o mesmo vigor e a mesma autoridade.

    Romana – "A romanicidade da Igreja não é característica essencial da Igreja de Cristo, mas puramente histórica. Pedro, o primeiro Papa, morreu em Roma no ano 67 da era cristã. Os seus sucessores no governo da Igreja universal continuaram morando em Roma e daí continuaram governando a Igreja. Até hoje o Papa mora em Roma. E como na época Roma era a capital do imenso Império Romano, que abrangia todo o mundo então conhecido, assim também até hoje Roma continua sendo a capital espiritual do mundo, pois o Vigário de Cristo aí mora". (Battistini, Fr. A Igreja do Deus Vivo. Magé, 1987).

    sábado, 18 de agosto de 2001

    Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe da Igreja

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 18/08/2001

    Santa Maria – A Virgem Maria realizou da maneira mais perfeita a obediência da fé. Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel acreditando que "nada é impossível a Deus" (Lc 1,37), e dando o seu assentimento: "Eu sou a serva do Senhor; faça-se de mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38).

    Maria Santa – Durante toda a sua vida, e até a sua última provação, quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, sua fé não vacilou. Maria não cessou de crer "no cumprimento" da Palavra de Deus. Por isso a Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé.

    Mãe de Deus – O Concílio de Trento (ano de 431) proclamou Maria como Mãe de Deus, por ter concebido em seu seio o Filho de Deus: "Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus tirou dela a sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne".

    Maria unida a Cristo e à Igreja – O papel de Maria para com a Igreja é inseparável de sua união com Cristo. "Esta união de Maria com seu Filho na obra da salvação manifesta-se desde a hora de sua concepção virginal até a sua morte". E com ânimo materno se associou ao seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima por ela gerada. Finalmente, pelo próprio Jesus moribundo na cruz é dada como mãe ao discípulo com estas palavras: "Mulher, eis aí teu filho" (Jo 19,26).

    Mãe da Igreja – Após a ascensão do seu Filho, Maria "assistiu com suas orações a Igreja nascente". Reunida com os apóstolos e algumas mulheres, "vemos Maria pedindo também ela com suas orações o dom do Espírito Santo, o qual, na anunciação, a tinha coberto com sua sombra". Por isso, a bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de advogada, auxiliadora, protetora, medianeira.

    Rainha do Universo – A Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E, para que mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do universo.

    Maria assunta ao Céu – Em 1950 o Papa Pio XII proclamou como dogma da Igreja Católica a Assunção da bem-aventurada Virgem Maria. A assunção de Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos.

    Mãe dos Cristãos – Todos os cristãos do mundo, de toda época e de todo lugar, a amaram, veneraram e recorreram a ela como verdadeira Mãe e poderosa intercessora. Inúmeras cidades e povos a escolheram como Padroeira. Arquitetos erigiram-lhe grandes catedrais e lançaram-na nos obeliscos mais altos. Poemas e artistas cantaram-na em seus poemas. O mundo inteiro está encantado diante da beleza dessa mulher. Ela é a Mãe de Jesus, Mãe da Igreja e nossa Mãe.

    sábado, 11 de agosto de 2001

    O Governo da Igreja e o Primado de Pedro

    Coluna "Ser Católico" - Jornal da Cidade – Bauru – 11/08/2001


    Como vimos a semana passada, ao constituir sua Igreja, Jesus delegou a ela poderes especiais e nomeou um chefe para conduzi-la: Pedro. O Primado foi dado a Pedro não como um privilégio pessoal, mas para o bem e para a unidade da Igreja, já que ela durará até o fim dos tempos. Dessa forma, também o Primado deverá durar enquanto durar a Igreja.

    "Tu é Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja". A Igreja é o rebanho de Cristo e Pedro o seu pastor.

    Como se vê, Jesus deu a Pedro autoridade sobre todo o seu rebanho. Historicamente sabemos que Pedro mais de uma vez usou dessa autoridade entre os Apóstolos para decidir questões referentes à Igreja Universal: tanto na escolha de Matias, que substituiu Judas Iscariotes (At 1, 15-17), como para defender o comportamento dos colegas no Pentecostes (At 2, 14s), ou ainda no Concílio de Jerusalém, no ano 49 (At 15, 7s).

    O último lugar onde esteve foi Roma, onde foi martirizado no ano 67, sob o governo de Nero. Por isso o Bispo de Roma é o sucessor de Pedro e se diz "Papa", isto é, pai da cristandade. Desde os tempos dos apóstolos até hoje, o Papa preside a reunião dos bispos como "cabeça visível" da Igreja.

    Infalibilidade

    Pelo fato de muitos não-católicos confundirem, em relação ao Papa, infalibilidade com impecabilidade e assistência do Espírito Santo com inspiração, vejamos em que se apoia essa questão para que haja uma melhor compreensão da infalibilidade do Papa.

    Infalibilidade do Papa, significa que ele é infalível, isto é, não pode errar quando ensina uma verdade de fé e de moral na sua missão de sucessor de Pedro. O Papa pode pecar como qualquer outro mortal, mas quando define uma verdade de fé, não inventa uma nova doutrina, mas simplesmente confirma aquela doutrina como já revelada na Bíblia e na Tradição.

    Quando o Papa é infalível

    Todo Papa, legitimamente eleito, é infalível quando:


  • a) fala "ex cathedra", isto é, quando fala como pastor e mestre para toda a Igreja; b) quando decide ou define uma doutrina de fé ou de moral para todos os fiéis. (Quando, por exemplo, fala de ciência, política etc. não é infalível).


  • A razão pela qual o Papa é infalível reside na assistência direta do Espírito Santo.

    As confirmações bíblicas da infalibilidade do Papa encontramos em:


  • 1. Mt 16, 14-19, quando Jesus constitui Pedro como fundamento de sua Igreja. Ora, se a pedra fundamental puder ensinar o erro, é claro que todo o "edifício" da Igreja vai desabar. Como a Igreja durará até o fim dos tempo (Mt 28, 20), então é claro que o Papa não pode ensinar o erro, logo, é infalível. 2. Mt 16, 18, quando Jesus deu a Pedro (e seus sucessores) amplos poderes de "ligar e desligar". Dessa forma, Deus aprovará tudo o que Pedro e seus sucessores aprovar e ensinar sobre a terra. É claro que eles não podem ensinar o erro, pois Deus não aprovaria nenhum erro de ninguém. Se assim não fosse, as palavras "tudo o que ligares na terra será ligado no céu" seriam mentirosas. E Deus não pode mentir, então o Papa é infalível.
    3. Jo 21, 15-17, quando Cristo estabelece Pedro (e seus sucessores) como pastores de seu rebanho, a Igreja. "Apascenta as minhas ovelhas", significa que Pedro deve ensinar a verdade e proteger os fiéis do erro. Ora, se Pedro e seus sucessores tivessem a possibilidade de ensinar o erro, é claro que não poderiam proteger os fiéis do erro. Assim sendo, pela força das palavras de Cristo, "Apascenta as minhas ovelhas", os Papas devem ser infalíveis.
    4. Lc 23, 31-32, quando Cristo reza por Pedro para que sua fé fosse sempre firme e forte: "Mas eu roguei por ti, para que tua fé não falte. E uma vez convertido, confirma os teus irmãos". Jesus pede que Pedro dê segurança, firmeza à fé dos irmãos. E o Papa continua confirmando na fé, guardando a Igreja de erros e heresias. Essa missão, confiada a Pedro, continua infinitamente pelos tempos, até o seu final, através de seus sucessores.


  • sábado, 4 de agosto de 2001

    Fundação da Igreja de Jesus: o novo povo de Deus

    Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 04/08/2001

    Quando começou o seu ministério público, Jesus reuniu um grupo de amigos e os chamou para ensinar-lhes as coisas de seu Pai. Chamou a cada um pessoalmente, pelo nome: Pedro, João, Tiago, André, Judas... (Mc 1, 16-20; Mc 2, 13-14). Formou um grupinho bem entrosado... Começou chamando-os de amigos e depois de irmãos, iniciando um novo estilo de vida: a vida em comunidade (Lc 8, 1-3). É a Igreja que começava, em que todos se entendem, se amam, se ajudam, rezam juntos (Mc 3, 13-15; Mt 10, 1-4; Lc 6, 12-16). É o novo Povo de Deus, reunido pelo Pastor. Dentro desse grupo, Jesus escolheu um chefe, Pedro, ao qual deu poderes e autoridade especial sobre os outros (Mt 16, 13-19).

    Os grandes poderes que Jesus possuía, também conferiu aos apóstolos:



  • 1. Transformar o pão e o vinho em seu Corpo e Sangue, que é o Santo Sacrifício da Missa (Lc 22, 19-20; Mt 28, 19). 2. Perdoar os pecados (Jo 20, 19-23).
    3. Ensinar a sua doutrina, que é o Evangelho (Mt 28, 16-20; Mc 16, 14-20).



  • Antes de enviar os apóstolos ao mundo, Jesus lhes promete o Espírito Santo para confirmá-los na sua missão: "Eu pedirei ao Pai e Ele vos dará o outro Confortador, o Espírito Santo e vos recordará tudo o que vos disse" (Jo 14, 16-17). E o Espírito Santo desce sobre os apóstolos (Veja At 2, 2-4).

    Preparados, instruídos e munidos dos poderes e cheios do Espírito Santo, os apóstolos foram pelo mundo pregando, batizando, ensinando, perdoando os pecados e celebrando os "mistérios" (a Santa Missa), construindo a Igreja, o novo Povo de Deus. Hoje esta Igreja está presente em todo recanto da Terra. Os poderes de celebrar a missa, perdoar os pecados e pregar o Evangelho continuam sempre na Igreja fundada por Jesus.

    São Pedro é eleito chefe supremo da Igreja

    Pedro recebeu de Jesus o poder supremo de jurisdição sobre toda a Igreja. A este poder chamamos Primado de Pedro, que abrange não só o poder de jurisdição nas verdades de fé e de moral, mas também na disciplina e no governo da Igreja toda.

    Jesus muda o nome de Pedro (Jo, 1, 42): "Tu és Simão, filho de João. Tu serás chamado Kefas, isto é, Pedro" (Kefas em grego significa pedra dura, rochedo).

    Jesus promete o Primado a Pedro para dirigir a Igreja (Veja Mt 16, 13-19), dirigindo suas palavras apenas a ele, que seria o detentor das chaves, isto é, o chefe supremo do Reino dos céus aqui na Terra, que é a Igreja.

    Jesus confere a Pedro o primado sobre toda a Igreja quando lhe pede para apascentar suas ovelhas (Veja Jo 21, 15-17).

    Depois que Jesus subiu aos céus, Pedro dirige e governa a Igreja:

    - presidiu e dirigiu a escolha de Matias para o lugar de Judas (At 1, 1-25)

    - é o primeiro a anunciar o Evangelho no dia de Pentecostes (At 2, 14)

    - testemunha diante do Sinédrio a mensagem de Cristo (At 4, 8)

    - acolhe na Igreja o primeiro pagão, Cornélio (At 10, 1)

    - fala primeiro no Concílio dos Apóstolos de Jerusalém e decide sobre a questão da circuncisão: "Então toda a assembléia silenciou" (At 15, 7-12).

    Os sucessores de Pedro atestam claramente o seu primado e o de seus sucessores: "A Igreja foi construída sobre Pedro" (Tertuliano); "Sobre um só foi construída a Igreja: Pedro" (São Cipriano); "Onde há Pedro, aí há a Igreja de Jesus Cristo" (S. Ambrósio)